Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 12
Capítulo 12 ― Banho jornalístico de esmalte e ervilha


Notas iniciais do capítulo

Demorei de novo, mas voltei mais rápido. YEY
Depois de um beijo, uma epifania.
Boa leitura ♥



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3 de Abril.

— Peter, já chega. Você está preso aqui há dois dias inteiros, seu quarto está cheirando a meias sujas e você está fazendo xixi em garrafas de refrigerante! — Desviei de um amontoado de roupas ao pé da cama — Por quanto tempo você pretende ficar aqui se alimentando de Pringles e biscoitos recheados?

Ele continuou digitando no seu computador sem olhar para mim. Nem sabia se ainda estava respirando.

— Só preciso de mais quinze horas. — respondeu — Quinze horas, seis garrafas de energéticos e uma barra de chocolate. Se puder me arranjar isso, agradeceria.

Bufei, fazendo careta ao sentir o cheiro que emanava do corpo de Peter. Ele devia estar sem tomar banho há dois dias também, o que definitivamente não era algo bom, saudável ou aceitável para um cara de 24 anos. Prendi a respiração e marchei em direção à janela do quarto. Acredite, foi bem difícil andar sem tropeçar em roupas sujas. O quarto estava terrivelmente escuro.

Agarrei as cortinas escuras e as escancarei. O dia estava nublado, mas ainda assim uma claridade instantânea entrou pela janela de vidro do quarto, iluminando todo o ambiente que mais parecia um chiqueiro.

— Alex! — ele gritou, pulando da cadeira de encontro ao chão. — Fecha isso, meus olhos!

Uma garrafa cheia de xixi caiu no chão, mas por sorte ela estava tampada. Pelo menos Peter teve consciência de que garrafas cheias de xixi precisam ser fechadas.

 Corri até onde ele havia se jogado e me abaixei, vendo que o alien havia rolado para debaixo da cama.

— Saia daí, vá tomar um banho. — puxei seu pé, tentando arrastá-lo — Vou fazer uma sopa de ervilhas, você vai tomá-la, beber suco de laranja e só então vai voltar a fazer o que quer que esteja fazendo.

Miles começou a gritar quando eu disse isso, agarrando-se ao pé da cama como uma criança que não quer sair de casa no dia da vacina. Fez bom uso do gesso naquele momento, encaixando-o no pé da cama.

— Estou em meio a uma epifania, não pode me tirar de casa agora! — ele gritou — Pepper e Chilli não concordam com isso também!

— Não vou te tirar de casa, apenas vou te tirar do quarto fedorento! — puxei seu pé com mais força. A cama começou a ser arrastada junto. — Pepper e Chilli estão muito bem com isso, tenho certeza.

Olhei para o aquário de relance. A água estava limpa e os dois pequenos peixes se movimentavam de lá para cá, sem nem se importarem com o que estava acontecendo com o seu dono/ladrão.

— Meu quarto é minha casa! Banho pode esperar, sopa também! Mas minhas ideias só irão durar por agora, então me solta!

Movimentei meu tronco para frente, ainda segurando seus pés, e pisei nas mãos dele, seguras ao pé da cama. A tática do gesso falhou e ele se soltou bem rápido, logo tentando se segurar de novo. Não deu certo, claro, tratei de arrastá-lo para fora dali, mesmo que ele se segurasse em tudo o que visse pelo caminho, fosse o tapete ou o batente da porta.

— Me solta! Vou ligar para polícia! Isso é abuso!

— Para de gritar — chutei a porta do banheiro — os vizinhos já te odeiam, vai fazer eles te odiarem mais ainda!

Arrastei ele para dentro do box e corri para trancar a porta.

— Os vizinhos não me odeiam — comentou, sentando-se no chão — O Sr. Sherman me odeia, mas ele não é importante, é só o síndico. Angela me traz bolo quando faz, e Sr. Grinder rouba meu jornal, o que é ótimo, odeio jornais.

— Sra. Angela te traz bolo porque quando ela se mudou e fez bolo você foi até a casa dela, dar as “boas-vindas” e comer. — Liguei o chuveiro. — Você sabe que os vizinhos levam comida nas “boas-vindas”, não é? Você só levou sua boca.

