A Sociedade Rubi escrita por Mari e Léo


Capítulo 39
Segredo de família


Notas iniciais do capítulo

Olá! Depois de entornar nankin na cama e ter que lavar o lençol, cá estou eu! Esse capítulo foi um dos que eu mais gostei de escrever. Surpreendi eu mesma. Espero que gostem. E o que acharam da capa? Kk estou sem programa de edição, mas acho que ficou boa. Enfim, boa leitura!



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Charlotte havia encontrado uma nova família. Nós. Rhodes estava conversando com ela o mesmo que conversou comigo quando fui iniciado. Tudo havia ocorrido “bem”, segundo o senhor do casarão. Mas provavelmente a mente da invocadora estava bagunçada.

Yves estava com o livro negro sobre as pernas, queria lê-lo o mais rápido possível, mas não se sentia no direito, algo a impedia. Rivera que estava do seu lado insistia em dizer que aquilo podia ser uma má ideia, mas Doc que também estava ali queria que abrisse o mais rápido possível. Eu estava exatamente em dúvida, assim como Yves.

A nossa volta estava Corea e Malleus, ambos discutiam sobre a noite anterior, sobre as mortes. Corea tentava explicar que não era culpa dos vampiros, mas Malleus cresceu sabendo que nós éramos sempre os errados na história. Realmente era difícil uma paz entre um povo tão distinto.

A televisão na sala estava ligada. Delaware gostava de se distrair com as coisas humanas. A Sociedade Diamante é a sociedade com maior contato com humanos. Eles viviam praticamente como pessoas normais, participavam das festividades, os adolescentes invocadores viviam como adolescentes normais, alguns até deixavam de ser invocadores. Mas sempre escondendo seu segredo. Nem mesmo a Ordem do Obscuro vivia com eles.

Tudo estava normal. Até que Delaware aumentou o som do televisor e nos chamou. Algo havia acontecido. Claro, e nós fazíamos parte. As imagens do prédio iam surgindo e a mulher do noticiário não parava de falar:

– A origem do fogo ainda é desconhecida, mas os policiais estão investigando. Ao que tudo indica, logo teremos mais notícias. O número de mortos já chegou a cento e sessenta e nove pessoas. Uma média de treze mortos pelos treze andares do prédio.

– Morreu todo mundo. – disse Charlotte entrando na sala. – Só eu sobrevivi.

Seus olhos não estavam mais inchados. Como o esperado, seus sentimentos quanto a noite anterior foram esquecidos. Era uma forma da tristeza não nos afetar, Drácula pensava em tudo. Sabia que se nós ainda tivéssemos sentimento quanto a nossa família, não iriamos aceitar a nova vida.

– Já passamos por isso. – disse Yves. – Todos nós. Sem exceção. Então para de chorar e aceita. É o melhor que você pode fazer.

– Todo mundo sempre morre no final. – disse Charlotte com um tom melancólico.

– Não estamos no final. – disse Rivera. – Mas parece.

– Rhodes me explicou tudo. – ela veio até nós. – Então existe essa de vampiro. E eles não brilham no sol. – a garota sorriu.

– Não. – Doc soltou uma gargalhada. – Eles ficam meio paralisados e se encolhem como se estivessem num útero, ficam meio carbonizados. Mas quando jogamos eles pelo portal a tempo voltam a viver.

– Uau. – ela suspirou. – E vocês? Quem são de fato?

Charlotte era curiosa. Apresentamo-nos para a nova invocadora. Ela escutava tudo atentamente, tentando absorver cada informação. No final deu um pequeno sorriso. Era bom ver quando uma pessoa aceitava uma realidade triste, nisso ela se parecia com Gillis. Rapidamente foi fazendo amigos, parecia que ela vivia numa abstinência disso.

– Você não tinha amigos? – Rivera levantou a sobrancelha para a nova invocadora.

– Todos morriam com o passar do tempo. – ela respondeu. – Cinco meses no máximo. Até que um dia minha escola pegou fogo e meus pais decidiram que era melhor eu estudar em casa. Eles eram professores então era melhor mesmo. Então ninguém mais morreu, até ontem. – Charlotte suspirou. – Mas não consigo lembrar direito. Acho que é melhor. Certo?!

– É sim. – disse Yves. – É melhor pra todo mundo. Mas agora me fale sobre o livro. Por que sua avó tinha ele e por que passou para sua mãe?

– Era um item de família. Minha mãe nunca me deixou tocar nele, falava que era coisa do demônio. Nunca entendi direito. Quando minha avó morreu, deixou só isso para a minha mãe. Era para proteger e falava que minha mãe deveria guardá-lo para o dia em que o mal consumisse nossa família. Que era para manter escondido de todos, pois muita gente queria ele. Minha avó já estava maluca, eu acho. Eu pensava que era algo raro, coisa de maluco colecionador. E minha mãe seguiu o pedido e guardou o livro, escondendo de todo mundo. Até da própria família.

– Pode falar mais da sua mãe Lotty? – Doc pediu com um sorriso, queria se aproximar da garota.

