A Raposa escrita por Miss Weirdo


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Oi oi leitores :D
(Sim, foi a abertura da Kéfera improvisada, problem?)
Como vocês estão nesta incrível semanosa de carnaval? Eu estou bem feliz, por acaso, porque terei esta linda semana livre de aulas e vou conseguir escrever mais capítulos para postar!
Ok, vamos aos outros avisos antes de vocês lerem:
1) Esse capítulo ficou "pequeno" para o tanto de acontecimentos que eu coloquei nele, mas sinceramente, eu gostei assim.
2) Eu criei um ~le Tumblr pra história (na verdade para mim, autora, onde eu vou postar gif das minhas histórias com frases dela). Vale a pena vocês conferirem, ficou bem lindinho :3 (espero elogios nos comentários, beijos)
3) TOX NÃO É CANON/OTP
4) Eu queria saber o que vocês andam achando da escrita. Sério. Eu acho que ela foi "deteriorando" desde o início de A Raposa, queria saber a opinião de vocês :/
5) BOA LEITURA :D
Link do Tumblr: www.missweirdonotes.tumblr.com
—------x-------
No capítulo 13, o Sr Burritolandia fez um comentário que me fez rir por minutos incontáveis, e com a autorização dele eu ia colocar nas notas co capítulo 14, mas eu esqueci. PORTANTO resolvi colocar nas notas do 15 :v
"Ai, o que meus olhos acabaram de ler? Que maravilhoso momento para não ser cego (igual Ello, ops).
Do início ao fim meus olhos ficaram grudados à tela. Yes, ficaram. Tudo começou com a Fox indo falar com o Ello (e por qual motivo? Vaza daí, Tox é CANON), e obviamente nosso moreninho perdição ficou todo mordido. Daí teve ele e Fox brigando porque Tom odeia não saber dos segredos da ruiva, mas tipo, DEIXA ELA NÃO CONTAR QUE JÁ FOI ESCRAVA, OXE
E depois, pra completar o sorvetinho, Mohra e Tomeh saem no tapa por ambos defenderem sua testosterona e se decidirem por macho alfa do quarto da coitada que acabou de ver o espírito dos pais mortos e nem sabe o que está acontecendo. E AINDA POR CIMA nossa ruiva top summer conta que quando era pequena tinha dinheiro vazando até do rabo mas desistiu de tudo e foi viver feliz pra sempre matando pessoas.
SOCORRO, SUA HISTÓRIA É MERAVILHOSA ♥"



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Eu estava no meio de uma floresta, o verde encantador e sons de pássaros por todos os lados. Fiapos de luz do sol lutavam para ter espaço entre as folhas das altas e majestosas árvores, e entregavam ao solo uma claridade agradável. 

Eu não tinha ideia de onde estava indo, e mesmo assim continuei andando. Para a frente, sempre. Eu desviava dos galhos das plantas mais baixas que se atreviam a entrar em meu caminho, e ainda pisava nas folhas secas e gravetos, que produziam um som oco, ressonando abafado em meus ouvidos.

De repente eu alcancei uma clareira. Olhei ao meu redor, encantado com a beleza mágica daquele local, um sorriso suave movendo meus lábios. Ao completar a volta, na minha frente não havia mais árvores, e sim um riacho, e ao seu fundo, uma cachoeira.

Fitei maravilhado, e confuso por não ter notado aquilo antes, já que meus pés quase tocavam a água límpida e reluzente devido a proximidade. Bem ao fundo, observei, tinha uma figura trajando um vestido branco e curto, e eu a reconheci imediatamente por causa do cabelo cor de fogo preso em um rabo.

Sorri imediatamente, e comecei a caminhar até ela. De uma maneira incomum, a cada passo que eu dava eu parecia andar uns cinco metros. Não me importei, eu ainda estava indo até ela.

— O que faz aqui? - eu lhe questionei, mesmo não procurando uma resposta. Ela se virou, a feição suave. Deixou de mexer nas plantas e sorriu para mim.

