Amor & Preconceito escrita por L CHRIS


Capítulo 3
Capitulo II - Primeiro sorriso


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. A todos uma boa leitura!



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– Como foi no colégio hoje? – Indaga mamãe enquanto me serve um pouco mais de bolo de carne.

Estávamos todos reunidos para o jantar – mamãe prepara um delicioso bolo de carne com batatas salteadas e deliciosas ervilhas - papai nos encarava com um sorriso nos lábios, Jordan – meu irmão mais velho – parece distraído fazendo algumas anotações em um bloco de papel.

– Querido, estamos no jantar. – Advertiu mamãe.

Jordan deixa o bloco de anotações de lado e passa a se concentrar somente em sua refeição.

Jordan tinha 20 anos, ele trabalhara como mecânico, e aos fins de semana fazia um extra como musico – que era sua real paixão - em um bar da região. Meu pai nunca aceitou bem suas escolhas, para ele, o futuro estava em uma universidade, não em musica. Mesmo sem a benção do meu pai. Jordan fazia o que deixara feliz – eu o admirava por isso – mesmo assim, meu irmão estava de casamento marcado com Ebby Simons – sim, irmã do bom moço Alec – eu sabia que eles não se gostavam. Mesmo assim iriam se casar, porque era o certo.

Pelo menos aos olhos do meu pai.

“Ela é uma boa mulher. Certamente, te fará feliz.” Lembro-me até hoje das palavras do meu pai quando Jordan anunciará seu noivado.

No fundo eu sabia que Jordan fizera aquilo para ganhar o mínimo de aprovação em suas escolhas. Pois, era aquilo que Gilbert queria.

Sempre era o que queria.

Sempre era o que papai achava certo.

Encaro minha mãe novamente, ela estava com seu sorriso costumeiro, seus olhos verdes traziam os primeiros sinais de rugas ao redor. Seu cabelo castanho escuro estava preço com uma presilha no topo da cabeça. Ela usara um vestido florido.

– Foi bom. – Minhas palavras são breves.

– Eu estive conversando com o Reverendo Williams, ele me disse que está precisando de pessoas para a feira de caridade anual – papai começara chamando a atenção de todos – estive pensando em você Norah. Na verdade, eu confirmei sua presença no sábado.

Encaro meu pai em silencio.

Seus olhos eram castanhos escuros, seu cabelo já grisalho lhe dava um ar mais velho, mesmo que ainda beirasse 56 anos, sua postura era sempre serena, mas eu sabia que aquilo era só uma fachada. Meu pai era um ditador naquela família. E seu sorriso era a arma secreta.

Ditador amigável. Penso emburrada.

– Isso me parece ótimo, querida! – Anuncia mamãe entusiasmada.

Abro um sorriso desanimado.

Às vezes, queria apenas dizer não. Dizer que não queria fazer algo. Mas aquilo parecia ser impossível. Eu sabia que ter papai desapontado, significada sem saídas aos fins de semana. Ou qualquer outro tipo de “mordomia” aos olhos dele.

– Tudo bem – abocanho um grande pedaço do bolo, para engolir a raiva que sentira por não poder tomar minhas próprias decisões.

Jordan me encara com seus olhos castanhos e seu cabelo encaracolado – semelhante ao que meu pai tivera em sua juventude – ele era esguio, e sua barba estava por fazer. Talvez eu pudesse entender seu noivado repentino com Ebby, era difícil ir contra os olhos observadores de papai.

Estava condenada aquela vida.

Ir contra papai era perder uma guerra antes mesmo de lutar.

***

Eu gostava do Reverendo Williams, na verdade, ele é um dos homens mais legais e íntegros que conhecia. Ajudar na feira de caridade parecia mesmo uma boa ideia.

Mas o que de fato me incomodou foi papai, será que era tão difícil apenas me deixar tomar minhas próprias decisões?

Talvez para papai fosse difícil entender que sua filhinha havia crescido. E que já estava apta a fazer suas escolhas.

Guardo minha caderneta em baixo do travesseiro quando ouço a batida suave na porta, me sento na cama e ajeito meu corpo contra a sua cabeceira.

– Pode entrar.

Assim que a porta é empurrada, mamãe surge atrás dela, trazendo em uma das mãos uma xícara – pela fumaça e o aroma delicioso só poderia ser chocolate quente.

Mamãe fazia o melhor chocolate quente que já tomara.

