Harry Potter e o Orbe dos Universos escrita por RedHead


Capítulo 34
Maître Jaques, Veela e Sereianos


Notas iniciais do capítulo

Gente, terça chegou!!! Ou quase, segunda a noite é quase terça sim hehe

Mas capítulo novo, vida nova! E nesse vamos sair de Hogwarts de novo, dessa vez pra mais longe, pra conhecer mais um pouco do mundo. Pretendo sair mais vezes do castelo, e agora que a história tá se desenvolvendo maneiro, pretendo nos levar pra vários lugares diferentes e explorar mais tudo o que a tia Jo já nos disse sobre o mundo mágico, o que vocês acham?

Primeiro leiam, depois me respondam!

Boa leitura ♥



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Lily fez tudo o que pode para convencer Lottie a não ir com Harry e Dumbledore conversar com a tribo de sereianos, mas o fato dela saber falar a língua do povo marinho pesou muito mais que a preocupação materna.

— Relaxa, Lily! – Gui Weasley tentou tranquilizar a mulher no dia da partida de todos. O jovem se candidatou a acompanha-los quando os outros membros mais experientes da Ordem não responderam ao chamado inesperado – Eu e James vamos estar com ela, isso sem contar o Harry e o Dumbledore.

— Não acho que Pontas sirva como exemplo de segurança, cara. – Sirius comentou, e estufou o peito vitorioso por ter conseguido arrancar um sorrisinho de Lily.

— Pelo menos Harry está indo – Lily sorriu para Harry, ignorando completamente o olhar indignado do marido.

— Foi muita sorte Lottie ter me dado aquelas aulas – Harry disse, conferindo pela décima vez o que estava levando em sua bolsa. Alguns cadernos com suas anotações, roupas, ingredientes para poções, outras poções já prontas e, é claro, sua capa de invisibilidade. Ele não pretendia usá-la a menos que fosse imprescindível, visto que ele tê-la em sua posse seria o mesmo que gritar aos quatro ventos a sua identidade, mas se houvesse uma emergência, ela poderia ser a diferença entre a vida e a morte, como já fora tantas outras vezes.

Harry, Lottie, Gui e James se encontraram com Dumbledore no escritório do diretor nas primeiras horas da manhã do dia, propositalmente antes que os alunos chegassem. Uma chave de portal os esperava em cima da escrivaninha do professor, preparada para ser ativada às cinco horas da manhã.

Assim que entraram na sala, todos seguiram o exemplo de Dumbledore e se aglomeraram em volta da pequena colher oxidada, procurando encostar em um pedacinho dela, que fosse. Nenhuma palavra foi dita enquanto o relógio corria, até seus ponteiros marcarem quatro horas e cinquenta e nove minutos.

Mesmo com todos já dispostos em volta da chave, o barulho do ponteiro dos segundos fez com que Harry se sentisse impelido a chegar mais perto da colherzinha, forçando seu dedo contra a superfície metálica até sentir a conhecida sensação que um anzol atrás de seu umbigo o estava puxando para a frente muito rápido.

Harry manteve os olhos bem fechados durante toda a viagem, e só os abriu quando seus pés se fixaram em um terreno fofo e suas narinas se preencheram de um cheiro de sal.

Quando reabriu os olhos, Harry percebeu que estavam nas margens de uma floresta em frente à uma praia desconhecida. Ao longe, as luzes de uma pequena cidade anunciavam que os primeiros moradores já estavam se levantando, apesar do sol ainda não ter nascido. Harry sabia que uma pessoa de confiança os levaria daquela pequena praia até o castelo, mas até aquele momento ele não havia visto ninguém.

— Já passaram quinze minutos, professor – Gui sussurrou, a varinha em punho caso um ataque surpresa acontecesse – E não tem ninguém aqui.

— Está chegando – Harry falou, um pouco mais alto que Gui – Tem alguém logo ali, entre as pedras.

— Muito bem observado, Harry – Dumbledore colocou a mão aprovadoramente no ombro de Harry e sorriu levemente para o horizonte. – Acredito que você tenha percebido a presença do Maître Jaques pouco depois de mim.

Harry sentiu o rosto sorrir involuntariamente, mas manteve o sentimento para si enquanto mantinha o olhar fixo na direção onde uma leve onda de magia se pronunciava. De dentro da neblina que saia do mar, uma luz opaca surgiu, precedendo uma pequena embarcação.

