Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 8
Oito - Quem é você?


Notas iniciais do capítulo

Eu não devia está aqui. Mas estou.
Meu dia não foi legal, estou meio desanimada e como esse capitulo já estava quase terminado, resolvi deixar os estudos de lado e terminei de escrever ele e vim postar.
Bem vindos leitores novos e boa leitura.



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Oito – Quem é você?

Liz me conduzido pelo corredor da escola numa velocidade impressionante, sua mão estava agarrada na minha como se sua vida dependesse disso, fato que me impossibilitava de soltar, tamanho era o aperto. Então paramos no vestiário da escola, nos fundos da quadra. Ela entrou primeiro depois que soltou minha mão, entrei depois dela. E a primeira coisa que vi foi Matt, o cabelo cacheado bagunçado fazendo os fios formaram uma auréola no topo da sua cabeça. Ele estava sem camisa e tentava ver insistentemente algo na sua costa com o espelho do vestiário.

– O que aconteceu? – me pronunciei quando não consegui ver o que havia de errado. Matt parecia perfeitamente bem, não existia sinais de machucados ou algo que denunciasse o que tinha ocorrido.

Ele olhou para mim através do espelho, os olhos escuros assustados.

– Mostra pra ele. – Liz mandou e tinha uma dose diversão no jeito como ela disse e no brilho dos olhos verdes.

Observei quando Matt virava de frente para o espelho e mostrava sua costa pra mim, ele apontou com o indicador a pele desnuda atrás do ombro, apertei os olhos naquela direção e dei um passo até ele para ter certeza do que eu estava vendo.

– Quem é Alex? – perguntei e olhei em volta ao passo que Liz começava a rir e Matt dava um suspiro resignado.

Havia ali, na pele de Matt, escrito com uma letra delicada e elegante um nome em tinta preta: Alex.

– Eu não sei. – disse e se sentou no chão, de costas pro espelho.

– Ele acordou com isso aí na pele. – Liz falou. – Mas só percebeu durante a aula de educação física quando Mark tirou uma com a cara dele.

– O que eu vou dizer pros meus pais? – e afundou o rosto entre as mãos.

– Isso é de verdade? – perguntei.

– Não, Noah, sai com água e sabão. Claro que é de verdade! – Liz disse, uma ponta de irritação na voz.

– Ok. Desculpa, pergunta besta. – levantei os braços em forma de redenção.

Me sentei ao lado de Matt, no chão.

– Você não lembra do que fez noite passada? – perguntei, porque já tinha percebido que essa tatuagem era fruto de uma das noites loucas junto de Liz.

– Lembro de beber muito. – disse baixinho, olhei para Liz.

– Não me olhe assim, não sou a babá dele e além do mais, assim que chegamos na festa Matt fez questão de se mandar com sei lá quem e só vim encontra-lo hoje na escola. Se tivesse vindo conosco, ia saber disso. – cruzou os braços e olhou pro lado.

Não era de hoje que Elizabeth estava ressentida comigo e com meu atual hábito de bom garoto, que se resumia a obedecer meu pai. Ela achava que eu estava desperdiçando minha vida ao agir desse jeito, mas não era bem assim. Eu estava apenas tentando ter meu celular e minha mesada de volta.

Bufei.

– Kiera pode dá um jeito, Matt. – falei, na esperança de estar certo.

– É verdade. – Liz se abaixou na frente do Matt e o obrigou a olhar pra ela. – Kiera é uma tatuadora talentosa. Se alguém pode dá um jeito nisso, esse alguém é ela.

– Kiera! – exclamou como se só agora tivesse pensado nela, o que de fato aconteceu. - Vamos logo. – o moreno se levantou num rompante, vestiu a camisa do uniforme escolar e então saiu do vestiário, nós o seguimos.

###

O sábado começou tão quente quanto um dia no deserto, o que foi estranho o suficiente porque estamos no inverno aqui, em Dickson. Fato que devia significar chuvas e trovões e muito frio. No entanto, o sol estava brilhando e esquentando como nunca. Meu pai estava de bom humor, por isso inventou de fazer hambúrgueres para o almoço, até mesmo deixou que eu chamasse um amigo para o almoço. Mas eis o problema: além de Liz e Matt, que estão permanentemente proibidos de vir a minha casa, não tenho nenhum outro amigo nessa cidade.

Isso mesmo, pode me colocar na lista dos antissociais de Dickson.