Pendi a cabeça para o lado. Ela estava muito bonita. O cabelo preso apertado em um rabo no alto de sua cabeça, que evidenciava os cachos ruivos. Brincos dourados em sua orelha, grandes e ao mesmo tempo delicados, assim como seus olhos, que não continham o usual escárnio. Um enfeite dourado ia de sua testa até sua nuca, como uma tiara, e seus lábios vermelhos chamavam atenção.

Fox, como se não estivesse interessada em me dar atenção, colocou o pé descalço dentro da água. Eu a segui, mesmo sem entender o porquê. Começamos a andar dentro do riacho, contornando-o, e toda vez que eu esticava meu braço com o intuito de alcança-la - e acredite, eu queria muito - a garota se esquivava. Aquilo foi me deixando frustrado, por que ela estava fugindo?

— Você tem medo de mim? - eu questionei, tentando chamar sua atenção, após ela começar a correr.

Sua cabeça se virou, e ela apenas riu.

E bem, eu corri atrás.

Seu destino final foi ao lado da cachoeira. A água batia em nossos joelhos, e ela finalmente olhou para mim com atenção. Ergueu os braços para poder enlaça-los ao redor de meu pescoço, ficando subitamente na ponta de seus pés. Meu coração se acelerou de uma maneira inexplicável, e meus olhos se arregalaram. 

Eu não saberia dizer o que estava acontecendo naquele momento, havia sido tão de repente, e mesmo assim, algo me falava que eu não deveria solta-la. Eu não queria solta-la.

E depois, para minha surpresa, ela abriu a boca, mas não foi sua voz que eu ouvi.

Acorde!— ela berrou, mas estava mais parecida com a voz de Jaguar. Eu tentei me soltar de seus braços, mas Fox não permitiu, e gritou novamente - acorde seu estúpido!

Então a ruiva me empurrou para debaixo da cachoeira.

Acordei com um susto e inteiro molhado enquanto Jaguar me chacoalhava. A janela da cozinha estava escancarada ao meu lado, e as gotas da tempestade molhavam meu rosto intensamente.

— Tomeh, vamos todos morrer! - ele gritou, vendo que tinha conseguido me tirar do sono.

Eu levantei, cambaleando, e procurei por uma espada, mas não encontrei nenhuma.

— Por que eu estou na cozinha? - questionei, a voz tão atrapalhada como eu naquele instante - onde está minha espada? E os demônios?

— Fox te arrastou pra cá quando você desmaiou - ele disse, sem paciência - as bestas foram embora, não vai precisar de uma espada para arrumar as velas. Vamos!

Sem entender, como na maioria das vezes, eu saí em disparada, apenas para encontrar o navio um caos. Homens ao chão e espalhados, e eu apenas desejava que eles não estivessem mortos. O vento era muito forte, nos jogando de um lado para o outro, dando a sensação de que iríamos cair. O mar estava muito agitado, o navio virava de maneiras que eu julgava impossíveis, e eu percebi que não havia gente o suficiente para estabilizar as velas.

— Puxe aqui! - ele gritou, me jogando uma corda. Eu puxei, fazendo força, e mesmo assim era pesado demais. 

— Eu preciso de mais alguém! - tentei com que ele me ouvisse, mas apenas não pude. 

Puxei novamente, dessa vez me jogando no chão para que meu peso a movesse, e consegui.

Água batia em meu rosto de todos os lados, vinha das ondas rebeldes do mar, que as vezes chocavam-se a alturas tão grandes do casco do navio que ricocheteavam e inundavam o convés. A chuva era ainda pior, caindo torrencialmente e encharcando nossas roupas. Vez ou outra um raio cortava os céus e eu tinha a chance de ver alguma coisa, pois o resto era apenas uma grande bagunça com uma pitada de trovoadas.

Ao ouvir os estrondos eu apenas pensava em Fox, mas naquele segundo ela não era minha prioridade, e sim o navio. Eu não podia deixar eles morrerem.

