Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 42
Remus Lupin, O Anel e O Reencontro


Notas iniciais do capítulo

SURPREEEESAAAAAAA!

Sophia, não disse que era pra você ficar de olho? Hahahaha

Ahhhh gente, é que quinta foi meu aniversário, e eu queria comemorar com vocês aqui também :D

Então, vamos lá? Boa leitura!



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A primeira coisa que Harry fez assim que saiu da masmorra onde estavam, foi ir ao encontro de Dumbledore. Não somente por que o diretor havia requisitado a presença de Harry assim que fosse possível, mas porque agora eles tinham assuntos mais urgentes a tratar.

Remus tremia visivelmente por todo o caminho das masmorras até chegarem em frente à gárgula que guardava a entrada do escritório do diretor. Harry procurou pegar os caminhos menos movimentados que conhecia, buscando fugir dos olhares curiosos, que sem dúvida recairiam sobre Remus. Suas vestes estavam muito sujas e rasgadas, e seus cabelos já passavam muito dos ombros, combinando com uma espessa barba que cobria todo seu maxilar, mas que não escondia o terror em seus olhos.

— Vai ficar tudo bem – Harry reafirmou a Remus, assim que a gárgula saltou de seu lugar, exibindo a conhecida escada em caracol. – Mas o que...

A cada degrau que eles subiam pela escada, mais óbvio ficava que Dumbledore não estava sozinho. A porta fechada abafava os sons, mas a voz feminina que gritava do outro lado estava claramente furiosa.

— ...assassinada na frente dele! – Harry reconheceu a voz de Lily, alterada e alguns tons mais fina que o comum – É claro que ele surtaria, como qualquer um teria feito! E em momento nenhum ele machucou pessoas inocentes! O senhor está o tratando como uma ameaça, e eu não aceito isso!

Com cautela Harry bateu na porta, e a voz furiosa de Lily cessou no mesmo segundo. Harry sentiu Remus dar um suspiro nervoso e passar a mão nos cabelos, mas os dedos ficaram presos em alguns nós, e ele desistiu de tentar deixá-los mais apresentáveis.

De dentro, Dumbledore disse para entrarem, mas antes de tocar na maçaneta, Harry lançou um último olhar a Remus, que assentiu levemente, juntando toda coragem que conseguiu.

— Professor, sei que o senhor pediu que eu viesse vê-lo sozinho – Harry disse, com apenas metade da porta aberta – Mas acho que temos assuntos mais urgentes do que meu gênio, no momento – E escancarou a porta, revelando Remus.

— Professor. – Remus disse, envergonhado, e Dumbledore precisou se levantar de sua poltrona, tamanha surpresa – Lily...

Harry sorriu internamente pelos segundos em que Dumbledore fora pego de surpresa, mas deixou a pequena vitória de lado, e se adiantou para dentro do ambiente.

— Remus já não está sob as influências de Voldemort – Harry se dirigiu diretamente para Dumbledore, que já havia se recomposto mas ainda se mantinha em pé, atrás da escrivaninha, estudando o homem parado à sua porta.

— Assim eu vejo – Dumbledore concordou, muito sério – Se importaria de me inteirar, Harry?

— Nós apenas conversamos – Harry respondeu simplesmente, sabendo que não poderia contar toda a história com Lily presente – Talvez Remus gostaria de lhe contar essa his... Lily?

Harry olhou assustado para Lily, que estava com a varinha na mão, e olhava para Remus de um jeito muito estranho. Preocupado com o que pudesse acontecer, Harry sacou a própria varinha e deixou-a pronta para uso, agora que Lily se aproximava de Remus, ainda sem falar nada. O homem moribundo não se moveu, mas fechou os olhos com força, com medo do que pudesse vir da parte da mulher, mas abriu os olhos surpreso assim que ela passou os dedos com calma em seu rosto.

— Sirius fez um ótimo trabalho quebrando seu nariz. Episkey! – Ela apontou a varinha rapidamente para o nariz do homem, que com um estalo, voltou ao normal. Com o rosto ainda sério, Lily admirou o próprio trabalho, e quando se deu por satisfeita, sorriu. – É você mesmo, Aluado?

