Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 6
Capítulo 06 — Ossos doces problemáticos com uva


Notas iniciais do capítulo

ME DESCULPEM PELA DEMORA, SÉRIO.
Demorei uns vinte dias para finalmente aparecer e sinceramente, não sei o porquê. Algo em mim tava com uma preguiça e um sono de férias que me impediu até mesmo de clicar em "Atualizações" aqui do site kkk. Para se ter uma ideia, acabei de acordar e já são 23:30h
Desculpas à parte, o capítulo de hoje é dedicado à Lyown Corpus, uma pessoa maravilhosa e de bom coração que merece muitas jujubas e recomendou a história. Sério, cara, muito obrigada ♥
Agora, bem, boa leitura xP



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Ainda no dia 4 de Março.

— É bom que saiba que isso é tudo culpa sua. — Falei antes que ele dissesse qualquer coisa em sua defesa.

— Minha?! Claro, porque fui eu quem saiu correndo com um taco de baseball na mão afim de estourar miolos de Peters inocentes.

— Não teria corrido com um taco de baseball atrás de Peters inocentes se um certo Peter não houvesse me tirado de uma aula importante apenas para procurar por um estúpido cigarro!

— Ora, ao menos no fim eu achei o cigarro! — ele sorriu, pondo o cigarro eletrônico na boca e tragando o vapor de água.

— Ora, ao menos no fim eu consegui quebrar algum osso seu. — não consegui imitá-lo e sorrir, pois a situação não era assim tão feliz ao ponto de merecer sorrisos. Melhor! A situação era péssima! Como ele conseguia sorrir?

Eu havia quebrado o braço esquerdo dele — não foi bem eu quem quebrou, mas devido às circunstâncias a culpa meio que caía sobre mim — e Peter já era suficientemente irritante sem danos físicos, imagino que com danos físicos viver com ele seja o maior desafio da minha vida.

E esse grande desafio sequer entraria no meu currículo.

— Ei, para onde você está indo?

Olhei para ele, que me encarava um pouco espantado, talvez até mesmo decepcionado e com um traço de irritabilidade.

— Estamos indo para casa, ora.

Foi como pôr fogo em álcool, Peter entrou em chamas.

— Oh, não, não, não, não! Qual é o seu problema? — Ele estava mesmo agitado, e eu, mais confuso — Não acredito que você quebrou meu braço e nem vai compensar me levando no Dylan’s*!

Oh, não, aquilo definitivamente não era bom. Respirei fundo, buscando palavras para não atiçar mais as chamas.

— Já fomos no Dylan’s semana passada e você comeu tanto doce que passou mal. — Pensem comigo, se Peter que é Peter passou mal comendo doce, é porque ele realmente comeu muito doce. Muito. — Além disso é fora da nossa rota e o trânsito já...

— Alex, me leve ao Dylan’s ou eu pularei deste carro e gritarei dizendo que você me sequestrou!

Respirei fundo mais uma vez. O trânsito estava parado, então virei o rosto e o encarei, me indagando se aquele cara tinha mesmo vinte e quatro anos. Passei a mão no rosto, o esfregando. Estaria eu servindo de babá para um homem dois anos mais velho que eu? Se sim, esse definitivamente não foi meu plano de vida.

— Não podemos ir amanhã? — Tentei convencê-lo, mas ele negou. — Qual é Peter, já são oito horas! Estou cansado e fiquei sentado esperando você no hospital por três tediosas horas!

— Um pouco ridículo para apenas pôr um gesso, não acha? Mas não, arque com suas responsabilidades, temos que ir ao Dylan’s. Agora.

Virei o carro na rua mais próxima, sabendo que havia perdido a batalha no momento em que ele começou a reclamar. Miles sorriu vitorioso e aproximou o rosto da minha orelha, sussurrando do modo alto de sempre, que nem poderia ser considerado um sussurro.

— Esqueci de comentar, mas você é quem vai pagar.

...

16 de Março.

— Peter! Pete, qual é, você sabe que eu não estou aqui porque quero, então colabore ao menos uma vez! Cansei de fazer isso todo o dia, você sabe que eu tenho o meu trabalho e minhas aulas, por favor, acabe logo com isso.

