Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 8
Capítulo 08 — As bactérias contagiosas, Miles e amigos


Notas iniciais do capítulo

EU DEMOREI. MALS, DE NOVO.
E o pior é que não tenho desculpas para apresentar, então me desculpem por desculpas não ter, desculpar a desculpa dos desculpeiros é desculpar as desculpas do coração desculpado.
Desculpa.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/659273/chapter/8

Ainda no dia 30 de Março.

Miles nunca havia ido num pub.

Eu provavelmente não deveria ficar surpreso com isso, já Peter nunca aparentou ser um cara festeiro — na verdade ele nunca pareceu ter saído de casa para lugares mais longes que o pequeno Market onde ele comprava os frios e os doces, a duas quadras do nosso prédio.

— Parece decepcionado. — comentei, guardando a chave do carro no bolso e entrando no lugar.

O pub do Mars era espaçoso, bem amplo e com um ar bem rústico. O lugar todo parecia ser feito de madeira mogno brilhante, desde o balcão das bebidas até o pequeno palco de show ao vivo. A banda tocava uma música de fundo ambiente, nada muito agitado, e o lugar não estava tão cheio como de costume. Achei isso bom, não sabia como Miles reagiria ficando entre muitas pessoas, ele tinha esse dom de me surpreender — e na maioria das vezes não era de modo positivo.

— Esperava que fosse mais cheio, mais barulhento e menos iluminado. — Resumindo, ele esperava que fosse uma boate. — Até que não é tão ruim, tirando o cheiro de bebida exagerada, a música é boa.

— Então parece que é uma decepção positiva — sorri com dentes, procurando meus amigos com os olhos. Não demorou muito para encontra-los, já que Ally gritava, falando de modo nada discreto e virando um copo de líquido cor de ferrugem. — Vem.

Peguei em sua mão e o puxei comigo em direção ao balcão. Ela era fria, como imaginei que seria, mas tinha o aspecto de uma mão normal, nada de especial: nem macia como veludo, nem áspera. O físico de Peter era comum, a mente, porém, era um tanto danificada.

Nick tentava fazer Allison soltar o copo, já que ela parecia estar prestes a quebrá-lo em sua cabeça.

— O quanto você deixou ela beber? — Indaguei a ele, me aproximando e puxando meu companheiro de apartamento junto.

— Começou a beber assim que você desligou na cara dela, você sabe como ela exagera. — Nick resmungou rindo, finalmente tirando o copo de sua mão. Ally o xingou de modo berrante, se jogando em uma das cadeiras novamente. Depois do show, Nick olhou na direção de Peter, erguendo as sobrancelhas.

— Ah, sim. Miles, esse é Nick, um dos meus amigos. Nick, esse é Peter Miles, meu parceiro de apartamento. — Ally virou-se de súbito ao ouvir minha voz, com seu pequeno nariz vermelho e os olhos escuros vivos pela embriaguez. — A bêbada é a Allison.

Peter assentiu e apertou minha mão. Não compreendi bem o porquê, mas era como se ele a apertasse para fazer questão de não me deixar escapar. Para onde eu iria, afinal?

— Miles, Miles, Maileous. — A língua de Ally se enrolou um pouco, o que a fez rir. — Posso te chamar de Peter, certo?

— Não. — Suspirei quando ele respondeu no modo “Peter para desconhecidos”.

Achei bom Allison ter gargalhado. Quando bêbada seu humor era melhor.

— Gostei de você — e acenou para o bartender. — E é bonitinho sim, Alex, tem olhos adoráveis.

Adoráveis olhos que eu tinha vontade de espetar com uma agulha.

A expressão de Nick era algo entre sua costumeira seriedade não tão séria. Ele sempre era descontraído e sarcástico, mas ora ou outra assumia aquele semblante meio-termo entre “minha seriedade vai dominar o mundo” e “vou ser engraçado e te divertir”. Acho que ele realmente achava que Miles era louco, por isso a seriedade.

O lugar estava com um clima bom, então resolvi tirar o casaco e me sentar num banco ao lado de Nick, indicando o outro à Peter, que sentou sem fazer pirraça ou algo estranho.

— O que vai querer? — O bartender era um homem de barba grande em uma trança curta, tinha uma expressão facial engraçada e se aproximou de um modo engraçado também. Acho que era novo por ali, ou talvez eu é quem me afastei demais daquele lugar com o tempo e nunca havia o visto.

— Uma cerveja para mim. — respondi.

Ele inclinou a cabeça para Miles e arqueou uma das sobrancelhas, perguntando seu pedido sem palavras.

— Água sem gás.

O homem riu nasalmente.

— Tem certeza?