— Sim – respondeu Remus, com a voz embargada – Depois de tantos anos... Eu finalmente sou eu mesmo de novo.

— O que aconteceu com você? – Perguntou Lily, depois de guardar a varinha no bolso da calça que estava usando.

— Eu sinceramente não sei se quero lembrar – Remus admitiu, com o olhar baixo.

— Talvez você pudesse avisar Sirius e James das novidades – Harry falou, timidamente, esperando que Lily não percebesse que ele queria que ela deixasse Remus, ele e Dumbledore a sós. – Se fosse meu amigo, eu gostaria de saber na hora.

— É claro – Lily concordou prontamente, deixando um sorriso brilhante e ainda incrédulo crescer no rosto – Sei que essa reunião de marotos será muito importante para vocês. Mas tentarei segurá-los por um tempo para que possa perguntar o que quiser, Dumbledore.

Lily piscou marotamente para Harry, que sentiu o rosto esquentar. Aparentemente, ele não fora discreto o suficiente ao sugerir que Lily os deixasse a sós. Ou talvez, ela apenas o entendesse melhor do que ele supunha. Ainda com o sorriso no rosto, Lily se virou para sair do escritório, mas não antes de se dar um braço apertado em Remus, prometendo que ela o inteiraria de tudo assim que Dumbledore o liberasse.

— Vá direto à ala hospitalar – Lily disse, da porta – Preciso cuidar dos seus machucados, cortar seus cabelos, fazer sua barba...

— Acho que me lembro como de fazer a barba, Lils – Remus riu, o rosto muito mais jovem do que a alguns minutos atrás.

— Talvez, mas Sirius não vai querer perder a oportunidade de tentar te convencer a manter seus cabelos compridos, assim como os dele. E mais uma coisa... – Lily perdeu o sorriso e Harry sentiu o conhecido frio na espinha a cada vez que a mãe lançava aquele olhar gélido, fosse para que fosse – Não pense que esqueci nossa discussão, Dumbledore. O senhor está errado.

Quando a porta se fechou por trás de Lily, um silêncio desconfortável se abateu sobre o ambiente. Remus ainda estava parado, encostado na parede como se quisesse se fundir com o papel de parede e sumir de lá.

— O rapaz parece desconcertado, Dumbledore – O quadro de Fineus Black, o único que fingia não estar dormindo em sua moldura, disse despreocupadamente.

— Decerto, Fineus – Dumbledore concordou, dando a volta em sua escrivaninha para sentar-se em uma das poltronas ao lado da lareira, que crepitava preguiçosamente – Mas Remus tem todos os direitos do mundo de se sentir acuado. Por favor, sente-se.

— Professor, é melhor não, minhas vestes estão sujas, e... – A voz de Remus morreu sob o olhar condescendente de Dumbledore, e ele, reticente, sentou-se na outra poltrona em frente à lareira, deixando Harry em pé, de frente para as janelas compridas da torre.

— Eu não me surpreendo com muitas coisas – Dumbledore disse, comentando para ninguém em especial – Mas dessa vez, eu preciso tirar meu chapéu. O que aconteceu naquela masmorra?

Com dificuldade, Remus tentou contar, mas quando as palavras faltaram e as lágrimas sobraram, Harry continuou a história, até o momento em que eles chegaram ao escritório. Dumbledore ouviu tudo pacientemente, sem interromper uma única vez, e se não fossem seus olhos abertos e compenetrados por detrás dos oclinhos em formato de meia lua, poderia ser tomado por uma estátua.

— Eram tantas crianças. – Remus mantinha os olhos presos na lareira, incapaz de encarar Dumbledore, ou até mesmo Harry – E elas choravam, machucadas... Isso se sobrevivessem às experiências.

— Experiências? – Perguntou Harry, sentindo um arrepio subir à espinha, com a certeza que não viria coisa boa.

