Amor & Preconceito escrita por L CHRIS


Capítulo 4
Capitulo III - A carona


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. A todos uma boa leitura!



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Eu não estava arrependida da decisão que tomara – não mesmo – acreditava fielmente que Belinda merecia uma lição.

Mas agora, enquanto saboreava meu burrito picante, eu senti falta de Belinda. Todos ali tinham companhia no almoço – exceto os que decidiram comer sozinhas, como eu, quando decidi confrontar minha melhor amiga por uma atitude ridícula.

Eu sabia que Belinda não ficaria longe por muito tempo – pelo menos era isso que eu esperava– até vê-la cruzar meu caminho no refeitório. Em suas mãos ela trazia uma bandeira com refrigerante diet e um hambúrguer.

Posso notar seu olhar, ela certamente estava zangada – seus olhos soltavam faíscas – mesmo assim pensei que se ajuntaria a mim.

Mas estava completamente enganada, em vez disso, ela apenas me encarou e disse:

– Espero que tenha uma ótima indigestão – ela se vira, mas antes de seguir seu caminho continua – a propósito, esquece minha carona para escola.

Encaro em silencio Belinda enquanto ela marcha em direção ao outro lado do refeitório.

Que ótimo! Penso.

Agora perderia minha única carona só por ir contra as ideias de Belinda.

Talvez fosse melhor ir andando pelo longo caminho do que dividir o carro com alguém tão mesquinha. Penso enquanto fulminando Belinda com o olhar.

–Está ocupado? – A voz surge atrás de mim referindo-se ao lugar.

Viro meu corpo e me deparo com Valentina, ela trás na mão uma bandeja que havia apenas uma maça e um suco natural.

Olho por um instante para Belinda, e agora era ela que me fulminara.

Concordo com um sorriso cordial.

– Não. Senta-se.

Afasto um pouco meu corpo dando-lhe espaço ao meu lado, então ela se junta a mim. Sentira-me mal no inicio, o olhar de Belinda do outro lado do refeitório era no mínimo de indignação – como se fosse um crime me ajuntar com Valentina.

– Você ficou sem carona por minha causa – ela me olha – desculpa, é que eu peguei parte da conversa. – explica-se.

Dou de ombros.

– Não, tudo bem. Sem problemas – abro um leve sorriso – Belinda sempre foi assim. Lembro-me que na pré-escola ela parou de falar comigo porque fui brincar com uma garota que ela não simpatizava.

Valentina abriu um sorriso, seu rosto estava suavizado.

Talvez ela gostasse da minha companhia. Penso.

– Sua amiga é uma babaca. Eu nem sei por que são amigas. – Sua voz era sincera.

Talvez Valentina tivesse razão, eu e Belinda não tínhamos absolutamente nada haver, talvez, se não fosse pela amizade de anos entre nossas famílias essa amizade nem fosse possível.

Os instantes seguintes foram silenciosos, não tínhamos muito que dizer uma para outra, éramos duas estranhas e mesmo assim eu a protegi, da minha forma, mas protegi. Talvez, aquilo me tornara um ser diferenciado, estranho, talvez.

– Você quer carona? – Ela começa.

Seu convite me deixa surpresa, penso que talvez ela estivesse sendo apenas educada, gratidão pelo o que tinha feito.

Mesmo que fosse por educação eu resolvi aceitar, eu sabia que a opção de vim com Belinda ao som de Britney Spears estava temporariamente cancelada, mas vim andando todos aqueles quarteirões, não era nada animador.

– Se estiver tudo bem para você.

– Claro – ela abre um leve sorriso – posso buscá-la e levá-la todos os dias. Pelo menos até você resgatar sua amizade.

– Obrigada.

Valentina era mesmo simpática, ela parecia o tipo de pessoa que não se importava com a opinião das pessoas – aquilo me fez admira-la.

Assim que acabamos a refeição seguimos para fora do refeitório, posso notar alguns olhares discretos vindo em nossa direção, mesmo que os comentários não fossem tão discretos assim.

Fiquei sabendo que ela namorou uma menina.”

“Ela tinha uma namorada na antiga escola”

“Lésbica!”

Respiro fundo e por um instante me pergunto se Valentina havia escutado também aqueles comentários.

Seguimos em silencio para uma sombra em baixo de uma grande arvore, me sento logo depois de Valentina e passo a encarar os alunos que iam de um lado para outro.

Novamente o silencio havia se instalado entre nós, eu não sabia muito bem o que dizer, sempre fui uma negação em puxar assunto. Seguro nas mãos um graveto e começo a alisar a grama usando ele.

