Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 13
Capítulo 13 ― Lágrimas de gesso com pirulitos e família


Notas iniciais do capítulo

GENTE. OLHEM QUE COISA MAIS LINDA ESSA TIRINHA QUE A PANCREAS FEZ:
http://mynameisnotaname.deviantart.com/art/Lewis-and-Miles-659269414?ga_submit_new=10%253A1485220198

Muito obrigada de novo, Pancreas. ♥
UM AGRADECIMENTO MAIS QUE GIGANTE TBM PARA A PATORRO, QUE RECOMENDOU A HISTÓRIA ♥ MUITO OBRIGADA SUA LINDA
Boa leitura aos que ficam haha



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14 de Abril.

— Pronto. Tente fechar e abrir os dedos. É, acho que está tudo ok.

Sorri para a simpatia do Dr. Williams e me virei para o paciente. Miles estava com a cara toda vermelha, os olhos brilhando. Tive que o encarar duas vezes para ter certeza de estava vendo aquilo. Só pude realmente acreditar na minha visão, quando as lágrimas começaram a escorrer dos olhos dele.

— Peter, ei, tá tudo bem?

— Está sentindo dor, Sr. Miles? — Dr. Brian Williams, o médico mais legal que Peter podia ter, perguntou, segurando o pulso dele. — Diga onde é o incômodo.

— Você tirou meu gesso — voltou a chorar.

— Deve ser felicidade. — disse para o médico. Eu sabia que não era, ele não chorava quando emocionado, não mesmo, podia sentir que era mais uma bizarrice de Miles e não queria que Williams o mandasse a um psiquiatra.

— Ah — Dr. Brian sorriu e ajeitou os óculos, virando as costas para ir até uma mesa branca ali. Peter puxou a manga da minha camisa e quando o olhei, pude ler em seus lábios a frase “Odeio ele”. Estremeci — Aceitam um pirulito?

Uma lâmpada deve ter surgido em cima da minha cabeça.

— Sim, por favor.

Depois disso Miles saiu do hospital feliz, com dois pirulitos enfiados na boca.

...

— Nunca mais quebre meu braço, não quero ter que me apegar ao gesso e depois ter ele arrancado de mim. — ele suspirou, afundando no estofado do carro. — E não gosto de médicos, mesmo que me deem pirulitos.

— Seu gesso estava todo sujo de chocolate, molhos e ketchup, uma nojeira só. Ainda bem que se livrou daquilo. E Dr. Brian é muito gentil, tem até mesmo uma letra legível. — dobrei numa rua diferente da que costumo usar, tudo para não passar perto do Dylan’s.

— Não te dou permissão para achar ele legal.

Quase bato no carro da frente.

— Como disse?

— Você ouviu bem.

— Desde quando você me permite gostar de algo ou não?

— Desde agora.

Respirei fundo, batendo os dedos contra o volante.

— Miles, não comece com uma idiotice dessas. Eu sou um humano diferente de você, se é que você é um humano. — expliquei — tente dizer o que eu posso ou não fazer e eu te darei um peteleco. Sei o quanto você odeia petelecos.

Por um momento pensei que ele ia se recusar, pois vi os braços se cruzando, como que em sinal de resistência, mas logo os braços se descruzaram e ele suspirou.

— Tá, desculpa.

Sorri, esticando o braço para tocar nos cabelos dele e os bagunçar. Paramos em um sinal vermelho e percebi que ele me encarava.

— Está com fome? — “Fome” era a segunda palavra preferida de Miles, a primeira era “comida”.

— Sim, podemos ir no Dylan’s. — os olhos visualizando açúcar brilharam. Sério, eu já enjoei de doces só de ver ele comer tantos.

— Ou podemos ir num restaurante comum.

Ele não pareceu gostar. Encarou a janela, achando uma solução para o problema.

— Tem macarrão instantâneo em casa.

— Não tem não, você comeu o último ontem. — lembrei-o.

— Tem biscoito.

— Chega de doce.

— Tem salgadinhos.

— Miles... — o encarei. — vamos comer fora.

Ele bateu a cabeça contra a janela, derrotado. Eu acho que cheguei a sorrir de canto naquele momento, notando como gostava daquilo, das nossas conversas no carro e do modo como Peter era uma criança mimada e eu era como sua mãe, tentando organizar a alimentação e os hábitos.

Pouco menos de dez minutos depois estávamos na praça de alimentação do shopping mais próximo. Miles estava desanimado e cabisbaixo todo o percurso, sempre resmungando e bufando quando alguém passava do seu lado ou esbarrava o ombro no dele, porém, logo que sentiu o cheiro de gordura e fritura ao passar em frente a um fast-food ele perdeu os eixos e correu em disparada. Tive que arrastá-lo pela gola da camisa até as lojas de comida de verdade, não sem a resistência dele.

