Depois de uma noite quase insone com medo do que House poderia estar tramando contra ela, Cameron se levantou e foi trabalhar. Chase chegou junto com ela e logo engataram uma conversa cotidiana.

–Parece cansada. – o colega notou enquanto colocavam seus jalecos.

–Tive um pesadelo e não conseguia fechar os olhos sem ver aranhas maldosas. – ela disse fazendo piada e não contando o motivo real da sua insônia. Chase riu.

–Pobre Cameron. Pena que não vai poder dormir esta noite também. – ele disse mencionando o fato de ser a vez dela em ficar com o paciente. A doutora lembrou que tinha outros planos para aquela noite, mas não disse nada apenas sorriu concordando com ele.

Cumpriram seus compromissos da manhã com o caso de House e seus outros afazeres no Hospital. Cameron estava atendendo na clínica quando foi bipada pelo chefe. Ele queria todos em sua sala. Mal percebera que já eram onze da manhã, quando ele chegava.

Ela foi a última a chegar, e logo se sentou em silêncio ao lado de Foreman.

–Como está o nosso querido paciente? – House perguntou servindo uma caneca de café encostando-se ao balcão.

–O tratamento está fazendo efeito. Ele já consegue respirar sem os aparelhos há algumas horas. E também está se alimentando. – Foreman disse satisfeito.

–Ótimo. Quanto tempo pra ele ter alta?

–Acredito que dois dias. – Chase respondeu. – Se ele continuar progredindo assim, amanhã pode ser sua última noite aqui.

–Certo, a doutora Cameron pode até trazer alguns doces pro moribundo na sua despedida. – House disse colocando seu plano em prática.

–A Cameron vai ficar hoje. O Chase é amanhã. – Foreman disse e Cameron apenas encarou o chefe.

–Não é mais. Chase fica hoje e Cameron amanhã. – o doutor declarou saindo da sala.

–Por que? – Chase quis saber e Cameron não se manifestou, ela passara toda a semana apenas aceitando as ordens do chefe sem questionar. Não mudaria agora.

–Porque eu estou mandando. Agora vão trabalhar seus chatos! – House disse mancando para fora da sala e deixando os três sozinhos.

Chase olhou interrogativamente para Cameron.

–Ele é maluco, Chase. – ela declarou revirando os olhos.

–Isso tem a ver com a conversa de vocês ontem? – Foreman questionou a amiga que não mudou sua expressão de tédio.

–Pode ser. Deve ser a maneira que ele encontrou no momento pra nos irritar. – disse saindo da sala seguida pelos colegas.

Cameron teve uma repentina vontade de sorrir com o dialogo, mas se segurou. Ela não podia demonstrar que sabia o porquê da troca de escala. Na verdade ela tentava inutilmente não pensar no que faria mais tarde.

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–Quer ver o jogo mais tarde? – Wilson perguntou para House enquanto esse assistia a sua novela no quarto do senhor idoso em coma.

–Não. – House respondeu curto e grosso sem nem olhar pro amigo.

–Tudo bem! – Wilson respondeu mal humorado.

–Vá a algum bar pra ver o jogo Wilson. Sua mulher não irá atrás de você. Eu sei que você não pode assistir com ela em casa. – House disse fazendo pouco da situação do amigo.

–Que bom que sabe. Não vou a um bar sozinho pra ver o jogo. – ele reclamou.

–Pode ver na minha casa então. Já que lá você vai se sentir mais confortável.

Wilson estranhou.

–Mas você acabou de dizer que não quer ver o jogo.

–E não quero. Eu te disse que pode usar minha TV pra ver, não que eu vou ver o jogo com você. – House disse enfim olhando pro amigo.

–Ah, claro. Você vai estar ocupado demais às oito e meia. – o oncologista riu.

–Na verdade estarei sim. Desde as oito. Então, se puder chegar lá um pouco antes disso, aí não preciso te deixar com a chave. – House disse se voltando para a TV.

–O que você vai fazer House? – o outro perguntou já curioso.

–Não te interessa. Você quer ver o jogo, consegui isso pra você. Agora vá trabalhar e não se atrase. Se chegar depois que eu tiver saído você não entra mais. – disse ele encerrando a conversa. Wilson apenas assentiu e saiu do quarto, deixando House com sua novela.

Cameron nem percebeu as horas passando devido a um atendimento mais urgente na clínica que resultou num internamento. Quando deu por si checando as horas só faltavam alguns minutos pra que ela pudesse ir pra casa. Apressou as ordens para aquela paciente que ficaria ali e garantiu que na manhã seguinte ela viria vê-la.

Estava saindo do quarto quando encontrou Chase no corredor.

–Terminou por hoje? – ele perguntou um tanto chateado.

–Sim. E por favor, não tenho culpa do que o House fez. Fique bravo com ele caso tenha atrapalhado sua noite. – ela exclamou se irritando com o olhar do colega.

Chase suspirou longamente.

–Eu sei Cameron. Me desculpe. Eu tive que cancelar uma noite com alguns amigos, só isso. Posso ir à próxima semana.

–Que bom! – ela disse entrando na sala onde tirou seu jaleco e pegou sua bolsa.

–E você, o que vai fazer hoje? – ele perguntou curioso.

