Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 3
Capítulo 03 — A triste história do vizinho, o quarto do Nada e almôndegas


Notas iniciais do capítulo

Oláááááááá!
Trago a vocês mais um ilustre capítulo de.... EPIFANIA! AHAHHAAHHA
Espero que gostem c:



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17 de fevereiro.

— Garota número 1 descobriu da existência da garota número 2 e parece que Jesse se ferrou. — Peter riu — elas estão batendo nele com uma vassoura. Rápido, Alex, vem logo!

Terminei de preparar o café em velocidade recorde e corri até a janela, pegando o binóculo da mão dele e chegando a tempo de ver a garota número 1 só de lingerie batendo em Jesse com uma vassoura, enquanto a outra, vestida adequadamente, subia em suas costas e o enchia de tapas.

— Nossa, Peter, você é doente. — falei sorrindo.

— Ah, você não quer ver? Então passa pra cá que eu quero apreciar esse show.

Ele simplesmente pegou o binóculo de volta e abriu o maior sorriso que um Peter como ele poderia abrir, e eu fiquei ali, querendo no fundo espionar a briga das amantes do vizinho também. Não, não posso me deixar levar pela Peteriorização.

— Oh! Meu deus! Alex! — Me virei de súbito — A Sra. Parsons chegou em casa! A Sra. Parsons chegou em casa!

— Não brinca!

Tentei puxar o binóculo da sua mão, mas Miles apenas me empurrou.

— Ahhhh, a Sra. Parsons tá batendo nele também, meu Alguém do céu! — Era incrível como isso o deixava excitado de felicidade. Ele estava pulando de alegria! — Vai lá, Sra. Parson, ensine uma lição nesse vagabundo!

— Me dá, quero ver também! — Estiquei-me para pegar o binóculo, mas Peter apenas me manteve longe com a mão na minha testa e continuou parado, sem mover um músculo — Peter!

E ele só me ignorou, enquanto eu ficava ali, ansiando por saber como Jesse aprendia a lição de não trair. Pude ouvir alguns gritos das moças e da velha Sra. Parsons, a única pessoa em toda New Jersey que aceitou dividir apartamento com Jesse, mas só isso, fazendo minha curiosidade triplicar.

— O que está acontecendo? — ele não respondeu — Peter!

— Sra. Parson expulsou as garotas e está brigando com Jesse. — Tirou o binóculo do rosto e o colocou na mesa ao lado, desapontado — agora Jesse entrou em algum cômodo e a discussão acabou. Enfim, fez minhas panquecas?

...

20 de Fevereiro

— Como você não enjoa de jujubas? Eu enjoei só de ver você comendo tantas todos os dias.

Peter jogou as pernas em cima do meu colo, abraçando seu lençol e enfiando várias jujubas na boca.

— Então massageie meus pés.

— O quê? Por quê?

— Por que não?

Ele tirou os olhos da TV e olhou para mim. Sabe, eu dificilmente parava para estudar o rosto dele e já morava com ele há um mês, mas aquele momento foi difícil não fazê-lo, já que a luz da tv em contraste com a escuridão da sala o tornava assustador.

Peter tinha cabelos negros bem escuros — que a luz da tv revelava reflexos azulados — e uma pele branca do jeito que deveria ser por ele sempre manter os ambientes sem luz ou sol. Tinha uma cara bem psicopata, e seus olhos, azuis-piscina assim como os de Luke, eram bem legais e por vezes me pegava imaginando como seria furá-los com uma agulha.

— Não vou massagear seus pés, Miles.

— Por que não? — ele indagou.

— Por que deveria?

Ele sorriu e se sentou direito, inclinando-se na minha direção.

— Por que estou pedindo.

E por que eu deveria obedecer? Pensei, sabendo que não falaria isso. Ao invés disso, só disse:

— E?

— E só. — ele se inclinou mais para o lado, encostando a cabeça no meu ombro em um ângulo aparentemente desconfortável. — Alex, por que você é loiro?

Arqueei uma sobrancelha.

— Você bebeu? — Eu sabia que não, mas as vezes não custava perguntar. — Por que você é moreno?

— Porque mais de 80% da população mundial é morena. — Senti um arrepio enquanto ele brincava com a manga da minha camisa e eu sinceramente não sabia porque, assim como não sabia o porquê de ele não estar prestando atenção no 4th Doctor na televisão, era seu preferido. — Seu ombro não é confortável.

