Amor & Preconceito escrita por L CHRIS


Capítulo 2
Capitulo I - Essa sou eu, Norah Carter


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Às vezes penso sobre á hipótese de outra vida, por exemplo, se não fosse filha dos meus pais, ou se meus pais tivessem decidido não terem mais filhos depois do meu irmão Jordan. Ou se minha mãe não tivesse conhecido meu pai na excursão de 1981. Se meu pai fosse estéril

Ou minha mãe.

Como seria minha vida? Será que teria pais amorosos e controladores como os meus? Seria uma adolescente normal? Ou uma problemática que usa substancias ilegais?

Era difícil saber.

A vida era de fato difícil.

Mamãe sempre dizia que temos uma única vida, e depois da morte iríamos para o inferno ou para o céu. Dependendo dos nossos atos, a alma se dirigia para qualquer um desses lugares.

Meus pais nunca acreditaram em vida após a morte, diziam que a alma era eterna, mas não existiria reencarnação. Nem em outro corpo humano, ou, animal.

Mesmo com todos os alertas e discursos convincentes, eu acreditava em uma outra vida, não necessariamente após a morte. Mas uma vida em sua própria vida, um mundo diferente. Eu acreditava em mudanças. Em escolhas. Mesmo que com 16 anos eu não tivesse muita escolha sobre meus desejos.

– Norah? Oi?

A voz de Belinda me assusta, tirando-me dos meus pensamentos.

– Você ouviu o que eu disse? – Ela indaga impaciente.

Encaro a garota de olhos castanhos e cabelo cor de mel a minha frente, Belinda tinha um rosto levemente quadrado, seus lábios eram grossos mas sem exagero. Tinha um leve rosado em seu rosto – que sempre conclui ser herança de sua família.

Belinda era bonita. E também minha melhor amiga.

– Me desculpa. Estava pensando na prova de química. – Minto.

– Você é tão nerd Norah Carter – Belinda revira os olhos – mas você esquece-se da vida quando está escrevendo nisso. – Ela aponta para uma pequena caderneta bege.

– Me desculpa. Já disse.

Guardo a caderneta em minha bolsa, ajeito meu corpo na cadeira e puxo a mesa de estudos para mais perto do meu corpo.

Meus olhos correm pela sala de História do professor Osias, por sorte ele ainda não tinha chegado.

– Norah, eu quero saber de tudo.

Aquela frase de Belinda me causa um arrepio na espinha, e por algum motivo estranho sinto que estava encurralada.

– Foi normal – comecei sem olhar minha amiga nos olhos – fomos ao cinema e pronto.

Sou breve. Belinda era minha melhor amiga, portanto, conhecia muito bem para saber que se eu começasse a dar muitos detalhes suas perguntas não teriam limites.

– Vocês se beijaram?

Agora a encaro.

– Não! Tá maluca? – Minha voz sai mais alta que imaginara, atraindo alguns olhares curiosos.

– O quê? – Belinda parecia indignada – Norah, em qual mundo você vive?

Por sorte o professor Osias chegara, eu nunca me senti tão feliz por ver aquele homem de baixa estatura, óculos fundo de garrafa e cabelo grisalho.

– Bom dia, garotos. Desculpe-me pela demora. – Anuncia tomando posse do seu lugar.

Respiro fundo e ignoro os olhares de Belinda para mim.

– Norah, me diz. – Murmura Belinda.

– A aula. – Murmuro sem tirar meus olhos do professor que agora sentado em seu lugar pegara seu material.

– Tudo bem, pessoal. Todos abram suas apostilas na pagina 52. Esse semestre iremos estudar questões sociais. – Anuncia em um tom serio mais ao mesmo tempo amigável.

– Mas o que isso tem haver com historia? – A voz vem do final da sala.

– Tudo é história, meu caro. – Finaliza o professor em um tom calmo.

Em qual mundo você vive? A pergunta de Belina ecoa em meus pensamentos.