Quando o pequeno barco finalmente atracou na areia, Harry conseguiu estuda-lo melhor. Não devia ter mais de dois metros e meio de comprimento, e parecia ser feito de madrepérola por causa do brilho fantasmagórico que a água do mar refletida no casco dava.

Com um impulso, uma figura encapuzada pulou de dentro da pequena embarcação. Assim como Gui, Harry também manteve a varinha em punho apesar de Dumbledore estar com as mãos vazias. Quando apenas pouco mais de quatro metros os separavam, a figura despiu o capuz revelando um homem maduro, de aparentemente quarenta anos, pele azeitonada e olhos tão negros que não se conseguia distinguir as pupilas.

— Dumbledore. – Quando ele falou, sua voz saiu grave e confiante, combinando com o sorriso muito branco que o homem ofereceu a todos – Nós do Chatêau de les Beauxbatons agradecemos imensamente sua intervenção.

— Meu caro Jaques, em momentos difíceis como esses, ajudar os amigos é mais do que uma obrigação. – Dumbledore sorriu sob os longos bigodes prateados e apontou para Harry e os outros com um amplo gesto – Aqui comigo me acompanham Harry, Guilherme, James e Lottie.

— Também são seus os nossos agradecimentos. – Jaques se curvou brevemente para cada um deles antes de guia-los rapidamente até a embarcação, que se mostrou muito maior e mais confortável do que aparentava ser por fora.

— Maître Jaques? – Lottie perguntou, hesitante, depois de já estarem a algum tempo navegando em meio a neblina – Espero não estar sendo incômoda, mas seu inglês não tem nenhum sotaque francês...

— É porque não sou francês, mademoiselle. – Jaques explicou calmamente, enquanto guiava o barco pelo complicado caminho de pedras – Sou nascido na nossa mãe África, em Uganda, mas meus pais me mandaram para cá para meus estudos, já que minha mãe estudou aqui.

— E como os jovens bruxos africanos aprendem a magia? – Lottie perguntou, fascinada pelo homem em sua frente.

— Muitos jovens se tornam aprendizes de feiticeiras e xamãs, mas quando a família possui posses, é costume mandar o filho para estudar na Escola de Uagadou ou para alguma escola estrangeira – Jaques respondeu, ainda mantendo um sorriso no rosto – Como aconteceu comigo. Fui admitido na Académie de la Magie de les Beauxbatons aos meus dez anos, como é de costume, e continuei no Chatêau depois de formado, dando aulas e ajudando na Guerra contra esse Lorde misérable. Mas agora, se não se importam em olhar para seu lado esquerdo – Jaques se dirigiu ao resto do grupo, e Harry se perguntou o porquê de Dumbledore estar sorrindo divertidamente – os senhores devem ter uma bela visão do Chatêau ao nascer do sol.

Harry teve uma breve lembrança de seu quarto ano, quando Fleur Delacour contou para quem quisesse ouvir das maravilhas de Beauxbatons e como o palácio era belo. Mas mesmo que a meio-veela lhe contasse tudo em detalhes, ainda assim ele não conseguiria montar em sua mente uma imagem que o fizesse juz.

O Chatêau de les Beauxbatons era menor que Hogwarts, e claramente mais novo e brilhante, quase como se fosse feito de gelo, ou de pérolas. Sob o sol nascente, seus telhados reluziam prateados, e o mar batendo na encosta onde ele ficava só tornava o local mais digno de um conto de fadas trouxa. Quanto mais perto eles chegavam da península onde o palácio ficava, mais detalhes da construção se tornavam visíveis, como os jardins perfeitamente podados, e o que parecia ser um enorme pomar, atualmente coberto com uma fina camada de neve.

Após ter contornado parte da península, o barquinho entrou em uma fenda na rocha que Harry suspeitava estar protegida magicamente, pois só reparou que ela existia quando já estavam passando por ela. O interior da fenda, ao contrário do seu exterior, era polido e esculpido, com arcos e colunas com mais de dez metros de altura, decorados com pedras preciosas e pérolas encrustadas, em direção a um grande lance de escadas muito brancas.

Depois de terem todos desembarcado, Jaques os guiou escadaria acima, em direção à fraca luz do sol. As escadas terminavam em um grande pátio aberto, rodeado por roseiras carregadas de flores em pleno inverno, que circundavam um chafariz gigantesco, aparentemente todo feito de madrepérola.

