Serena escrita por Maria Lua


Capítulo 5
Desejos incontroláveis


Notas iniciais do capítulo

Olá! Nunca fiz notas no capítulo, mas acho importante fazer nesse. Eu quero agradecer aos comentários. Apesar de serem poucos, são mais do que eu esperaria, e são todos incríveis! Vocês me ajudam e incentivam muito, e esse é para vocês. Boa leitura!



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O resto do dia seguiu despreocupado. É claro, sem mencionar que eu não conseguia desviar o meu pensamento de Serena. Ela era o meu pecado psicológico. Um teste divino, talvez. Dei as minhas aulas e estava cheio de atividades para corrigir durante a noite, o que preencheu parcialmente a minha concentração, mas não o suficiente.

No dia seguinte eu não tinha aulas para dar, e saí do quarto apenas para as refeições, voltando a me refugiar ali. As professoras disseram que, em meu tempo livre, eu poderia ir à biblioteca ou à sala de televisão. Eu assenti, é claro, mas não iria. Tenho o meu notebook, que satisfaria muito bem o meu tédio. Corrigi as atividades rapidamente, e logo segui vendo dezenas de filmes até o sono me alcançar. Depois de responder os e-mails de meus pais, devorei Alfred Hitchcock. Persegui quase todas as suas obras que já havia decorado as falas, inclusive. Quando fui me deitar demorei a pegar no sono de fato, pensativo.

Eu havia me distraído. Sentia necessidade de me distrair, de estar sempre ocupado. Não poderia ser simplesmente... Bom, ia dizer tédio, mas tornaria-se repetitivo. Existe algum sinônimo para tédio? Enfim, não poderia ser apenas tédio. Eu estava tentando não estar com a mente aberta. Não pensar em meus problemas. E, por Deus, não pensar na Serena. Ela sim é o meu maior problema, mas eu não poderia fugir para sempre desses pensamentos. Na hora de dormir, por exemplo, ela me domina. E, feliz ou infelizmente, nos sonhos também. Sonhei com ela a noite inteira e acordei ainda pensando nela. O que está fazendo, Chuck?! Perguntei a mim mesmo. Ela é apenas uma menina. Catorze anos de idade! É ainda mais nova que suas colegas de classe e, com certeza, é mais nova que a Violet, minha ex-namorada, ou qualquer pessoa que eu me dou ao luxo de me interessar.

Apliquei minha rotina de um jeito devagar nesta manhã. Tinha aula na sala da Serena, e, apesar de isso ser uma mentira muito bem encenada a mim mesmo, eu não tinha pressa para vê-la. Nem um pouco.

Ao chegar a procurei com os olhos discretamente, mas nada dela. Normal. Era um atraso comum. Normal. Comecei a aula. E nada dela aparecer. Terminei a aula. E Serena não veio. Tive medo das alunas terem notado, de isso ter implicado na qualidade de ensino que tenho. E infelizmente digo: senti a falta dela ali. O resto do dia seguiu tremendamente triste. Eu sentia saudade de, tecnicamente, “não tê-la” comigo. O resto do dia inteiro foi monótono até chegar a meu quarto e abrir um e-mail. Ora... Um e-mail da Violet. Lá ela dizia que estava com saudades, que ainda me amava, e que estava disposta a manter o relacionamento baseado em feriados. Amanhã, no caso, seria feriado para mim. Dia dos professores. Ela viria me ver a qualquer custo, mesmo que eu não a respondesse – e foi o que fiz. Admito que fiquei um pouco irritado. Já amei a Violet, e ainda gosto dela, mas não quero manter aquilo. Quero o meu espaço como profissional para depois pensar sobre. Sem falar que não tinha cabeça agora para ela.