Belinda estava certa, talvez eu não fosse normal. Pois qualquer garota normal agarraria Alec sem pensar duas vezes. O problema era que eu não me sentia atraída por ele. Em nenhum quesito. Alec era o tipo de garoto que as garotas levantariam suas saias e os pais sorriam pela sorte grande de ter um genro tão afetuoso como ele.

A questão é que sempre achei Alec um tremendo babaca, desde a pré-escola ele já demonstrava o quão imbecil se transformaria no futuro.

“O rapaz perfeito para se namorar.”

“Ele é o atleta com mais medalhas da escola.”

“Tão bom moço.”

Blá, blá, blá.

Pensando agora, acho que o único motivo que aceitei ir nesse encontro desastroso fora à insistência do meu pai – porque a vida já não cruel demais fez o pai de Alec e meu pai melhores amigos – seu argumento principal fora o bordão usado por todos da cidade: “O rapaz era é um bom moço.”

Bom moço. Penso com desdém quando lembro que aquele “bom moço” tentou acariciar minhas pernas por baixo do vestido.

Talvez a melhor parte do encontro fora o tapa que recebeu, e as minhas palavras de despedida.

Vai se foder.”

Se meus pais soubessem de algo assim, provavelmente diriam para ir me desculpar. O inferno seria pouco para uma pecadora como eu. Afinal de contas, o bom moço Alec Simons sempre tem ótimas intenções

Para um garoto tarado e cheio de segundas intenções na cabeça, obvio que sim.

Respiro fundo e resolvo me concentrar em ler a apostila.

Eu adorava o professor Osias, mas sabia o quão rígido ele era. E por mais que minhas notas fossem excelentes em sua matéria, eu sabia que não podia vacilar. Ainda mais se eu quisesse ir para o acampamento de verão com Belina.

Uma batida na porta atraiu todos os olhos, o professor Osias deixara seus óculos de leitura ao lado e fora abrir a porta.

Uma figura indesejada por muitos apareceu, era a diretora Maeva com seu costumeiro olhar ameaçador. Seu físico era rechonchudo, o semblante em seu rosto era sempre sério demais. Ela trazia nas mãos seu famoso leque, se abanando de forma exagerada – levando em consideração o ar-condicionado que havia em toda escola.

– Com licença. – Anunciou.

Só então percebi que não estava só. Em seu lado havia uma figura, de aparência certamente bem mais jovem. Cabelo cor de ouro, sua pele era levemente corada pelo sol, uma franja cobria sua testa, ela usava fones de ouvido, sua roupa não transmitia animação pelo primeiro dia – calça surrada, tênis estilo skatista nos pés, camisa branca por baixo de uma camisa de flanela na cor preta – sua postura irregular mostrara total desanimação, desde que entrara na sala ela não ergueu o olhar para encarar a sala.

Talvez estivesse envergonhada. Penso.

– Que espécie de garota é essa? – Indaga Belinda ao meu lado.

Encaro minha amiga sem entender sua observação no mínimo ofensiva.

– É uma garota normal.

Dou de ombros e volto a ler a apostila.

– Qual, é. Ela está vindo em nossa direção. – Murmura Belinda.

Ergo meu olhar e noto a garota com postura largada, ela tinha olhos azuis, mas era um escuro azul, quase como o mar do Caribe à noite – algo assim - era penetrante, mas não era só isso que chamava atenção, ela tinha um rosto feminino, delicado, sutil, mas sua expressão era séria, seu nariz arrebitado era o ponto alto da sua beleza. Sem duvidas era uma linda garota. Muito diferente das garotas dali. Sem duvida.

Ela sentou-se algumas mesas atrás de mim, e naquele instante Belinda bufa.

Encaro minha amiga com reprovação.

Belinda tinha uma péssima mania de se incomodar com o diferente. Sempre fora assim. Desde os tempos de pré-escola.