– Por que você fez aquilo? – Começou Valentina quebrando o silencio.

Eu sabia exatamente o que Valentina queria se referir quando dissera “aquilo”, mas por um momento eu não soube o que responder. Na verdade, eu mesma não sabia porque tive aquela atitude tão radical, talvez, fosse meu espírito bondoso, algo assim. Eu sempre gostei de lutar pelo certo, mas algo me pareceu estranho. Como se dentro de mim fosse quase como uma obrigação agir daquela maneira.

– Eu não sei – começo sem jeito – eu só não gostei do que Belinda fez.

Valentina ficou em silencio.

– Você costuma confrontar todos assim? – Seu riso é leve.

Lembro-me do meu pai, e naquele momento eu tenho certeza que não, eu não era o tipo de pessoa que encarava o confronte frente á frente.

– Não.

Valentina sorri novamente. Seu sorriso me deixava embaraçada. Era estranho.

– Quando começamos a planejar o seminário? – começo tentando desviar o assunto.

Valentina parece entender e também desvia do assunto.

– Podemos começar esse fim de semana.

Lembro-me da feira de caridade e nego.

– Eu não posso. Mas na sexta estarei livre.

Valentia sorri levantou-se após o ecoar estridente do sinal.

– Por mim tudo bem – ela pega sua bolsa e livros – nos vemos na saída?

Concordo com um sorriso.

– Sim.

***

Particularmente eu odiava educação física, mas odiara ainda mais quando tínhamos vôlei, escolher times não era meu forte, mas parecia que a professora Ruby não entendera isso.

– Sua vez, Norah.

Respiro fundo e olho ao redor, as garotas me encaravam, posso sentir meus batimentos cardíacos aumentarem consideravelmente – estava nervosa.

Nunca entendi porque ficava assim, sempre que precisava tomar uma decisão importância – como escolher o time – eu sentia um pressão invadir meu peito, como se a decisão de toda a minha vida estivesse ali. Um pouco dramático demais, eu sei.

– Norah? – Professora diz sem paciência.

Engulo a seco e encaro Ruby, seu olhar sobre mim era de poucos amigos – ela me odiara, eu sentia – ela indica seu pulso, insinuando que o tempo da aula estava correndo.

Encaro as garotas novamente, posso ouvir os múrmuros:

“Qual o problema dessa garota?”

“Ela sempre faz isso!”

“Ela é maluca?”

“O que poderíamos esperar de Norah Carter?”

– Me desculpa. Eu não estou bem.

Ruby nega em silencio, pega de minhas mãos colete de capitão, me indica a porta de saída da quadra de esportes.

– Você está liberada.

Meneio a cabeça.

Provavelmente Ruby estava aliviada por se livrar de mim, eu sabia que qualquer professor de educação física odiara pessoas fracas como eu.

Corro para fora da quadra seguindo para vestiário, parte de mim estava aliviada por ter me livrado da bendita aula, mas a outra se sentia envergonhada.

Norah Carter era uma fraca. Penso enquanto caminho para o chuveiro do vestiário.

Pensei estar sozinha, mas me surpreendo quando vejo duas figuras conversando no banco de madeira que ficara perto do chuveiro. Uma delas era Belinda - ela estava vestida no uniforme verde e amarelo de líder de torcida.

Finalmente ela conseguiu o que sempre desejou. Penso enquanto despia minha roupa.

A garota que conversa com ela é Ayda, a capitã do time, uma garota loira platinada com pernas longas e seios fartos – alguns diziam que o volume avantajado dos seus seios era resultado de uma cirurgia plástica, seu pai era um cirurgião renomado em Nova York – com pais separados, tudo que sabia sobre ela é que sua mãe casou-se novamente com o dono do Pettit’s Bar e desde então vieram para cá. Ayda era uma vadia egoísta, mas fora isso, eu não tinha nada a declarar sobre ela.

– Olha, se não é a mais nova amiga da sapatão.

– Não começa, Belinda. Não estou a fim. – Anuncio ligando o chuveiro e adentrando no Box.

Belinda sentou-se no banco de frente para o Box, Ayda já havia deixado o vestiário e agora estávamos sozinhas.

– Sabe, Norah – começou Belinda – eu ainda sou sua melhor amiga, eu sei. Mas às vezes me pergunto o porquê você defendeu aquela garota. – Belinda silenciou-se.

Continuo meu banho tentando ignora-la.

– Talvez – ela continua – você se identifique com ela – Belinda riu – claro! Só pode ser isso.

