Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 2
Capítulo 02 — Doces, raptos marshmallow da mostarda e cigarros eletrônicos.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas ♥
Trouxe mais um capítulo :D
Boa leitura.



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8 de Janeiro.

As sacolas nas minhas mãos estavam mais pesadas do que eu esperava que pudessem estar — e subir quatro lances de escadas era mais difícil do que realmente parecia quando comecei a subir. Mal estava no nosso andar, e já podia ouvir gritos insistentes e xingamentos inadequados.

Ah, de novo não, já era meio-dia?

— Peter Orton Miles! Abra já esta maldita porta! Seu vermezinho repugnante, vou te tirar daí nem que precise ser pelas pernas!

O rapaz de sempre estava parado em frente à porta, gritando e chutando-a. Ele era baixinho e talvez mais novo que eu, moreno de cabelos castanhos e acho que seus olhos eram claros, nunca tive a chance de analisar.

A maior vontade do momento: virar as costas e fingir não ter visto nada do acontecido, simplesmente ignorar o projétil de Luke do caminho e seguir a vida. Sim, certamente seria isso que faria se não estivesse carregando sacolas tão pesadas! Maldita lista de doces que Peter fez!

— Oi, Luke. — falei, me aproximando e pegando minha chave — tchau, Luke.

Antes que ele se movesse e tentasse entrar no apartamento, chutei a porta e Peter brotou do chão e tratou de trancá-la logo em seguida

— Peter! — ele gritou, chutando a pobre porta mais uma vez — Você não pode ficar aí para sempre.

Levei as sacolas até o balcão, como de costume, e comecei a pôr as coisas nas prateleiras. Estava morando ali há pouco mais de uma semana, e já havia reposto os mantimentos da geladeira e do armário mais de três vezes. Eu sinceramente não faço ideia para onde a comida vai, mas em menos de três dias ela se esgota.

— Peter! — Luke insistiu.

Como se nada houvesse acontecido, Miles jogou-se no sofá e aumentou o volume da TV, fazendo os gritos de Luke virarem sussurros em meio às vozes de Branca de neve e os seus anões.

— Até quando isso vai continuar? — Perguntei, inquieto, terminando de organizar as compras.

— Até a minha morte, ou a dele. — Ele virou-se, me fitando — Trouxe meu lençol da lavanderia?

— Sim. — Peguei uma das sete sacolas e joguei para ele.

Em poucos instantes ele já havia tirado a blusa e o short, ficando só de cueca, e se enfiado dentro daquele lençol velho e manchado de molho e chocolate. Admito que nos primeiros dias — sendo que aquele era o oitavo deles — fiquei bastante surpresos com as coisas estranhas que ele fazia. Por exemplo, na segunda noite de minha estadia ali, um barulho escandaloso se fez presente na parede do meu quarto. Eram quatro horas da manhã e parecia que havia pessoas dentro da parede em meio a uma guerra, então me levantei e fui até o quarto do lado, que, até onde eu sabia, era o quarto do Nada.

Sério, Peter me disse que aquele quarto era exclusivamente reservado para o Nada.

E, quando entrei lá, encontrei um Peter sem camisa, apenas de calça moletom azul, todo suado — parecia que ele havia pulado em uma piscina — chicoteando a parede bege — agora destruída — com tanta fúria como se a pobre coitada houvesse roubado suas jujubas.

E ele não parou mesmo quando notou minha presença. Quem em santa consciência chicoteia paredes inocentes no quarto do Nada às quatro da manhã?

Não, melhor, quem diabos chicoteia paredes?

Quem tem um chicote de verdade em casa?

E quem reserva um quarto para o Nada?

Desde aquele dia decidi não me espantar com nada que ele fizesse, pois sabia que acabaria sobrando para mim.

— Trouxe minha lista de doces? — ele perguntou.

— Sim.

— Quantos alcaçuz?

— 15 caixas.

— Jujubas?

— 12 pacotes.

— Nutella?

— 6 potes.

— Pirulitos?

— 9 sacos. — respirei fundo — para quê você quer 9 sacos de pirulito com 100 unidades cada?

— Acho que pirulitos foram feitos para serem consumidos, não concorda, Alex? — bufou — Marshmallows?

— Nenhum, porque você não gosta.

— Bom menino.

[...]

— Acho que ele já foi. — sussurrei.

