Shikashi!! escrita por Uma Qualquer


Capítulo 12
Hotel California pt. I


Notas iniciais do capítulo

Onde vamos a uma pousada nas montanhas, tomamos um banho no ofurô e vemos um fantasma!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658967/chapter/12

Estávamos correndo por um campo verde, o Gakupo e eu. De mãos dadas.
O vento soprava contra nossos rostos, levando nossos cabelos pra longe. O Gakupo ia à minha frente, então eu não podia ver seu rosto. Mas sentia o calor da sua mão na minha, e isso era o bastante.
Então, um véu branco surgiu, balançando na brisa. Fios rosados se misturavam a ele. À distância, Luka aparecia contra o pôr do sol. Estava vestida de noiva, a mão estendida para o Gakupo. Ele lhe estendeu a mão também, soltando a minha.
— Não– exclamei assustada, abrindo os olhos.
O quarto estava banhado de luz. Era simples e decorado ao estilo oriental, com um arranjo ikebana perto da porta e uma mesa baixa no centro do quarto. Esfreguei os olhos, e então lembrei que não estava em casa. E que havia uma mão segurando a minha.
— Ei – murmurei impaciente. Kaito ainda estava ferrado no sono, mas sua mão apertava a minha com força. – Me solta!
Engoli em seco, sem saber o que fazer. E então a porta se abriu de repente.
— O que vocês dois estão fazendo?!!