Puxo a cortina que nos separava, encaro Belinda seriamente desligando o chuveiro.

Ela estava sentada com um sorriso, suas pernas estavam cruzadas e ela me encarava com um ar cheio de sarcasmo.

Reviro os olhos.

– Só porque eu não sou preconceituosa, não quer dizer que sou... – me silencio.

– Lésbica? – Belinda ergue o olhar – sejamos sinceras uma com a outra, antes de Alec, você nunca saiu com nenhum garoto e levando em consideração o encontro desastroso que tiveram, é uma questão para ser refletida, não acha?

Respiro fundo.

Eu sabia o que Belinda queria, e ela não conseguiria me irritar, ela estava chateada e era assim que reagia.

Pego minha toalha enrolando-a em meu corpo, encaro Belinda pela ultima vez antes de bater meus pés em direção ao meu armário.

Mas fora uma atitude inútil, Belinda não desistira de ter uma discussão então começara a me seguir.

– Pensa comigo Norah Carter – seu tom é hostil – se seus pais descobrissem que tem uma filha sapatona, será que eles continuariam te achando a filha prodígio? A boa moça. A grande Norah Carter!

Seja qual fosse o objetivo de Belinda provavelmente ela conseguira, pois a raiva me tomou o peito, empurrei ela contra um dos armários, por ser alguns centímetros mais baixa que eu, pude encara-la diretamente nos olhos, aperto meu braço contra sua garganta.

– Eu não sou lésbica!

Belinda me encara surpresa, suas pupilas estavam dilatadas, provavelmente ela não esperava aquela reação.

Eu também não esperava. Penso.

Soltei-me dela e pude perceber alisando sua garganta aonde pressionei segundos antes, ela me olha por uma ultima vez e então deixa o vestiário.

Caminho até o banco mais próximo, o choro vem logo depois, dobrando meus joelhos apoio minha cabeça sobre eles, respiro fundo e tento me acalmar. Eu sabia que Belinda iria me atacar enquanto eu conversasse com Valentina – o que esperar de uma garota mimada como ela – mas eu não desistiria da amizade de Valentina. Eu não precisava ser como Belinda. Se ela fosse minha amiga, respeitaria minhas escolhas e princípios.

Mas ela era egocêntrica demais para notar qualquer coisa que não fossem suas ideias preconceituosas e seu desejo por ser popular.

Respiro fundo.

Enxugando as lagrimas, sigo para meu armário aonde visto minha roupa guardando o uniforme esportivo.

***

Meu coração palpitava quando cruzava o caminho da escola até o estacionamento, um nervosismo tomara conta do meu corpo, e eu não conseguia entender o porquê. Posso notar quando uma figura indesejada cruza meu caminho, e por um momento eu penso que aquele não é meu dia de sorte.

– O que você quer? – Começo sem paciência.

– Calma, Norinha. Eu só quero conversar – Começa Alec como se aquela conversa fosse algo realmente possível.

Tento desviar, mas Alec é insistente.

– Eu estou com presa.

– Vou dar uma festa no próximo fim de semana. Eu quero que você vá. Meus pais vão viajar. Casa liberada!

Alec estica um papel, apanho sem entusiasmo e leio:

House Party

A noite Insana

Bebida liberada

Venha se aventurar nessa noite insana.

Encaro Alec por um momento.

Aquilo era realmente sério? Uma festa insana? O que teria além de jovens drogados?

– Eu não posso. Obrigada – devolvo o convite.

Mas Alec era insuportavelmente insistente. Devolveu-me o papel.

– Faz um esforço. Seu pai irá deixar.

Reviro os olhos.

– OK.

Desvio meu olhar e posso ver Valentina me esperando em frente ao seu Mustang, respiro fundo e dou um aceno para ela que me retribui com um sorriso.

– Eu preciso realmente ir.

Anuncio desviando-me do toque de Alec e seguinte em direção a Valentina.

– Seu namorado? – Indagou sim que estava próxima.

Reviro os olhos.

– Meu castigo.

Rimos.

Seu carro era ainda mais bonito por dentro, todo equipado e moderno, certamente deixara muitos carros ali para trás. Aliso o painel revestido em couro e naquele instante fica claro o bom gosto de Valentina.

– Por que você não dirige? – Começa enquanto guia o carro.

Ajeito-me no banco e passo observar a garota loira e serena ao volante.

Suspiro.