Peguei meu casaco em plenas oito da noite e saí para caminhar pelo pátio do colégio. Caminhei por quase uma hora até ver uma loira muito familiar. Era o que faltava para agitar a noite. Reconheci de longe Serena Doolitle caminhando discretamente entre as árvores com um casaco maior que ela mesma. Parei de imediato, sem saber se ia até ela ou não. Mas eu tinha opção? Ela me viu e abriu aquele sorriso que acaba comigo. Caminhamos um até o outro até pararmos cerca de um metro e meio de distância.

– Professor Humphrey. – ela me cumprimentou. Eu acenei. – Posso chamá-lo de Charles? Como os seus amigos o chamam?

– Me chamam de Chuck. É sempre isso, ou Chuck ou Humphrey. – dei de ombros.

– Não o chamam de Charles?

– Não. Soa um pouco intermediário. Sou meio extremista, ou sou muito íntimo ou nada íntimo de uma pessoa. Oito ou oitenta. – ela sorriu e se aproximou mais um passo.

– O que eu sou? Oito ou oitenta? – da distância que estávamos eu conseguia sentir tanto o seu perfume quanto o seu hálito sendo carregado pelo vento e jogado em meu rosto. Minhas pernas estavam bambas, completamente fora do controle. Eu poderia culpar o frio, mas essa menina me causava isso. Ela era a minha Lolita. A criança que mexe com a minha excitação. Que domina a minha mente.

– Não deveria estar na cama? – tentei, em vão, mudar o assunto tão constrangedor. Ela não era nem um nem outro. Era oito mil. Não, era mais que isso!

– Não sabe me responder? Sou dos Chuck ou dos Humphrey? – ela perguntou ficando a menos de dois passos de distância. A esse ponto eu já olhava para baixo para falar com ela. Trêmulo. – Bom... Então para mim será Charles. Pelo menos até você decidir o que somos. – ela tocou em minha gravada por baixo do casaco. Eu sentia o calor de sua mão alisando o meu peitoral. Inconscientemente fechei os olhos e mordi o lábio inferior. Enquanto uma de suas mãos alisava meu colo, a outra passou para a minha cintura. Senti todo o meu corpo estremecer e arrepiar. Eu estava à flor da pele. Sentia tudo em mim ganhando vida e desejando agarrá-la pela nuca e beijá-la intensamente. Eu queria. Queria muito isso. E sabia que se aquilo continuasse não resistiria. O frio não me interferia mais – os nossos corpos estavam próximos a ponto de um aquecer o outro.

– Srta. Doolitle?! – ouvimos uma voz bem baixa chamando-a de longe. Era uma das professoras perto das escadas. Salvo pelo gongo.

Serena olhou no fundo dos meus olhos e sorriu.

– Não se preocupe. A professora Grace não enxerga nada de longe. Da distância que está deve pensar que eu estava abraçando uma árvore. – ela deu uns passos para trás sem virar de costas, me encarando. Admito que doeu mentalmente ter que deixá-la ir. – Nos vemos em dois dias na aula, Charles. Aguardo ansiosamente saber de que maneira posso te chamar.

E ela se foi, ao menos fisicamente. Em minha mente eu passei a noite inteira com ela, apenas olhando-a. Cheguei ao quarto sorrindo horrores, incontrolavelmente. O que era isso que eu sentia? Uma chama dentro de mim fazia meu corpo se derreter na mais pura lembrança dessa garota. Não era sentimento algum – era atração. Era pedofilia mesmo que sem malícia. Sem maldade. Eu a desejava em mim, comigo, desejava sentir cada centímetro de seu corpo. Seu gosto era a minha maior cobiça no momento. E eu me envergonho disso. Me envergonho de perder totalmente a minha ética em nome dos desejos que poderiam, sim, ser rejeitados. Eu precisava me manter longe daquela garota. Desintoxicar. E ia começar assistindo ao meu atual filme biográfico: Lolita. Por sorte, a história não tem final feliz. Vejamos se consigo desistir antes de fazer a estupidez de tomar alguma atitude quanto a isso.


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