War Angel - Renascença escrita por Dálian Miller


Capítulo 8
Capítulo 7 - O cair da Rosa Azul


Notas iniciais do capítulo

Acredito que este seja um dos capítulos mais aguardados para quem leu War Angel antes. Confesso que é um dos meus favoritos e foi um dos mais difíceis de escrever também.

O capítulo é dividido entre a narração de Lina e uma narração onisciente.

Sobre a música Shatter Me, todos os direitos reservados a Lindsey Stirling e Lzzy Hale.
OBS: Música do trailer :D :D :D

Boa leitura!!!



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~ Capítulo 7 – O Cair da Rosa Azul ~

 

O meu dia não havia começado como esperado. Eu precisava acordar com a aurora matinal, a fim de não me atrasar para a aula de ballet que minha mãe tanto insistiu. O despertador parecia não querer me ajudar hoje, mas graças ao pequeno Don, o meu plano não falhou totalmente. Pouco mais de vinte minutos era o que me restava para dar um jeito de ingerir algo que me desse bastante energia e arrumar o material necessário para partir.

Depois de uma ágil organização, parti ao centro de cultura da minha escola, onde aconteceriam as aulas. Talvez eu possa calcular a velocidade dos giros das outras meninas e fazer uma performance tão boa quanto elas. Pensei.

Do meu ombro, Don reclamava a respeito de meu irmão. – O amigão nunca me trouxe com ele.

— Acho que depois de hoje, você entenderá. – Respondi seu questionamento com um comentário um tanto perverso a respeito do local e demais pessoas, mas que não deixava de ser verdade. – O mundo está repleto de pessoas idiotas, amiguinho.

Ao entramos na sala, a professora já me aguardava na companhia de algumas meninas e não deixei de perceber seu olhar de superioridade ao me analisar da cabeça aos pés. Então, tratei de vestir-me e aguardar as cordialidades de sua apresentação inicial.

— Bom dia meninas. Meu nome é Elena, serei a professora de vocês durante esses doze meses e hoje iniciaremos nossas aulas de ballet clássico, no entanto, quero ver o que cada uma já sabe. – Senti o sarcasmo em suas palavras, mas, assim como as outras meninas presentes, concordei.

Um a um, os nomes eram chamados por Elena, que só preenchia uma ficha de dados, e enquanto não chegava a minha vez, eu observava a forma como elas rodopiavam e demonstravam graciosidade em seus movimentos.

— Você sabe dançar, Lina? – A pergunta pareceu inocente, mas senti um vento gélido percorrer meu corpo. Eu estava nervosa. Não podia dizer que sim, mas não havia nada que eu não pudesse aprender até então. Tentei responder, mas fui interrompida pelos sussurros de Don avisando que havia chegado a minha vez.

— A professora está te chamando.

— Lina Ryser? Lina Ryser está aqui? – Indagou enquanto vasculhava a procura de algum corpo em movimento.

Ao me apresentar, Don gesticulou com os lábios as melhores palavras que eu poderia ouvir naquele momento: – Boa sorte, Lina! Você consegue!

Agradeci e segui ao centro do círculo feito pelas alunas. Haviam por volta de 40 pessoas com os olhares focados em mim naquele instante. Meu coração bateu acelerado e pela primeira vez, eu não podia mover minhas pernas com total controle.

— Lina, tudo bem? – Perguntou Elena.

— Sim. – Respondi em voz baixa. Nunca dancei ballet e nenhum outro ritmo clássico, apenas danças livres. Não sei por que mamãe me colocou nessas aulas. Pensei um pouco arrependida, mas já era tarde demais para voltar atrás. Continuei imóvel por mais alguns segundos. O silêncio tomou a sala e os comentários já percorriam cada um dos cantos.

— Vai, Lina! Sei que você consegue. – Don gritou tentando provocar alguma reação sobre meu consciente.

Forçando minha mente a recordar de alguma melodia do CD que minha mãe me entregou ontem, apenas uma percorria meus pensamentos. – Professora, a senhora poderia colocar a música Shatter Me? – Respire fundo. Deixe a melodia te guiar. Ou destruirei esse medo irrisório ou serei despedaçada pela ilusão soberana de minha mente.

Talvez eu consiga fazer um plié. – Um dos passos mais importantes e fundamentais desse ritmo. – Agachei-me na tentativa de mostrar a elasticidade de meus tendões. Todavia, acabei desequilibrando e pondo minhas mãos no chão, lembrando-me de outro passo, não de ballet, de break, mas que poderia disfarçar a quase queda e consistia em girar uma das pernas em volta do corpo. Depois levantei o braço esquerdo delicadamente, em seguida o direito e os movi em um movimento de vai e vem, semelhante ao bater das asas de uma borboleta. A música parecia conduzir os músculos do meu dorso para um lado e meu quadril se inclinava levemente para a direção oposta.