— Ah, obrigado.

— De nada. — ajeitou-se no sofá, enrolando-se mais ainda no lençol. — Quer fazer algo mais legal?

— Tipo...

Eu particularmente tinha um pouco de medo de descobrir o que era o legal para ele e esperava que fosse algo inofensivo ou ao menos não-perigoso.

— Tipo quarto do Nada, com tintas e chicotes e... Chocolate.

...

Joguei-me no chão, cansado e sem me importar com a roupa suja de tinta. O que eu tinha feito naquela noite foi algo que eu não fiz nem mesmo quando estava no jardim de infância. Sorri ao ver a parede que antes era branca, agora cheia de mãos em diferentes cores de tinta e borrões indefinidos. Havia também pés, num canto mais exclusivo e também uma enorme mancha preta com buracos no lugar dos olhos e boca.

Sim, eu pintei minha cara e carimbei a parede.

Sim, estou com a cara suja de tinta. Não só a cara, como minha camiseta, minha calça moletom, provavelmente meu cabelo.

— Chocolate?

Peter voltou da cozinha com uma panela de brigadeiro quente na mão. Não parecia tão sujo quanto eu e tinha o rosto parcialmente limpo, já que não tinha tido a brilhante ideia de carimbar a parede com o rosto.

— Não, valeu.

— A proposta era tinta, quarto do Nada e chocolate. Se não tiver o chocolate não vai estar completo. — Ele se sentou do meu lado, apoiando-se nos cotovelos com uma colher na boca. — Devemos fazer isso mais vezes, foi mais legal do que tinha em mente — olhou para cima, fitando o teto de gesso bege — Na próxima enfeitamos o teto, talvez com uma lhama ou um pinguim. Enfim, chocolate?

— Estou sujo, Peter.

— Tenho certeza que o chocolate não se importa.

Não segurei o riso baixo e logo estava segurando uma colher cheia de brigadeiro, com ele deitado ao meu lado, o ombro encostado no meu. Peter parecia bem sério encarando o teto, então fiz o mesmo que ele, tentando achar ali naquela superfície bege o que tanto poderia chamar sua atenção. Talvez ele estivesse traçando mentalmente o que era aquela superfície e no que ela poderia se tornar.

Estrelas? Constelações? Naves? Ou então, seguindo os exemplos incomuns de Miles: Lhamas? Pinguins? E deixando-se levar mais além, imaginei ursos de pelúcia voadores com roupas jedi, asas prateadas, cabelos hippies e óculos escuros passeando pelo suposto céu. Vi lagartas roxas jogando-se ao vento e trocando de roupa antes da brisa cessar, virando, antes de cair ao chão, uma bela e misteriosa borboleta. Vi uma pétala púrpura e solitária vagando sem rumo algum por uma corrente, então a pétala ganhou pernas e logo o material púrpura era o vestido de uma pequena garota de cabelos escuros. Vi um traço deformado, que em um piscar de olhos ganhou forma e se tornou uma árvore, desta árvore uma maçã azul caiu, e dessa maçã azul uma minhoca mostrou as caras, havia um sorriso em seu rosto, então supus que estava feliz.

Aliás, quem não ficaria feliz morando em uma maçã azul?

— Alex. — chamou Peter, sentando-se rapidamente. Ele encarou a parede destruída sem se mover por alguns segundos, em um tipo de estado de choque. Então, do nada soltou um grande berro, que provavelmente despertou a vizinhança. — Alex!

— O quê?! — gritei também, não tão alto quanto ele.

— Quero almôndegas, Alex, preciso de almôndegas. Agora, agora, agora. — ele se ergueu de súbito, correndo pelo quarto loucamente e então parando, como se houvesse travado. Miles me encarou surpreso, como se só então houvesse me notado ali. — O que diabos ainda faz aqui? Almôndegas! Arranje-me almôndegas!

Pisquei. Uma, duas, três vezes. Só então percebi que ele estava falando sério mesmo. Na verdade, Peter sempre parecia sério, mas acho que aquele momento foi o ápice de sua seriedade.

Engoli em seco. Eu estava mesmo morando com um lunático.


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Notas finais do capítulo

Estou. Com tanto. Sono.
Me matem.
Bem, kkk, obrigada por terem lido e espero que tenham curtido. Planejo postar o próximo já amanhã, veremos o que acontece.
Saibam que todo tipo de incentivo é bem-vindo ;D
Até mais!



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