Ela sorri e caminha ao meu encontro. Entrega-me a xícara e senta-se ao meu lado na cama.

Aquele cheiro maravilhoso invade minhas narinas me dando uma sensação de conforto imediato.

Minha mãe era o ser humano mais dedicado e carinhoso que conhecera, ela sempre me trazia um bom chocolate quente antes de dormir. Aquilo era reconfortante.

– Estive pensando – começo ela enquanto tira uma mexa de cabelo do meu rosto – seu aniversário está chegando.

Ela me encara com seus olhos esverdeados e eu conhecia aquele olhar.

Naquele instante fico imóvel. Talvez eu soubesse suas palavras seguintes, e aquilo não me agradava.

Nenhum pouco.

– Você já está uma mocinha, Norah. Meu anjo fará 17 anos daqui algumas semanas, e eu acho que está na hora de ter uma festa – minha mãe suspira, havia brilho em seu olhar – seu pai concordou comigo. Mas ele não quer muitos convidados.

Como se já não fosse obvio. Suspiro.

– Não – Começo entregando a xícara já vazia – eu agradeço sua intenção – suspiro – e a do papai. Mas eu prefiro fazer como todos os anos, pizza e algumas garotas da escola.

Mamãe parece desapontada pela minha relutância em ter uma festa.

Mas ela nunca entenderia, eu sei o quão constrangedor seria ter uma festa sob os termos do meu pai. Se bem o conheço provavelmente seria meninas de um lado e meninos do outro.

Mesmo desapontada mamãe abriu um sorriso.

– Eu entendo – Pareceu compreensiva – as garotas dá sua idade iriam adorar a ideia. Mas... – Ela se cala.

Talvez no fundo ela entenda minha relutância, afinal, ela já tivera 16 anos e não existia nada pior nessa idade do que um pai superprotetor.

– Boa noite, querida.

– Boa noite, mamãe.

Ela me dá um beijo de boa noite e deixa meu quarto.

Eu sabia que as intenções dos meus pais eram as melhores possíveis, sempre era, mas essa criação restrita ao que eles achavam certos. Era no mínimo sufocante. Pelo menos, na maior parte do tempo.

***

A manhã seguinte chega depressa, o sol invade minha janela e eu já estou devidamente vestida para mais um dia de aula.

Deixo meu quarto logo depois de conferir meu material e se minha calça jeans e camisa preta básica cairão bem.

Como eu era ligada em moda. Penso ironicamente.

Mamãe estava na mesa juntamente com meu pai e meu irmão, todos tomavam café quando cheguei e me ajuntei a eles.

– Bom dia. – Comecei apanhando uma torrada.

– Bom dia. – Todos disseram em coral.

O café da manhã fora silencioso, cada um concentrado em terminar seu desjejum para seguir com sua rotina.

Papai foi o primeiro a se levantar, precisava resolver algumas coisas fora da cidade naquela manhã, mas antes de seguir com seus afazeres dissera:

– Você quer carona para escola?

Nego enquanto mordo mais um pedaço da torrada.

– A Belinda vem me pegar.

Papai se despede.

Normalmente os adolescentes da minha idade possuíam carteira e um carro, mas aquilo definitivamente não me incluía.

Papai nunca achou certo jovens de 16 anos dirigirem, por isso sempre deixou claro que só teria meu carro depois dos 21 anos.

Talvez fosse uma atitude desnecessária – como a maioria delas – mas eu resolvi não discutir muito a respeito. Apenas aceitei suas condições.

“Você terá mais responsabilidade aos 21 anos” Esse foi seu argumento final.

Por conta disso, eu pegava carona regulamente com Belinda.

– Bom dia. – Cumprimentei-a assim que entrei no carro.

Belinda ouvia Britney Spears no ultimo volume – ninguém merece – não tinha nada contra Britney, até gostava, mas àquela hora da manhã não era exatamente o que eu queria ouvir.

Um carro. Por favor, um carro. Penso cabisbaixa.

Encosto a cabeça contra o banco e passo o caminho inteiro em silencio, até que Belinda abaixa o som completamente e fala:

– Hoje começa os testes para líder de torcida, e adivinha – Belinda soltou um gritinho estridente – nós duas vamos participar.

Passo a encara-la, e por um momento lembro de papai.

Por que ninguém me deixa tomar minhas próprias decisões? Penso emburrada.

– E quanto pretendia me contar? – Minha voz não demonstrava animação.

Belinda revira os olhos e segura firme no volante.