— Greyback – As mãos de Remus, que antes estavam apoiadas em seus joelhos, se fecharam em um punho apertado – Ele não sequestrou todas aquelas crianças por instinto paternal... No início ele pretendia apenas fazer um exército, e ainda acho que esse seja seu objetivo principal, mas não é só isso. Quando nós nos transformamos, perdemos todas as faculdades mentais de quando humanos, então ele só conseguia se planejar para um ataque por mês. Ele estava pesquisando novas maneiras de contaminação. Mordendo pessoas fora da lua cheia, transfusões sanguíneas, faz com que bebessem a saliva pura...

— E ele chegou à alguma conclusão? – Dumbledore perguntou, surpreendentemente calmo.

— Sim. Mas não a uma que ele quisesse – disse Remus, sombrio – Não existe outro método de contaminação que não à mordida em lua cheia. Nem arranhões, nem que se beba o sangue do lobo...

— Beber o sangue do lobo? – Harry não pode conter a ânsia em sua voz.

— Foram anos de experiências. Muitas delas. – Remus se encolheu na poltrona, como se sentisse muito frio, apesar do fogo alto na lareira.

Dumbledore voltou a se recostar em sua cadeira, o olhar perdido em seus pensamentos, permitindo que Harry se perdesse em seus próprios. O antebraço coçava, mas agora de um modo diferente. As palavras de Lottie, que ele tinha entrado em contato com sangue contaminado, não mais martelavam em sua mente. Ele não havia sido infectado.

— Tudo isso que você me contou é muito preocupante – Dumbledore murmurou, finalmente quebrando o silêncio – Não só pelos planos de Voldemort com os lobisomens, mas pelo que Greyback tem feito pelas costas do mestre dele.

— Greyback acredita que assim que a Guerra for definitivamente ganha o Lorde se voltará contra seus aliados mestiços, como os gigantes ou os lobisomens – disse Remus, amargurado.

— E eu acredito que ele tenha razão em sua desconfiança – Dumbledore levantou o olhar, mas seus olhos, quando encontraram Remus, se mostraram calmos e um pouco tímidos – Eu lhe devo um pedido de desculpas.

— Não senhor... – Remus gaguejou, mas o diretor levantou a mão polidamente.

— Não serei presunçoso a ponto de achar que tudo que acontece no mundo é culpa minha – o diretor disse, a voz um pouco baixa – Mas não me isentarei da culpa. Foi minha a ideia de manda-lo para espiar para a Ordem, mesmo sabendo dos enormes riscos... E eu peço perdão por não ter tentado te alcançar.

Remus apenas balançou a cabeça afirmativamente, e apesar de ter afirmado que o professor não precisava se desculpar, Harry percebeu uma sutil mudança na postura do homem, como se ele estivesse um pouco mais leve.

— Eu deveria ir para a enfermaria. Lily disse que precisava me medicar, e eu realmente adoraria um banho. – Remus falou, baixinho, como se pedisse desculpas. – Se o senhor não se importar...

— É claro, é claro. Imagino que se lembre do caminho. – Dumbledore se levantou, ao mesmo tempo que Remus.

— Sim senhor. Passei uma parte significativa da minha vida acadêmica indo à enfermaria – Remus falou, um pouco envergonhado.

— Certamente. E Remus... – Dumbledore o chamou, antes que ele saísse da sala – Seja bem-vindo de volta à Ordem. Se quiser, obviamente.

— Eu me sinto horado, professor – pela primeira vez naquele dia, Harry viu Remus sorrir verdadeiramente – Obrigado.

— Você me surpreende cada vez mais, Harry. - Harry se sobressaltou levemente com o comentário de Dumbledore, ele não havia reparado que o diretor o estava encarando.

Com um simples gesto, ele indicou a cadeira onde Remus estava sentado a poucos segundos atrás, mas Harry manteve-se de pé, e Dumbledore não insistiu que o garoto se sentasse.

— Tem algo que o senhor gostaria de falar comigo, professor?

— Como você já deve imaginar, eu já estou a par do que aconteceu em Killarney. E eu gostaria de prestar meus pêsames a você. Imagino a dor que deva estar sentido. – O diretor disse, com verdadeira dor na voz – Meus informantes me disseram que você fez tudo o que pode para defender todos que conseguisse.