Amarrei aquela corda a um gancho no chão após usar meu peso para move-la mais uma vez. Corri para outra vela, sua corda ensopada e jogada, e eu a peguei.

Enquanto fazia o início do processo manual, eu torcia para todos ali estarem vivos. Eu não havia participado da luta contra os demônios, se bem me lembrava, havia sido atirado até o outro canto do navio. Minha cabeça latejava, e eu ainda podia sentir a ardência do corte que Garra havia feito em meu queixo.

Quanto tempo havia passado? Não poderia ser muito, não era possível. Eu havia apagado completamente, os deixado na mão, e eu não conseguia considerar a hipótese de um deles estar morto.

Mais um trovão. Não ouvi os típicos gritos de Fox de quando isso acontecia, e eu não pude dizer se aquilo me reconfortava ou assustava. 

Fox… O que havia sido aquele sonho?

Ela estava tão perto de mim, e eu não queria fasta-la.

Mas era apenas um sonho.

Meu estômago se embrulhou e eu procurei esquecer aquilo, sem entender o motivo da minha decepção, ou quem sabe até angústia.

— Se ficarmos aqui nós vamos morrer! - berrou Mohra, arrumando uma das velas, no segundo em que Fox apareceu correndo pelo convés.

— Nós não temos pra onde ir! - ela esbravejou, levantando os braços - tem alguma ideia de algum porto? Eu não vejo nada, estamos no meio do mar! 

— Não, não estamos! - Cabeça apareceu correndo - Fox, suas contas estavam erradas, o vento forte desde o início da tempestade alterou nosso trajeto!

— Então onde estamos? - eu disse, após amarrar o último gancho e correr na direção deles.

— Perto de Tiga - ele afirmou - há um porto aqui do lado. Podemos ancorar o navio e partir no fim da tempestade!

Apesar de nossas vozes quase não serem audíveis, Fox fez um movimento com a cabeça que apenas foi visível devido ao relâmpago que irradiou uma luz fantasmagórica até nós. Ela havia assentido.

O que significava que eu deveria mudar as velas novamente.

Corri para solta-las, junto a Mohra e Jaguar. Sombra surgiu de lugar nenhum junto a Tubarão, e eles nos ajudaram. Ajeitamos tudo e torcemos para não morrermos no trajeto de dez minutos até o porto.

Se ao menos eu pudesse ver as luzes ao longe… A tempestade era tão forte que nada era visível dentro do navio, fora muito menos.

E assim nós fomos navegando na incerteza, todos ansiosos. Tobias apareceu para nos ajudar também, e aos poucos, os únicos marujos desacordados eram Sequela, Magma, Garra e Batata.

Quando atracamos no porto, o navio se movimentou mais do que deveria e acabamos por estilhaçar a passarela de madeira do compartimento do lado. O nosso estava - mais ou menos - intacto. A grande lança de metal, por outro lado, quase fez um furo na casa de madeira a nossa frente, mesmo assim ainda derrubou o enfeite de pedra que estava acima. Fiquei completamente aliviado de estarmos “parados”.

— Graças aos deuses - Tobias murmurou.

Pelo menos não morreríamos em alto-mar. 

Um barulho de metal ecoou na parte debaixo do Metal Curse, e corri para ver o que era. Uma passarela havia sido montada, ia do chão até estibordo do casco, e, caminhando, vinha a guarda do local. E estavam armados.

Pelo menos não morreríamos em alto-mar.

— Fox! - gritei - acho que você tem visitas!

Ela veio caminhando rapidamente, confusa, e seguida por Mohra. 

Assim que os homens uniformizados de azul - e ensopados, diga-se de passagem - atingiram o convés, nos olharam em um instante de horror. Ah sim, eu já havia passado por isso, o lance dos braços de metal.

Foco, Tomeh.

Precisamos verificar sua licença para utilizar o porto de Tiga!— gritou o único homem com uma farda vermelha.

Que ótimo, eu havia esquecido que eles não falavam Ocqui.

