Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 5
Capítulo 05 — Mike, busca descontrolada com uniforme especial


Notas iniciais do capítulo

MAIS UM CAPÍTULO UHHHUU
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/659273/chapter/5

4 de Março.

— Almôndegas? Que cara estranho.

— Se eu tiver que comer mais uma almondegas nos próximos quatro anos vou ter um ataque. — resmunguei, feliz por achar alguém para reclamar. — Ele é um pouco... Esquisito. Tem várias manias e vários surtos de ideias — Mordi meu muffin e continuei a falar enquanto mastigava. — Mas é um cara legal, apesar do sério problema de organização.

Nicholas, vulgo Nick, franziu o cenho. Acho que eu conseguia ter uma ideia do que se passava na sua mente. Seria o mesmo pensamento que eu teria se ele houvesse passado a morar com um cara que arremessa almôndegas na parede de um quarto vazio.

— Ele não é louco — respondi o que viria a ser uma pergunta. — Só é um pouco... Ahn... Peculiar?

— Você não parece ter certeza disso. E se ele for um maníaco do machado? Ou um estripador? Ou um estuprador de meninos com olhos inocentes?

Revirei os olhos, ignorando Nick e bebericando meu café. A cafeteria naquele horário estava relativamente cheia, mas não o suficiente para me fazer não reparar em Ally, que se aproximava da mesa gentilmente com sua bandeja. Ela, toda pequena e magrinha, parecia precisar de ajuda até mesmo para carregar seu cappuccino e croissant.

— Então, do que falamos? — perguntou, finalmente se sentando e arrumando a franja do cabelo curto.

— Do maníaco com quem Alex divide o apartamento.

— Ah, ele é bonito? — adiantou-se logo, a animação brilhando nos olhos escuros — Não precisa de, sei lá, uma namorada ou algo assim?

— Qual parte do “maníaco”, você não entendeu? — Nick inquiriu. A verdade é que nós dois estávamos acostumados com a exaltação de Allison quando o assunto era garotos. Sempre animada, sorrindo e querendo logo saber qual o status de relacionamento.

E ela era bonita, o que lhe dava certa vantagem. Era pequena e com um ar delicado, cabelos de um castanho claro curto e repicado que ela mesma fazia questão de cortar, olhos escuros, cara de inocente. Tudo o que um homem poderia desejar.

Já Nick parecia realmente incomodado com o meu novo companheiro. Era com ele que eu dividia o apartamento antes, em um prédio bem simples no centro da cidade, porém, após uma série de fatores envolvendo relacionamento amoroso, decidimos voltar a ser só amigos de novo, e a grande solução foi eu me mudar, já que o apartamento originalmente era dele.

Não diria que ele era um cara sério, embora sua feição fosse um tanto amedrontadora quando raivosa, mas Nick às vezes conseguia manter uma expressão tão séria que mataria o mundo de seriedade. Acho que foi isso que me atraiu nele na época, o modo conseguia converter uma expressão séria em uma descontraída na mesma velocidade de piscar.

E o fato dele ser ruivo. Gosto de ruivos.

— Pouco importante esse detalhe — ela observou. — Então, ele é bonito?

— Hm, acho que sim. Nunca parei para notar.

Uma mentira óbvia, mas a última coisa que precisava era Ally dando em cima de Peter, que provavelmente nunca teve contato com uma pessoa do sexo oposto que não fosse a própria mãe — sendo que ele acabara fugindo dela assim que teve a chance. Seria o mesmo que Ally dar em cima de uma criança de 7 anos, ela poderia ser presa por pedofilia ou algo assim.

E talvez, do mesmo modo que um pedófilo atrai uma criança, Ally poderia atrair Peter com um simples pirulito.

Sorri com o pensamento.

— Enfim, Alex, se o cara aparentar algum distúrbio ou algum ataque de gente louca, corra. Já vi vários filmes de terror que começam assim e terminam em, bem, em terror. Ou então tranque-se no banheiro e ligue para a polícia.

Ally revirou os olhos e passou a dar atenção a comida.

