Epifania escrita por Vaalas


Capítulo 14
Capítulo 14 ― Abandono pela colônia e grandes pedaços de bosta


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente não abandonei Epifania de novo. JURO.
Essa história devia ter sido finalizada ainda nesse semestre, mas meu computador queimou. Yep, queimou. O hd? Tchauzinho. Perdi 200 GB de animes, 100GB de séries, mas consegui salvar a maioria das minhas histórias. To triste, mas to aliviada.
O conserto? Uma fortuna, então desde janeiro ou fevereiro esse computador tá na manutenção e só hoje (ouvi um aleluia?) meu pai conseguiu pagar pra pegar ele de volta.
E eu to muito feliz. E tenho muitas histórias lindinhas para postar.
E só isso que tenho a dizer. Espero que ainda estejam aí, e que ainda lembrem de Peter Miles e Alex Lewis ♥



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14 de Abril

                                  Cadê você?                                 

Alex

2:26 PM

Cinco anos atrás, quando eu nem sonhava em virar babá de um cara dois anos mais velho que eu, perdi meu meio-irmão no supermercado. Ele tinha seis anos na época e eu deveria ter uns dezessete. Quando eu o perdi, fiquei vagando despreocupado pelos corredores sem realmente ligar para o desaparecimento dele e o achei cinco minutos depois, na seção de cereais.

Eu não consegui ficar assim quando perdi Miles. Talvez há cinco anos eu era muito inconsequente ou talvez agora eu veja que perder um Peter em um shopping cheio de pessoas e lojas é bem pior do que perder uma criança com bom senso em um supermercado.

A primeira coisa que fiz foi correr desesperadamente até o fast-food mais próximo. A fila estava gigante, mas só precisei correr os olhos pelas pessoas para saber que Miles não estava ali. Ele usava uma camisa verde com mangas azuis, onde estava estampada “I phone, you tube”, com o desenho de um telefone falando com um tubo, uma calça cinza de tecido de pano, junto a um chinelo que está prestes a arrebentar. Ele estava bem desleixado em meio a pessoas arrumadas, era bem fácil de identificá-lo.

Corri por todos os fast-food da praça de alimentação e até então sem sinal do maníaco de chinelo. Corri até as lojas de doce, o mundo de chocolate, a loja de coisas geeks (quem sabe ele quisesse comprar uma nova pantufa do Vader) e acabei comprando um presente para ele que me chamou a atenção. Meio que um presente para celebrar mais um filme que ele viu do século XXI.

Depois disso corri em disparada até as outras lojas, tentando identificar qualquer cara de cabelos negros bagunçados. Cheguei a confundi-lo com um rapaz que também usava camisa verde e chinelos, mas uma calça jeans escura. Sorri e pedi desculpas e ele sorriu de volta. Até que era bonitinho e quem sabe eu parasse para bater um papo se não estivesse tão desesperado em busca do ser humano que provavelmente estava fazendo algo absurdamente estranho. Quase consegui imaginá-lo discutindo com algum funcionário sobre o modo absurdo que os manequins estavam posicionados, ou sobre a cor dos enfeites, ou sobre o modelo de carrinho de controle remoto com um preço assustador. Pude vê-lo escalando uma prateleira de produtos caros, tentando alcançar algum produto inútil para a vida dele.

Engoli em seco, então parei para recuperar o fôlego da corrida. Acabei parando em frente aos brinquedos infantis, o lugar mais barulhento por ali. Aproveitei para comprar um refrigerante e comer uma pipoca, mesmo tendo acabado de almoçar. O estresse de perder uma “criança” no shopping me dava fome.

Peguei meu celular mais uma vez. Sem sinal de Peter.

Quando te achar você vai estar tão ferrado, Miles.

Alex

2:48 PM

Sentei num banco ali perto e comecei a comer minha pipoca que tinha gosto de borracha. Cogitei ir embora e abandonar ele ali, mas algo dentro de mim dizia que isso é errado. Não se pode abandonar uma “criança”, não é?

Fiquei aborrecido e mastiguei a borracha que deveria ser pipoca com raiva. No fim fiquei com raiva daquilo sem gosto e joguei fora, ficando só com meu refrigerante. Havia muita raiva no meu coração naquele momento, brotando de todos os poros como se fosse suor. Isso me lembrou da vez em que minha primeira namorada me deixou plantado no shopping por mais de uma hora, pra só então me mandar mensagem dizendo que havia dormido demais. Terminamos não muito depois.

Agora me pergunto se isso desencadeou minha homossexualidade, mas parece bobeira. A raiva do momento, no entanto, estava bem parecida.

