Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 61
Traumas, A Casa de Pedra e O Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Oi, amados. Quanto tempo, né? Queria começar (de novo) pedindo desculpas. As semanas foram horríveis, e minha saúde mental não tá me ajudando a fazer nada, muito menos escrever.

Como já disse em vários comentários, não vou abandonar a fic. Mas peço paciência pra vocês, e só posso prometer que estou fazendo meu melhor, tanto na minha vida quanto na história.

Boa leitura ♥



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As horas na caverna escondida pela cachoeira pareciam se arrastar parra Harry. Segundo Luna, faziam apenas três dias que Dobby havia saído para buscar Lottie e os outros, mas ele seria capaz de jurar que semanas haviam se passado. Ainda com a poção desconhecida que havia tomado correndo em suas veias, Harry sentia o corpo muito saudável e acordado para descansar, mesmo depois de horas que Draco se recolhia para um merecido descanso.

— Você pode me ajudar, se quiser – disse Luna timidamente, como fez todas as outras noites quando percebia que o hóspede ainda estava acordado – As melhores ervas são colhidas à noite.

Harry levantou-se de sua poltrona em um só impulso, e seguiu Luna para fora da cabana até o jardim. A paisagem se mantinha inalterada todas as noites: a abóbada encantada continuava salpicada de pontos brilhantes imitando as estrelas, e a reluzente lua cheia no céu puxava para si as ervas e flores que só desabrochavam sob seu brilho etéreo.

Eles se afastaram um pouco da cabana, até quase acalcarem um pequeno córrego praticamente escondido pelas folhagens, até que Luna sentou-se graciosamente entre as plantas e com destreza mostrou a Harry qual folha estava colhendo.

— Essa é uma espécie de Mésic Ivy – explicou Luna erguendo uma folha de tonalidade azulada – Ela tem as vinhas características, e cresce perto de corpos de água. Para um olho mal treinado, ela pode parecer uma folha qualquer, mas o brilho da lua no meio da noite libera substâncias que a tornam azulada... Quando extraída, essa substância dá um ótimo revigorante. Foi o ingrediente principal da poção que você tomou. Precisei usar uma dose maior que o comum, pois você estava muito debilitado.

— Por isso não tenho conseguido dormir? – perguntou Harry, imitando a garota e colhendo com cuidado as folhas azuis.

— Espero que não se importe – disse Luna enquanto as pequenas luzes de energia de Isolda se aglomeravam novamente em volta dela – Eu mesma tomo uma infusão quando sou necessária a visitantes da floresta, ou quando...

— Quando os sonhos são demais? – perguntou Harry depois que Luna pareceu incapaz de terminar a frase.

— Sim – concordou Luna em um suspiro sonhador, acariciando os braços finos, onde Harry percebeu horrorizado que repousavam dezenas de cicatrizes.

— As noites são a pior hora – disse Harry, e Luna apenas concordou novamente, deixando que o tecido de sua túnica cobrisse novamente seu antebraço – Eu ainda acordo por causa dos sonhos da Guerra. Não sei se um dia eles vão acabar – Impulsivamente, Harry levou a mão à cicatriz em sua testa e logo a abaixou. As feridas do corpo de Harry já estavam a muito curadas, e agora ele havia adicionado mais uma cicatriz em seu corpo: fina, rosada e pequena, quase desapercebida no meio das suas costelas, a cicatriz feita por Belatriz em seu último encontro não oferecia mais nenhum risco à sua vida – Meu psicólogo diz que eu tenho estresse pós-traumático. Mas os sonhos não são a pior parte. Também tem a culpa, a sensação de que se eu tivesse sido mais rápido, mais forte...

— Então isso que eu sinto... isso tem um nome? – Luna o interrompeu, uma leve perplexidade estampada nos olhos esbugalhados – É reconfortante saber que não sou maluca.

— Você não é maluca. E nem está sozinha. – disse Harry, incisivo e incomodado – Eu lembro que após algumas semanas do fim da Guerra, evitei dormir por várias semanas. A quanto tempo você não dorme?

— Quatro noites – respondeu Luna, em um sussurro tímido.

— E quanto tempo faz que você não tem uma boa noite de sono?

— Desde que vi matarem meu pai.

Uma pequena lágrima escorreu dos olhos azuis e esbugalhados, e uma gêmea escorreu dos olhos de Harry. Seu coração se apertou pela menina e toda dor que ela guardava escondida em si, como uma barreira, e o que no início foi apenas uma lágrima se tornou em um choro claro e desesperado escapando do peito de Luna, um esgar tão profundo e dolorido que Harry não teve o que fazer além de embalar o pequeno corpo frágil da amiga em um abraço até que as lágrimas secaram em seus olhos e os espasmos em seu corpo se acalmaram.