— Essas normas sociais são coisas do passado. Aposto que ela adorou a minha iniciativa original. — Miles falava enquanto tirava suas meias. — E parabéns, estou sentindo as minhas ideias irem embora aos poucos graças a você e sua crise de higienização.

Bufei, regulando a temperatura do chuveiro antes de sair do box. As pernas da minha calça estavam molhadas, mas pelo menos Peter desistiu de não tomar banho. O observei enquanto colocava o plástico transparente em volta do gesso e fechei o box.

— As melhores ideias vêm no banho, quem sabe ideias melhores ainda venham agora.

Ele gargalhou. Olhei para o box fechado e quase fui atingido por uma calça voadora que foi jogada por cima.

— As melhores ideias vêm durante um beijo. — ele disse, abrindo o box e pondo a cabeça para fora. — Li isso em um site científico muito conhecido e comprovei que é verdade.

Senti meu rosto ficando vermelho ao ser encarado por ele. Revirei os olhos e comecei a tatear a porta em busca da maçaneta atrás de mim. Peter sorria, os cabelos molhados pingando no ladrilho branco.

— Você... Que site idiota foi esse?

— “Entre Esmaltes, Pelúcias e Amor” — Peter voltou a fechar o box — tem um nome um tanto estranho, mas as pesquisas parecem ser verídicas.

Encarei por um segundo o vapor que saía do box e em seguida comecei a gargalhar alto, até mesmo esquecendo a vontade que tinha de sair dali.

— Site científico muito conhecido? — Ri.

— Sim, você tinha que ver o contador de visualizações, aquilo era sobrenatural.

— Miles, aquilo era... — Olhei para o box, vendo a sombra do corpo dele passando  sabonete no tronco — Deixa pra lá.

Tentei imaginá-lo pesquisando em um site amoroso para garotas e sorri. Virei para a porta, impressionado pelo fato de ainda não ter achado a maçaneta. Quando procuro-a com os olhos, me lembro de que não há maçaneta alguma na porta do banheiro. Quase rio da minha idiotice.

— Hey, Alex. — Peter chama.

— O quê?

— Não quer tomar banho comigo?

— Vou deixar essa para a próxima — sorrio em descrença.

— Vou cobrar.

Saí do banheiro antes que aquilo ficasse estranho.

...

— Não gosto de sopa. Não dá para mastigar.

Peter me lançou um olhar de reprovação quando pus na sua frente a tigela de sopa de ervilha. Estava com uma toalha nos ombros nus e os cabelos molhados. Sentei à sua frente e comecei a digitar no meu computador. Tinha um trabalho para entregar na próxima segunda, doze páginas de fonte Arial 10.

— Não vou deixar você voltar para o quarto enquanto não comer.

— Tá, mas por que suco? Tem refrigerante na geladeira.

— Suco é melhor.

— Claro que não! — pegou o copo e bebericou, fazendo uma careta desgostosa na mesma hora — Não tem açúcar nisso! Nem um pouco de açúcar!

— É suco de laranja natural, não precisa de açúcar.

— Tudo precisa de açúcar. — ele me fitou sério, batendo o braço com gesso na mesa.

— Apenas coma e fique quieto. Estou tentando terminar um trabalho.

— Eu estava tentando terminar um também, por que só o seu importa? Eu sou mais importante que você, faço pesquisas biológicas e você é só um mero arquiteto. Há muitos arquitetos por aí, o mundo não precisa de mais um.

— Eu faço faculdade de jornalismo, idiota.

— Mesma coisa — resmungou, cutucando a sopa com a colher — ou talvez seja pior, odeio jornais.

— E eu odeio você, Miles imbecil.


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Notas finais do capítulo

O número de leitores dessa história cresceu consideravelmente pelo tempo em que estive fora (somos mais 130 epifanicos, gente), mas os reviews diminuíram também haha, me pergunto porquê (TALVEZ A MINHA AUSÊNCIA DESESTIMULADORA? TALVEZ AKSDANDA)
Até mais, pessoas. ♥ vejo-os logo logo