A Sociedade Rubi escrita por Mari e Léo


Capítulo 46
Invocadores traidores


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, capítulo novo. Este capítulo é muito importante e sei que estavam ansiosos por isso. É a primeira batalha com as bruxas sim e tem surpresa também! Boa leitura!



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As invocadoras de damas da noite se colocaram na frente de suas líderes. As dez bruxas. Inveja, a raça daquelas que estavam ali.

Medo. Todos nós sentíamos, mas tínhamos também que voltar ao normal, voltar as nossas raízes. Invocadores de criaturas não têm medo. Não faz parte de nós.

Os cavaleiros do obscuro se colocaram em posição de ataque. As lâminas afiadas por gerações e gerações. Eles estavam preparados. Otan estava entre seus dois melhores cavaleiros, Malleus e Ramone. O grupo da Ordem do Obscuro estava pronto para o que vinha pela frente. Mas eram humanos, será que eram capazes?

A tropa de vampiros estava ao lado da de invocadores. Rhodes estava entre Hank e Gaspar. Na frente deles, estávamos nós cinco. Os invocadores armados com elementos. Não tinha mais importância a espada, a pistola, nenhuma arma comum. Agora nossa arma era parte de nós.

Nada de relâmpagos e trovões. O que era para chegar já tinha chegado. Infelizmente. Era a hora de enfrenta-las.

A chama se fez em meus dedos. Era instantâneo, como se não dependesse de mim, não precisava de técnica, precisava de força de vontade. E naquele momento eu clamava por um fim a algo que tinha acabado de começar. Meu interior gritava por isso.

Uma das bruxas gritou para o céu. Um grito estridente. O início da batalha. Drácula respondeu com um grito rouco. Se elas queriam matar, nós também queríamos.

O combate então se iniciou. Drácula partiu para cima, contra as inimigas. A espada que carregava reluziu. Vermelha, assim como a que feri uma das invocadoras. O que nós conseguíamos apenas com uma pedra, ele, o grande líder, conseguia só de segurar.

O vampiro ergueu a espada e a bruxa desviou se abaixando e indo para o lado. Em seguida todos os vampiros correram contra elas. Nós fomos de encontro as invocadoras.

Eudora parecia esperar por mim. Caminhei até ela e ela até mim. A invocadora sorriu. Minha chama estava pronta, eu iria tostá-la.

– Quanto tempo. – falei.

– Poucos dias invocador. – disse Eudora lentamente.

Tirei a espada da cintura e sua lâmina começou a pegar fogo. Talvez agora eu me interessasse em ser espadachim. Gaspar ficaria orgulhoso se sobrevivesse.

– O dia que vocês perderam Charlotte para nós. – a provoquei e a ataquei com a espada em chamas.

Ela desviou do golpe e começou a rir. Tirou de suas costas a imensa foice de seis lâminas, três de cada lado. Eudora começou a girar a arma nos dedos. Era perigosa e eu havia me tornado seu alvo preferido.

– Como você é tolo. – ela disse com um tom de pena.

Não respondi. Mantive-me calado. Qualquer coisa poderia alimentá-la. Minha melhor arma no momento era o silêncio. Avancei novamente contra ela. A lâmina em chamas e os dedos com pequenas esferas de fogo.

Eudora era esperta. Mantinha uma boa distância de mim. Não me feria e nem entrava em perigo. Não entendi aquilo. O que ela planejava? A invocadora sorriu. Era um jogo. Ela queria acabar comigo psicologicamente, mas não seria tão fácil.

– Olha só. – ela disse admirada. – Agora você brinca com o fogo. Que lindo. – era notável o sarcasmo.

– Não vou cair no seu joguinho. – falei.

– Você já caiu. – de repente ela estava atrás de mim. – Todo mundo cai nesse jogo. Todos nós.

A invocadora colocou a haste da arma no meu pescoço. Pressionou-me contra si e começou a sussurrar coisas no meu ouvido.

– Está vendo isso tudo? O sangue escorrendo? Eu vi todos que eu amo morrendo. Não sou muito diferente de você, de ninguém aqui. A diferença é que eu perdi tudo. – ela me chutou contra o chão e levantou a foice para me matar.

Em seguida um vampiro se jogou na minha frente. A foice perfurou sua armadura e atingiu seus órgãos internos. Eudora caminhou para trás e avançou sobre outro vampiro, que avançava para cima dela.

Tirei o vampiro de cima de mim. Ele sangrava muito. Começou a proferir palavras em Draccur, o idioma das criaturas. Eu não entendia. Mas a última palavra soou nítida para mim.

– Esperança.

Levantei e finquei a espada no chão. Imediatamente a chama se apagou. Mas minhas mãos estavam envoltas pelo fogo. Matar um vampiro era matar parte de nós. Eudora pagaria por isso. Todos ali pagariam.