Eles não entendem Gher— respondi, sabendo que mesmo assim era inútil, nós não tínhamos porcaria de licença alguma, o que significava que éramos fora da lei.

Ah, estrangeiros…— murmurou, irritado, e logo consertou a fala - precisamos da licença deste navio para o porto.

Fox deu de ombros:

— Não temos!

— Com licença, senhorita, estou me dirigindo ao capitão! - ele afirmou, sem paciência, gesticulando com a cabeça para Mohra, que nesse momento riu.

Eu conhecia minha capitã, sua maneira explosiva. Eu precisava impedir que uma besteira ocorresse naquele momento. Havia mais guardas do que marujos, e mesmo se nós pudéssemos para-los, mais chegariam. O reino estava infestado de homens de azul, e não seriam treze Sailors e uma ruiva revoltada que os impediriam de arrancar nossas cabeças.

Ideias começaram a pipocar em minha mente, diplomacia era sempre uma boa. Ou suborno. Nós não temos dinheiro, seu idiota. Eu poderia usar palavras, sim, elas eram boas, engana-los talvez, dizer que…

— Acredita que uma mulher não possa comandar um navio? - ela interrompeu meus pensamentos.

— Espere… - o homem disse - então você é a capitã? - e com isso começou a rir, fazendo com que seus homens rissem junto.

Ah não.

Fox desembainhou sua espada e apontou-a para o pescoço do soldado, o que fez com que sua tropa retirasse suas espadas também, o que fez com que os Sailors retirassem suas espadas também, o que me fez dar um tapa em minha própria testa porque naquele segundo nós não tínhamos mais chances de sair dali.

Que ótimo.

Piratas e suas espadas.

Acontece, comandante, que eu não gosto que me desafiem, e muito menos que julguem minha habilidade em dar ordens… Ou em matar - ela sorriu daquele jeito fantasmagórico que fazia quando tinha uma ideia na cabeça. Suas ideias geralmente envolviam assassinatos.

— Por favor - antes que aquilo virasse uma disputa sangrenta, comecei a falar, entrando no meio dos dois e erguendo meus braços levemente, como que me rendendo - temos feridos, a tempestade no mar quase virou nosso navio, precisamos de um lugar para trata-los. Não há necessidade para desavenças!

O homem de vermelho me olhou de cima abaixo, apenas para dizer:

Então você é o responsável que coloca juízo na cabeça dessa garota?

O fitei em silêncio por alguns segundos:

Se estivéssemos tendo essa conversa em Ocqui ela provavelmente me jogaria da prancha.

Ele riu, irônico. Senti o olhar de Fox e dos marujos em minhas costas, como se decidindo qual a melhor maneira de me matar por eu estar confraternizando com o inimigo sem traduzir nada.

Vocês são insanos de terem uma mulher como capitã. Mulheres são feitas para bordar e cozinhar, e não empunhar uma espada.

— Acontece que essa mulher tem mais coragem do que qualquer homem que já vi - respondi, erguendo meu queixo levemente - se voltar a desmerece-la, eu que lhe jogarei da prancha.

O sorriso morreu em seu rosto.

— Adoraria deixa-los viver - ele começou, e esperança se formou em mim. Só precisaríamos ficar no porto até o fim da tormenta, onde poderíamos finalmente continuar a viagem até minha mãe - mas vocês me fizeram ficar debaixo da chuva, e isto me deixou de mau humor. Guardas!

Todos vieram para cima de nós, e eu sabia que lutar era inútil, portanto deixei ser levado. Um homem de azul agarrou meus pulsos e os prendeu atrás de mim, como se fosse uma algema, e eu caminhei até o chão na passarela de metal, irritado. 

Para levar alguns dos marujos, como Mohra e Cabeça, foram necessários dois guardas, e pude ver reforços caminhando até nós. Perguntei-me o que seria dos homens que estavam desmaiados naquele instante, e a vergonha começou a atingir-me. 

— Tire suas mãos imundas de mim! - Fox gritou, e eu lembrei de suas palavras “Eu odeio que me segurem!”. Remetia à morte de seu irmão.

