Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 7
Capítulo 07 — O sequestro dos peixes mexicanos


Notas iniciais do capítulo

OLÁAAAAA PESSOAS LINDAS.
Demorei para aparecer de novo, me desculpem. A verdade é que esqueci de postar hahah, não me matem.
O número de leitores cresceu estupidamente, então só posso agradecer. Espero que gostem do capítulo (já escrevi até o 15 e acho que esse é um dos meus preferidos xP)



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30 de Março.

— O marrom é o Chilli e o vermelho é o Pepper. Não se preocupe, eles são gentis, não engolirão sua mão ou algo do tipo.

— Espera um pouco, Miles, você quer por favor explicar tudo do começo?

Peter respirou fundo e se sentou no sofá. De certo modo ele parecia cansado com a ideia de ter que me explicar aquilo, mas acho que ele não entende que nenhum ser humano normal consegue acompanhar seu raciocínio, já que ele não explica nada!

— Meu Deus, você é muito lento, Alex! — enquanto falava acabou se enrolando nos lençóis que ele havia trazido para o sofá e de brinde acabou achando seu tão querido cigarro em meio às tralhas. Não demorou muito para levá-lo aos lábios — Tudo começou quando eu acordei essa manhã e havia um bilhete seu na geladeira dizendo que iria almoçar com seus amigos. Até agora não acredito na sua irresponsabilidade em me abandonar aqui sozinho sem nenhuma comida, mas tudo bem, eu te perdoo. Enfim, percebi que estava com uma insana vontade de comer chilli bastante apimentado, então para não morrer de fome, fui comer chilli naquela loja mexicana que fica entre a Brooks e a Jensen, aquela lá perto da loja de brinquedos sexuais que...

— Pera, pera, pera. Por que você não pediu entrega à domicilio? Você tem ideia do quão perigoso é deixar você solto pelas ruas de New Jersey sem supervisão de um responsável? Você sequer sabe atravessar a rua!

— Deveria ter pensado nisso antes de me deixar aqui sem comida!

— Eu disse no bilhete que a comida estava pronta e na geladeira! Era só esquentar!

— Mas não era chilli! — Berrou, ligando a televisão como se estivesse me ignorando. — Enfim, estava comendo naquele restaurante mexicano um chilli extremamente apimentado, então descobri que não gosto de pimenta. Arde na boca, como alguém gosta daquilo? De todo modo, os garçons me deram bastante água e eu fiquei bem, mas na saída...

— Dá para encurtar a história? — Pedi, tinha muita coisa para fazer e aquilo estava mesmo ocupando meu tempo.

— Quieto! Minha experiência de vida é mais importante que isso aí — falou, apontando o cigarro para meu projeto em construção. — Enfim, quando saí de lá me deparei com um grande aquário de peixes, ele cobria uma parede inteira do salão de saída, então fiquei me perguntando como deve ser fácil para eles comer chilli apimentado, já que tem tanta água em volta para tirar a ardência da boca. A vida de peixes é bem mais fácil!

— Então você comprou peixes e os batizou de Chilli e Pepper em homenagem a sua experiência com chilli, fim. — Concluí sem interesse, terminando de rabiscar meu trabalho.

— Não, idiota, claro que não. Eu meti a mão no aquário e fugi com os peixes. Chilli e Pepper não podiam ser peixes comuns, tinham que estar lá naquele momento importante, o momento em que descobri que pimenta é uma droga.

O lápis quebrou na minha mão pela força que usei. Não a ponta do lápis, mais o lápis em si. Virei meu rosto totalmente em direção ao infeliz que estava calmo ao tragar seu cigarro idiota, como se nada realmente importante houvesse sido dito. Senti meu rosto esquentar, ficando vermelho e provavelmente entrando em combustão.

Não conseguir segurar o grito.

— Você fez o quê?!

— Porra, Alex, acabei de contar a história inteira, vai me fazer repetir tu...

Joguei um livro na sua cara e ele tentou desviar, mas acabou rolando do sofá.

— Você roubou os peixes? Que tipo de maníaco rouba peixes de restaurantes mexicanos!?

Continuei arremessando coisas nele, tudo o que eu via pela frente ia jogando e Miles acabou se escondendo atrás do sofá, sem conseguir se defender. Pulei atrás e atirei o controle da TV, que ele defendeu com o braço engessado. No fim o gesso serviu para algo.

— Nenhum, Alex! — Acertei a cabeça dele com uma caneta e ouvi um resmungo — Maníacos tem vontades incontroláveis por algo! Eu não estava com vontade incontrolável pelos peixes, apenas tinha que tê-los para mim! — O maníaco conseguiu se desviar de uma almofada e foi engatinhando com uma só mão até alcançar o corredor — Isso se chama necessidade afetiva e....

Pulei em suas costas e enlacei seu pescoço, ato que o fez cair, já que seu braço não-engessado não suportou o peso de nós dois. Já sabia o que aconteceria se o deixasse continuar a engatinhar pelo corredor. Primeiro ele se trancaria no quarto até meu humor melhorar, o que significava que ele ficaria preso no quarto por dois dias inteiros, se alimentando das porcarias que ele escondia embaixo da cama e usando a janela como mictório. Depois ele sairia de mansinho do quarto bem cedo para assistir os desenhos da manhã e eu o encontraria antes de sair para a faculdade com um sorriso doce e inocente demais para manter ódio.