— Se não tivesse teria mudado o pedido. — Bati em seu braço com meu cotovelo e ele resmungou — Digo, sim, tenho certeza.

Quando o bartender se retirou, acho que rindo, Peter me encarou buscando explicações.

— Por que fez isso?

— Você estava sendo arrogante.

— A pergunta era idiota.

— Não importa.

— Na verdade importa sim.

Revirei os olhos, batucando minhas unhas no balcão sem paciência. Eu gostava de Peter, realmente gostava, mas tinha horas que eu simplesmente queria bater sua cabeça contra uma parede, porque ele conseguia ser irritantemente mimado. Suspirei, enquanto o bartender indiferente trouxe minha cerveja e a água do idiota arrogante ao meu lado.

Nick inclinou-se no seu assento e encarou Miles, tinha aqueles familiares olhos castanhos carregados de curiosidade, e uma expressão que acabara de largar a seriedade e abraçava o carisma.

— Então, Miles, o que você faz na vida?

Peter tomou um gole de sua água, olhando para Nick atrás de mim sem real interesse.

— Muitas coisas, eu respi... — Oh, não, ele não ia falar isso, por favor, não me diga que ele vai falar isso. Nick iria ver que ele é um grande babaca.

— Peter se formou em Cambridge. — cortei-o, tossindo. — Ciências Biológicas.

As sobrancelhas do ruivo se ergueram.

— Cambridge, nossa. Suponho que tendo Cambridge como referência tudo fique mais fácil. Atua em que área do mercado?

Olhei para Peter bruscamente. Eu não sabia aquela resposta, nunca consegui deduzir o que Miles fazia, já que todos os dias, em todos os instantes, ele estava jogado no sofá da sala comendo jujubas e vendo TV. Será mesmo que ele fazia algo? Digo, ele trabalhava?

— Há alguns meses trabalhava em pesquisas de fitoquimica e microbiologia. — bebericou a água, apoiando o braço engessado no balcão — Agora trabalho em casa com avaliação de outros projetos e faço alguns estudos independentes de enzimas bacterianas.

A cerveja quase voltou pela minha garganta.

— Espera aí, quando isso acontece? — estava perplexo, admito, e acho que Miles sorriu de lado ao ver minha expressão. — Digo, em que momento você está trabalhando?

— Durante as madrugadas, na maioria das vezes. Você já abriu meu frigobar e o limpou, então já viu os meus trabalhos.

Espera, o quê?

— O quê? Seu frigobar? — tentei me lembrar do dia em que fui limpar o quarto dele e jogar fora o lixo da semana. Dentro do frigobar havia alguns potes com líquido amarelado com olhos e órgãos de mentira (corações, cérebros, fígados), achei estranho na época, mas não me preocupei, havia algumas vasilhas vazias lá, e só, nem mesmo uma garrafa de água ou chocolate. — Não me diga que aqueles órgãos eram de verdade! Peter, não ouse!

— Estou falando dos experimentos das enzimas bacterianas, as vasilhas com material microscópico. Os órgãos são só um hobby, mas não se preocupe, fora as enzimas nada é contagioso — ele terminou o copo d’água e virou-se para um cardápio sobre a mesa. — Aqui servem ovos fritos, certo?

Depois daquilo eu não falei nada, a ideia de estar contaminado com um material mortal precisava sair de foco antes que Nick ficasse com medo do idiota. Digo, não é como se eu precisasse provar para Nick que Peter é confiável. A questão é que ele é um amigo preocupado e sem dúvida daria um jeito de me tirar de lá, caso Miles se mostrasse um maníaco louco. Acho que o fato de termos namorado por um tempo e de no fim eu ser "expulso" do seu apartamento faz com que ele se preocupe com o tipo de lugar que arranjei. Talvez se sinta culpado ou sei lá, coisa de Nick.

E não sei porquê, mas eu não quero mesmo sair de lá.

— Acho que sim — tossi e peguei o cardápio. — Tem bolo de rum, você não queria comer isso um tempo atrás?

Ally estava com a cabeça deitada no balcão o tempo todo, notei isso naquele momento porque ela se ergueu e bateu a mão na madeira. Piscou algumas vezes e sorriu para Peter.

— Brady! Traga bolo de rum e duas taças de margarita para a gracinha aqui! — ela berrou, sentando novamente e coçando os olhos. — Vou fazer essa noite ficar divertida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Prometo que postarei o próximo em breve. Aproveitar o feriado que não terei nem cursinho, nem tarefas mínimas e complementares e ensino médio pra me escravizar. Não os culpo se não acreditarem em mim, porque talvez nem eu acredite ahaha, mas vou me esforçar em nome do Sr. Parmentier, criador do purê de batatas e alvo de minhas orações.
Até mais, fiquem com batatas!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Epifania" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.