Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 4
Capítulo 04 — Almôndegas maléficas órfãs.


Notas iniciais do capítulo

Tantas pessoas acompanhando e só uma comentando, que tristeza.
Vou postar mais um de madrugada se estiver de bom humor, esse foi bem curto.
Boa leitura.



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4 de Março.

Durante os dias que se seguiram nós comemos almôndegas. Almôndegas no café da manhã — no café da manhã dele, eu comia cereal, que era mais saudável para minha sanidade —, almôndegas no almoço, almôndegas no lanche da tarde, e adivinhem? Almôndegas no jantar.

Peter havia conseguido me fazer odiar almôndegas, assim como me fez odiar jujubas, assim como me fez odiar filmes com mais de 20 anos de lançamento, assim como me fez entrar em pânico ao ver os comerciais da polishop.

Como pode um único ser trazer tanto ódio a uma pessoa?

Peter Miles podia ser tudo de pior e ser o tão estranho quanto possível, no entanto seus gostos eram extremamente flexíveis, então já estava na espera do maravilhoso dia que chegaria:

— Alex, não quero mais almôndegas.

Essa seria a frase que eu bordaria como mensagem de apoio em um travesseiro, talvez até mesmo como um adesivo no meu futuro carro. Não houve um dia sequer na vida de Alex Lewis, em que ele se sentiu tão realizado com poucas palavras.

Deixei meu rosto cair na mesa em alívio e respirei fundo.

— Ah, obrigado. — olhei para ele de novo, mas ele estava concentrado demais nas letras do alfabeto de cereal que boiavam no leite. Meu cereal, diga-se de passagem — Mas, você sabe que me fez comprar ontem mais 5 sacos de almôndega, né? O que vai fazer com tanta carne?

Ele parecia pensativo, encarando meu cereal como se fosse algo de grande significância. Talvez houvesse sido um erro comprar cereal de letras.

— Peter?

— Faça um molho para as almôndegas — ele disse, calmo e, sem olhar para mim, puxou a tigela para si — Posso comer seu cereal?

Pensei em replicar dizendo que ele havia comido meio sanduiche de almôndegas — antes de finalmente perceber que havia mais almôndegas na sua vida que o necessário. — e que seu pedido era inútil, visto que ele já havia tomado a tigela para si e já comia o cereal, mas preferi não dizer nada e fiquei observando-o enquanto comia meu café da manhã sem respirar.

— Pra quê quer almôndegas com molho? Não disse que não iria mais comer? — Miles levantou a cabeça, mastigando o cereal de modo bastante barulhento, a boca cheia e o leite escorrendo nos cantos — Oh, não me diga que vamos doar o alimento? Ouvi dizer que o orfanato Golden Lucy abriu as portas para caridades! Isso é ótimo, Peter! Ajudar as crianças da...

— Do que você está falando?! Vou usar as almondegas como bola e baseball e ir jogá-las nas paredes do quarto do Aldo.

Peter manteve a sobrancelha erguida por alguns segundos que pareceram uma eternidade, e eu fiquei em silêncio, tentando acreditar no que aquele cara estava dizendo. Não achava provável que um ser conseguisse ser tão indiferente aos absurdos que falava, muito menos que conseguissem ter uma mente tão insana quanto a dele.

— Como você pode ser tão maléfico?

E ele pareceu realmente não compreender o que eu disse.

— Maléfico por quê? — Indagou, parando de comer o cereal e me fitando curioso, com um ar de inocência.

— Como você pode deixar de dar alimento às crianças órfãs, para simplesmente ir jogá-las na parede do seu quarto?

Peter não pensou muito antes de responder, no entanto houve silêncio até ele engolir o que tinha na boca.

— Em primeiro lugar, o quarto é do Aldo, não meu. — tempos depois descobri que Aldo fora o nome que ele dera ao Nada, pois de acordo com Miles, ser o Nada era cansativo demais. — Em segundo, não sou maléfico por não dar comida às crianças, pois, pense bem, você também não vai dar comida alguma à elas. Então pode-se supor que você é maléfico também. — Ele se esticou para apanhar a caixa de cereal — Se for assim, eu sou maléfico, você é maléfico, sofra em silêncio.

Fiquei encarando-o por alguns instantes até perceber que ele estava certo — embora errado ao mesmo tempo. Vendo-o ali, comendo cereal como uma criança e falando coisas irritantes — por não estarem erradas —, Peter conseguia ter uma áurea um tanto genial, quanto infantil e mimada. Suspirei, levantando-me da mesa e pegando minha bolsa em cima do sofá.

— Tenho aula agora, mas faço seu molho quando chegar.

E saí.


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Notas finais do capítulo

Sério, pessoas que estão lendo, tentem comentar, me ajudaria muito.
Até mais!



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