Infelizmente estávamos caminhando para a nossa morte.

Os soldados nos arrastaram até compartimentos de madeira fechados e que seriam puxados por cavalos. Fui jogado para um dos bancos, Fox ao meu lado, e o cubículo encheu-se com seis pessoas. 

Quando começamos a andar, a rua de pedras e nós balançando, eu não pude parar de pensar no erro que havíamos cometido.

Ao meu lado, a ruiva tremia com o frio. Seu cabelo ruivo estava encharcado e grudado ao corpo, junto às suas roupas. Eu queria aquece-la, mas não tinha como: eu podia sentir até meus ossos tremendo.

— O que foi que fizemos? - Jaguar questionou, batendo a cabeça na parede, nervoso.

Mohra estava quieto, encolhido, e Tubarão completamente irritado.

— A culpa é toda minha - a ruiva balançou a cabeça - temos que dar um jeito de fugir.

— Já devem ter soltado o navio de volta para o mar - Sombra grunhiu - bastardos.

— O que você estava falando com o comandante? - Tubarão questionou.

Olhei para ele. Eu não estava prestando a devida atenção à conversa, então levei um tempo para raciocinar sua pergunta. 

— Eu o chamei de imbecil - respondi, mas antes de as perguntas e xingamentos começarem, consertei - sutilmente.

Fox encostou sua cabeça em meu ombro, e o toque fez um arrepio percorrer minha espinha. Eu não sabia exatamente como me sentir em relação àquilo, e apesar do meu primeiro instinto ter sido tira-la por causa do susto, eu percebi que não era o que eu queria.

Quando chegamos em nosso destino, a porta se abriu. Um por um, saímos com os pulsos atados e orgulho pisoteado. Metal Sailors sendo presos, o mundo definitivamente estava invertido.

Fomos levados por uma escada de pedra até um local subterrâneo. Oh sim, o calabouço.

A cada passo que dava, gritos dos homens presos. Eles se viravam para nós e se atracavam à grade, o barulho de suas vozes ecoando doentiamente pelo lugar.

— Uma garota! - um deles gritou, e Fox encolheu-se. Fiquei ao seu lado direito, como se para protege-la, e Mohra tomou o lado esquerdo. Querendo ou não, ele estaria lá para ela, e querendo ou não, eu também.

— Daqui a pouco eles calam a boca - eu sussurrei para Fox.

— Tudo bem - ela falou, respirando fundo e levantando a cabeça - convivo com selvagens desde pequena.

Dificilmente me surpreendi. Eu sabia que era verdade.

Naquela noite, jogaram-nos em uma das celas. Ficamos todos espalhados, relembrando nossos erros, esperando um veredicto. Aquilo estava tão errado. Quase morremos no mar, deveria haver um modo de falarmos com o responsável por aquela província, ele acabaria por nos liberar. Ninguém era cruel ao ponto de matar pessoas inocentes por tentarem sobreviver.

Ah.

O homem que matou Proi havia cometido tal crime. Assim como Fox. Assim como os Sailors. Assim como eu. 

Será que aquela tortura era a forma de julgamento por todos os nossos pecados?

  De qualquer maneira, eu não conseguia dormir, de maneira alguma. O sono não vinha, a ansiedade me matando, como quando eu tive que lutar com Sequela. A noite anterior havia sido horrível, eu acordava e apagava, mas a sensação era a de que horas se arrastavam, mas segundos voavam.

Eu não morreria daquela maneira. Aquele não era nosso destino.

A chuva já havia parado, pois o barulho ensurdecedor já não atordoava meus ouvidos. Engatinhei até Fox, sem saber exatamente o porquê, mas sentei-me ao seu lado. Ela havia se isolado a partir do momento em que chegamos na cela e fomos presos, o ressentimento em seu olhar era notável. Os outros Sailors obviamente respeitaram seu espaço, mas eu não, como sempre. Ficamos em silêncio, apenas ouvindo nossas respirações. Seus olhos abertos fitavam a grade.