Esse podia ser um jeito peculiar de dançar. Uma forma leve e ao mesmo tempo selvagem. Além do olhar de um predador, saltos, giros e movimentos agressivos diferenciava esse estilo de outros. Era como se eu pudesse sentir cada som, cada nota musical percorrer entre as nervuras de meus braços e pernas. Como chamas dançando ao vento, encerrei aquela sequência com mais um salto acompanhado de um giro no ar assim como uma foice a cortar o vento, e pousei sobre o chão, abaixada, levantando a cabeça logo em seguida.

— Chega! O que foi isso, Lina? – Elena perguntou surpresa.

— Ela dançou, professora. – Don respondeu em meu lugar.

Fiquei apreensiva pela maneira de falar de Elena. Seu silêncio me torturava. – O que achou, professora?

— Nunca vi tanta brutalidade no ballet. Sua apresentação foi a pior da turma. – Todos riram de mim. – Não quero você no meu grupo.

— E você é a mais feia! – Gritou Don na tentativa de falha de me defender.

— Para, Don! – Apenas baixei a cabeça, apanhei minhas coisas e deixei a sala.

— Vai tarde. E leve esse bicho insolente. Ele seria mais útil como comida de serpentes do que aqui.

Aquelas palavras despertaram algo que nunca senti, mas que queria liberar com toda intensidade. – Eu aceito você falar qualquer coisa de mim, mas não insulte meus amigos. – Empurrei Elena que caiu sobre as alunas. – E quer saber? Eu que não quero entrar nessa companhia de garotas mimadas e choronas. – Sai da sala e bati a porta com força. Logo em seguida pude notar marcas de queimado deixadas no assoalho de madeira por onde dancei e uma fumaça sair pela maçaneta de metal da porta.

***

Uma semana antes

— Esse é o homem do qual falei outro dia: Tsifer, o demônio das lâminas de fogo e dominante de magia nível sete.

Sem deixar ser notado, um pequeno demônio da mesma classe de Tobby se aproximou do lorde e o serviu com um licor preparado a base de sangue e ervas. – Interessante. – Virou-se para o lado e cuspiu no chão. – Imbecil! Falei que queria com sangue de um grifo, não de qualquer quimera. – Ádrian jogou a taça nos pés de seu servo, derramando o restante do conteúdo, e ordenando que trouxessem o líquido certo. Depois voltou o olhar para Tsifer. – Pronto para sua primeira missão?

Ele deu um passo à frente. – Já nasci pronto. Será uma honra servi-lo. – Respondeu.

— Gostei de você demônio das lâminas de fogo. Então, a missão é o seguinte: Quero aquela criança morta.

— Poderia ser mais específico senhor?

— Aquele garoto filho de um feiticeiro e uma humana. Um pequeno híbrido que poderá ser um problema futuramente. – Akira o interrompeu.

— Senhor, eu mesma posso fazer isso com... – Foi interrompida.

— Não, você não pode. E sabe por quê? – Aproximou-se dela. – Porque você é fraca. Sua inútil. – Deferiu uma tapa sobre sua face. – É por isso que você nunca mais poderá vê-lo. E não estou falando de Witc. – Retornou ao seu trono.

— Senhor, estou quase atingindo o nível cinco de magia. Peço que aguarde um pouco mais e logo poderei...

Ele se levantou novamente, tocou a pele de Akira e depois seus lábios. – Se eu fosse você não seria tão relutante em acatar minhas ordens. Esse rostinho bonito não durará tanto tempo nesse ritmo.

— Senhor, quando poderei ir? – Perguntou Tsifer.

— Dentro de sete dias. Tenho outros serviços para você no momento.

***

Hoje.

Sentados sobre pedras próximas ao portão principal, Akira e Tsifer debatiam sobre o objetivo daquelas missões. – Por que ele deseja tanto a morte daquele garoto? – Ela não respondeu. Seus pensamentos viajavam por outro lugar. – Ei! Inferno chamando. – Tsifer moveu a mão em direção a sua espada.

— Nem tente. – Rebateu sua dúvida mantendo o olhar fixo à frente.

— Tudo bem, tudo bem. Só acho que por dentro de toda essa armadura há uma menina amedrontada, se desfazendo em lágrimas, desejando fugir desse lugar todo momento. – Ele se aproximou por trás de Akira e acariciou seu pescoço. – Essa rigidez não passa de fachada não é, princesinha?

Ela rapidamente sumiu e reapareceu a alguns metros de distância, de onde agarrou seu arco, retirou uma flecha de uma bolsa nas costas e atirou em Tsifer, todavia, ele também era rápido. Logo sacou sua espada e rebateu a flecha lançada. – Você é bem corajosa para uma menina de 16 anos.

— Como sabe minha idade? Responda ou atiro outra vez.

— Vou pagar para ver então. – Ele partiu em direção de Akira que logo correu contra uma árvore morta daquela gramínea e saltou lançando mais uma flecha em seguida, e acertando o braço direito daquele demônio.

— Confesso que por essa não esperava. Se você quer lutar para valer, então lutaremos. É a minha vez. – Labaredas surgiram em volta da espada trazendo uma nova moldura e tamanho àquela arma. – Pensou que apenas suas setinhas poderiam me matar? Veja isso: – Seu braço começou a regenerar-se. – Agora verá o poder de um demônio de verdade, sua...