Essa, meus caros, é uma longa história, como deu pra perceber pelo "pt. I" do título. Começou dois dias antes, com a Gumi recebendo um adicional no pagamento da editora. Dia feliz, hein? Só que, pra variar, não foi um adicional em dinheiro. Ela ganhou reservas pra uma pousada no meio das montanhas, algo que normalmente a Gumi daria a pessoas menos ocupadas que ela.
— Você já ouviu falar sobre esse lugar, certo? – ela me perguntou na escola, empolgadíssima. – Hoje em dia é só uma casa de banhos, mas antigamente era um templo onde faziam velórios de pessoas do xogunato. Dizem que o lugar é assombrado até hoje!
Uma coisa sobre a Gumi: ela é fascinada pelo sobrenatural. Me admiro que o mangá dela não fosse desse gênero. Algo me dizia que ela queria acrescentar um toque de terror aos próximos capítulos, e por isso resolveu que ir à tal pousada assombrada era uma boa ideia.
— Não sei não... Tem um bocado de coisas pra gente fazer da escola, não é? Com as provas chegando e tudo mais... Temos que desenhar também. Não tem uma semana que peguei os cenários do Kaito pra desenhar e já tô atolada neles!
— Eu te entendo... Bom, já que temos uns capítulos adiantados, você pode tirar uma folga de Cannonball esse fim de semana. Por favor, Miku-chan? Vai ser o máximo se formos lá juntas!
Outra coisa, dessa vez sobre mim.
Eu morro de medo de fantasmas!
— Mas... E se for verdade? – perguntei aflita, sentindo um arrepio na espinha só de pensar. – E se essa... Coisa, se ela resolver atacar a gente no meio da noite?
A Gumi coçou o queixo. – Bom. Acho que se formos em bando, vai ser mais difícil sermos atacadas, certo?
Então ela chamou as pessoas, fez as reservas através da editora e, naquela manhã chuvosa de sábado, uma turma desembarcava na montanha e subia as escadas que levavam à pousada. Ninguém menos que os Kagamine, a Yukari, o Kaito e o Gakupo tinham sido recrutados pra nos fazer companhia.
— Acelera, sua lesma – Len empurrava a irmã escada acima. Rin tinha carregado ele com quase todas as bagagens dela, o bastante pra passar um mês na montanha, embora a gente mal fosse ficar ali por um dia.
— Por que não passa na minha frente logo? – ela resmungou, a testa molhada de suor mesmo debaixo do guarda-chuva. – Eu tô morrendo aqui, tá bom?
— Eu bem queria que fosse verdade, mas você não me engana. Vai, sai do caminho.
Ele passou à nossa frente, levando uma mala no com o braço bom e três sacolas enormes a tiracolo, enquanto apoiava o guarda-chuva no gesso do braço. A Rin só levava a bolsinha de mão dela mesmo e parecia prestes a desmaiar nos degraus, enquanto o Len subia sem problemas. Dava pra ver quem era o sedentário ali.
Ou quem eram, porque estávamos todos ficando para trás.
— Vocês são terríveis um com o outro – a Yukari comentou. – Parecem se dar muito melhor quando aquele fã-clube de vocês está por perto.
— Pois é, também observei isso – Kaito concordou.
— Claro que observou – eu disse, revirando os olhos. Maldito alien sonso.
Ele estreitou o olhar pra mim, mas não falou nada. Sorte dele.
Do meu outro lado, os irmãos Kamui seguiam numa harmonia bem diferente. Estavam maravilhados com tudo, desde a vegetação da floresta à arquitetura da pousada lá no alto, que realmente lembrava um templo antigo. Estavam lembrando da cidade deles no interior, conversando e rindo animados, e nem a chuva pesada afetava o humor deles.
Quando minhas pernas estavam prestes a se desfazer na água que escorria pelos degraus, atingimos o patamar e finalmente chegamos à entrada da pousada. Um funcionário descarregava as malas de Len e outro recolhia nossas bagagens, enquanto um terceiro guardou nossas capas e guarda-chuvas e nos guiou para dentro da pousada.
Era um lugar todo construído num estilo antigo, com o assoalho e o teto de madeira e portas de correr. Havia poucas pessoas hospedadas e ficamos com dois dos maiores quartos, um pras garotas, outro pros garotos.
— Oe, oe – Len me puxou pro lado discretamente. – Fica de olho na Yukari-san, ou ela pode tentar atacar a Gumi durante a noite.
— Hein? – arregalei os olhos. – Ela não faria isso... Certo?
Ele deu de ombros. – Não sei. Mas pense nisso: vocês vão até tomar banho juntas.
— Oh, meu Deus – exclamei. – Acho que a Gumi nem pensou nisso.
— Pois é. Não vou dizer que não estou com ciúmes, mas também não sei se dá pra confiar na Yukari-san.
Ainda mais depois que ela aprontou pra cima de você, né?
— Vou ficar de olho – prometi, e então sorri pra ele. – Você ainda gosta muito da Gumi, não é?
O rosto dele se torceu numa caretinha impaciente, e ele apontou com o queixo mais adiante, onde Gakupo e Kaito conversavam à porta do quarto. – Por que não se preocupa com seus problemas? Seu prazo tá correndo, sabia?
No quarto das meninas eu tive um susto. As paredes estavam cobertas por pôsteres de idols do K e J-pop, e eu tinha certeza que aquela não era a decoração original da pousada.
— A Rin-chan é mesmo uma figurinha – Gumi riu pra mim. – Disse que não ia se sentir em casa sem eles.
— Só espero que ela não esteja pensando em se mudar pra cá – eu olhei pras bagagens da Rin num canto do quarto, que poderiam perfeitamente conter todos os pertences que ela possuía na vida.
— Por que não vão pra casa de banhos? – Yukari sugeriu. – A Rin já deve ter chegado lá. Estava doida pra entrar na água quente.