Harry foi pego de surpresa. Ele estava esperando que Dumbledore fosse acusa-lo, ataca-lo pela chacina, ou que tentasse trata-lo como um louco... A última coisa que ele esperava eram os agradecimentos do professor.

— Você parece surpreso, Harry.

— Eu estava esperando um sermão – confessou Harry, finalmente aceitando o assento na frente do diretor, que ainda estava sentado na poltrona iluminada pelo fogo aceso da lareira.

— Meu caro Harry – o diretor se inclinou na poltrona, descruzando os dedos – Não existe nada que eu possa falar que vá te atingir mais do que seu próprio coração já te disse.

— Eu imaginei... – o garoto gaguejou, franzindo as sobrancelhas em confusão - ... é que ouvimos a minha mãe...

— Como toda mãe, Lily estava pronta para defender a cria de todo perigo e acusação – Dumbledore recostou-se novamente na poltrona, com um sorriso divertido no rosto – Mesmo as acusações que não foram feitas.

— Então... sobre o que o senhor queria falar comigo?

— O anel, Harry. Imagino que você ainda está em posse dele?

— Ah... - O anel. Desde que o patrono de Fred chegou no Casarão dos Potter, avisando sobre o ataque à Killarney, Harry havia colocado à horcrux em segundo plano, mesmo depois de todo o esforço que tiveram para adquiri-lo. – Sim senhor. Está em meus aposentos.

Harry se chutou mentalmente por ter esquecido completamente da peça. Rezando para que a lembrança de ter deixado o embrulhinho dentro da gaveta do armário fosse exata, ele tirou a varinha do bolso traseiro e, com um feitiço convocatório, o pequeno volume de trapos de roupa surgiu em sua mão. Com cuidado, Harry depositou o embrulho na mesa e puxou as pontas do tecido, descobrindo a pequena peça de ouro escuro, torta e malfeita. Harry sentiu Dumbledore se retesar do outro lado da mesinha, e estender os longos dedos enrugados ao anel.

— O senhor não quer fazer isso – Harry falou sombriamente, as memórias do seu sexto ano nítidas em sua mente – A peça está enfeitiçada, e mesmo que não estivesse, isso não irá trazê-los de volta. Não realmente.

— Mas é ela, não? – Dumbledore ainda mantinha a mão esticada em direção ao anel – A pedra da ressurreição.

— Sim. Mas entenda, professor... – Harry sussurrou, no mesmo tom que o diretor usou – o senhor cometeu o erro de tentar usá-la em minha realidade, e não somente o senhor não conseguiu ver Ariana, mas também essa foi a sua ruína.

— Ariana... Gellert. – Dumbledore suspirou levemente, e Harry observou uma pesada lágrima escorrer do olho esquerdo do professor, e desviou o olhar imediatamente, sentindo como se tivesse invadindo um momento íntimo. – Você já a usou, não?

— Sim – Harry respondeu, finalmente voltando o olhar para o diretor, que parecia muito menos impressionante que o normal, agora que o rosto mostrava trechos de lágrimas recém caídas e os ombros encurvados em dor – O senhor a deu para mim, mas a deu disfarçada.... Para que eu a usasse somente quando estivesse pronto. Mas não sei como o senhor tirou a maldição da pedra. Eu sinto muito.

— Como eu sobrevivi ao encantamento do anel? – O diretor perguntou, finalmente se recompondo.

— O professor Snape foi capaz de ir ao seu auxílio em última hora. Ele era muito versado nas artes das trevas, e foi capaz de fazer um antídoto a tempo... Mas não foi uma cura completa, apenas comprou tempo para o senhor organizar a sua morte. E me guiar do melhor modo possível para quando o senhor....

— Morresse – Dumbledore completou a frase, digerindo com cuidado as informações que Harry havia lhe passado. – Severo seria um excelente aliado.

— Sim – Harry disse simplesmente, percebendo a enorme verdade naquelas palavras. Sem a ajuda de Snape, a vitória em seu universo seria praticamente impossível. – Deveríamos destruí-la logo, professor. A espada...

Harry seguiu o olhar do diretor até a recém instalada caixa de vidro logo atrás da escrivaninha do diretor, onde repousava a espada de Gryffindor. Assim como o esperado, o aço não mostrava uma mancha que fosse do sangue do basilisco, tendo absorvido o veneno para si.