–Dormir. E tentar manter as aranhas bem longe de mim. – ela disse brincando com ele novamente o fazendo rir.

–Boa noite, Cameron. – ele disse saindo.

–Bom plantão, Chase. E tente não matar o paciente só pra se vingar do House. – ela advertiu.

–Há, há, há. – ele disse pausadamente fazendo uma careta.

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Cameron chegara a seu apartamento às seis. O jantar seria só as oito então ela não estava atrasada nem nada assim. Colocou uma música como sempre fazia e foi até a geladeira procurar algo pra comer. Ela tinha experiências demais com demoras de restaurantes e nunca saía sem comer nada.

Colocou os bolinhos de frango pra assar e foi procurar uma roupa. Como ela deveria se vestir? No primeiro jantar ela se produzira, não exageradamente, porque tinha um objetivo. Mas agora, ela nem sabia o que esperar do jantar. Não se surpreenderia se House não aparecesse. Ela sorriu. Seria muito engraçado se ele simplesmente se esquecesse. E ela poderia nunca mais falar com ele e mudar de departamento no Hospital pra não precisar encontra-lo. Isso ajudaria a esquecer daquela maldita paixão pelo próprio chefe.

Como o clima estava agradável, ela optou por um vestido. Simples, pois era no meio da semana e ela não gostava de chamar muita atenção para si mesma. O vestido era preto, sem mangas de alças largas e um colo de renda. Era solto a partir da cintura e ia até metade das coxas. Ela ainda o achava um pouco curto, mas gostava dele. Não ficava vulgar e se comparado às roupas das suas amigas, ele era quase um hábito.

Fez seu lanche rápido na cozinha e percebeu que já tinha perdido meia hora. Mas mesmo assim sem se apressar foi tomar um banho tentando relaxar. Tudo que envolvia House a deixava ansiosa. E o banho não a ajudou muito. Colocou a roupa, secou os cabelos e arrumou sua bolsa, a maquiagem seria a última. Assustou-se quando viu que segundo o relógio ela tinha vinte e sete minutos para chegar ao restaurante. Fez uma maquiagem leve, mas que a deixou muito bem. Quando deixou o seu prédio de carro, ela tinha cinco minutos pra hora marcada. E levaria no mínimo dez pra chegar ao restaurante. Detestava se atrasar.

House ao contrário, já estava totalmente pronto às sete e vinte. Dessa vez quem estava ansioso era ele e não sabia mais o que fazer até a hora passar. Pensara em ir pra o restaurante logo mas lembrou que Wilson viria até sua casa para ver o jogo. Resolveu esperar até sete e quarenta. Quando o relógio apontou dez minutos a menos, a porta declarou ter companhia.

–Entre logo! – House gritou vindo do seu quarto.

–Eu podia ser um maníaco sexual, sabia? – Wilson disse largando sua pasta no sofá do amigo.

–Um maluco sexual viciado em aleijados? Duvido muito. – House fez piada tomando um Vicodin.

–Meu Deus House! Você está arrumado. Passou a camisa? – Wilson perguntou chegando mais perto.

–Não te interessa. – House disse jogando o controle da TV para o visitante. – Pode assistir seu jogo idiota. Ah e não se esqueça de que tem que me esperar voltar.

–Aonde você vai mesmo?

–Não é da sua conta.

–Vai jogar? Não, acho que não. Você não passaria a camisa se fosse só jogar. – Wilson declarou desconfiado.

–Pare de tentar adivinhar, Jimmy. – ele disse revirando os olhos.

–Tudo bem, mas você vai demorar por acaso? Não posso ficar aqui até tarde.

–Que foi? Sua mulher te deu hora pra voltar? – House perguntou rindo.

–Eu disse a ela que tinha uma reunião de trabalho. – Wilson admitiu de cabeça baixa.

–Por isso a pasta? Ai, você já foi mais criativo. Mas não tenho certeza de que horas volto.

–Mas volta hoje? – Wilson perguntou já achando que o amigo iria se encontrar com um bando de prostitutas.

–Claro que volto! Dormir fora nunca é uma opção.

–Poderia ser mais específico com o horário, House? – o oncologista perguntou já irritado.

–Vejamos... Antes das nove eu não volto. Mas também não passo muito disso.

–Até as dez você estará aqui, certo? – Wilson tentou confirmar.

–É o que pretendo. Até mais, Jimmy! E cuide bem da minha TV. – House disse fechando a porta.

Optou pela moto, e chegou ao restaurante quando ainda faltavam dez minutos. Foi atendido e encaminhado até a mesa e aliviado por ter chegado primeiro. Cameron nunca se atrasava pra nada e ele já era muito enrolado. Seria um péssimo pedido de desculpas se ele se atrasasse para o jantar.

Checava o relógio a todo instante, e logo este declarou já serem oito horas e dez minutos. Onde estaria Cameron? Será que ela havia desistido do jantar? Estaria ela com tanto ódio dele que nem aceitara suas desculpas? House já estava ficando nervoso quando a hostess veio até a mesa acompanhada.

Ele pretendia se levantar quando ela chegasse, mas não conseguiu. Cameron estava muito bonita. Com uma roupa simples, mas bonita. Ela sorriu e se sentou.

–Me desculpe pelo atraso. – ela disse e ele foi tirado do transe em que se encontrava.

–Sem problemas.