— Hogwarts definitivamente não é assim... – Lottie olhava boquiaberta ao redor, incapaz de piscar, com medo de perder algum detalhe.

— Talvez devesse melhorar suas instalações, Dumbledore. – Jaques provocou o diretor, que apenas balançou as mãos levemente e respondeu:

— Sempre achei que a rusticidade faz parte do charme de Hogwarts.

Jaques os guiou pelos jardins rapidamente, sempre mostrando alguns detalhes da propriedade por onde passavam. Lottie parecia maravilhada com tudo o que via, mas depois de vários minutos caminhando pelo caminho de tijolos cor de creme, Harry se decidiu que ainda preferia a beleza medieval de Hogwarts.

Por fim, Jaques os levou a entrada do chatêau. Exatamente no centro da construção, gigantescas portas decoradas em entalhes prateados se abriram ao pedido de Jaques para que pudessem entrar.

O interior era muito claro e bem decorado, com a constante presença de vasos de flores e quadros de molduras douradas. As paredes eram pintadas com afrescos, as escadas eram compridas e seus corrimãos pareciam ser feitos de bronze, e tudo remetia à época francesa monárquica. As portas por onde passaram eram flanqueadas por janelas tão altas quanto, ladeadas por cortinas de linho esvoaçantes, embora não houvesse nenhum vento.

— Sejan ben vindos. – Uma voz esganiçada surgiu do alto das escadas. – Confio que maître Jaques os trouxe sem grrandes prroblemes.

Harry seguiu a voz com o olhar, e viu todos os outros fazerem o mesmo. Do alto das escadas, estava um homem muito alto e igualmente magro e careca que Harry reconheceu como o senhor que estava conversando com Dumbledore na lareira, diretor Yure. Ele estava vestido com vestes diferentes das que Harry estava acostumado a ver na Inglaterra. Eram de um tecido bem mais leve, e muito bordadas nas barras de seu casaco, cuja parte de trás parecia muito com um smoking trouxa.

— Foi um passeio muito agradável, Denis, obrigado. E se me permitem, as mademoiselles estão belíssimas, como sempre. – Dumbledore falou em nome do grupo, e se curvou em uma elegante reverência.

Harry não havia realmente reparado nas acompanhantes do diretor Denis Yure até que Dumbledore chamou sua atenção para elas. A mulher à direita do diretor, ao contrário do cumprimento do professor, não era nada bela. Muito musculosa e com bochechas muito vermelhas, as roupas de seda também vermelhas marcavam suas formas nada femininas, chamando ainda mais atenção que sua maquiagem carregada. E em contraste, chamar a moça à esquerda do homem de “belíssima” parecia ser um insulto. Seus cabelos louro-prateados, cortados em um estilo Chanel curtíssimo, na altura das orelhas, emolduravam suas maçãs do rosto naturalmente rosadas, tornando seus olhos muito azuis em duas safiras brilhantes.

Harry sentiu uma imensa vontade de agradá-la, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Lottie deu um pisão muito forte em seu pé, trazendo-o de volta a realidade. Machucado, mas agradecido, Harry colocou as mãos nos bolsos e voltou a prestar atenção na conversa de Dumbledore e de Yure, cada vez mais incapaz de desviar os olhos da bela moça loura ao lado do diretor. Mas foi somente depois que ela olhou em sua direção e sorriu, que ele reconheceu Fleur Delacour.

***

Denis Yure era um figurão. Muito alto e magro, ele se destacaria facilmente em uma multidão, principalmente devido a sua careca muito polida. Sua voz esganiçada falava em um sotaque francês muito carregado, mas após alguns minutos conversando, era mais fácil entender o que ele dizia.

Yure e Jaques iam à frente, levando o grupo para dentro do castelo, passando por grandes corredores amplos e claros, no mesmo estilo de decoração que o Grande Salão por onde entraram. Harry estava tentando absorver tudo ao mesmo, todas as informações que os homens franceses passavam sobre como se portar em frente ao rei dos sereianos e ao mesmo tempo estudar tudo o que conseguia do chatêau, mas Lottie parecia estar reparando em outras coisas.

— Acho que a veela curte cabelos compridos – Lottie sussurrou para Harry apontando com o queixo para Fleur, que parecia muito entretida em uma conversa com Gui, igualmente encantado com a companhia.