— A espada será o suficiente, eu creio. – Dumbledore concordou, e Harry se levantou, para tirar a espada de seu repouso. – Se você não se importar, Harry... Eu não creio ter forças para enfrentar o que James enfrentou.

Com um leve aceno de cabeça, Harry concordou, e mais uma vez empunhou a espada. O anel, antes docilmente depositado sobre os tecidos esfarrapados que o protegiam, tentou se defender de todos os modos que pôde, mas sem sucesso. Harry manteve os ouvidos e a mente fechada para as mentiras gritadas, mantendo o pensamento focado em Gina, em como ele precisava destruir logo todas as horcruxes para que pudesse, finalmente, voltar para ela.

Uma estocada forte e certeira da lâmina no pequeno adereço foi o suficiente. Assim como na destruição da tiara, um grito agourento se apoderou de todo o ambiente no segundo em que o aço perfurou o ouro, saindo do anel um estranho líquido cor de ferrugem, que evaporou e sumiu no ar, desaparecendo e deixando apenas a pequena peça perfurada e inofensiva sobre a mesinha.

Respirando profundamente, Harry abaixou a espada e fechou os olhos, ainda sentindo as palavras que o anel gritou martelando em seus tímpanos.

Menos duas...

Faltam quatro.

***

Harry deixou os aposentos de Dumbledore pouco antes do fim do café da manhã. O cheiro de bacon, ovos e bolos fez sua barriga roncar alto, lembrando-o que ele não comeu nada nas últimas vinte e quatro horas, talvez mais.

Convencendo-se que ainda tinha tempo para roubar ao menos umas torradas, Harry entrou furtivamente no Salão Principal, tentando o máximo que pôde não chamar atenção para si mesmo, mas inutilmente.

— Professor! – Harry se encolheu levemente, reconhecendo Mary McFly, uma das meninas que Lottie apelidou de “Harriete”, se aproximar dele em passos rápidos, jogando os cachos loiros para trás dos ombros – Não o vimos no castelo durante o final de semana. Eu e as meninas ficamos chateadas por não o ter encontrado em Hogsmeade.

— Ah, pois é – Harry sorriu amarelo para a menina na sua frente – Eu estive ocupado esse fim de semana.

— Fazendo alguma coisa perigosa, eu aposto – A menina jogou o material que carregava para dentro da mochila e tomou o braço de Harry, arrastando-o para longe do Salão. – Liana disse que apostava que tinha algo a ver com a Ordem...

— Harry! Está fazendo tours agora? – Sirius vinha andando com James na direção oposta à que Mary McFly o estava guiando. – Bom dia senhorita McFly.

— Bom dia, professores. – Mary sorriu, soltando o braço de Harry imediatamente, deixando-o muito aliviado. – Estou ansiosa para a próxima reunião do Clube, Harry.

Com um último olhar demorado, a garota passou pelos três em direção às suas aulas do dia, e Harry finalmente suspirou, aliviado que ela tivesse ido embora, mas assim que ele abriu os olhos e percebeu os olhares zombeteiros de James e Sirius sobre si, ele se viu refletindo internamente se preferia o desconforto do passeio forçado com a setimanista.

— Não comecem – o garoto tentou deixar o rosto o mais sério possível, apesar da fome que sentia embrulhar o estômago.

— Ah, meu caro Harry, não sei se isso será possível – Sirius enlaçou os ombros de Harry com o braço, e James imitou o amigo no ombro oposto, guiando Harry, novamente, para longe do Salão Principal e suas torradas.

— Não sabíamos que você tinha todo esse talento com garotas... – James continuou, o mesmo sorriso maroto de Sirius estampado no rosto.

— Na verdade, acho que sabíamos sim, Pontas – Sirius interrompeu o amigo – Se não me engano, Lottie tem até mesmo um nome para as fãs do Harry aqui, como era mesmo? – Os dois olhavam um para o outro, forçando a memória, e Harry percebeu que se ele não encerrasse o assunto, ele perduraria para sempre, ou pelo menos até que ele voltasse para sua realidade.