— Eu sei que é apenas um feitiço – disse Harry, observando o horizonte mudar seu tom de azul para tons de rosa e alaranjado – Mas o nascer do sol aqui é muito bonito.

— A Dama... Isolda enfeitiçou o local para funcionar como um espelho. O que você vê aqui é um reflexo do mundo na superfície – disse Luna, ajeitando-se melhor no abraço de Harry – Harry?

— Sim? – perguntou o garoto, afastando-se quando sentiu Luna findar o abraço.

— Você é um bom amigo – ela disse, recolhendo a cesta que eles encheram de folhas.

Uma sensação muito conhecida por Harry cresceu em seu peito, um misto de compaixão e pena por Luna, mas dessa vez, misturados com compreensão e aceitação. Eles eram muito parecidos nesse universo, e isso fez o coração de Harry se partir. Tanta provação e dor tiraram algo da menina a sua frente, tiraram um pouco do brilho dos seus olhos, de sua estranheza única. E isso, para ele, foi uma das coisas mais tristes que ele observou nesse universo diferente.

Os dois pegaram seu caminho para a cabana sem pressa. O trajeto não deveria demorar mais do que quatro minutos, mas Harry deixou o corpo arrastar-se na velocidade que o sol se erguia, trazendo um novo tom ao céu a cada segundo.

Luna parecia mais leve, e a conversa entre eles fluía calma como o riacho onde estavam a poucos minutos. Ela quem fazia a maior parte da fala, despejando todo o silêncio que passou nos últimos anos, e Harry ficou feliz em poder ser um ouvinte para ela, mesmo que a conversa pudesse parecer perigosamente fúnebre para alguém que não tem passado por traumas tão fortes quanto os dois passaram. Respondendo com acenos e monossilábicos, Harry descobriu sem surpresa nenhuma que não se importava que Luna perguntasse coisas para ele que ele não se sentia à vontade de falar com o Doutor Maschav ou mesmo com Gina.

— Foi horrível quando mamãe morreu – Luna continuou em sua narrativa – Eu me sentia muito triste, às vezes, quando era criança. Mas eu ainda tinha papai, então estava tudo bem. Mas quando ele se foi eu não sabia mais o que fazer. Tem sido muito difícil, mesmo sabendo que irmos nos encontrar de novo, um dia. Não é?

— Ah... é? – perguntou Harry, incerto do que acreditava ou deixava de acreditar.

— É sim – afirmou Luna – Um dia.

Os dois se entreolharam, e como aconteceu muitas vezes antes com Luna, Harry não soube o que penar. Mesmo com o coração e mente em pedaços, a Luna dessa realidade mantinha a habilidade de acreditar em coisas extraordinárias, e isso forçou os cantos da boca do garoto para cima, em um sorriso esperançoso, mas um barulho alto de estalo vindo de dentro da cabana varreu outros pensamentos da cabeça de Harry.

Por ser muito mais alto que Luna, e consequentemente ter as pernas mais longas, Harry alcançou a porta de madeira enfeitada em apenas dois passos apressados, e abriu sem delicadeza, deparando-se com Dobby e Draco no centro da pequena sala, muito sorridentes.

— Dobby encontrou a senhorita Hermione e os outros, senhor! – esganiçou-se Dobby, tão orgulhoso de seu feito que o pequeno peito se arqueava como um pombo – Eles estavam escondidos em uma casa protegida por magia, mas mesmo assim Dobby conseguiu falar com eles!

— A casa deve estar sob o Fidélius – disse Draco, sabiamente – Dobby pode nos levar até certo ponto apenas, onde os outros terão que nos mostrar o segredo.

— Mas Dumbledore me deu a bombinha em primeiro lugar – disse Harry, confuso.

— A bombinha te revelaria o segredo no momento em que você aparecesse na casa – explicou Draco – Assim como ela revelou o segredo para Herms, Lottie e seus amigos mesmo sem que a bombinha tenha sido dada para eles.

— Dobby já combinou tudo com a senhorita Hermione – informou Dobby, muito satisfeito consigo mesmo – Ela e a senhorita Lottie estarão nas extremidades da propriedade para levar os senhores e a senhorita para dentro da proteção assim que Dobby os levar! Estão todos muito preocupados e ansiosos para sua chegada – Dobby continuou, afirmando o que dizia com amplos movimentos afirmativos com a cabeça – Principalmente o senhor e a senhora Potter.