Eu queria falar algo para ela. Eu sentia que havia algo a ser dito, eu apenas não sabia o que era.

— Como eles conseguem dormir sabendo que seremos decapitados? - perguntei, e ao mesmo tempo quis me bater. Que pergunta idiota, não era aquilo que eu queria dizer.

— Eles sempre foram melhores nisso do que eu - ela sussurrou, dando de ombros.

— Nisso o quê?

— Ah, nisso de ser forte - disse, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

— Como assim? - eu perguntei, um riso escapando de minha boca - você é a pessoa mais forte que eu conheço. Olhe todos os desafios que já vi você passar, não menospreze seu passado.

— Todos aqui abdicaram de algo importante, ou ainda passaram por situações terríveis. Olhe Bat - ela falou, fitando o homem encolhido no canto contrário da cela - assaltantes o deixaram cego. Ele nunca mais encontrou sua família e eles nem se deram ao trabalho de procura-lo - disse, com desgosto -  ou Mohra… Seus pais foram mortos na sua frente pelo seu melhor amigo. Ele tirou a vida do homem e ainda foi acusado de ser o assassino de seus pais para conseguir a herança. Ameaçavam a família de Batata para ele trabalhar de graça com carregamentos devido a dívidas de seu passado… Você também é um exemplo. Seu pai sumiu, sua mãe era louca… Sem ofensas.

— Não me ofendi - falei, concordando, de alguma maneira reconfortado por ela ter me citado.

Uma sensação estranha subiu por meu estômago enquanto ela continuava falando sobre todas as desgraças daqueles homens, como se colocando sua miséria abaixo de todos. Eu não tinha certeza do que era, um formigamento, uma urgência, ansiedade, eu precisava…

Eu interrompi seu discurso quando segurei seu rosto com uma de minhas mãos.

— O que você está fazendo? - ela perguntou em meio a um suspiro.

Para falar a verdade, eu não sabia dizer.

Eu apenas acariciei sua bochecha e retirei uma mecha rebelde que insistia em lhe cair nos olhos. Nossa respiração sincronizou-se, e eu não conseguia desviar minha atenção do brilho do castanho de seus olhos.

Fomos nos aproximando, e eu ainda não tinha ideia do que estava acontecendo.

Meu coração acelerou-se, meu estômago estava revirando. Eu nunca havia me sentido estranho daquela maneira.

Nossos narizes quase se tocavam. Ela fechou os olhos, e eu estava tão perdido…

— Estrangeiros! - gritou um homem, parando ao lado da grade, o que fez com que eu e Fox déssemos um pulo e nos separássemos.

Os marujos acordaram com o grito que ainda ecoava naquele compartimento de pedra. Enchi-me com uma sensação de vazio enquanto jogava os cachos bagunçados  do meu cabelo castanho para trás.

— O veredicto foi dado. Vocês vão fazer uma pequena visita à praça principal - ele falou, o sotaque irritando-me. Dei uma olhadela para a ruiva, que prestava atenção no homem completamente.

Um por um, deixamos a cela, os pulsos amarrados a nossa frente, colados ao corpo. Minha vontade era dar uma cabeçada no soldado que me levava para poder fugir, mas eu sabia que aquilo apenas me renderia mais um motivo para ser morto. 

O sol brilhava no céu, mesmo estando nublado. A claridade fez-me chiar, assim como alguns dos marujos atrás de mim. Ainda podia sentir uma corrente de ar gelado, mas minhas roupas estavam secas, o que poupou o frio exagerado. Aquele era apenas um dia típico em Tiga. 

Uma sensação de vazio me preenchia. Eu sentia falta de ter Fox perto de mim, mesmo que por tão poucos instantes. No que eu estava pensando? No que ela estava pensando ao não me empurrar para longe? Só de pensar em olhar para ela naquele instante já faria meu rosto arder.

E mesmo assim, eu não me arrependi.