— Não é para tanto, ele não é perigoso. Se quisesse me matar teria feito durante esse mês que estou morando lá — tentei consertar o estrago, virando o copo de café de uma vez e engolindo o que sobrou do muffin — Aliás, me trancar no banheiro seria inútil porque ele não tem fechadura.

Os dois olharam para mim com as sobrancelhas enterradas no vão do nariz. Por que as pessoas sempre franziam o cenho?

— Que tipo de banheiro não tem fechadura? E a privacidade?

— O cara é um tarado, quer ver você tomando banho. Tome providências disso.

Suspirei. Realmente, as pessoas não entendiam de primeira.

— Não, não é isso. Peter não gosta da ideia de fechadura emperrada, porque não gosta de ficar preso em um lugar até resolverem o problema, então ele tirou a do banheiro. — Peguei os livros em cima da mesa e pus na bolsa — Ele tirou a do banheiro porque gosta menos ainda da ideia de ficar preso em um quarto pequeno e nu, enfim, longa história. Tenho mais aula agora, então vejo vocês mais tarde.

E saí correndo, sem dar a oportunidade deles dizerem algo.

...

Ainda 4 de Março

Alex, responda-me urgentemente.

Miles.

Estremeci. Estava no meio da aula quando recebi a mensagem, e fora extremamente complicado lê-la sem ser pego. Mais complicado ainda seria respondê-la ou fazer qualquer coisa do tipo. Respirei fundo e pus o celular no bolso novamente.

— Lembrem-se do projeto para a próxima semana. Valerá 30% da pontuação anual, então é bom que caprichem. Há também... — Sr. Monroe, um professor baixinho de pele chocolate e bigode engraçado, continuou falando mais sobre o Grande Projeto Anual, aquele que iria valer uma grande parcela da nossa nota final.

E naquele momento meu celular tremeu mais uma vez no bolso.

Onde você está, bacalhau? Venha aqui agora, preciso de você.

Miles.

Por que, Peter? Por quê? Por que justo quando eu estou ocupado?

Antes mesmo de tentar pôr o celular no bolso, uma nova mensagem surgiu.

Estou à beira de um colapso. Por Aldo, onde está você?

Miles.

Por Aldo? Ah, então a coisa era mesmo séria. Meu Deus, Miles, no que você se meteu?

— Sr. Monroe, peço licença, mas preciso mesmo me retirar. Urgência.

...

Abri a porta com tamanha força que por pouco ela não voou longe. Não me dei tempo de recuperar o fôlego e já fui entrando, jogando minha bolsa no chão e buscando as pantufas de Darth Vader nas pernas esguias e pálidas. Sempre que eu chegava ele estava no sofá, ambas as pernas suspensas no ar.

Naquele dia não estava.

— Peter? — Chamei, engolindo em seco. O apartamento todo estava congelado em silêncio alucinante, que arrepiou até meu último fio de cabelo. As cortinas estavam seladas e tudo estava mergulhado no mesmo escuro do dia em que entrei ali pela primeira vez. A tevê estava ligada e uma reprise de algum seriado antigo rodava, mas Peter não estava na sala. Peter não estar na sala = alguma coisa estava tremendamente errada. — Miles?

Havia duas conclusões: Ou Peter foi morto, ou sequestrado. Quem sabe Luke tenha dado sorte?

Antes de alcançar o sofá, tropecei. Não, não era do tipo atrapalhado que cai no próprio pé toda hora, no entanto foi inevitável não cair no chão quando uma caixa maior que minha canela — e cheias de livros de psicologia — encontrava-se no caminho.

Liguei as luzes e a visão que me ocupou a mente foi perturbadora. Todo o apartamento estava virado de cabeça para baixo. O sofá havia tombado para o lado, a estante — antes cheia de livros — estava no chão também, e seus livros abertos por todo lado. Havia caixas e caixas espalhadas pelo corredor, capas de filmes abertas, isopor para todos os lados, gavetas das cômodas arrancadas fora e tanto papel que não faço a menor ideia de onde surgiram.