— Harrietes... – O garoto disse baixinho, sabendo que aquela seria sua sentença.

E assim foi. Sirius perdeu a força nas pernas e precisou se apoiar na parede ao lado para não cair de tanto rir. James, no entanto, conseguiu manter as forças, mas não conseguiu, ou nem tentou segurar o riso.

— Nós criamos bem a Lottie... – Sirius conseguiu falar, por entre os risos.

— Nós? – James perguntou, irônico, mas ainda rindo – Não me lembro de você ter se casado comigo, nem de ter engravidado...

— Afinal – Harry falou alto, desesperado para uma mudança de assunto – Para onde vocês estavam indo?

— Ah... – James parou de rir, como tivesse acabado de sair de um transe – Lily mandou um recado, pediu para irmos vê-la na enfermaria assim que pudéssemos.

— Ela disse o motivo? – Harry perguntou, tentando esconder a surpresa pelo fato de eles ainda não saberem de Remus.

— Não, só disse para irmos – Sirius balançou os ombros, deixando claro que o pedido de Lily era o suficiente para ele. – Acho que ela não se importaria se você também fosse. Que acha, Harry?

— Claro – Harry concordou, mas sua voz foi abafada pelo ronco que seu estômago deu, reclamando pela falta das torradas prometidas.

— Acho que podemos passar na cozinha a caminho da enfermaria – James deu um sorriso de lado antes de mudar o percurso que faziam até Lily.

Aquela foi a primeira vez, desde que Harry chegou nessa realidade, que ele foi à cozinha. À primeira vista, era exatamente igual ao aposento na realidade de Harry, amplo, com um teto muito alto, tão grande quanto o Salão Principal, repleto de tachos, panelas, caçarolas e frigideiras penduradas e empilhadas em volta de um grande fogão de tijolos.

Cookie reconheceu Harry assim que ele entrou, e não ficou satisfeita até que ele tivesse comido não menos que duas torradas francesas, com um punhado de bacon e uma enorme fatia de bolo, além de ter embrulhado um outro pedaço, que ela pediu que Harry entregasse para Lottie, já que era o favorito dela.

James e Sirius, apesar de já terem comido um bom café da manhã, ficaram satisfeitos em comerem novamente, aceitando com gosto os bolos e salgados que os elfos ofereciam a eles, junto com sucos e chás. No fim, o pequeno desvio até a cozinha demorou pouco mais de quarenta minutos, isso sem contar os vários minutos necessários para conseguirem sair da cozinha, já que a cada passo que davam para perto da porta, Sirius decidia aceitar mais um docinho, ou uma torrada, ou uma xícara de chá.

— Quero ver você continuar a comer tanto quando não conseguir mais correr atrás de gatos em sua forma animaga. – James olhava com uma reprovação divertida para o amigo, que respondeu com um sonoro arroto.

Harry e James riram, leves, da “resposta” de Sirius, fazendo piadas e terminando de comer o pequeno embrulho que os elfos rechearam de bolos e biscoitos até dobrarem no corredor que dava na enfermaria, onde um obstáculo os fizeram parar de repente, tensos e nervosos.

— Meu lírio – James sorriu amarelo, mas como a esposa não deu sinais que estava chateada, se permitiu relaxar – Nós demoramos porque tivemos um pequeno desvio pela cozinha. Quer um bolinho?

— Não, obrigada – Lily respondeu com um sorriso no rosto – Mas vocês sabem que não deveriam entrar com comida na enfermaria. Vai ter que esconder melhor esses biscoitos, Sirius.

— Não vai confiscar nada dessa vez? – Sirius perguntou surpreso, escondendo nos bolsos a grande parte dos biscoitos, e entregando para Harry um grande embrulho, que ele escondeu do melhor jeito que pode sob o casaco.

— Hoje não, Almofadinhas – Lily sorriu e pegou o marido pela mão – Tenho uma surpresa para vocês.