As pessoas da rua olhavam para nós e apontavam, enquanto caminhávamos pelas calçadas de pedra naquela manhã.

Por que tem uma mulher lá, mãe?— perguntou uma garotinha.

Não olhe, querida, deve ser apenas mais uma cortesã -  a mulher virou o rosto da filha, ainda assim fitando com superioridade e nojo. Por sorte Fox não entendia nada daquilo. Por azar, eu entendia.

Quando chegamos ao nosso destino, deparei-me com uma praça lotada de gente, e todas olhavam para uma espécie de palco de pedra. Um carrasco afiava uma grande foice, e eu arregalei meus olhos ao perceber a quê estávamos fadados.

O guarda conduziu-nos escada acima, e ficamos todos enfileirados. Eu era o segundo da fila. A primeira, Fox. O terceiro, Bat. A cada movimento nosso, a cada segundo que se passava, os gritos das pessoas aumentavam consideravelmente. Eles vaiavam, e alguns se assustavam com as próteses metálicas.

Mais uma vez, eu não os culpava.

Naquele momento, eu sabia que minha única esperança era que Sequela, Magma, Garra e Batata surgissem das cinzas para nos salvar. Magma sabia usar explosivos, seria tão difícil armar algo para podermos fugir?

Mas, para falar a verdade, eles deveriam estar mortos, e eu não tinha esperança.

Trompetes soaram, e todos se ergueram e ficaram em silêncio. Observei intrigado enquanto um comitê de pessoas bem vestidas andavam até bancos de armação dourada e cetim verde. Estes estavam em uma espécie de pódio, observando-nos. Os serviçais presentes arquearam suas colunas em reverências exageradas, e naquele segundo, tudo o que eu queria era vomitar.

O comitê ficou de costas para nós, como se antes de acomodarem-se para verem nossas cabeças rolando quisessem dar uma boa conferida nos pobres que poderiam ser os próximos. Quatro pessoas enfileiradas a prováveis três metros de distância, e eu soube que um quinto estava a sua frente.

— Não é possível que vão nos matar por fugir de uma tempestade, por não ter um maldito papel - eu resmunguei, como se quisesse deixar claro minha indignação com tudo aquilo - infinitas coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer… E agora tudo se acaba por um papel!

— Cale a boca, Tomeh - Bat respirou fundo - você não sabe o que eu daria apenas para ver o céu mais uma vez.

População de Tiga! - a voz grossa começou a falar, mesmo não sendo assim tão diferente de qualquer um dos Sailors. Estranhei aquele momento - estes dez estrangeiros que estão vendo atracaram em nosso porto durante esta madrugada, alegando estarem fugindo da tormenta. Eu não os culpo, o mar estava tão violento que durante esta noite, mal pude pregar os olhos, imaginando os pobres marinheiros que estavam perdidos neste pesadelo!

Franzi o cenho. Se você, querido nobre, estivera tão preocupado com os marinheiros perdidos no oceano, por que estava pronto para assassinar os que conseguiram se salvar?

O povo gritava loucamente, como se amassem o homem que lhes dirigia a palavra. Será que eram tão estúpidos ao ponto de não fazerem a mesma analogia que eu?

Estávamos prontos para liberar estes pobres navegantes do cativeiro, já que foram presos por não terem o Certificado de Permissão dos Portos. 

Não acredito que a última coisa que ouvirei antes de morrer serão palavras que não entendo - Sombra grunhiu, logo ao lado de Bat.

Eu sibilei, mandando-o calar a boca. Aquele discurso estava me confundindo.

— … descobrimos que estes são piratas! - ele gritou, e eu fiquei com vontade de me levantar para dar um soco no nariz de Sombra, que havia feito-me perder um pedaço do discurso. De qualquer maneira, os expectadores gritaram horrorizados ao descobrirem quem realmente éramos - e desceram até nossas terras em busca do nosso ouro! O ouro de Tiga! Não podemos deixar isso acontecer, não?

Os bárbaros que torciam por nossa morte foram à loucura com aquela frase. Malditos patriotas.