Avancei contra outra invocadora. Lancei o fogo contra seu corpo e ela caiu no chão, sendo tomada pelas chamas, mas antes ela já havia matado alguém e não era um vampiro. Não conheciaa Jules como conhecia os outros, mas sabia que ele era um grande invocador, assim como todos ali. Agora estava desfigurado e com um punhal fincado no peito, mesmo estando com o peitoral de ferro.

Fechei os punhos. Não havia nenhum herói ali. Como poderia ter esperança? Estávamos perdendo. Qualquer um poderia ver. Logo seria pior. Abaixei a cabeça. Mas não poderia morrer. Não era a minha hora. Não era hora de ninguém.

A invocadora híbrida sabia que não era sua hora. Jules era seu companheiro de equipe. Ela mataria todos ali para vingar um colega. Mas seu pensamento era sempre grande. Caminhou até uma dama da noite, esta avançou sobre Corea com uma lâmina negra nas mãos.

– Aqui se faz aqui se paga. – Corea gritou.

A dama da noite começou a gargalhar e Corea também. O perigo era parte dela. Não tinha graça se a morte não a acompanhasse. Sua arma estava pronta e ela estava com os dedos em cima do que tinha que disparar. Roxo. O líquido que mata. Estava com a bruxa na mira, apertou os botões, mas não funcionou. Aquilo não ia acabar bem. A bruxa jogou Corea no chão só abrindo a mão em sua direção. Caminhou até a híbrida e se abaixou.

– Quantos anos têm? – ela perguntou. – Vinte e sete? Sua coragem não vale de nada, só vai te trazer a morte.

A lâmina na mão da bruxa encontrou a bochecha de Corea. Fez um pequeno corte. O sangue sujou a lâmina e em seguida a dama da noite lambeu.

– Inveja. – disse a criatura. – Agora eu sou você.

Corea não conseguia se mexer. Estava paralisada. Era como se uma mão invisível segurasse seu pescoço. A bruxa a observava gritar, tentando se soltar do imaginário. Damas da noite brincam com nosso cérebro. Aquela gostava de brincar em ser o que não é. Ela se transformou em Corea. Era exatamente igual, até a cicatriz no rosto, mas a exceção era o corte. A híbrida gritou mais alto, mas ninguém a escutou, exceto eu.

Atirei uma bola de fogo na invocadora que tentava me matar, era inexperiente, fraca. Caiu no chão pegando fogo enquanto eu corri contra a dama da noite. Ela se virou no exato momento em que eu estava pronto para cortar a sua cabeça com a espada que havia recuperado. A bruxa se abaixou e arregalou os olhos para mim. Mesmo estando na forma de Corea, seus olhos continuavam sendo escuros como a noite. A criatura só não esperava que atrás dela Doc surgiria com sua espada. E o que eu não consegui fazer ele fez. A cabeça da dama da noite rolou para baixo do penhasco e suas irmãs olharam para nós atônitas. Agora o alvo éramos nós dois.

O grito que três delas emitiram fez o chão tremer. Doc caiu no chão assustado. Mantive-me de pé. O tempo havia congelado. Elas caminharam até nós. Desejo de morte. Queriam se alimentar de nós. Éramos apenas elas e nós dois. Desvantagem. Mas não era isso que tornava aquilo sujo.

Dei a mão para Doc e ele levantou. Segurou firme a espada e assentiu para mim. Prontos. Nunca. Nós nunca estaríamos. Mas era a hora. Medo só ia atrapalhar.

– Intrometidos. – uma delas cuspiu no chão, até isso delas era ácido, a grama atingida derreteu.

– Um ferimento causado por alguém corajoso pode as matar. – Doc e eu falamos juntos.

– Que lindo. – uma dela bateu palmas e caminhou mais rápido até nós. – Aprenderam sozinhos? Experiência ajuda, correto? Mas que pena. Hoje é o dia que vocês morrem.

– Não. – respondi firme, Doc disse nada.

Minha lâmina em chamas encontrou o braço da dama da noite. Era como ferro. Não consegui a ferir. Mas eu tinha coragem, eu estava tentando. Não tinha medo dela, sabia disso.

– Do que adianta a coragem seu bobinho? – seus olhos eram totalmente negros. – Nós temos a magia do início e do fim. Poderíamos matar você facilmente. Só estalar o dedo. – ela estalou e as outras duas não paralisadas ficaram do seu lado.

Olhei para Doc. Ele estava caído no chão, assim como Corea.

– Hooper. – sua voz era abafada, como se algo pressionasse sua garganta.

– O que? – perguntei desesperado ao vê-lo daquela forma.

– Está tudo escuro Hooper. – seus olhos vermelhos estavam mudando de cor.