Começo a copiar o meu dever em silencio, a fim de terminar o mais de pressa possível.

Com a saída de Maeva, os múrmuros tomaram conta da sala. Todos ali queriam saber quem seria a “descolada” aluna nova.

– Quietos! – Ordena Osias – Senhorita Hentz, é isso? Valentina Hentz.

Valente. É a primeira coisa que me vem à cabeça ao ouvir seu nome.

– Sim. – A garota tem tédio em sua voz.

– Por que a transferência? – Indaga Osias.

– Meu pai se mudou para cá.

– Entendo. Seja bem vinda. Sou professor Osias, sou professor de Historia.

Nenhuma palavra mais fora ouvida da garota até o fim da aula.

***

– Você viu aquela garota? – Indaga Belinda parecendo incrédula.

Cruzávamos o corredor na troca de aula, alunos frenéticos iam de um lado para outro. Trazia meus livros nas mãos enquanto escutara as reclamações de Belina sobre a nova aluna.

– Mas o que te incomodou tanto assim? – Indago não entendendo o motivo para tanta indignação.

Belinda revira os olhos.

– Ela parece um garoto!

Respiro fundo.

Belinda tinha uma ideia tão errada sobre padrões femininos, para ela ser garota estava relacionada usar vestidos e assistir Gossip Girl como se fosse à coisa mais sacana que uma garota de 16 anos pudesse fazer.

– Eu preciso mesmo ir. Tenho Economia agora. Até o almoço. – Me despeço afastando-me as presas de Belinda.

Eu e Belinda nos conhecíamos desde sempre, e mesmo com todos esses anos de amizade, algumas coisas eram impossíveis de serem compreendidas.

– Norah.

Aperto meus passos, eu realmente não queria parar. Aquela voz me causara um arrepio desagradável.

– Por favor. – Alec segura meu braço.

Bufo.

– O que você quer? – Encaro-o impaciente.

– Me desculpe por ontem. Eu não sei o que...

– Chega. Não me venha me encher de desculpas. – Anuncio olhando-o nos olhos.

Giro meus calcanhares e estou pronta para partir, mas Alec é insistente.

– Eu não consigo entender porque me odeia tanto.

– Eu não te odeio! – Protesto.

– Não?

– Não.

Um sorriso nos lábios de Alec me faz sentir arrependimento pelo o que dissera.

Suspiro.

– Eu só te acho um babaca.

O sorriso dele se desfez.

– Norah, você sabe que eu gosto de você.

Suas palavras me causam uma sensação no estomago, mas claramente não era algo agradável.

– Você o que? – Indago com um olhar incrédulo.

– Gosto de você, Norah Carter.

Respiro fundo.

Alec me fitava com seus grandes olhos negro, sua pele era em um tom bronzeado, seu físico era definido – o famoso garoto academia – seu rosto já começara apontar os primeiros sinais de barba, seu nariz era levemente torto e seu cabelo era liso em um corte tigela que sempre me lembrara dum garoto de 11 anos do que um rapaz de 18 anos.

– Eu realmente preciso ir. – Concluo emburrada.

Puxo meu braço esquivando-me do seu toque. Sigo em passos apressados para o banheiro.

Para minha sorte estava vazio, concluo que ficaria assim por algum tempo, já que o sinal para troca de sala já havia tocado.

Encaro meu reflexo contra o espelho, cabelos cumpridos em um tom castanho escuro, liso com ondulações indo até o meio das costas. Meus olhos era em um tom verde piscina – herança de minha mãe – meus traços eram comuns para uma garota de 16 anos, sobrancelhas levemente escuras, lábios levemente rosados, nariz arrebitado, rosto fino, corpo esguio sem grandes atributos – seios – e curvas.

Respiro fundo e molho meu rosto com água fria.

Por mais babaca que Alec fosse, me causara estranheza a ideia de alguém como ele gostar de mim.

O que tem de errado comigo? Indago.