Quando Lily abriu a porta da enfermaria, a luz do sol entrando pelas janelas o cegou por alguns segundos, até que os olhos se acostumassem novamente com toda a iluminação. À primeira vista, não havia nada de impressionante no ambiente. Os mesmos potes com poções curativas, ervas medicinais em seus potes perto das janelas e leitos enfileirados com seus lençóis impecáveis. A única coisa que fugia do normal, era o único ocupante do local.

Remus Lupin estava quase irreconhecível. Ele havia tomado um banho e cortado os cabelos, deixando-os curtos e penteados. A barba, antes comprida e embaraçada, agora estava aparada e apresentável. Mas a maior diferença de todas estava em seus olhos, antes mortos e inexpressivos, agora olhavam para os antigos amigos, com um misto de medo e alegria.

— Oi... – Remus disse, baixinho e encolhido.

Desde que entraram no ambiente, James e Sirius estavam imóveis, ambos olhando o homem recostado no leito a sua frente, com os olhos esbugalhados. Harry e Lily se afastaram para deixar que os três homens se entendessem, mas depois de vários segundos em silêncio, a mulher não aguentou mais esperar alguma reação, e se adiantou.

— Por Merlim, se mecham! – Ela gritou com um enorme sorriso no rosto.

— Aluado... – James falou, a voz hesitante - Desde quando você tem barba?

Foi como se eles acordassem de um sonho. James sorria mais que a boca permitia e Sirius soluçava profusamente. Remus, agora reunido com os amigos, parecia vários anos mais jovem, rindo e chorando, emocionado com a recepção. Horas, ou talvez anos, se passaram naquela tarde de fevereiro, enquanto os três amigos relembravam o passado e informavam Remus de tudo o que acontecera desde que ele havia deixado o convívio deles.

Eles começaram com quando Remus desapareceu. Falaram de como a Ordem foi crescendo, apesar das baixas frequentes, de como Lily e James tiveram que se esconder fora do país por um tempo, pois alguns comensais acreditavam que o bebê no ventre de Lily poderia vir a uma ameaça, já que o bebê assassinado foi tão ferozmente procurado. Contaram como Sirius quase morreu para conseguir salvá-los do segundo atentado aos Potter que aconteceu, e como Charlotte realmente morreu para conseguir comprar tempo para que eles pudessem fugir de volta para a Inglaterra, com Lily em trabalho de parto.

Contaram como as pessoas vinham procurar em Hogsmeade um lugar seguro para morar, e como o Ministério Bretão sucumbiu sob a influência de Voldemort, que só aumentava com o tempo, e por fim, depois de muitos anos de guerra e lutas, como trouxeram Harry para esse universo, e a esperança que ele trouxe a esse universo.

— Horcruxes? – Remus perguntou, enojado. – No plural?

— Já destruímos duas – Harry informou – Duas acreditamos que estão em posse dos Malfoy, mas não sabemos exatamente onde. Uma não temos nem ideia de onde possa estar, e tem uma que sabemos com quem está, e onde está, mas não temos ideia de como consegui-la.

— E porquê? – Perguntou Remus, ainda assustado.

— Está sob os cuidados do nosso digníssimo Ministro da Magia – James respondeu, a voz recheada de rancor – Ranhoso.

— Temos quase certeza que a horcrux está protegida em seu escritório – continuou Lily – Mas a menos que tenhamos algum artefato que indique onde cada pessoa está em tempo real do Ministério, seria uma missão suicida sem chances de vitória.

— Não sei se só a criação de um Mapa do Maroto para o Ministério seja a solução. – Harry pensou consigo mesmo – O que foi?

— Como você sabe do Mapa? – James perguntou, maravilhado.

— Eu ganhei de presente, aos meus treze anos – Harry não viu mal em falar a verdade dessa vez – Como meus tios não assinaram a permissão para as visitas à Hogsmeade, os gêmeos Weasley me deram, como um presente de natal, já que eles tinham memorizado todas as passagens. Um dia, inevitavelmente, eu também as decorei.

— Que raios de mapa é esse? – Lily perguntou, desconfiada – E porque todos vocês estão falando dele com tanta reverência?

— Erm, meu lírio... – James passou a mão nos cabelos, bagunçando-os, sob o olhar desconfiado da esposa – Eu não sei se você se lembra daquela vez que você aceitou ser minha dupla na aula de poções...