– Para de reclamar e apenas me agradeça, agora finalmente ficaremos populares.

Encaro minha amiga por um instante.

Será que sua ideia de felicidade extrema estava mesmo relacionada a ser líder de torcida e popular no colegial? Reviro os olhos com o pensamento.

O estacionamento da escola já começara a ficar aglomerado por estudantes, indo de um lado para outro, alguns perdidos em seus pensamentos, outros em conversas paralelas ou em grupos. Todos ali pareciam ter encontrado seu lugar. Menos eu.

Por que será que me sinto tão descolada? Parecia não me encaixar em nada. Penso aflita.

– Olha, lá. A nova sapatão do colégio. – A voz de Belinda é hostil.

Ergo meu olhar e encaro o carro a nossa frente – um Mustang 1960 preto restaurado.

Aquele seria o carro que teria um dia. Penso envaidecida com a visão.

Quando meu pai decidisse que estava na hora de sua filha dirigir por conta própria. Tanto o carro quanto a própria vida.

Valentia vestia uma regata preta e jeans de lavagem escura, nos pés ela trazia um coturno e uma jaqueta jeans compunha o restante do look.

Ela olha em nossa direção, mas logo desvia o olhar e começa a caminhar em passos largos em direção à escola.

– Já volto. – Anuncia Belinda saindo em uma corrida, só então percebo que ela vai atrás da garota.

Respiro fundo.

Eu tinha duas opções, segui para meu primeiro horário ou ir atrás de Belinda e evitar que ela faça alguma besteira.

Reviro os olhos pela infantilidade de Belinda e faço uma rápida corrida ao encontro delas. Só quando estou próxima o bastante posso ouvir o teor da conversa.

– Eu sei o que você é! – Sua voz é ofensiva.

Seguro o braço de Belinda.

– Vamos. Deixe a garota em paz.

Meus olhos encaram a garota loira em minha frente, ela parecia irritada, o que não era para menos. Belinda estava sendo no mínimo ridícula.

Belinda esquiva do meu toque e diz em um tom áspero.

– Me deixa, Norah. Pessoas como ela destroem nossa reputação.

Encaro a garota me sentindo envergonhada por isso.

Qual era o problema de Belinda?

– Pessoas como eu? – A garota encarava firme Belinda com seu olhar intenso.

– Sim! – Belinda diz em tom histérico.

– O que seria pessoas como eu? – Valentia trazia um tom de indignação.

Meu rosto queima de vergonha.

– Lésbica!

Naquele momento sinto vontade de me esconder, como se situação não fosse embaraçada o bastante Belinda continua.

– Você é nojenta. Uma lésbica nojenta! – Exclama Belinda cheia com ódio.

– Já chega! – Ordeno segurando seu braço – Você está sendo ridícula, Belinda.

– Está defendendo essa ai? – Belinda parecia mesmo indignada.

Abro minha boca para responder, mas me calo.

– Não preciso de uma advogada. Até mesmo porque, não sou eu que estou cometendo um crime aqui – Valentina suspira parecendo entediada com a explicação que daria – você é uma vadia preconceituosa. Pessoas como você estragam a reputação da espécie humana.

Belinda pareceu perplexa pela reação de Valentina, como se não fosse aquilo que ela esperasse.

Belinda queria oprimir a garota. Penso.

Mas a resposta de Valentina fora a altura, aquilo me deixou menos envergonhada.

Para minha surpresa, Valentina pareceu não se importar com os ataques de Belinda, girando os calcanhares ela enfia as mãos no bolso. Mas antes de seguir seu caminho diz:

– Só mais uma coisa! Eu adoro chupar uma vagina. – Valentina faz um gesto obsceno com os dedos anular e médio.

Ela pisca para mim.

Engulo a seco.

– Norah, qual é seu problema? – Começa Belinda como se a pessoa com algum problema ali fosse realmente eu.

Quando nossos olhares se cruzam. Nego em silencio.

Eu me sentia envergonhada.

***

Minha primeira aula fora o inglês, me senti aliviada por não ter o mesmo horário que Belinda - pelo menos nas primeiras aulas - eu não sei se estava com cabeça para aguentar seu preconceito e sua intolerância.

Mas eu ainda teria que encontrar ela na aula de História naquela manhã, e aquilo de fato não era animador.

Belinda entrara pela porta pouco depois de mim, ela conversava com algumas garotas do time de lideres da escola.

Do qual ela sonhara fazer parte.