– O que? – não entendia o que estava acontecendo com ele.

– Eu tenho ódio Hooper. – ele gritou. – Ódio do que sou. De tudo que aconteceu comigo. Eu perdi minha família. Eu ia ser muito bem sucedido, ia ter a família perfeita. O que aconteceu comigo não foi bom. Eu tenho ódio do que sou agora. Odeio ser invocador.

Doc não parecia bem. As damas da noite muito menos. Não caminharam até mim para me matar já que estava distraído. Foi então que notei que o tempo não estava congelado. As pessoas que estavam. Doc se levantou. Seus olhos estavam completamente negros, como o de uma bruxa.

– Nós não invejamos vocês pelo o que fazem. – disse a dama da noite. - Mas pelo o que são. Por todo esse ódio que implantam em seus invocadores.

Fechei os punhos, o que aquilo significava? Caminhei involuntariamente até os outros. As invocadoras caminharam até as bruxas. Mas algo pior estava acontecendo. Olhei para Yves. Seus olhos vermelhos estavam negros, completamente negros. Delaware estava do mesmo jeito. Assim como Rostock e Pierre.

– Eu tenho ódio. – disse Delaware caminhando até Doc. – Eu perdi minha mãe pelos raios. Perdi todos que eu amo. Eu me lembro de tudo. Todos morreram. Eu perdi meu irmão. Ele deu a vida pra me dar esse inferno agora. Eu odeio ser invocadora.

– Eu tenho ódio. – disse Rostock fazendo o mesmo que Delaware. – Eu perdi minha esposa, meu filho. Perdi tudo o que tinha. Perdi o emprego dos sonhos e a maior chance da minha vida, eu ia ser campeão. Eu odeio ser invocador.

– Eu tenho ódio. – disse Pierre. – Eu tinha acabado de conhecer a mulher da minha vida, era o melhor da turma na faculdade de arquitetura. Tinha um bom estágio. Tudo. Aí pegou fogo. E eu perdi tudo. Eu odeio ser invocador.

– Eu tenho ódio. – agora era Yves que falava, meus punhos estavam ainda mais fechados. – Eu tinha uma vida. Eu amava meu amigo e era correspondida. No dia que nos declaramos tudo pegou fogo. E eu o perdi. Eu vi ele se esquecendo de mim. Odiei cada minuto. Preferia ter morrido no incêndio. Mas não. Meu ódio foi em vão. Eu odeio ser invocadora. – Yves caminhou até os outros.

Todos com olhos negros. Nos meus as lágrimas desciam. Não conseguia suportar aquele momento. A dor era intensa. Yves havia se juntado a eles. Lado a lado como iguais, mas era diferente. Eu sabia disso.

Tentei sair do transe para correr até ela e impedir de fazer o que quer que fosse. Mas não conseguia. Era algo maior que eu, do que todos ali. Fechei os olhos. As lágrimas desceram violentas. E agora era eu que sentia ódio. Muito ódio.

– Chega de briguinhas inúteis. – disse a dama da noite que parecia liderar aquele grupo agora de nove bruxas. – Logo nossas outras irmãs despertarão. Nem pense em impedi-las. Elas são muito piores que nós.

A névoa voltou. Uma invocadora de damas da noite subiu em sua vassoura e pegou a esfera que ainda flutuava. Estava na hora de irem embora. Já haviam pegado o que queriam. Haviam pegado parte de mim. Yves. As lágrimas desceram ainda mais violentas. Desejei ter morrido. Desejei não passar por isso.

O transe terminou e as damas da noite haviam ido embora. Caí no chão e bati o punho contra o chão. Odiava a mim mesmo. Aquilo não podia ter acontecido. Não podia.

A névoa ainda não havia sumido. Eudora estava parada. Olhava para nós com os olhos marejados. Não entendi aquilo. Não entendia nada que estava acontecendo. Ela abaixou a cabeça e subiu na vassoura, indo embora junto com a névoa em seguida.

Soquei novamente a grama suja de sangue. Os corpos dos vampiros fediam algo parecido com alho e pimenta. E havia cheiro de cinza. A morte de Jules. Havia um ritual no dia seguinte. Mas eu estava sem coração, Yves levou com ela. Não sentia mais eu mesmo. Era uma dor intensa. Soquei o chão repetidas vezes, minha mão se cortou em uma pedra, mas continuei socando. Nenhuma dor era maior do que a que sentia.

– Vamos Hooper. – disse Rivera. – Chorar não vai adiantar muito agora. Vamos trazê-los de volta. Nós prometemos.


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal. O que acharam? Vão me xingar agora? Calma, calma. Logo tem mais e lembrem que é só o começo da nova fase da história. Comente! (Recomende também!)