Um grupo de amigos passaram à minha frente, alguns de mãos dadas, claramente casais. Eles riam e pulavam um na frente do outro, e não tinham uma idade muito distante da minha. Era para eu estar ali, com amigos, Allison, Nick e Fred (que se mudou para Chicago no começo do ano passado, com promessas de que a amizade permaneceria. Bem, não permaneceu). Eu merecia ser um universitário normal e me divertir. O pensamento só me deixou mais irritado por estar ali, sentado próximo às máquinas de jogos e brinquedos infantis, esperando que Miles não estivesse fazendo nada de errado.

Estava bufando quando meu celular tocou, alto e vibrando. Respirei fundo por reconhecer o toque, o toque de Peter. Nunca odiei tanto o som da Tardis como naquele momento, mas o apanhei e atendi.

— Cadê você, seu inútil?

Escutei um barulho no outro lado da linha, algo girando e se quebrando em um grunhido bem alto. Ouvi também a respiração de Miles, ofegante.

— Alex, consegui chegar a tempo! Foi por muito pouco, meus pelos estão arrepiados! Meu Aldo, foi por muito pouco! Vai começar!

— Chegou onde? Peter, onde diabos você está?! — Escutei o barulho de uma espada eletrônica sendo ativada, a favorita de Miles. Ouvi também a voz do narrador da HBO, um tanto distante — Pera, você está em casa?

Acabei de chegar! Esqueci de pôr A Fantástica Fábrica de Chocolate para gravar, quase não cheguei a tempo. — ele buscou ar, respirando fundo — Cadê você?

Acho que minhas orelhas começaram a ficar quentes, e minha raiva começou a se elevar em um nível mais alto do que o recomendado. Não me atrevi a responder, e achei mais sensato desligar na cara dele, antes que eu o matasse através das ondas telefônicas. Eu realmente gostava de Miles, achava divertido e inusitado o modo como via e agia no mundo. Porém em momentos como aquele eu simplesmente queria estar saindo com um amigo normal, que pagasse a conta do lanche e gostasse de ir ao cinema.

Suspirei, e o celular voltou a tocar. Era Miles novamente, e resolvi atender.

Acho que a ligação caiu, mas enfim, já está vindo? — ele perguntou — E ah, encontrei as figure actions que eu queria no e-bay, tô comprando com o seu cartão, o meu já acabou o limite.

— Você o quê!?

— Opa, tenho que ir, o filme começou. Alex...

Desliguei novamente antes que ele falasse algo mais. Dessa vez pus o celular no silencioso, para evitar qualquer incômodo.

Não sabia quanto tempo mais aguentaria daquilo.

...

Liguei para Ally logo que saí do shopping, mas caiu na caixa postal. Nenhum amigo está realmente lá quando se precisa, e naquele momento estava precisando de alguém para sentar e me ouvir reclamar de Miles. Fiquei rodando em círculos com o carro no estacionamento, me perguntando se Peter tinha pego um ônibus para chegar em casa. A imagem era engraçada, mas me irritou mesmo assim. Ele estava em casa.

 Nem me dei conta, mas já era mais de seis horas àquele ponto. A que horas eu havia almoçado ali? Não, melhor, há quanto tempo estava dirigindo em círculos para o desestresse?

Eu realmente precisava beber algo.

 Não teria coragem de ligar para Nick, já que sair com ele sozinho era estranho, e mesmo que tenhamos prometido manter a amizade, só conseguia fazê-lo se Ally estivesse conosco. Sem opções, parei em frente ao bar do Mars. Era cedo e estava meio quieto, e apesar de ser algo que me agradasse, notei logo que desliguei o carro que não queria ficar ali. Precisava de um bar gay. Liguei o carro novamente e fui até o Cristal Angel.

A mobília do CA não era tão agradável quanto a do Mars. As paredes eram de concreto e não havia palco, só música eletrônica e luzes. Lá dentro parecia realmente noite, embora o sol ainda estivesse sumindo no horizonte, e a música alta me fez querer realmente esquecer tudo. Era sábado, não precisava me preocupar com faculdade e realmente não queria ter que me preocupar com Miles. Ele tinha seus macarrões instantâneos e suas garrafas de leite.

Sentei-me no balcão e pedi um uísque, enquanto tirava o casaco e olhava em volta. Não estava tarde o suficiente para estar lotado, mas tinha pessoas dançando e eu realmente queria dançar e quem sabe conhecer alguém. O mais perto que cheguei do sexo nesses últimos tempos foi com Peter, no dia primeiro de Abril, apenas para provar que eu estou de abstinência por muito tempo.

