Cheguei na escola no dia seguinte totalmente esgotada, eu tive um sonho tão estranho... nele, eu estava sentada do lado de um garoto que aparentava ter a minha idade, ele tinha cabelos brancos e olhos verdes brilhantes, ele sorria para mim, agradecendo por alguma coisa.

Entrei na sala de aula e fui para o meu lugar, assim que terminei os exercícios do professor, comecei a desenhar o garoto, o nome dele começava com "M", Mizutani? Mizouko? Ahn, não... era... Mizuki! Isso mesmo! Olhei para o meu desenho, contente com o resultado, guardei na minha pasta, pensativa, e saí para o intervalo.

Dessa vez, eu pedi um suco de morango, e um daifuku de chocolate! Me sentei no mesmo banco do dia anterior, mas ninguém apareceu para atazanar a cobra de ontem, provavelmente eu estava neurótica esse bicho nunca mais apareceria! Passei a aula toda tentando me convencer disso, e, quando eu finalmente consegui...

– Ei, olha lá, Akira-kun, a cobra de ontem! - gritou Haru, de algum canto do pátio. - Agora a gente pega ela.

Estava no horário da saída, eu já estava com todo o meu material guardado, corri com a mochila nas costas até onde a cobra estava, entrei na frente dela antes que eles fizessem qualquer coisa, aquele bichinho realmente era um azarado! Os dois pararam e olharam para mim, com raiva, eu devolvi o olhar, pegando a cobra no braço e levando a mesma comigo até o terreno vazio no caminho para o metrô.

– Fica aí. - pedi, soltando o animal. - Eu vou ter que te salvar pra sempre?

"Talvez..." a mesma voz do dia anterior ecoou na minha cabeça, seguida de uma risada fofa. "Mas foi legal... vamos fazer isso de novo amanhã?" Olhei para a cobra, que estava parada na minha frete, me encarando, era ela a voz?

– Não, não vamos fazer isso amanhã! - briguei com ela. - E se você se meter em outra enrascada amanhã, eu não te salvo!

Me levantei e fui embora, entrando no metrô, aquilo estava ficando cada vez mais estranho.

~~ Quebra de tempo - 3 dias ~~

A cobra arrumou encrenca no dia seguinte também, e eu, como sou trouxa, fui ajudá-la, ela ainda zombou da minha cara, por eu não ter cumprido com o que disse sobre não salvá-la. Aquilo aconteceu a semana inteira, e eu já estava ficando irritada com aquele bicho, outra coisa estranha que estava acontecendo, era que eu estava tendo o mesmo sonho todas as noites, e, bem, eu não sabia se significava algo ou se era só um sonho, mas a voz do garoto no sonho era familiar, e, se fosse só um sonho normal, eu já teria esquecido do rosto do garoto, mas, no momento, eu conseguia desenhá-lo com todos os detalhes.

Bem, sexta-feira finalmente chegou, e eu resolvi ir para a escola e resolver esse problema com a cobra, entrei na grande construção, indo para a minha classe, mas, na entrada, pelo menos, nada de mais aconteceu. No intervalo, quando eu comprei outro suco de caixinha, dessa vez de banana, e um pedaço de kasutera (hoje tinha!), também nada aconteceu.

E, na saída, as coisas continuaram normais, eu já estava desistindo disso, mas, lembrei que teria que ficar até mais tarde hoje, para pegar alguns livros na biblioteca. Eram livros sobre os animais do zodíaco, sobre youkais, e sobre deuses, essas coisas sempre foram interessantes para mim. Estava lendo sobre hebis no corredor, quando ouvi alguns gritos e batidas, olhei para o local de onde vinha o barulho e vi o zelador gritando com alguma coisa.

Me aproximei e percebi que ele estava tentando acertar a cobra com um cabo de vassoura, isso me irritou profundamente, eu estava tentando à todo custo proteger aquele bicho, daí chega um baka qualquer e mata ele? Não, nada a ver! Ele levantou a vassoura para acertar o animal, e eu entrei na frente.

O cabo da vassoura acertou meu braço com força, deixando uma marca vermelha no local, eu coloquei a mão no lugar machucado, fechando os olhos de dor. A cobra virou para mim, depois, virou para o zelador, e começou a brilhar, fechei os olhos novamente, por causa do brilho, e, assim que consegui abri-los novamente, a cobra tinha desaparecido, e o Mizuki, o garoto do meu sonho, estava do meu lado.

– Mizuki? - perguntei, fazendo ele se virar para mim, com um sorriso no rosto, ele sorria igual ao sorriso do sonho, com um olho aberto e o outro fechado.

– Oi, Keiko-chan. - ele se virou pra o zelador, irritado. - Olha o que você fez com ela!

Eu estava achando que o zelador ia partir para cima do Mizuki, mas fui envolvida em uma parede de água, eu comecei a sentir os olhos pesando e, segundos depois, eu adormeci.

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Acordei em um quarto, deitada em uma cama com lençóis azuis, me sentei, olhei em volta, e percebi que o lugar tinha vários acessórios que continham água, uma pequena fonte em um canto, quadros com desenhos de cachoeiras, chuva, essas coisas. Olhei pela janela, que estava um pouco aberta, e vi um ameixeira parecida com a do colégio, estávamos fora da época, mas algumas flores estavam entrando no quarto, com o vento.

Uma delas caiu na minha frente, e eu a examinei com cuidado, parecia nova, então, aquele lugar estava em um tempo diferente do normal. Me levantei, andando até a porta, confusa, e fui para um corredor, conseguindo ouvir a voz do Mizuki. Ele estava sentado na varanda, falando com a árvore, parecia preocupado.

– Yonomori-sama, faça com que a Keiko-chan acorde, por favor. - ele falou, ansioso. - Eu estou preocupado, ela não acordou até agora, faz uma hora que ela desmaiou, será que eu machuquei ela com a parede de água?

– Lie, estou bem. - sorri, parando atrás dele, que se virou, assustado. - Gomen, não queria te preocupar. - me abaixei ao lado dele.

– Que bom que você acordou! - ele me abraçou, o que fez com que eu corasse, me afastando. - G-Gomen... não queria te assustar...

– Está tudo bem. - sussurrei, olhando para o outro lado. - Tenho sonhado com você... - não sei o motivo, aquilo parecia a coisa certa a se dizer no momento.

– Ah, sei disso. - ele sorriu. - É meu jeito de agradecer.