– Posso. – ela respondeu. – Ela tinha uns costumes estranhos. Jogava sal nas janelas e tínhamos que tomar banho com umas coisas estranhas. Ela falava que era para espantar o azar. Eu achava bobagem, mas era obrigada a fazer tudo, não podia nem reclamar. Minha mãe não comemorava feriados, ela achava bobagem. Mas tinham dois que ela comemorava, ficava sem fazer nada o dia todo. Um era o natal, que ela chamava de entrada do sol e o outro era no dia das mães, que ela chamava de dia da esperança. Eu achava doideira, mas respeitava.

Yves escutava tudo atentamente. Absorvia cada informação e implorava por mais. Já era uma espécie de jogo. Charlotte respondia cada pergunta e a invocadora ficava cada vez mais interessada. Estava montando um quebra-cabeça na mente. E eu tinha medo de qual seria o resultado.

– Qual a religião da sua mãe? – Yves perguntou.

– Ela não tinha religião. – a iniciada respondeu. – Pelo menos não acreditava nados outros. Dizia que era besteira, forma de manipulação. E ninguém discutia com ela.

– Ela tinha imagens, essas coisas, símbolos? – Doc também estava unindo os pontos.

– Ela usava sempre um broche com uma pérola que parecia até ouro. – Charlotte respondeu. – Em cima tinha uns desenhos estranhos. Parecia um hipogrifo e embaixo era o desenho de um basilisco, tipo do Harry Potter. Nunca entendi por que ela usava isso. E ela tinha uma tatuagem na palma da mão. Era uma estrela de cinco pontas cortada no meio e com uma palavra dentro dela. – ela levou a mão na cabeça, tentando se lembrar. – Luz. – ela havia se lembrado. – Isso mesmo, era “luz” a palavra. Minha avó também usava essas coisas e tinha essa tatuagem. E antes de morrer, minha avó disse que eu poderia ser como ela, só que segundo minha avó, meus pais deixaram algo pior pra mim. Um destino que mudaria muitas coisas, mas que dependia da minha sorte.

Doc olhou pasmo para Charlotte. Ele não parecia acreditar em algo, estava surpreso. Sibilava a palavra “luz” diversas vezes. Corea e Malleus pararam de discutir imediatamente, também estavam pasmos. E eu não fazia ideia de qual era a razão.

– Sua mãe e sua avó não são desse mundo. – disse Yves. – Elas são descendentes de um povo de uma dimensão não muito longe daqui. Quando a dimensão de origem desses seres foi destruída, muitas pessoas de lá vieram para a Terra e essas pessoas não são como os humanos, embora se pareçam fisicamente.

– E o que são? – ela também estava pasma, mesmo sem compreender.

– Sua avó e mãe eram descendentes das videntes da terra Inca. – Doc respondeu. – Esse povo veio para cá e foram considerados deuses na tribo Inca que vivia no nosso mundo. Algumas dessas entidades tiveram filhos com humanos e esses filhos nasceram com o dom da vidência. Surgiu uma raça híbrida. Mas vieram os espanhóis e mataram todos, mas os videntes conseguiram fugir e se espalharam pelo mundo. Vivendo até hoje entre os humanos.

– Então eu sou descendente dos Incas? – ela arregalou os olhos. – Vocês fumaram o que? – Charlotte não conseguia acreditar. – Não existe isso.

– Lembre-se do que viveu ontem e do que Rhodes disse a você. – Yves aumentou o tom de voz. – Nada é como antes Charlotte, aceite e pare de se lamentar. Essa é a verdade e devia estar feliz por conhecê-la. Sua mãe era uma vidente e sua avó sabia que o dia de ontem iria chegar e sua mãe protegeu esse livro para nós. A Sociedade Rubi. Agora você é parte disso, então colabore e pare de criar esse bloqueio, você não tem mais a vida de antes há muito tempo. Todo mundo ao seu redor, seus amigos, morreram porque você era destinada a ser uma invocadora das damas da noite, o lado escuro da lua e foi culpa de seu pai. Mas sua mãe e sua avó conheciam a verdade e sabiam que nós poderíamos impedir isso. Somos a sua salvação.

Charlotte ergueu os olhos. Um choque de realidade bastava, mas havia vindo junto de uma lição de moral de Yves. Corea bateu palmas e Rivera sorria. Todos gostavam do jeito que Yves dizia a verdade, como não desperdiçava palavras e jogava uma enxurrada com palavras duras. A melhor forma para um invocador aceitar sua posição e lutar pelo seu mundo. Um soco de realidade no cérebro.

– Você entendeu? – Yves perguntou para finalizar.

– Sim. – Lotty respondeu. – Estou pronta para acabar com quem acabou com todos os meus amigos. É isso que minha mãe queria. É isso o que vou fazer.

– Bem melhor agora invocadora. – Corea apertou a mão da garota. – Não temos espaço para os fracos. Só os espertos permanecem de pé.


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Notas finais do capítulo

E então povo? O que acharam? O que vai acontecer agora? COMENTE!