Era constrangedor tocar naquele assunto, ainda mais pelos motivos que me impediam de ter um carro – meu pai – era uma adolescência com liberdade limitada, e ter um carro ultrapassaria todos os limites permitidos.

– Meu pai acha que ainda sou nova para dirigir. – Anuncio cabisbaixa.

Posso notar Valentina conduzir o carro perfeitamente, provavelmente ela já fazia aquilo algum tempo.

– É difícil? – Pergunto distraída.

Valentina sorri.

– Não – pega minha mão, e seu toque me causa estranheza, á principio. Posso sentir as batidas em meu peito e por um momento não entendo a reação, ela guia minha mão até o volante e colocada sua mão por cima da minha – dirigir é como andar de bicicleta, a diferença é que na direção do carro tudo é ainda melhor. Fecha os olhos e sinta. – ela começa a mexer no valente lentamente, sinto um arrepio subir pela espinha. A sensação mesmo que mínima, era como de liberdade, talvez, conduzir um veiculo fosse realmente isso. Uma liberdade.

Sua mão se solta da minha, meus olhos se abrem em um sorriso.

– Isso é muito bom.

Valentina me encara assentindo.

– Quando aprender vai ser ainda melhor.

Abaixo meu rosto com um meio sorriso.

Talvez aquele sonho fosse realmente distante. Penso.

– O que é isso? – Indaga Valentina se referindo ao convite da festa “insana” de Alec.

Dou de ombros.

– Ah, é a festa insana de Alec. – Começo em tom de zombaria.

Valentina pega o papel e passa a ler.

– Você vai?

Nego em silencio.

Valentina me encara assim que seu carro para no farol.

– Por quê? Uma festa é sempre bem vinda.

Naquele instante sinto-me estranha, como se eu fosse o único ser do universo que não estivesse nem ai para uma festa, ou qualquer coisa que fosse.

Mas o olhar empolgado de Valentina me fez repensar o convite, talvez, ela estivesse certa, mesmo que a festa fosse do idiota bom moço Alec, ainda sim era uma festa. E eu precisava mesmo me divertir.

– Você quer ir?

– Isso é um convite? – Valentina sorri.

Concordo sorridente.

– Sim.

– Claro. Eu iria adorar.

– Ótimo!

Desvio o olhar percebendo que já havíamos chegado a minha rua, pressiono os lábios e posso notar minha mãe cuidar do gramado na frente da casa.

– É aqui. – Anuncio apontado para casa em um tom de bege.

Valentina para em frente a minha casa, por um instante sinto-me embaraçada.

Será que deveria chama-la para entrar? Penso.

Mas suas palavras seguintes me fazem concluir que não.

– Então nos vemos amanhã, Norah. – Valentina abre um sorriso.

– Até. – Anuncio com a mão no trinco da porta.

– Norah, espera – começa Valentina – me passa seu numero.

Logo ela tira do bolso um smartphone muito moderno e no mesmo instante sinto meu rosto corar.

Droga! Penso.

– Claro. – digo com um sorriso amarelo.

Tiro do bolso um celular certamente uma versão bem inferior a sua – provavelmente um tijolo do século passado – Valentina observa meu celular e parece se divertir com a situação.

Qualquer um se divertiria, era no mínimo constrangedora uma garota da minha idade possuir um celular que nem câmera tinha. Papai certamente será o culpado pelo meu trauma futuro com minha época de colegial.

– Não ria. – Anunciei sem conter o riso.

– Nossa. Você é meio vintage – anunciou ela em um tom brincalhão.

Rimos.

– Meu pai diz que celulares modernos tornam pessoas burras e acomodadas. – Meneio a cabeça.

Valentina parece não ligar.

– Seu pai deve ser bem conservador.

Concordo em silencio.

Trocamos os números e então eu deixo seu carro.

Mamãe me recebe com um sorriso, ela trazia nas mãos o aparador de grama.

– Belinda trocou de carro?

Nego em silencio enquanto vejo Valentina arrancar com o carro desaparecendo no final da rua.

– É uma amiga da escola. Belinda não pode me dar carona hoje.

Ocultei a parte em que Belinda e eu tínhamos brigado. Conhecia muito bem mamãe para ter a plena certeza que iria atrás de Belinda saber o porquê da briga. E a ultima coisa que queria era Belinda e suas insinuações homofóbicas fazendo a cabeça dos meus pais contra Valentina.

– O jantar está pronto, vamos.

Mamãe me conduzira para dentro.

Certamente aquele dia fora longo, precisava de uma boa refeição e então descansar.


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Notas finais do capítulo

Então? Me diga o que acharam!



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