Entropia escrita por Reyna Voronova
V
Vingança
Ele observou.
Os olhos moveram-se cautelosamente para a direita. Nada. Certo. Tudo correto. Suas observações estavam nos conformes ali.
Moveram-se para a esquerda.
Hum…
Estreitou os olhos. Aquilo parecia interessante. Estreitou mais um pouco. Sim. Remexeu as asas. Era definitivamente interessante. E um mau sinal. Mas ele, O Corvo, cujo nome era Sombra, achava aquilo particularmente divertido. Hihi, vai ser prazeroso ver o que aqueles irão dizer quando ele trouxer as notícias.
Preparou as asas e as garras. Levantou voo.
Flutuou pelo deserto. Não soube por quanto tempo o fez, mas soube que foi por muito tempo. A construção ficava longe, onde eles estariam esperando pelas suas observações.
Ao longe, avistou.
Eles chamavam aquele lugar de Armazém. A sede da grandiosa Organização, o grupo mais poderoso de todo o Mundo, ainda mais que a própria facção do Faraó, a Trindade.
E as regras da Organização eram bastante claras e simples.
1) Não delatarás os teus irmãos nem irmãs;
2) Matarás aquele que se interpuser em teu caminho;
3) Respeitarás os irmãos e irmãs;
4) Respeitarás e, acima de tudo, obedecerás aos Guias;
5) Usarás o negro desde teu ingresso na Organização até a tua morte.
Os cinco mandamentos da Organização eram tratados como religião. Os simples Encaminhados, aqueles que buscam o sábio caminho daqueles que ali estão para lecionar o caminho das artes do Mundo, eram tementes aos Guias, seus deuses.
O corvo pousou no braço do Guia seu dono.
— O que trás de suas observações, Sombra? — perguntou a voz grave a qual servia.
— Meu senhor — voz fina com grasnos de corvo. Medo do Guia —, trago-lhe novidades… interessantes.
— Diga.
— Durante as observações, ao longe, eu a vi, meu senhor. Eu juro.
— A viu?
— Sim senhor. Ela. Você bem sabe.
A boca do Guia formou uma linha reta de preocupação.
— E, senhor — o corvo continuou —, ela não estava sozinha.
— Ele estava com ela?
— Não. Outra pessoa. Aparentemente fêmea.
— Conseguiu ler seu kayrn?
— Não senhor. Talvez porque eu estava muito longe.
O Guia balançou a cabeça em entendimento.
— Tudo bem — sua voz expressava descontentamento leve. — De qualquer forma, você fez um ótimo trabalho, Sombra.
— Sim sim, senhor, sim sim. — Sombra voou em redemoinho de volta para seu poleiro, no teto do Armazém.
O Guia andou de um lado para o outro, ponderando. Na verdade, sua mente ainda estava com a informação sendo repetida inúmeras vezes, com palavras diferentes, frases diferentes, possibilidades de um passado ou um futuro diferentes.
— Sombra, alerte todos os Encaminhados e os outros Guias. Há um anúncio de última hora, que é muito importante e que concerne a todos.
— Sim sim, meu senhor. — Sombra, mal tendo pousado em seu poleiro, já voava em rodopio novamente grasnindo pelo armazém, e em poucos instantes, todos já estavam prontos para ouvir o anúncio da boca do Guia seu dono.
O Guia andava de um lado para o outro, formando as primeiras frases. Não, essa está ruim. Talvez essa. Ele não tinha o domínio das palavras nem dos kra'vstanva como outros, mas tinha o domínio necessário para apresentar uma solução para aquele problema.
— Irmãos — sua voz não era toante como a de um orador. Era baixa, com um pouquinho de positividade e grave – e irmãs. Nós – pausa. Olhar para a plateia — temos um problema. — Olhar para a plateia novamente. Olhar procurador, mas não procurava gente; procurava palavras. — Vocês sabem aqueles que nos derrotaram uma vez. Aqueles que nos levaram à vergonha. Vocês sabem o nome deles. Não apenas dos indivíduos que os lideraram, mas o nome daquele grupo como um todo. Nossa vingança que ocorreu depois da batalha que perdemos tinha sido completa. Pensamos que fosse completa. Mas estávamos errados. Aquela que traiu, cujo nome é melhor não ser pronunciado aqui, ainda vive. E para piorar, trás consigo outra desconhecida. Seu nome é conhecido. Ele vive na mente de vocês. Vocês já vêm com esse nome a priori quando caem no Mundo. Porque a sua existência é, de fato, importante, tão importante quanto a do próprio Faraó. Mas não tão respeitável quanto à dele. Eu, Jan, Guia das Armas e um daqueles que coordena a Organização, decreto como sexto mandamento a guerra contra aqueles que são afiliados do grupo que outrora foi conhecido como a Legião ou aqueles que um dia pertenceram a esse grupo e hoje ainda vivem. Na verdade, guerra é um termo muito…
Seus olhos, agora queimando de raiva — mas não flamejando, pois um bom membro da Organização controla sua raiva — procuraram a palavra no fundo do Armazém, onde ninguém estava posicionado ouvindo seu discurso.
— É um termo muito brando — continuou. Todos estavam estáticos, calados como um ser não-vivo deveria ser. — Eu quero, na verdade, que eles sejam caçados. Caçados como bandidos que são. Caçados como terroristas. Como sub-humanos. Como escória do Mundo. Como lixo. De hoje em diante, o sexto mandamento da Organização será este: “Morte à Legião, aos Legionários e aos seus simpatizantes!” – disse a última frase, o mandato, já exaltado, não só pelo próprio discurso, mas como pela ideia de ver o sangue dos inimigos escorrendo pelas mãos e ele provando-o.
Provando o gosto da vitória.
O gosto da vingança.
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