— Você quer dizer na aula em que o professor Slughorn me forçou a sentar na sua mesa, porque você e Almofadinhas explodiram o caldeirão em trinta segundos de aula? – Ela levantou a sobrancelha ironicamente enquanto falava.

— Esse dia foi realmente mágico – James concordou com um sorriso sonhador, ignorado os risos contidos dos outros três ocupantes da sala – Então... Você também se lembra daquele pergaminho enfeitiçado que ficou te chamando para sair?

— Vagamente... – ela respondeu.

— Aquele era uma das nossas primeiras tentativas para o Mapa do Maroto – James tentou, mas falhou miseravelmente em esconder a presunção na voz – Com ele conseguíamos saber quem estava onde, em tempo real, em qualquer lugar de Hogwarts. Nós escapamos de muita coisa graças a esse mapa.

— E você nunca me contou desse mapa? – Lily se levantou ameaçadoramente com as mãos nas ancas, fazendo Harry se lembrar muito da Senhora Weasley, e ele pensou consigo mesmo que aquela devia ser uma pose típica de mães.

— É um segredo Maroto – James disse simplesmente, como se aquilo justificasse tudo.

— James, eu entendo que você não tenha me contado sobre a animagia de vocês e da licantropia do Aluado quando começamos a namorar, mas...

— Quanto tempo vocês demoraram para fazer esse mapa? – Interrompeu Harry.

— Entre descobrir as passagens secretas, desenhar e fazer todos os encantamentos? – Sirius fez uma pequena pausa, pensando para finalmente responder – Algo em torno de dez meses.

— É claro – James disse, bagunçando os cabelos novamente – Que éramos crianças de quatorze anos na época, se soubéssemos tudo o que sabemos hoje, demoraríamos apenas o tempo das férias de verão.

— Vocês conseguiriam fazer isso de novo? – Harry perguntou, animado, sentindo a ponta dos dedos machucados formigarem.

— Eu não vejo porque não – Sirius respondeu, e Harry teve certeza, pelo olhar do maroto, que ele já havia entendido. – Mas precisaremos faz expedições, para conhecer o ambiente... uma planta baixa seria o ideal.

— O que... – Lily começou a formular uma pergunta, mas Harry respondeu antes mesmo que ela terminasse.

— Um mapa do Ministério – Harry respondeu, uma sensação de esperança se apoderou dele, e seu sorriso aumentava a cada palavra, contagiando os outros homens no ambiente – Que não somente mostraria as salas, mas quem está nelas, a cada segundo.

— Mapa do Maroto 2.0 – brincou Sirius, e Harry acenou a cabeça positivamente.

— E como exatamente vocês pretendem fazer isso? – Perguntou Lily, a curiosidade sobrepondo a preocupação.

— Eu achei que depois de tantos anos casada com um maroto, Lils, você entenderia que nada é impossível – James respondeu, seguido de um rápido beijo nos lábios da esposa.

— Isso somado ao fato que nosso Aluado aqui é um gênio – Sirius apontou para Remus, que tentou argumentar, mas foi cortado pelo amigo, que continuou – Pontas acha que pode fazer qualquer coisa, e...

— E Almofadinhas nunca sabe quando parar – James completou, sorrindo.

— Não...

— Não conhece os próprios limites? – Arriscou Remus, sorrindo.

— Não! Eu os incentivo com meu charme e força de vontade – Sirius disse, o peito estufado como um pombo.

Lily revirou os olhos, embora ainda tivesse um delicado sorriso no rosto, assim como Harry, que olhava esperançoso para os três marotos reunidos, discutindo planos do melhor modo para se começar a construção do novo mapa. Talvez, ele pensou consigo mesmo, esse universo não estivesse tão maluco no fim de contas.


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Notas finais do capítulo

E a treta tá quase aí! Batendo na porta? Conseguem sentir??? Prometo que vai ser das grandes!!!

Enquanto ela não chega... Ai gente, é tão bom fazer coisas boas acontecerem pros personagens que eu gosto, ao invés de coisas ruins, é tão revigorante ♥



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