— Peter? — tentei mais uma vez, sendo cauteloso. Havíamos sido roubados? Mas, o que eles roubariam? A tevê, o videogame, os livros, filmes, todos ainda estava ali. Os sacos de almôndegas ainda estavam no freezer, o chicote de Miles ainda estava no quarto dele, as latas de tinta ainda no quarto do Aldo. Ou será que aquilo fora obra de uma luta?

Peguei o taco de baseball — aquele destinado a abater almondegas contra a parede do quarto de Aldo —, que ele insistia em chamar de Michael, ou Mike para os íntimos, e saí para procurar nos demais lugares dali.

E se o assaltante/sequestrador/assassino ainda estivesse no apartamento?

Engoli todo meu medo com a garganta seca e saí procurando por Peter em todo lugar. Banheiro, quartos — até mesmo nos cômodos que eu nunca soube para quê serviam —, chequei duas vezes os dois lados de fora das janelas, até que apenas me restou o armário de vassouras, um armário onde Miles não guardava nenhuma vassoura — de acordo com ele aspiradores de pó, apesar de agressivos, são mais práticos.

E, quando abri a porta do armário e liguei a luz, me deparei com uma cena que jamais esqueceria.

Peter Miles estava dentro de uma caixa gigante cheia de isopor— o armário de vassouras era o armário das caixas desnecessárias —, vestido com sua fiel capa de chuva e com um lençol amarrado no pescoço. Quando acendi a luz, ele tirou a cabeça de dentro da caixa e me fitou, a expressão séria e uma lanterna presa entre os dentes.

— Você... Oh, meu Deus. Você está bem? — Perguntei, pondo o taco de baseball, vulgo Mike, atrás da porta.

— Sim, por que não estaria? — Ele parecia calmo, bastante calmo.

— O que... — Bem, por onde começar? — O que aconteceu com a sala? E... Por que você está dentro dessa caixa com seu “uniforme”? Por que as luzes estavam apagadas? E, por Deus, onde está a urgência?

Ele suspirou, apagando a lanterna e se apoiando na beirada da caixa.

— Estou em uma missão de busca, e cheguei à conclusão, depois de muita procura, que o objeto procurado não está na sala. A situação requer o uso do uniforme especializado em buscas genéricas. O escuro melhora minha memória e aguça meus sentidos. E a urgência, caro Lewis, é a maior preocupação que um ser humano pode carregar. — Ele respirou fundo, dando tudo de si em seu maior ar dramático. — Alex! Não sei onde está meu cigarro!

Arqueei a sobrancelha com seu último grito, tentando, de modo falho, processar a explicação para todo aquele caos.

— Deixa eu ver se entendi — falei, bem devagar — Você me fez sair no meio da minha aula, me fez correr da universidade até aqui, me deu um baita susto com o estado do apartamento (além de me dar trabalho já que sou eu quem vou limpar tudo), me fez preparar meu estado de espirito pega-bandido, só porque você não sabe onde guardou seu cigarro!? Sério isso, Miles!?

— Exatamente! Fico feliz que tenha compreendido. Por um momento achei que você se sentiria incomodado — Sorriu largo, saindo de dentro da caixa e vindo em minha direção. — Mas, por que trouxe Mike com você?

Como podia estar tão sorridente e achar aquilo tão normal? Como podia não notar o grande problema que ele causava? Era sem-noção ou cego?

Tive que respirar fundo para conter a raiva antes de responder àquele rosto sorridente à minha frente.

— Ora, por que traria meu querido amigo Mike, se não para me ajudar a amassar sua cabeça e estourar seus miolos? — Respondi, pegando o taco de baseball novamente e vendo o sorriso no seu rosto ir diminuindo gradativamente. — Corra, Peter Miles, corra.

E ele correu, correu mais rápido do que nunca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E é assim que eu imagino o Alex xP Vocês são livres para imaginá-lo como quiserem, claro. Posto o banner do Peter no próximo capítulo :D
Amei os comentários de vocês, reclamar deu certo ahah
Espero que estejam curtindo. Vejo vocês logo! c:



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Epifania" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.