Ouço a porta do reservado se abrir, naquele instante eu sabia que não estava sozinha, limpo meu rosto rapidamente com as mãos, odiara parecer que estou chorando.

Meus olhos encaram a figura que agora caminhara em minha direção e liga a torneira no lavabo ao lado do meu.

Sua silhueta esguia, mas seus seios pareciam firmes por debaixo da camisa de flanela.

Por um momento eu me lembro da voz de Belinda.

Ela parece um garoto!”

Engulo a seco.

Um garoto não tem seios tão perfeitos. Arregalo meus olhos pelo pensamento.

– Está tudo bem? – Indaga Valentina me olhando com estranheza, como se eu fosse alguma retardada. Algo assim.

Pisco algumas vezes.

Que droga! Eu estava parecendo uma retarda. Penso envergonhada.

– N-não – Gaguejo - Eu só queria perguntar como está seu primeiro dia. – Invento qualquer desculpa.

Ela dá de ombros.

– Tanto faz. Não ficarei aqui por mundo tempo.

A garota deixa o banheiro batendo os pés.

Respiro fundo, sentindo-me quente de vergonha. Se aquela garota notasse o que estava observando de verdade. Provavelmente uma hora dessa ela estaria me chamando de estranha.

Eu era estranha.

Estranha.

Deixo o banheiro logo depois.

Desisto da aula de Economia, conhecia exatamente a professora Virginia, ela não tolerara atrasos.

Mas para meu azar, Belinda também tinha desistido de sua aula de Matemática.

Ela conversava com algumas garotas no gramado da área de convivência da escola. Em um primeiro momento penso em passar direito, fingindo não vê-la ali. Mas era quase impossível ignorar seus acenos e gritos.

– Norah!

Respiro fundo e dou meu famoso sorriso amarelo.

Reúno-me ao grupo de garotas que ali estavam uma delas era a Felícia, uma garota com grandes olhos castanhos e cabelo crespo, sua pele branca tinha sardas ao redor dos olhos.

– Estou dizendo, ele não tirou os olhos de mim – anunciou Belina em um tom conquista para Felícia.

– Que ótimo. Eu sempre soube que ele te queria.

Se o teor da conversa for Brandy, certamente Felícia não estava sendo sincera. E aquilo era no mínimo deprimente.

Coloco meus livros ao lado e apanho minha caderneta, quando estou prestes a fazer minhas anotações, Beline diz:

– Ele não me olhou na igreja domingo, Norah?

Ergo meu olhar tirando os fones de ouvido. Encaro Belinda por um tempo e meu único sentimento aquele momento era de pena. Pena por Belinda e sua paixão platônica por Brandy. Um garoto do terceiro ano que enxergara uma formiga no escuro, mas não enxergava Belinda.

– Sim. – Minto.

Belinda solta um suspiro.

Era tão patética sua paixão platônica pelo Brandy Scordie, desde a oitava série ela criou uma fixação pelo rapaz. Mesmo depois de anos Belinda não desistia de Brandy.

Mas no fundo, gostar era isso, era gostar mais de si mesmo do que o outro. Era criar uma fixação por algo que você desejara ter. Nunca amamos o outro de fato. Amamos somente o que nos agrada. Ninguém se apaixona por um defeito se não for do seu agrado.

Mas afinal de contas, o que eu sabia sobre o amor? Logo eu. Norah Carter, que nunca paquerou um garoto em uma festa. Teve o Lohan Smith, mas ele não conta, porque minutos depois do primeiro olhar, descobri que seu namorado o esperara do lado de fora da festa. Como se já não fosse bizarra o bastante, o único garoto que resolvo me interessar era gay. Norah Carter, a filha prodígio. Aluna exemplar, e talvez a única garota que nunca beijara um garoto entre todas que aqui estão.

Essa sou eu.

Norah, Carter.

A santa, Norah.


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Notas finais do capítulo

Eai, o que acharam? Até o próximo capitulo!



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