Ambos foram lançados para lados opostos e uma sombra surgiu entre eles. – O que está acontecendo aqui? – Perguntou o lorde irritado. Na tentativa de escapar, Tsifer argumentou que ensinaria a sua companheira como se comportar. Ádrian se aproximou de seu servo e o jogou para longe, ordenando que fosse cumprir a ordem dada. – Somente eu poderei tocá-la. Já informei sobre sua missão, então suma da minha frente! Agora! – Gritou.

Do chão, Akira pediu para ir na missão com ele, entretanto, para o lorde, ela não estava pronta. Sorrateiramente, ele se aproximou dela. – Sabe o que teria acontecido com você se eu não tivesse interferido? Você teria morrido vergonhosamente. – Cuspiu em seu rosto. – Ser inútil. – Ele a envolveu numa esfera de luz, a ergueu e começou esmaga-la. Era possível ouvir gritos de todos os lugares do castelo. – Não a matarei hoje. Isso foi apenas para você aprender seu lugar. – Ádrian retornou ao castelo deixando-a jogada entre as pedras e banhada com seu próprio sangue.

***

Não quis permanecer na escola após a discursão com Elena. Mais uma vez comprovei minha teoria sobre a ignorância do homem perante a diversidade cultural e formas de tratamento para com o outro. Como se não bastasse, ainda perdi para meu irmão em meu próprio domínio. Hoje eu realmente não estou com sorte. Será que este corpo frágil será capaz de deter tanto conhecimento algum dia? — Isso está me deixando louca. Não quero mais ser chamada de gênio. Acho que vou jogar mais um pouco para relaxar. – Procurei por um jogo entre os CDs de minha estante, mas não encontrei. Sabia que poderia ter deixado no quarto de Witc. Levantei-me para ir busca-lo, todavia, meu pé enroscou no fio do controle do videogame. – Droga! – Algo parecia não querer me deixar sair dali.

***

Chegando na janela do quarto de Witc, Tsifer murmurou ao vê-lo dormir. – Então esse é o garoto? – Por que ela queria tanto vir? Pensou.

Ele assumiu sua forma de sombra, entrou no local e logo em seguida retornou a forma física para usar suas espadas no modo de chamas. – É o seu fim, garoto... – No entanto, Lina abriu a porta naquele instante, e viu seu irmão em risco. Numa atitude instintiva de grupos, ela correu para tentar salvá-lo.

— WITC! – Berrou entrando em sua frente enquanto chamas azuis surgiram em torno de seu corpo e se chocaram com o vermelho ardente do fogo nas espadas de Tsifer. Ela caiu próxima a cama e ele foi repudiado pelo escudo da garota.

— Essa menina... Como ela possui tanto poder? – Olhou para o fogo em suas mãos que seguiam espalhando-se pelo o restante do braço. – Odeio quem atrapalha meus planos, mas preciso sair daqui por enquanto. – Ele saltou a janela e fugiu enquanto Lina permanecia caída próxima à cama de Witc. No choque, as lâminas atingiram seu abdômen em forma de um “X”, quebrando a barreira mágica de proteção criada para protege-la. O ataque continha poder suficiente para parti-la ao meio, no entanto, seu escudo amenizou os danos, na medida que as chamas que surgiram em volta da irmã do bruxo serviram como um contra-ataque que afugentou o demônio.

Após o barulho, Witc acordou nervoso e com a voz trêmula por ver todo aquele sangue espalhar-se pelo chão. Ele a abrigou entre seus braços e indagou: – Lina, o que aconteceu?

— Você estava em perigo e eu o salvei. Witc... Você também me odeia? – Perguntou Lina.

— Por que está perguntando isso agora? Vou chamar a mamãe e o papai, espere um pouco, espere... – A apoiou sobre a lateral da cama.

— Witc... Sinto muito pelas vezes que te deixei irritado ou te fiz chorar. – Um fio de lágrima correu por seu rosto. – Diz para a mamãe que eu a amo muito, mesmo nunca tendo mostrado isso a ela. – Pôs a mão sobre a barriga e notou o sangue entre seus dedos. – Fala para o Don que ele é o meu melhor amigo e que nunca vou esquecer o que ele fez por mim hoje...

Ele agarrou uma das mãos da irmã e tentou acalma-la. – Lina, você se lembra da vez que brincamos no jardim e quebramos as roseiras?

— Sim...

— Depois você plantou aquela roseira azul e disse que era uma ‘rose’, por que seria igual à mamãe... – Uma lágrima percorreu o rosto de Witc ao ver os olhos verdes de sua irmã se fechando, e notar uma pétala azul trazida pela brisa serena da noite, que entrou pela janela e caiu sobre a bravura de uma jovem herdeira. – Mamãe! – Gritou. – Lina, vai ficar tudo bem, por favor, aguente um pouco mais... Não me deixe sozinho...


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Herdeiros - Origem

Final do arco: Renascença