— Meus pais estão com os outros? – perguntou Harry, estupefato – Por que não estão em Hogwarts?

— Dobby não é o mais indicado para responder, senhor – respondeu Dobby, murchando em si, as orelhas enormes caindo ao lado do rosto.

Tenso com a súbita mudança de comportamento de Dobby, Harry apenas pôs-se a ajudar Luna a pegar sua pequena trouxa de pertences, que consistia de algumas poucas roupas velhas, ervas e flores desidratadas e alguns livros pequenos de capa enfeitada. Em menos de dois minutos, já estava tudo pronto para a partida deles. Harry imaginou que Luna fosse ficar melancólica de deixar a cabana onde morou tanto tempo, mas a garota pareceu bastante animada quando Dobby estendeu a mão para ela.

— Muito obrigada, senhor – agradeceu Luna, aceitando a mão de Dobby, que ficou tão surpreso com o pronome usado para se referir a ele que ficou alguns segundos congelados, apenas observando a menina.

— N-não há de que, senhorita – o elfo respondeu com um sorriso crescente, na mesma velocidade que as orelhas voltavam a subir.

Com uma pontada de saudade do elfo de sua dimensão, Harry segurou a mão de Luna e o braço de Draco antes de Dobby fazê-los desaparecer em um estalo, junto com a visão da sala da cabana.

No instante seguinte, Harry percebeu que estavam em uma floresta. O sol ainda estava nascendo, e o cheiro de orvalho da manhã preencheu suas narinas. A floresta era muito menos densa do que a que eles encontraram Luna, e visivelmente mais jovem, com árvores mais frondosas e menos nodosas. Pela fumaça vinda detrás de um morro próximo, eles deveriam estar perto de um povoado.

Um movimento na vegetação a alguns metros de si chamou sua atenção, e Harry ajeitou os óculos no nariz para enxergar melhor um magnífico cervo surgir por entre as árvores, as galhadas tão grandes e majestosas que era de se espantar que o animal conseguisse equilibrá-las no pescoço musculoso.

Exceto que Harry sabia que aquele não era um simples cervo.

— Pai! – gritou Harry, aliviado, jogando os braços em cima do homem que apareceu onde antes estava o cervo – Onde estão os outros? Vocês estão bem? Porque estão aqui? Houve alguma coisa com...

— Epa, epa! – James interrompeu o filho, afastando-o com gentileza do abraço – Calma com as perguntas, campeão. Todos estão preocupados com você, e Lily vai arrancar meu pescoço se souber que eu a privei de você por mais tempo que o necessário. Venham, estamos indo para a Casa de Pedra. Não estamos muito longe, mas ainda assim é fácil se perder.

Não foi difícil, porém, encontrarem o local que estavam procurando. A Casa de Pedra, a casa onde Dumbledore passara a maior parte de sua vida escolar quando não estava em Hogwarts, era exatamente o que seu nome sugeria.

Encrustada em uma face rochosa de uma pequena montanha, uma casa grande de dois andares surgiu, como se fizesse parte da própria montanha. Sebes cresciam em uma das suas faces, abrindo apenas para os buracos das janelas, fechadas no momento. Perto da casa havia também um poço com um cercado que deveria um dia ter abrigado animais, mas no momento estava abandonado.

Por dentro, a casa combinava perfeitamente com seu exterior, desde os móveis de aparência antiga e macia até a lareira de pedra, apenas com brasas, indicando que fora acesa havia pouco tempo. Todo o andar inferior era aberto, abrigando a cozinha e as salas de jantar e estar, e uma escada de madeira escura levava para o andar de cima, onde Harry deduziu que os aposentos estariam.

— Onde estão todos? – perguntou Draco, olhando em volta – Hermione está bem?

— Estão todos bem – James os acalmou – Estão apenas dormindo, estão cansados.

— Talvez a casa esteja infestada de Sleeries – disse Luna muito séria, atraindo a atenção para si – São comuns em casas antigas, e se alimentam de energia vital.

— Oh, Luna! – James exclamou, só agora realmente prestando atenção nos companheiros do filho – Você está bem! Sentimos tanto a sua falta no castelo, todos nós...

— Isso não é verdade, eu não tinha muitos amigos para sentirem minha falta – respondeu Luna, despreocupadamente – Mas obrigada, senhor Potter.

— Pai? – a voz de Lottie pode ser ouvida do andar superior, seguida de passos vindos da escada de madeira – Você voltou? Algum sinal... Harry?!