Sim, era Luke, desta vez em um horário mais cedo que o habitual. A verdade? Bem, a verdade é que eu realmente estava começando a sentir pena do irmão de Miles. Ele não parecia ser mais velho que ele, e por muitas vezes me perguntei se ele era mais novo. Digo, ele era mais baixinho, menos esguio e menos pálido, mas possuía os mesmos olhos claros de Peter, estes, porém, tinham um ar mais juvenil.

— Você nunca vai abrir a porta para ele, não é? — Perguntei, sentando-me no balcão com uma caixinha de suco de uva na mão. Fiquei observando enquanto ele andava pela cozinha, procurando comida na geladeira com sua mão não-engessada.

— Você já deveria saber disso, está vivendo aqui há mais de 100 dias, o que merece uma comemoração, já que é um recorde. Não sei porque, mas as pessoas sempre iam embora nas primeiras semanas — disse, realmente pensando sobre aquilo, enquanto pegava uma garrafa de leite e se virava para mim com um usual bigode lácteo — Aliás, você está vivendo aqui há pouco mais de 3 meses e já quebrou meu braço. Você parece ser perigoso, eu deveria tomar mais cuidado com isso. — ele estava sério. Por que diabos ele estava sério? Melhor, como ele conseguia ficar sério com um bigode de leite? — Sabe, vai que você é um lunático ou algo assim e queira me matar durante o sono.

Ah, agora eu era o lunático ali. Eu!

Suspirei e deixei um sorriso de canto aparecer.

— Miles, se eu quisesse matar você, teria o feito há muito tempo.

Ele ergueu os olhos e limpou a boca.

— É, bom ponto. — Eu continuei tomando meu suco de caixinha, balançando as pernas no ar enquanto Peter guardava o leite na geladeira. Ele voltou na minha direção, então, de repente, ficou estagnado me olhando fixamente como se eu fosse um monstro. A sensação? Bem, parecia que ele estava vendo uma aranha gigante na minha cabeça e não conseguia abrir a boca para falar, de tanto pavor. Gaguejou um pouco antes de conseguir finalmente dizer/berrar algo, a sobrancelha tremendo — O que é isso?!

Ele havia gritado, bem, bem alto, apontando com seu dedo meio torto em direção à mim — mais especificamente em direção à caixinha que eu segurava.

— Ah, é suco de uv...

O que se seguiu foi algo perturbadoramente estranho — e acredite, já havia visto muita coisa estranha nos últimos meses — e estupidamente veloz. Como um ninja, Miles deu um tapa na minha mão com força, usando sua mão não-engessada. Não pude acompanhar o movimento da caixinha até o chão, mas acompanhei a mesma mão não-engessada que conseguiu apanhá-la antes de sujar o carpete e, como se fosse uma bomba prestes a explodir, Peter deu dois pulinhos e arremessou-a pela janela.

Podia jurar que havia escutado um gato berrar lá embaixo, na rua. E, paralisado e sem conseguir piscar, me virei para ele, que parecia tremendamente aliviado.

— O. Que. Foi. Isso?

Miles inspirou, como se estivesse retomando o fôlego, depois ajeitou a postura e começou a descolorir o rosto avermelhado pela adrenalina.

— A Missão-Enterra-Passado sendo processada. — Ele veio até o balcão onde eu ainda estava sentado e ficou na minha frente, olhando para o meu rosto e apoiando o braço bom no lado do meu corpo. — Quando você comprou isso?

— "Isso" se refere à caixa de suco? — Engoli em seco quando ele assentiu. — Ahn... Faz um tempo, acho. Talvez duas semanas?

Ele ficou vermelho de novo. Oh, não, isso definitivamente não era bom!

— Duas semanas! Você está há duas semanas com esse veneno na minha geladeira e não cogitou a ideia de, sei lá, me avisar?

— Avisar o quê?! Que eu havia comprado suco?

O lunático respirou fundo e aproximou o rosto do meu, olhando fundo nos meus olhos numa tentativa de me fazer perceber que ele estava mesmo irritado. Bem, funcionou, apenas o modo como as sobrancelhas dele se enterravam no vão do nariz deixavam bem claro que ele não estava feliz.