Desvio o olhar com sua aproximação.

– Qual é Norah. Até que hora vai me ignorar por causa daquela garota?

Enfio meus fones no ouvido e passo a ignorar Belinda.

No fundo eu só desejava que ela se arrependesse e pedisse desculpas para Valentina. Mas eu sabia que isso não aconteceria.

Conhecia Belinda desde minha infância, e ela sempre fora radical em algumas questões – herança de sua família e doutrina – e sexualidade era uma delas.

Eu sabia que minha criação não fora diferente, e que sexualidade era algo sagrado no meu ciclo de convivência. Mas no fundo, eu me sentia diferente deles. Era como se minha forma de pensar fosse radicalmente oposta.

Ninguém tinha o direito de julgar ninguém.

E a sexualidade era algo intimo de cada um. Ela não distinguia caráter ou crença. Por isso ela devia ser respeitada.

Talvez fora por isso que a atitude de Belinda me deixou indignada. Ela não respeitou Valentina. Não respeitou sua privacidade.

Mesmo que Valentina não fosse lésbica – ou fosse – Belinda não tinha o direito de condena-la.

Ninguém tem.

Valentina entrara na sala um pouco depois, posso perceber que encara Belinda, era como se elas tivessem algo para resolver.

Talvez realmente tivessem.

Desvio o olhar quando percebo que ela esta vindo em minha direção.

Por um momento não sei o que fazer.

– Posso me sentar aqui? – Ela indaga indicando o lugar em minha frente.

Engulo a seco.

– Sim. – Murmuro.

Valentina então coloca seu material na mesa tomando posse do lugar, ao fundo posso ouvir Belinda bufar.

A aula de Historia começa e passa a seguir tranquila. Faço meu dever em silencio ignorando Belinda. Eu sabia que ela sempre fora minha melhor amiga. Mas existiam certas coisas que eu não tolerava, e pessoas preconceituosas era uma delas.

A aula estava quase no fim quando o professor Osias começa:

– Bem, pessoal. Como já havia comentado na aula passada. Entraremos em questões sociais esse semestre. E para isso, eu quero que vocês formem dupla com um colega e monte um seminário com um tema livre. Mas lembrando, o tema tem que se enquadrar em questões sociais.

Múrmuros começaram na sala, cada um procurava o colega adequado para formar turma, alguns iam pela amizade – como eu e Belinda sempre fizemos – já outros procuravam os mais estudiosos.

Cada um tinha sua dupla formada, pouco a pouco foram falando o nome da dupla e sobre o que discutiriam. Minha vez estava próxima. E eu sabia que tinha uma decisão importante para tomar naquele instante.

– Norah... – Belinda murmura meu nome – Vamos fazer juntas, né?

Ignoro.

Encarando Osias firmemente quando chega minha vez.

Talvez eu tivesse tomado uma atitude extrema, Belinda tivera uma atitude ruim, mas será que era o certo?

Atitudes extremas para pessoas extremas. A frase que meu pai sempre usara vem em minha cabeça. E naquele momento sei a decisão que tomar.

– Senhorita Carter, fará dupla com a senhorita Seydoux...

– Não! – Anunciei atraindo olhares de todos ali.

– Farei dupla com a Valentina Hentz.

Todos pareciam surpresos demais, até mesmo Valentina que agora me encarava confusa.

Abro um sorriso.

Mesmo perplexa ela sorri de volta.

Aquela era uma revolução, eu sabia. Desde sempre fiz meus trabalhos com Belinda - Mesmo que sempre tenha desenvolvido tudo sozinha.

Belinda sempre fora meu par.

Mas mudar era preciso, mudanças eram necessárias para expandir mentes fechadas. Penso.

Mas agora não seria assim.

Belinda aprenderia uma lição, e eu iria te dar.

Osias fez algumas anotações e logo depois ergue o olhar ajeitando seus óculos de grau.

– Qual será o tema?

Valentina me olha e parece pensar em algo. Mas eu não espero por uma sugestão.

– Homossexualidade. – Minha voz é decidida.

Houve silencio na sala, posso ouvir a indignação de Belinda, mas aquilo não me importara.

Valentina sorria para mim, seu sorriso era sincero, seus lábios demonstravam felicidade.

Seu sorriso era como uma melodia sem som. Era gostoso de ver.

Certamente ela tinha gostado.


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Notas finais do capítulo

Eai? O que acharam? Até o próximo capitulo.



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