No fim estávamos sentados em uma mesa dentro do estabelecimento, perto a uma divisória de vidro, enquanto Peter cutucava um pedaço de carne com o garfo, aparentemente sem fome.

— O que você comia quando morava com seus pais? Não acredito que sua mãe só te dava doces e pizza congelada.

A verdade é que eu vejo Peter e a família como duas coisas muito complicadas. Eu nunca vi ninguém da família dele que não fosse Luke e ele parece evitar tocar nesse assunto. Não que eu falasse muito da minha família também, mas Miles parecia evitar ao extremo a dele.

— Minha mãe fazia doce de limão — ele contou, bebendo água — mas boa parte da comida era feita pelo meu pai, já que ela era um desastre na cozinha e só era boa em fazer sobremesas. Meu pai tinha um vício estranho por uvas e quase toda a comida tinha uva no meio, fosse carne, frango, peixe ou caldo, então geralmente comidas caseiras ou coisas desse tipo têm gosto de uva na minha boca. A sobremesa era a melhor parte do dia.

Aquilo explicava bastante coisa, embora me deixasse imaginando que tipo de família seria a de Miles. Um pai viciado em uvas, uma mãe que só sabia fazer doces. Deveria ser divertido passar o fim de semana com uma família assim. Isso explicava o ataque contra suco de uva e o amor por doces. Aos poucos Peter começava a fazer sentido.

— Parece uma família engraçada — sorri para ele, meio que o incentivando a continuar — Só tem Luke de irmão?

— Sim, ele é quatro anos mais novo. E nós não gostamos dele.

— Ah, é? Nós não gostamos. — ri — Você deveria gostar dele, irmãos têm que ser cúmplices, não inimigos. E Luke não parece um cara mau, ele sempre está lá, esperando que você um dia abra a porta para ele.

— Você tem algum irmão, Alex? — Peter perguntou, com tom arrogante.

Eu não sei como, mas só então reparei que ele estava construindo um prédio de batatas fritas, empilhando uma sobre a outra com delicadeza e cuidado. Talvez ele estivesse mesmo entediado.

— Não, mas tenho três irmãs e um meio-irmão. Dá no mesmo.

— Você não entende. Luke é tolo e burro e chato e sempre achava minhas revistas pornográficas, roubava meus doces, arranhava meus discos de vinil, fazia xixi no meu tapete e jogava a minha coleção de pedras pela janela. — respirou fundo, buscando ar — Tem como ser amigo de algo assim?

— Eu sou seu amigo, não sou? — Peter riu comigo, posicionando a última batata junto às outras e logo destruindo o prédio e voltando a comer. — Quero conhecer sua família, Miles.

Ele fez careta.

— Por que quer isso?

— Não consigo entender você, quero ter uma ideia de onde você surgiu, se é terráqueo, essas coisas.

— Sinceramente Alex, você é que é estranho e complicado. — sorriu para mim — Eu sou tão simples e prático, enquanto você é metódico demais.

— Você arremessa almôndegas na parede de um quarto vazio, fuma um cigarro porque ele tem LED, beija os outros para ter ideias e chora quando tem seu gesso removido. — lembrei-o.

— Você arruma todo o meu quarto e depois eu não consigo encontrar nada, deixa o chão da casa brilhando tanto que eu tenho medo de escorregar, leva meus lençóis para a lavanderia e limpa todas as manchas de molho que eu guardo para recordação, faz café toda manhã e deixa aquele cheiro demoníaco no ar, faz suco de fruta sem açúcar, arruma os livros da estante em ordem alfabética e...

— Meu Deus — interrompi-o — Você só tem reclamações sobre minha higiene e bem estar.

 — Você organiza tudo o que vê pela frente, isso não é saudável. É cansativo.

Bufei, não deixando de sorrir.

— Vou levar a bandeja para lá antes que eu fure seu olho com esse garfo — sorri amigavelmente e me levantei com a bandeja — Não fale com estranhos até que eu volte.

Afastei-me, rindo sozinho da minha piada de bosta. Levei a bandeja até o balcão e joguei a lata de coca-cola no lixo. Eu estava a uns seis metros da nossa mesa, e Peter continuava brincando com as batatas que eu sabia que ele não iria comer.

 Talvez fosse melhor comprar alguma porcaria de fast-food para ele pensei, desviando o olhar para a praça de alimentação. Melhor isso do que fazer ele passar fome.

Quando voltei o olhar para ele, Miles não estava mais lá.


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Notas finais do capítulo

Os capítulos que tenho como estoque estão acabando, um que é um probleminha porque não escrevo Epifania desde fevereiro do ano passado haha. Tenho que voltar agora, urgente.
Bem, até mais, amiguinhos.