— É claro que ele já foi. São 19 horas — Peter jogou as pernas para cima e mudou do canal de novelas estrangeiras para o filme The Tourist, com Johnny Depp e Angelina Jolie. — Luke é idiota, mas não ficaria 3 horas esperando por minha boa vontade.

Acho que aquela era a primeira vez que via Peter assistindo algum filme comum. Digo, geralmente ele está vendo seriados e filmes bem antigos, ou então clássicos da Disney, ou simplesmente o canal da polishop — me diga, como alguém consegue assistir aquilo o dia todo? — e muitas vezes o peguei resmungando consigo mesmo algo como “Danilo não pode ser tão idiota ao ponto de não notar que o filho de Ludmila não é dele, qual é, o lóbulo solto deixa isso tão de cara. As chances de acontecer são só de 25%, e por que seria o caso de uma novela mexicana?”.

Então vê-lo assistindo aquele filme não muito antigo e um tanto normal me deixou um pouco receoso das consequências.

— Quem é ele, afinal? — perguntei, me sentando ao seu lado — Luke, digo.

— Ninguém importante para você, nem para mim. Apenas o ignore ou você vai passar a se sentir bem incomodado.

Assisti um pouco do filme, antes de finalmente voltar a falar.

— Ele é um ex seu?

Miles soou indignado.

— Como é? — enfiou três jujubas na boca — Tenho bom gosto, Alex, não sairia com um cara como ele a não ser que quisesse ter meus rins vendidos.

— Ele é um traficante?

— Bem pior que isso, trabalha para o instituto de rapto marshmallow da mostarda.

Depois disso não perguntei mais nada, pois sabia que buscar compreender o que se passava na cabeça de Peter era bastante cansativo e provavelmente me levaria à loucura. No entanto, alguns dias depois descobri que Luke era irmão dele e a partir daí consegui pôr um pouco de sentido no que ele dizia.

Luke estava há dois meses tentando levar Peter para casa dos pais, porque pelo que parece Miles havia simplesmente fugido em uma noite de início de Janeiro com uma mochila e sua herança — a qual ele teve permissão logo que fez 21 anos, mas que só poderia pegar depois que os pais morressem. Como ele havia conseguido acesso a herança, eu não sabia, mas suponho que seja um crime roubar a sua parte da herança desse jeito. Os pais dele ainda não estavam mortos.

Aí entra o “rapto marshmallow da mostarda”. Luke quer forçá-lo a voltar para casa, isso é o rapto, pelo menos aos olhos de Peter. Marshmallow da mostarda é simplesmente pelo fato dele odiar marshmallows e mostardas, então ele não quer mesmo voltar.

Depois de uma semana com ele, podia até me declarar um psicólogo particular.

[...]

12 de Fevereiro.

Como eu disse, Peter ter assistido The Tourist trouxe suas consequências.

Quando cheguei da faculdade às duas da tarde, uma semana depois dele ter assistido ao filme, encontrei Miles jogado no sofá, com os pés calçando pantufas do Darth Vader para cima, balançando no ar. A TV estava desligada, então tinha até um pouco de medo em descobrir o que ele fazia. No entanto a curiosidade é sempre maior: joguei minha mochila num canto e me aproximei, quase tropeçando em uma caixa aberta cheia de isopor colorido.

Peter estava fumando com uma expressão séria e não virou o rosto para mim quando eu me sentei no seu lado. Seu par de olhos azuis, no entanto, acompanharam meus movimentos até o instante em que puxei o cigarro da sua boca.

— Você não fuma.

— Não fumo, não estou fumando e nem vou fumar — puxou da minha mão o cigarro e voltou a fazer o que fazia. — Agora sai, me deixe fumar em paz.

Ele levou o cigarro aos lábios e tragou a fumaça, soltando-a pelo nariz e pela boca. Balancei a cabeça em reprovação e peguei a caixa no chão para meu colo. Dentro dela só tinha pequenos isopores coloridos, um manual e uma caixa de mini cilindros amarelados. Peguei o manual e li o título:

Cigarro eletrônico à vapor de água.

— Não me diga que você comprou isso só para imitar o Johnny Depp!

— Então não digo. Todos ficamos felizes.


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Notas finais do capítulo

Faz tanto tempo que escrevi essa história que nem me lembrava desse capítulo xP Li ele hoje como se estivesse lendo algo totalmente novo ahah! Minha escrita mudou demais de uns tempos pra cá, não sei se de modo bom ou ruim, mas enfim.
Até mais! :D Espero que tenham gostado.