Harry ficou surpreso que Lottie não tivesse tropeçado na escada devido a velocidade que ela desceu, as vezes pulando os degraus para chegar ao andar térreo e envolve-lo com seus braços. O impacto do seu abraço foi imenso, e acabou por força-lo a voltar alguns passos para trás para que os dois não caíssem no chão.

— Nósestávamostãopreocupadosporquevocênãofalouoqueiafazer... – Lottie tagarelou palavras indecifráveis enquanto se mantinha presa ao abraço de Harry – Mas você está bem! Mãe, Sirius, pessoal! Acordem, o Harry chegou!

O claro barulho de vários pares de pés no andar superior conseguiu tirar Harry do abraço de urso da irmã, e agora um a um os outros ocupantes da casa desciam apressados as escadas para confirmar o que Lottie havia dito. O garoto se sentia terrivelmente grato que todos estivessem bem, e a cada pessoa nova que aparecia pelo buraco das escadas, seu coração se acalmava mais um pouco. Sirius e Remus foram os primeiros a cruzar as escadas, dando-lhe um abraço rápido cada um. Hermione pareceu muito mais preocupada em recepcionar Draco do que falar com ele, mas Mione e Ron vieram logo atrás de Lily, e cada um deles parecia querer examinar cada pedaço dele possível para terem certeza que ele estava são e vivo.

— Oh, Harry, você está bem!

— Onde você esteve?

— Essa é a Luna?

— Eu estou bem, eu juro! – respondeu Harry pela sétima vez à sua mãe, que o obrigou a se sentar e agora estava examinando o branco dos seus olhos – Luna cuidou de mim... É uma longa história, mas temos prioridades!

— O que pode ser mais importante que seu bem-estar nesse momento? – bufou Lily, obrigando-o a se sentar e tomando seu pulso.

— O que houve com o caderno? – Harry perguntou para Ron e Mione, deixando Lily examina-lo, finalmente aceitando a não resistir aos cuidados da mãe.

— Foi destruído – informou Ron, e Harry sentiu o corpo relaxar um pouco – Mione usou fogomaldito, já que não tínhamos nenhum veneno de basilisco por perto...

— Ótimo! – Harry suspirou, realmente satisfeito. Já haviam descoberto e destruído todas as horcruxes conhecidas... Agora só faltava uma, o que eram boas notícias. As más notícias era que ele não tinha ideia de onde a última horcrux poderia estar, muito menos do que ela poderia ser – Dumbledore está a par de tudo isso? Precisamos nos reunir... O que foi?

— Harry... Teve uma batalha... Voldemort apareceu...– Mione disse, se aproximando e sentando-se do seu lado, mas ela não continuou pois estava claramente lutando contra as lágrimas que teimaram em se amontoar em seus olhos castanhos.

— Dumbledore não teve outra escolha – completou Sirius, muito sério.

Harry sentiu seu corpo tensionar no mesmo momento. Um rápido olhar com Ron confirmou seus medos. Hogwarts fora tomada.

Eles estavam perdendo a Guerra.

— Ele está vivo? – perguntou Harry, muito ciente que todos os olhos naquela sala estavam perfurando-o.

— Sim – afirmou Remus, indicando o Profeta Diário em uma mesa de centro, onde um Dumbledore muito abatido e machucado estampava a primeira página – Ele deixou se capturar para dar a chance de todos fugirem. Voldemort diz que não o matará por enquanto, que tem planos para ele.

Ele nunca poderia imaginar Dumbledore naquele ponto. Nem quando morto, o velho parecia sereno, calmo.

Harry sentiu novamente com os pés sem chão. Dumbledore fora capturado. A Ordem estava defasada, separada e sem meios de contato imediato em um mundo completamente hostil.

— E agora? – perguntou Luna, olhando para Harry com uma leve curiosidade.

— Agora seguiremos o Harry – disse Remus, simplesmente – Se existem alguém capaz de acabar com essa Guerra, é você, Harry. E eu gostaria de te oferecer a minha varinha.

Com um floreio, Remus ofereceu sua varinha com o punho virado para Harry, um claro e antigo sinal de que um bruxo estava oferecendo seus serviços ao outro. Seguindo o exemplo de Remus, Sirius repetiu o gesto com um sorriso maroto no rosto. Varinha a varinha foi sendo sacada, até que todos os presentes na sala apontavam seus punhos para ele, oferecendo seus serviços.


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Notas finais do capítulo

Só uma coisa: se o capítulo pareceu pesado, é pq está mesmo. O Harry é um personagem cheio de traumas, e fiquei muito contente em poder encaixar como ele lidou/lida com isso. Espero não ter pesado na mão.
Vejo vocês nos comentários ♥



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