Então eu o perdoaria e a vida seguiria.

Mas não! Ele não pode manter peixes roubados em casa por nem mais 10 minutos!

...

— Eu realmente peço desculpas por este mal entendido. Peter também se arrepende muito do que fez, não é Peter?

— Definitivamente não, tenho certeza que Pepper e Chilli seriam mais felizes comigo do que... — dei um soco no seu braço, vendo que a gerente estava começando a perder a paciência. Ela era baixinha e um pouco rechonchuda, mas não parecia ser rabugenta, já que não atacou Miles com palavras ou xingamentos. Ela também não parecia ser mexicana, mas isso não vinha ao caso.

— Peter... — entonei com repreensão — Seja um bom garoto e peça desculpas. A moça podia ter chamado a polícia e você poderia estar preso por roubo de peixes, você não quer isso, quer? Ao invés disso ela está sendo bem legal e você só tem que pedir desculpas e devolver os peixes, vamos!

Senti-me como se desse moral em uma criança, e aquilo acontecia com muita frequência desde que passei a morar com Miles. Uma pessoa normal já teria abandonado o idiota e seguido a vida, mas eu parecia ter problemas também, já que não conseguia me livrar dele sem sentir culpa.

Como ele sobrevivia antes de mim?

Peter olhou para os pés e apertou o nó do saco com os peixes, antes de falar, bem baixinho.

— Desculpa por tentar dar uma vida merecida a esses peixes.

Revirei os olhos e a moça cruzou os braços.

— Agora entregue os peixes à ela, Peter. — tentei dizer com cautela.

E então ele olhou para mim, e pude ver só pelo brilho nos olhos insanos dele, que Miles não desistiria.

Miles nunca desiste.

— Sem chance.

E virou as costas, indo até a porta de entrada e ficando lá, como se esperasse por mim para irmos embora.

— Isso é algum tipo de piada? — A gerente, que atendia pelo nome de “Donna” gravado em seu crachá, indagou. — Garoto, não tenho tempo para isso. Daqui a pouco os clientes começarão a entrar para o jantar. Faça seu amigo devolver os peixes, ou eu não terei escolha senão acionar a polícia.

Engoli em seco. Certo, as coisas começaram a ficar difíceis. Peter não devolveria os peixes, claramente, e Donna, bem, Donna estava ficando realmente puta com a situação.

— Eu realmente preferiria que não fizesse isso. — Sorri, tentando não parecer forçado. — O problema é que Peter, meu irmão, tem certos problemas... Digamos que especiais. — desta vez meu sorriso ficou amarelo. Mentir certamente não é nem nunca foi meu forte. E tirando o fato de Peter ser meu irmão, eu não estava realmente mentindo.

Donna pareceu aliviar a expressão estressada quando eu disse que Peter era especial. Acho que quando alguém é deficiente mental, todo mundo fica mais manso. É um assunto tenso, e deixou a gerente do restaurante mexicano fitando Miles com um olhar de pesar.

— Oh, entendo, o que ele tem?

— Ahn... Autismo. — disse engolindo em seco, sem fazer ideia do que tem uma pessoa autista.

— Ele parece tão... Normal — disse, a expressão marcada de pena.

Peter virou o rosto da porta de entrada para nossa direção, se deparando com o olhar de puro pesar da gerente e franzindo o cenho para isso. Por favor, que ele não venha até aqui e estrague tudo.

Suspirei.

— O grau de autismo não é tão alto — mantive a mentira. Ainda sorrindo amarelo. Meu Deus, mentir não é divertido. — Ele é meio sem noção e tem umas manias estranhas. É um tanto fora da realidade e bastante mimado.

— Entendo. — Donna virou-se sorrindo sem graça — Façam o seguinte, fiquem com os peixes.

...

— Ainda não entendi porque ela mudou de ideia tão drasticamente. — Peter resmungou, analisando os peixes no saquinho. — Não faz sentido nenhum.

Sorri sem graça, tentando tirar o peso da consciência de ter mentido para a mulher.

— Esqueça isso, apenas fique feliz por não ter eles de modo ilegal agora. — Minhas mãos suavam contra o volante. — Quer comer algo? Ouvi dizer que tem promoção no restaurante de comida indiana.

— Não, essa história de comer fora é cansativa. Vim comer comida mexicana de manhã e fui forçado a ficar fora de casa o resto do dia. Poderia ter feito algo muito mais produtivo.

Peter Miles era um cara sedentário, o mundo deve saber disso. Apenas queria saber como ele não tinha a famosa barriga de homem que fica vinte e quatro horas na frente da tevê comendo porcarias. Acho que ele tem algum problema no organismo, um dia certamente pergunto isso a ele.