— Que havia comprado suco de uva! — gritou alto. Meu Deus, esse cara adorava gritar alto.

E quando eu pensei em dizer algo não formulado — provavelmente uma fala confusa e sem coesão — uma voz abafada se mostrou fora do apartamento.

— Suco de uva!? Tem suco de uva aí?!

Sim, era Luke, que pareceu bem agitado com a ideia de um inocente suco de uva entrando no meu estômago. Eu acabei voltando minha atenção à porta, então Peter teve que pegar meu queixo e virar na sua direção.

— Você não comprou mais nada de uv... Da-palavra-que-não-poderá-ser-proferida, comprou? — Fiquei estático. Bem, talvez tenha comprado algumas barras de cereais (e pego uma pequena amostra grátis de uma geleia caseira que estavam dando na feira), alguns bolinhos e... Bem, acho que só. — Comprou, Alex?! — ele berrou.

— Quer parar de gritar?!

— Você está gritando também! E não vê como essa situação é urgencial?

Urgencial? Essa palavra não existe! — Certo, a situação estava mesmo perdendo o controle. Mas o que eu podia fazer? Estava morando com um lunático com sérios problemas contra uvas! E eu não podia dizer que havia comprado mais produtos de uvas, porque eu realmente queria comê-los! Só me restava mentir, certo? — E não! Não comprei mais nada de uv...

Como se não bastasse, a mão que antes segurava meu queixo tapou minha boca. Peter me encarava sério, extremamente próximo com aqueles olhos azuis-piscina que eu tinha uma tremenda vontade de furar com uma agulha.

— Não fale a Palavra-Que-Não-Pode-Ser-Proferida.

— O que você tem contra uv... Você entendeu. — Acabei não terminando a frase com uma pergunta.

— Várias e várias coisas. Longa história. — respirou fundo, voltando a me encarar e segurar meu queixo. — No entanto qualquer coisa relacionada a essa fruta demoníaca está restritamente proibida nesse apartamento, entendido?

Sorri de canto. As estranhezas dele nunca tinham fim, e a cada dia eu ia descobrindo novas e novas manias. Como podia um cara só ser tão esquisito? E não, ele não tinha problemas mentais ou deficiências, acredite, eu perguntei, e ele, com uma cara de desentendido, me questionou o porquê da pergunta.

Ele realmente não nota o quão estranho é.

E isso, de uma forma extraordinária, é brilhante.

— Entendido — respondi, por fim.

— Bom menino. — ele sorriu também, bagunçando meu cabelo como se eu fosse relativamente mais novo que ele.

— Peter. — chamei, encarando-o do mesmo jeito que ele me encarava.

— Sim?

— Você está perigosamente perto — Quando notou isso, riu pelo nariz, respirando no meu rosto.

Não moveu um só músculo para sair daquela posição totalmente embaraçosa. Ele, uma mão em meu queixo e a outra engessada próxima à minha perna, rostos muito próximos, e estávamos quase colados um no outro. Aquilo não podia ser bom.

— Hm. — disse ele, apenas, olhando para mim.

Ah, qual é, ele não ia sair dali?

— Você não planeja me beijar, planeja?

Primeiro, houve silêncio.

E logo depois ele gargalhou de modo bastante audível e se afastou de vez, levando a mão à barriga para ajudar no ato de rir. De certo modo eu fiquei um pouco embaraçado com o afastamento repentino e a gargalhada tão altamente calorosa — Peter tinha uma risada estranha, uma mistura de voz rouca e desafinada com algo mais —, mas admito que estava mais curioso do que desapontado.

Enfim ele parou de rir e olhou para mim enquanto caminhava para seu quarto.

Não enquanto sua boca estiver com gosto de suco de uva. — e sumiu no corredor.


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Notas finais do capítulo

*Dylan's é uma loja americana de doces (muitos, muitos doces), um sonho de consumo.
Espero que tenham gostado do capítulo e rezo pra que a imagem do Peter esteja sem erro kk.
Meio tarde para um Feliz Natal, então feliz Ano Novo à todo mundo desse universo c: Que 2016 seja um ano sem plágio e sem bloqueio criativo.
Agora, me retiro do site porque preciso assistir o Especial de Natal de Doctor Who com a minha River Song. Adeus!



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