— Fleur é neta de uma veela – Harry respondeu, mas precisou completar, ao ver o olhar interrogador da irmã – Eu a conheço, em meu universo. Ela foi a campeã de Beauxbatons no Torneio Tribruxo, e agora é casada com Gui. Eles têm uma filinha, Victoire.

— Tomara que eles fiquem juntos aqui também – Lottie tentava olhar discretamente para os dois, mas falhava miseravelmente – Eles fazem um casal fofo.

Harry não tinha uma opinião formada quando a fofura do casal, mas tinha que admitir que perceber que algumas coisas estavam tomando o mesmo rumo que tomaram em sua realidade era muito confortante.

Depois de mais alguns minutos, eles finalmente alcançaram uma pequena varanda que se abria para um belo jardim florido. Na extremidade do jardim, havia um caminho feito de conchas e pedras, que levava até o oceano. Aquela era a entrada para o reino dos sereianos, e Harry sentiu um arrepio subir à espinha. Ele sabia que os sereianos não são criaturas fáceis de se lidar, e raramente eram abertos ao diálogo.

— Maître Jaques os guiará a partir daqui – A mulher musculosa informou, ao lado do diretor Yure, e Fleur saiu muito relutante do lado de Gui para tomar seu lugar ao lado esquerdo do homem.

— Nós ficaremos em terra firme – James disse à Harry – Mas se entrarem em encrenca e precisarem de ajuda, apertem esse estalinho.

— Ficaremos em guarda, se precisarem de nós - Gui deu um estalinho para Harry, um para Dumbledore e outro para Lottie. – Não faz sentido irmos se não conseguimos nos comunicar com eles. – Harry percebeu, de canto de olho, que Fleur pareceu muito animada com a perspectiva de talvez retomar sua conversa com Gui.

— Por favor sigam-me. – Harry viu Jaques entrar no mar até os joelhos e murmurar o feitiço cabeça de bolha em si mesmo antes de se despir de seus trajes, revelando um estranho traje de banho de um tom de verde musgo.

Seguindo a deixa de Jaques, Harry também lançou em si o feitiço cabeça de bolha, mas tirou suas roupas antes de entrar no mar, deixando-as sob os cuidados de James, reparando como a água deveria estar fria, e como seus trajes de banho não conseguiriam mantê-lo aquecido. Lottie parecia muito receosa em entrar na água gelada, mas seguiu corajosamente Dumbledore, que foi o primeiro a entrar nas ondas, de vestes e tudo mais.

Como previsto, a água estava tão fria que Harry sentiu os dedos dos pés arderem como se estivessem pegando fogo, e quando as ondas pegavam em seu pescoço ele já não sentia mais os pés. Depois de já estar totalmente imerso em água, ele começou a se perguntar quanto tempo seus dedos aguentariam antes de gangrenar.

— Não estão com frio? – Lottie perguntou horrorizada para Jaques e Dumbledore. Ela estava muito encolhida, e tremia violentamente.

— Ora, minhas doces crianças, eu sinto muito! – Dumbledore sacou sua varinha e apontou para Harry e Lottie – Hottyather!

Foi como se Harry tivesse mergulhado de uma vez em uma banheira quente. Seus dedos aos poucos voltaram a cor normal, e ele viu que Lottie finalmente parara de tremer.

— Feitiço muito útil, professor. – Harry elogiou, e Dumbledore sorriu polidamente, agradecendo.

— Eles devem chegar a qualquer instante. – Jaques os informou, olhando para a água em sua frente.

— O que deve... Aquilo é um cavalo?! – Lottie olhava abismada para um ponto que deslocava muito rápido em sua direção.

Quando o ponto se transformou em uma espécie de carruagem, por conta da proximidade, Harry viu que Lottie não estava de todo errada. Um enorme cavalo marinho, de talvez um metro e meio de altura estava puxando um pedaço de madeira muito parecida com um barco, e montado por um sereiano forte e de aparência voraz.

— Maître Jaques, senhor Dumbledore – O sereiano cumprimentou os dois homens, completamente ignorando Harry e Lottie. – Sua Majestade Tritus os espera.

Jaques, que claramente já havia feito esse caminho outras vezes, entrou no barco-carruagem seguido de Harry. Era desconfortável e mal cheirosa, mas o cavalo marinho era muito rápido, e a viagem de alguns quilômetros durou menos de cinco minutos.