Ela estava junto à porta oposta do quarto, que se abria para um corredor coberto e estreito. Descendo o corredor havia um grande jardim oriental, com plantas e cerejeiras e uma pequena fonte de água corrente. Yukari tinha trazido seu grande caderno de desenho, onde desenhava alguma coisa em verde, provavelmente alguma das plantas do pátio.
— Você não vai? – Gumi indagou sem entender.
Às vezes ela é tão inocente que dói.
— Agora não – Yukari sorriu gentilmente. – A vista daqui é muito bonita; vou desenhar um pouco antes de ir.
A casa de banhos ficava depois do pátio. Gumi e eu nos trocamos no vestiário e nos lavamos nos chuveiros, antes de irmos pra uma das banheiras. Um vapor quentinho nos recebeu assim que chegamos na sala, iluminada por lamparinas amarelas. Rin, que já tinha se metido na água e relaxava com uma toalha quente sobre a cabeça, acenou assim que nos viu.
— Acho que não tem outras garotas hospedadas além de nós – disse alegremente, a voz ecoando nos azulejos brancos. – As banheiras são todas nossas!
Havia mais três banheiras cheias de água quente. Depois de termos pego um pouquinho de chuva gelada, foi um alívio entrar na água e relaxar as pernas cansadas. Me estiquei toda na banheira, joguei a cabeça pra trás e fechei os olhos, me sentindo a rainha de Dubai.
(Dubai não tem rainha, eu sei tá.)
— Cadê os meninos? – ouvi a Gumi perguntar enquanto espirrava água pra todos os lados, devia estar brincando de guerrinha com a Rin.
— Na ala masculina aqui ao lado.
Engoli em seco. Eu sabia que era besteira mas não podia evitar. O Gakupo... Na banheira... Separado de mim por uma parede!
Respirei fundo. Não era hora de ficar imaginando coisas, ainda mais com a Gumi logo ali. Resolvi tentar me distrair com a primeira coisa que me viesse na cabeça, então, olhei pra banheira vazia logo em frente.
— A Yukari não devia ter ficado com vergonha de vir – comentei distraída. – Ela podia ficar numa banheira só pra ela.
— Vergonha...? – Gumi perguntou sem entender. – Achei que ela queria ficar desenhando por enquanto. Por que ela teria vergonha de vir pra cá?
Rin e eu nos entreolhamos. Sério, às vezes a Gumi era bem lenta.
— Ela é a fim de você – expliquei. – Acho que ela não ia se sentir à vontade aqui, depois de ter se declarado pra você e tal. Talvez ela não quisesse te deixar desconfortável ou algo do tipo...
— Mas por que eu ia ficar desconfortável? – ela insistiu. – Eu conheço a Yukari-san, sei que ela não faria nada pra que eu me sentisse assim.
— Bom– disse a Rin – então pense nisso como se fosse o Len.
— Mesma coisa. Gente, eu não ligo... É só uma banheira. Tem casas de banho onde eles permitem que pessoas adultas tomem banho juntas, sejam homens ou mulheres, sabiam?
Ok... Talvez eu tivesse encanado demais com aquilo. Ou a Gumi que era desencanada, ou pelo menos mais do que eu. Mas fazia sentido. Além do que... Havia como tomar banhos mistos, desde que fossem todos adultos? Então, então...
Cara, ser adolescente era tão chato.
Ficamos conversando um tempão e jogando água umas nas outras, até que a Rin soltou um grito.
— Vocês viram aquilo?
Ela apontava pra banheira vazia. A gente olhou e olhou, mas não tinha nada ali fora uma nuvem de vapor fina saindo da água.
— Um vulto saiu da banheira, eu vi – ela insistiu. – Achei que a gente tava sozinha...
Olhamos uma pra outra, o rosto da Gumi brilhando de excitação. Claro, a expectativa de ver um fantasma devia ter deixado ela a mil. Foi a primeira a se levantar da banheira, enrolando o corpo numa toalha.
— Tem alguém aí? – ela chamou enquanto a gente protestava baixinho.
Quando saímos da banheira, ouvimos a porta ser aberta. A neblina baixou aos poucos sob o vento frio que vinha lá de fora, e uma figura baixa e magra apareceu meio etérea pra nós. Usava um quimono branco, tinha a pele muito pálida e cabelos muito longos e negros.
Era a Sadako. Gelei na hora. Meu Deus, o que a Sadako tava fazendo ali?
Encaramos a aparição sem saber o que fazer, e quando os olhos dela se tornaram nítidos sob os cabelos, a Rin achou que era uma boa ideia gritar de novo. Ela era ainda mais mole que eu. A aparição foi que se assustou com o gritinho agudo dela e soltou um grito mais agudo ainda, e eu acabei gritando também, e ela bateu a porta atrás dela. A Gumi se adiantou e abriu a porta às pressas, mas não tinha mais ninguém do outro lado.
— Pra onde ela foi?
— Sei lá – respondi assustada. – Deve ter voltado pro poço.
— O que aconteceu? – Gakupo vinha chegando com Len e Kaito, os três usando o roupão da pousada. Deviam ter acabado de sair da banheira quando ouviram nossos gritos. – Tá tudo bem?
Com a Rin se pendurando na porta enquanto agarrava o peito como se fosse desmaiar, e eu tremendo feito vara verde mesmo naquele calor, as coisas não pareciam ir muito bem, mas a Gumi disse tranquilamente:
— Acho que a gente viu um fantasma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pra quem não sabe/não lembra, a Sadako é a personagem do filme de terror japonês Ringu, que ganhou a versão ocidental O Chamado. Aquele com a Samara, é.
Obrigada a você que leu, e mil desculpas pela demora *encosta a testa no chão* A tela do meu note morreu e precisei trocar, o que levou um pouco de tempo e bastante do meu dinheiro. Mas aqui estamos nós! ^^
Esse miniarco vai levar dois capítulos só, então não vai haver demoras quanto ao segundo. Você que leu até aqui, se puder deixar um comentário com sua opinião, dúvida, sugestão, desabafo feat. o que te der na telha, a caixa de reviews é sua! Obrigada mais uma vez, beijas e té maisinho :****