— Não é como se você tivesse o que fazer lá. Fica o dia inteiro vendo tevê e fumando aquele cigarro idiota. Sabia que mesmo ele sendo eletrônico ele tem nicotina? É feito para viciados largarem o vício. Mesmo sendo poucas substâncias químicas, pode fazê-lo viciar e matá-lo aos poucos.

— Hm, não ligo, ele tem LED.

E ele realmente não se importava, mas bem, quando Miles se importou com algo?

Meu celular tocou no bolso com uma música conhecida, que eu particularmente já havia enjoado. E pouco me importando com as leis de trânsito, atendi enquanto dirigia.

Era Nick.

— Oi.

— Ei, onde você está?

— Indo para casa, por quê? — Já eram quase oito e meia e eu já havia conversado com Nicholas de manhã durante o almoço, então não tinha ideia do que ele poderia querer.

— Passa aqui na pub do Mars! — Ele pareceu falar algo com o bar tender depois. — Você tem que... Que merda Ally, sai daq... Não, eu ainda não...

— Ahn, alô?

Alex! Venha já para cá — Era Allison agora, dava para sentir o sorriso dela no outro lado da linha — Faz um bom tempo desde a última vez que bebemos uma cerveja juntos, e não aceito uma recusa!

Ela estava certa, há pouco menos de dois anos eu parei de sair à noite com eles. Era algo que eu havia me privado com o início das aulas, quando minha atenção era totalmente focada nos estudos e, ultimamente, ser babá de Miles.

E por falar no dito cujo, Peter estava sentado no seu banco me encarando com um olhar curioso, provavelmente se perguntando com quem eu falava.

— Acho melhor não, Ally, tenho um trabalho para terminar e...

Alexander Lewis Shador, venha para cá agora eu vou lhe buscar! Pare de infantilidade e dê um tempo nessa chatice.

Peter está comigo, Ally, e eu não...

Pude sentir os olhos dela brilhando. Allison conseguia mostrar sua agitação com o simples fato de respirar.

— Traga ele, traga seu maníaco agora! Sim, é uma ordem! Alex, traga seu companheiro de quarto para que eu possa avaliá-lo.

— Não, sem chance.

— Lewis. Eu estou pedindo educadamente, não me faça começar a gritar.

Tinha certeza absoluta que Ally já havia bebido algumas, sendo que ainda nem era nove horas. A verdade é que ela tinha o poder de ser atrevida no assunto homens quando sóbria. Bêbada, então, era o momento em que de tão tarada, Allison fazia coisas nada legais.

A última coisa que precisava era traumatizar o pobre Peter.

— Vou deixar Miles em casa, depois passo aí. — finalizei.

Não! Quero conhe...

E então eu desliguei na sua cara.

Sorri de canto, imaginando sua expressão de desgosto pelo meu ato. Provavelmente estava me xingando de coisas nada legais, devolvendo o celular para Nick e afogando a raiva em bebida. Era tão típico e previsível.

— Para onde você vai? — Me espantei ao notar que Peter ainda estava ali. Por um instante havia esquecido da sua presença, ele estava silencioso demais.

— Bem, primeiro vou em casa deixar...

— Me deixar, tá, isso entendi. Quero saber pra onde vai depois.

Meu pé quase freou o carro imediatamente, pude sentir meus tendões querendo afundar contra o freio, mas me contive. Olhei para o lado, onde fui encarado por olhos azuis febris e carregados do que seria... raiva? Não só os olhos e a expressão, mas a voz também havia me espantado, parecia mais grossa e mais fria, talvez. Peter sempre era um pouco indiferente, mas sua voz sempre soara meio doce e infantil, e não naquele tom seco e bruto.

Virei novamente para o trânsito.

— Vou... — pigarreei — vou à um pub com amigos, mas não se preocupa, não vou fazê-lo ir comigo.

Ele virou-se para frente novamente, sério, apoiando o braço quebrado contra a porta do passageiro.

— Eu vou com você. — concluiu, baixinho.

— Ah, você não tinha coisas para fazer em casa?

— Por que você parece decepcionado? — Sorri de canto com o que ele disse. Sério do jeito que ele estava por algum motivo, Peter parecia menos louco que o comum. — Se você beber eu vou ter que dirigir.

— Você não sabe dirigir. — Estaria Miles preocupado comigo? Aquilo me fazia sorrir mesmo sem querer.

Ele resmungou com um grunhido e cruzou os braços, batendo o saco dos peixes contra o gesso. Acho que esqueceu que Chilli e Pepper ainda estavam ali. Pensei em mandar ele tomar cuidado, mas optei por ficar quieto.

— Obrigado por esfregar na cara — Murmurou enquanto afundava no banco — De qualquer forma, vou com você. Será preciso alguém sóbrio para te carregar de volta pra casa.

Ele estava convencido que eu beberia até cair. Mal sabia ele, que naquela noite, seria eu quem teria que carregá-lo.


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Notas finais do capítulo

E... É isso. Provavelmente postarei o próximo em breve, vou tentar não demorar tanto. A verdade talvez seja que eu esteja com medo que meu estoque de capítulos acabe, então vou tentar escrever mais dois antes de postar o próximo. Tentarei ser rápida, juro.
Até breve



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