Nenhuma palavra foi dita durante o percurso, mas Harry não conseguiu guardar apenas para si o seu assombro quando o castelo subaquático ficou visível. Ele era enorme e de aparência belamente fantasmagórica, construído entre duas fendas gigantescas. Ao contrário das casas toscas de pedra e janelas escuras que Harry sabia ser as moradias dos sereianos que moravam no Lago Negro, aquela construção era faraônica. Parecia ser feita de alguma espécie de concreto que brilhava quando o sol entrava pelas águas.

A cidade subaquática só parecia ter uma entrada, já que era construída em volta de uma fenda, e essa entrada era guardada por dezenas de guardas munidos de lanças e tridentes, que guardavam um gigantesco portão metálico de mais de três metros de altura, que se abriu para que eles passassem.

Aquela, Harry pensou, era uma verdadeira civilização, com casas, mercados e lojas conectados em uma única e grande construção, e centenas de sereianos nadando calmamente, sem realmente lhes dar atenção. Harry supôs que aquela devesse ser uma raça diferente da que ele conhecia, pois apesar de suas peles serem cinzentas, suas faces eram muito mais humanas do que reptilianas, e seus cabelos se assemelhavam muito ao dos humanos, geralmente presos em coques ou tranças.

Quando a carruagem-barco parou, eles estavam diante das portas do que parecia ser o centro da construção. Andar era muito difícil, mas nadar era pouco menos desconfortável devido aos pequenos pesos que tinham colocado em seus cintos, por isso eles tinham que pular desajeitadamente até dentro do coração da construção. O interior era amplo e brilhante, mas não possuía nenhuma decoração que não fosse o enorme trono em seu centro.

Feito de conchas do mar e da mesma espécie de cimento que todo o resto, o trono era irregular e aparentemente desconfortável, mas era incontestavelmente régio, assim como o enorme sereiano sentado nele. Maior e mais musculoso que qualquer sereiano que Harry já tivesse visto, Tritus era – não havia outra palavra – ameaçador.

Assim como seus compatriotas, Tritus tinha cabelos cor de cobre muito compridos e presos em coques e tranças enfeitado com conchas e pérolas. Não tinha barba, mas seu queixo era marcado por três cicatrizes profundas, que seguiam até seu peitoral. Seus braços e seu rabo de peixe eram claramente musculosos e pesados e mostravam marcas de várias batalhas, mas assim que seu olhar recaiu sobre os visitantes, um enorme sorriso de dentes amarelos se abriu em seu maxilar.

— Maître Jaques, a que devo a honra, meu amigo? – Harry logo percebeu que esses sereianos não se diferenciavam apenas na aparência; a linguagem usada por essa sociedade era ligeiramente diferente da que ele aprendeu com Lottie, mas como a diferença era pouca, ele não teve grandes dificuldades para acompanhar a conversa.

— Majestade – Jaques se curvou em direção ao sereiano, e Harry, Dumbledore e Lottie se curvaram também, em sinal de respeito. – Espero que nossa visita não seja inoportuna. Acredito que já saiba quem são meus acompanhantes.

— Meus informantes nunca falham – Tritus se levantou de seu trono e nadou até eles, para apertar-lhes a mão. – Dumbledore, é uma imensa honra conhece-lo. Senhorita Potter, seja muito bem-vinda. Mas o senhor, é um mistério, senhor Harry.

— Espero não ter frustrado seus informantes, majestade – Harry respondeu polidamente e depois se curvou levemente em sinal de respeito, do modo como fora instruído antes de entraram no oceano. Depois de se levantar, Harry percebeu que Tritus continuava sorrindo, então tomou isso como um sinal que havia dito a coisa certa.

— Harry é uma peça essencial na guerra que está acontecendo, Majestade. Não há necessidade de sabermos mais que isso. – Dumbledore respondeu calmamente, e Harry viu Jaques prender a respiração com medo da reação do sereiano.

Tritus não desviou os olhos de Harry quando Dumbledore falou, mas seu sorriso devidamente fraquejou. Ciente que se mostrar intimidado não era uma boa ideia, Harry manteve o olhar do rei. Seus olhos eram amarelados, com pupilas afiladas como de um gato, salpicadas de um tom de cobre hipnotizante.

— E eu imagino – Tritus disse finalmente desviando o olhar, visivelmente satisfeito que Harry manteve o olhar durante todo o tempo – Que tenham vindo falar comigo sobre a Guerra.