O bartender trouxe meu uísque, e eu tentei bebê-lo o mais rápido possível, mesmo sabendo que não iria conseguir. Digamos que não sou muito bom com bebidas, e acho que uísque era forte demais para minha garganta. Quando acabei, pedi uma Vodca com refrigerante e dessa vez pareceu descer mais rápido.

Já estava feliz o suficiente, então paguei e me levantei, andando para o meio das pessoas e começando a pular. Os rapazes ali me fitaram e sorriram, então me permiti sorrir de volta. Sentia falta daquilo, de flertar com caras desconhecidos em uma boate gay.

Saí dali tarde da noite, com companhia.

...

A chave não estava entrando na fechadura, e eu estava me esforçando de verdade. Meus olhos estavam embaçados e meus dedos não estavam o que eu chamaria de “firmes”. Acho que em algum ponto consegui, porque a porta se abriu e Peter pôs a cabeça para fora. Certo, talvez ele simplesmente houvesse aberto a porta antes de mim.

— Oi — sorri, entrando.

Miles não parecia feliz, mas não estava com tempo para aquilo. Foi uma noite agradável, mesmo que o quarto do cara cheirasse a fumaça de cigarro e sua pele à colônia francesa. No momento só queria um banho e ir dormir.

— São quase cinco da manhã, onde esteve todo esse tempo? — Peter me seguiu até o quarto, fechando a porta atrás de si — Deveria ter atendido o telefone, tive que ficar acordado até agora...

— Não precisava, Miles, mas valeu.

Ele se aquietou, e virei de costas, tirando minha camisa. Ela estava desabotoada até o quarto botão e acho que derramei cerveja nela, talvez algo mais forte. Cheirei-a, é, cerveja e colônia francesa.

— Alex. — Estremeci. Os braços de Peter contornaram meus ombros em um abraço e senti sua respiração na minha nuca — Você está fedendo.

Fiquei parado, esperando que ele se afastasse, mas Miles não parecia disposto.                 

— Acho que me preocupei com você. Você não atendia o celular e não voltava pra casa. — era um sussurro em meu ouvido, e apertei os punhos. Sabia que ele não estava brincando comigo.

— Desculpa. — só consegui dizer isso — Precisava de um tempo, só isso.

— Eu fiz algo? — Os braços dele me apertaram, e eu gelei — Você sabe, eu sempre faço alguma coisa, não dá para evitar.

― Eu só precisava de um tempo, ok?

Droga, o que eu estava fazendo? Suportei Miles por meses e agora fiquei com raiva dele por algo bobo comparado ao resto. Ele me deixou plantado no shopping, mas isso não era pior do que me fazer sair de uma aula para procurar um cigarro eletrônico, nem me forçar a carrega-lo por três lances de escadas quando ele estava bêbado. Peter era um idiota e eu tinha consciência disso, ele próprio tinha. Agora ali, com os braços dele me abraçando pelas costas, me lembrei do quanto me preocupava com ele, e do quanto ele deveria ter se preocupado hoje, ao seu próprio modo.

Eu não havia feito nada de errado, mas me sentia tão pesado e sujo...

Enquanto ele me ligava eu bebia e dançavam com um cara chamado Parker e deixava que ele me beijasse e sussurrasse em meu ouvido. Enquanto Miles sentava no sofá com seu lençol e me esperava chegar eu me deitava sobre lençóis com cheiro de cigarro e deixava o cheiro da colônia me possuir. Senti-me sujo nos lugares onde os lábios dele me tocaram e me desvencilhei dos braços de Peter.

Segurei seu pulso esquerdo.

— Me desculpa, me desculpa. Você não fez nada, mesmo. — sorri para ele — Como está seu braço?

Ele me encarou, mas não sorriu. Ao invés disso voltou a me abraçar, dessa vez cercando meu corpo inteiro com seus braços e puxando o meu rosto em direção a sua camisa. Enterrou seu nariz nos meus cabelos e me pressionou contra seu corpo.

— Odeio colônia francesa — ele sussurrou, triste, fazendo-me ficar mais triste por ele ter notado.

— É, acho que eu também. — depositei um beijo sutil no seu pescoço. — Preciso de um banho.

Ele se afastou, não se atrevendo a me olhar nos olhos.

— Tudo bem. — disse apenas, saindo do quarto — Boa noite.

Eu me senti como um pedaço de bosta.


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Notas finais do capítulo

NÃO ODEIEM O ALEX, GALERE.
Esse fim de capítulo foi o pior jeito de voltar depois de seis meses, eu sei. Mas foi preciso.
NÃO ME ODEIEM.
Essa semana vou postar mais um capítulo. Antes do enem essa história vai estar concluída EU TENHO QUASE CERTEZA
No mais kk, até mais, pessoas. Obrigada por terem paciência com meus hiatus súbitos.