E como se não bastasse serem corsários imundos, ainda pudemos constatar que são os marujos de Sea Fox, a tão temida garota que comanda homens sem braço!

Olhei para Fox rapidamente. Ela, que antes não prestava atenção ao discurso por estar ocupada demais fitando o chão, olhou rapidamente para o comitê de nobres à simples menção de seu nome.

Então era por aquilo que seríamos mortos.

Eles pagarão por seus crimes, morrerão pela lâmina de nosso país, forjada com nosso metal e nosso fogo! Vida longa à Tiga!

E o povo o seguiu durante o mantra bizarro que eu sempre gritava orgulhosamente quando criança, e que naquele segundo me dava náuseas.

O guarda de roupa azul pegou Fox pelo cotovelo, e naquele segundo meu coração se partiu. Eu não pude acreditar que era a última vez que eu veria aqueles cabelos laranjas e vivos, seus olhos cor de mel. Ela, orgulhosa como era, não deixou uma lágrima sequer escorrer, e ainda com o queixo levantado, andava até o apoio de pedra onde colocaria sua cabeça e a veria rolar.

Mas eu não deixaria aquilo acontecer daquela maneira.

— Fox! - eu gritei. Ela se virou para mim, surpresa, e os Sailors também. O povo se calou, e eu pude sentir que, naquele segundo, todos os olhares estavam em mim.

Encarei fundo em seus olhos. Ela não sabia o que estava acontecendo. Ninguém sabia. Eu sabia.

Levei os pulsos atados até meu rosto, onde consegui de alguma maneira fazer a pequena garra com os dedos e passa-la por cima de meu olho direito.

Os olhos da menina piscaram, perplexos. Eu não entendi por que o guarda e Fox não se moveram após. Foi quando eu me virei.

Os Sailors todos estavam fazendo a garra. Eu não pude deixar de sorrir.

Fox também sorriu. Ela assentiu suavemente, como que agradecendo, mas seus olhos já contavam seus sentimentos, tudo o que devíamos saber.

E foi quando ela virou a cabeça para a frente mais uma vez que algo ocorreu. O grupo de nobres havia se separado, mas tinha uma última pessoa olhando para nós, como se questionando o que havíamos acabado de fazer. Um garoto que não devia passar de seus vinte e dois anos, o cabelo castanho claro e roupa de cetim amarela. Ele tinha uma coroa dourada na cabeça e um distintivo grande em formato de pássaro no peito. O regente, quem havia ordenado nossa morte.

Ele deu de ombros e saiu andando, até tomar posição na cadeira verde central. Meu ódio por ele crescia a cada segundo, mas algo intrigava Fox. Ela o seguiu com o olhar, e ficou visivelmente incomodada.

Foi quando lutou contra o guarda para poder liberar seus braços.

Gritos começaram a vir das pessoas que assistiam, e murmúrios de surpresa dos marujos. Ninguém fazia ideia do que estava acontecendo.

Ela conseguiu dar uma joelhada nas partes baixas do homem, e eu tive uma lembrança de quando aquilo havia ocorrido com Mohra. De qualquer maneira, aquela não era hora para memórias, eu precisava entender o que estava acontecendo ali.

O regente deu a ordem para que mais guardas fossem segura-la, mas Fox não fugiu.

Olhei para ela com total estranhamento quando ela levou os punhos entrelaçados até os lábios e assobiou. O barulho parecia vindo de um pássaro, e foi alto o suficiente para calar a todos e parar a bagunça.

O regente então ergueu a mão, pedindo para os soldados não fazerem nada, e naquele segundo, a ruiva caiu de joelhos.

O que veio a seguir, ninguém esperava.

O regente levantou-se de sua cadeira e deu dois passos na direção de Fox, receoso, e perguntou:

— Belena?


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Notas finais do capítulo

E AÍ, O QUE ACHARAM?
Ahá, eu quase fiz vocês acreditarem que eles iam se beijar, não é? Hehe, eu amo enganar vocês



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