— Precisamente, majestade. – Jaques respondeu, os ombros muito tensos.

— Senhorita Potter – Lottie ficou muito vermelha com a súbita atenção do rei – Gosta de jardins? Eu tenho uma filha da sua idade, e nossos jardins são os lugares favoritos dela.

— Eu gosto muito de jardins, senhor. – Lottie respondeu trêmula, mas acompanhou o rei quando ele saiu nadando até atravessar as portas que estavam atrás do trono.

As portas pelas quais Harry e os outros passaram davam direto ao jardim mais pitoresco que Harry já vira. No lugar de grama, musgo crescia em algumas pedras aleatórias do solo marinho e no lugar de flores, corais e esponjas multicoloridos alegravam e davam toques inesperados de cor, além de servir de moradia para vários cardumes de pequenos peixes e outros animais marinhos.

— Minha filha nesse momento está com seus tutores, mas assim que ela termina seus deveres ela vem para cá. – Tritus explicou quando todos estavam perto o suficiente para ouvir. – Eu construí esses jardins para minha esposa quando nos casamos, mas ela infelizmente não está mais entre nós.

— O que aconteceu com ela? – Lottie perguntou, tocada.

— Voldemort a assassinou, como um aviso. – Tritus respondeu friamente, observando um pequeno cardume de peixes prateados nadarem por entre os corais – Entretanto, muito pior que ele ter tirado a minha rainha de mim, é a ameaça constante sobre minha princesa. Entendam – Tritus se virou para encara-los, as correntes marinhas balançando suas longas tranças – Apesar do apreço que tenho pelos humanos, não há nada que vá me fazer colocar meu povo, meu sangue, em perigo. Eu não posso ajuda-los.

— Majestade, não estamos pedindo que lute – Dumbledore argumentou – Apenas que amplie seu campo de proteção para englobar a Escola de Beauxbatons, esse simples gesto poderá salvar centenas de vidas mágicas.

— Esse simples gesto atrairá os olhares do Lorde das Trevas para o meu povo! – Tritus gritou, e Harry escorregou a mão para a própria varinha, caso fosse preciso usá-la. – Nossa conversa termina aqui. Os guardas os escoltarão de volta à superfície.

— Majestade – Harry tentou um último apelo, mesmo sabendo que aquilo provavelmente estava sendo visto como insubordinação – Por favor, pense em todas as vidas que podem ser poupadas.

— É exatamente nessas vidas que podem ser poupadas que eu estou pensando, Harry Sem-Nome – Tritus respondeu com a voz fria como metal – Nas vidas poupadas de meu povo.

— Papai? – Uma voz fina foi ouvida a alguns metros de distância, chamando a atenção do pequeno grupo.

Harry se virou para se deparar com uma sereiana significativamente menor do que a média, com traços mais leves e os cabelos em tom de ouro preso em apenas uma grossa e rudimentar trança, ao contrário do usual tom de cobre, enfeitados com uma coroa de corais.

— Princesa Sirena – Jaques se curvou em respeito, e Harry o imitou, temeroso de que se não o fizesse, talvez causasse a ira de Tritus.

— Minha pérola rara – Ainda curvado, pois Jaques ainda não havia se erguido, Harry observou pelo canto do olho a princesa nadar os poucos metros que a separavam do pai para beijar a mão deste. – Seus estudos terminaram mais cedo.

— Meus estudos terminaram no momento em que eu ouvi o senhor negar ajuda aos nossos amigos. – Ela disse, autoritária e delicada ao mesmo tempo.

— Sirena, de novo não... – Tritus falou, subitamente cansado. Aparentemente, Harry pensou, aquela era uma discussão recorrente do rei com a filha. – Você sabe o que aconteceu com sua mãe.

— Sei que ela foi morta por um tirano que ameaça e destrói tudo o que ele não concorda, ou que não pode usar em proveito próprio – Ainda curvado, Harry olhava quase hipnotizado para a princesa sereiana argumentar com o pai. Ela podia ter apenas um terço do tamanho do rei, mas sua presença era igualmente impressionante, e ao contrário do pai, ela não impunha uma aura ameaçadora, o que impeliu Harry a fazer uma ação, no mínimo, imprudente: ele se ergueu antes de ter a permissão de um membro da família real.

— A princesa está certa, Majestade – Harry falou.

Ao seu lado, Jaques ficou mais branco que uma folha de papel e começou a suar frio mesmo debaixo d’água. Tritus olhou furioso para Harry, incrédulo que alguém pudesse ter a audácia de, não apenas se erguer sem autorização, mas também de interromper sua conversa. A princesa, no entanto, não parecia irritada de forma alguma, mas estava claramente chocada, olhando fixamente para Harry.

— O que disse? – Tritus perguntou ameaçadoramente, os dentes amarelos muito trincados.

— Voldemort não manterá ninguém vivo se não achar que não poderá ganhar nada com isso, vossa majestade. – Harry respondeu, começando a se irritar com a formalidade forçada. – Ele odeia qualquer raça que não seja a bruxa, e mesmo assim há muitas ressalvas. Ele já mandou caçar os gigantes, os centauros são forçados a viver como nômades se quiserem sobreviver e ele chegou a assassinar a sua rainha como um aviso, e eu aposto que ele só não assassinou todo o seu reino porque acredita que pode usar proveito de seus escudos poderosos...

— E não é exatamente isso o que vocês vieram me pedir para fazer? – Tritus rosnou ameaçadoramente, crispando os lábios – Que eu use meus escudos para proteger a escola, como um simples cão de guarda... Qual a diferença entre vocês e os seguidores do Lorde?

— A diferença, majestade – Harry falou com dificuldade pela raiva crescente no peito – É que nós estamos pedindo sua ajuda para derrotar o Lorde e salvar todas as vidas mágicas e não mágicas que pudermos. Enquanto ele vai usá-los pelo tempo que achar conveniente, e depois descarta-los. Não pense que...

— Quem você pensa que é, Harry Sem-Nome para me dizer o que devo pensar ou não? – Tritus esbravejou, e Harry percebeu que havia cruzado uma linha.

O mar, antes calmo e claro, se agitou em volta do rei dos sereianos ferozmente. Guardas surgiram de todos os lados e seguraram Harry e os outros, esperando uma ordem do rei, mas antes que Tritus pudesse proferir qualquer sentença, a voz da princesa foi ouvida.

— Parem! – Ela gritou, e colocou o pequeno corpo prateado entre o pai e os bruxos. – Como você se chama? – Ela nadou para perto de Harry até que seus cabelos dourados flutuantes fossem capazes de encostar nele, dependendo da corrente de água que passasse. Ela estava tão perto que Harry pode perceber que os olhos dela também eram diferentes, eram azuis do exato tom do mar, embora também fossem salpicados por gotículas de cobre, como o rei.

— Me chamo Harry. – Harry respondeu, agradecido pela intervenção, mas ainda assim desconfortável pela intensidade do olhar da sereiana. – Somente Harry.

— Um homem sem nome de olhos de esmeralda surgirá das sombras e fumaça – Sirena cantou em uma voz hipnótica, e Harry se viu incapaz de desviar os olhos dela. Sua voz era fina, agradável e viciante, e provocava quase a mesma sensação que Harry sentia quando perto de uma veela que estivesse usando seus poderes de sedução – E ele guiará o mundo para a luz, findando a desgraça.

— E você acha que ele é o homem da profecia? – Tritus perguntou para a filha. Ele havia se recomposto e sua voz estava calma novamente, mas ainda assim não mandou os guardas soltarem-os.

— Quando as anciãs erraram alguma profecia, papai? – Sirena soltou Harry do seu olhar, e ele sentiu como se estivesse saindo de um transe. Pelas reações dos outros bruxos, todos estavam na mesma situação que Harry, inclusive Dumbledore, que estava ligeiramente corado.

— Soltem os humanos – Tritus falou baixo, repentinamente cansado e mais velho. – Eu espero de todo o coração que essa não seja a primeira vez. Mas se for mesmo derrotar o Lorde, Harry Sem-Nome, terá de fazê-lo sem a nossa ajuda.

— Mas papai...

— Essa é a minha resposta final – Tritus gritou, e Harry viu os guardas se encolherem rapidamente, temerosos da ira do seu rei. – Os guardas os levarão até a praia.

Harry sentiu o mundo afundar sobre si. Ele procurou o olhar de Dumbledore, que parecia abatido e desapontado, mas ainda assim apoiou a mão em seu ombro em um sinal de compreensão e apoio, antes de se permitir ser escoltado para fora da cidade subaquática.


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Notas finais do capítulo

Agora já podem responder! Hahaha



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