Então depois de dizer ao meu pai que eu não tinha ninguém para convidar, ele se limitou a lançar um olhar meio ressentido pra cima de mim.

– Eu estava pensando em convidar alguém. – acabou dizendo depois que ficamos tempo demais em silêncio e eu já estava me dirigindo para dentro de casa. Apenas parei, e olhei pra ele. De frente para a churrasqueira, eu não podia ver o seu rosto então não dava pra saber se ele estava falando sério ou não.

– O que? – me limitei a perguntar.

– Convidar alguém. – repetiu e eu estreitei meus olhos pra cima dele. Ele não podia está falando de uma mulher, não é? – Uma colega de trabalho. – ah, sim. É uma mulher.

Ergui uma sobrancelha e ele me olhou. E nesses breves segundos, tivemos uma conversa silenciosa que se resumiu à minha não concordância com isso ao passo que ele deixava claro que era o pai e o mais velho ali, então eu tinha que segui suas ordens. Resumindo: dei de ombros, totalmente resignado com isso.

Eu não tinha nada contra o meu pai conhecendo mulheres e tendo seus intercursos sexuais, pra falar a verdade quando isso acontecia, Mike ficava num bom humor de dá inveja. O problema mesmo era que papai achava que qualquer mulher podia ser minha “nova mamãe” e isso nunca dava certo, porque meu pai tinha um gosto péssimo para mulheres. Eu não tinha dúvidas de que existia uma mulher legal por aí, que tinha capacidade de o fazer feliz e ser uma boa madrasta pra mim, mas eu duvidava de que ela vivesse em Dickson. Na real, eu torcia internamente para que ela estivesse em Los Angeles.

– Você vai adora-la, Noah. – ele disse enquanto entrava em casa e eu ficava no seu lugar no comando da churrasqueira.

– Eu aposto que sim. – murmurei irônico.

Coloquei mais carvão na mesma e assoprei para ver se o fogo ganhava vida, não deu certo. Então acabei por desistir. Não acordei com muito animo hoje, na verdade me sentia cansado e meio irritado, dois sintomas que denunciavam minha noite de sono péssima. A insônia tem se tornado uma amiga chata frequente, coisa que eu acho que se deve as quantidades de cigarros que ando fumando ou a recém abstinência dele, já que a falta de mesada tem me impedido de comprar mais e como Liz não anda os levando para escola por medo de ser pega de novo, acabo ficando sem a minha preciosa nicotina e isso tem me afetado mais do que gostaria. Pois nunca fiquei tão suscetível a irritação como agora.

– Noah! – Mike chamou. Olhei pra ele, que estava parado na entrada da porta do quintal, o telefone da casa na mão. – Telefone pra você!

Franzi a testa, meio confuso e fui até ele. Quem ligaria pra minha casa? Liz ou Matt não podia ser, eles sabiam da proibição do meu pai e não seriam tão loucos de confrontar as imposições do meu pai e ferrar de vez minha vida. Os olhos castanhos do meu pai caíram sobre mim desconfiados, e eu sabia que ele estava pensando o mesmo que eu: Que era Matt ou Liz ligando. E aposto que ele já estava preparando seu sermão mentalmente.

Peguei o telefone branco da sua mão e coloquei na orelha.

– Alô?

– Noah? É o Will.

Franzi mais a testa, meio desconfiado se eu estava mesmo escutando direito.

– Will? – e lancei um olhar para o meu pai, enquanto o via relaxar e sair de perto de mim. Entrei em casa.

– Isso, sou eu. – ele riu, e o som me pareceu nervoso. – Tentei ligar para o seu celular, mas só deu na caixa postal.

– É, ele está com problema. – murmurei ao me lembrar que meu pai detinha meu celular em algum lugar dessa casa. – Mas como conseguiu meu número de celular? E o número da minha casa?

– Isso não vem ao caso agora. – e por algum motivo tive vontade de rir, porque existia um certo tom de vergonha na voz dele e eu quase podia ver seu rosto desconcertado. – Eu te liguei porque, bom, você disse que precisava de aulas de reforço, então eu pensei no que você disse na biblioteca... – e meu rosto esquentou quando me lembrei das coisas que eu tinha dito, no que tinha pensado e no modo como ele disse que eu era uma graça. Abaixei meu rosto e observei meus pés, o piso da cozinha e agradeci mentalmente por ele não poder ver meu rosto. – e resolvi aceitar, se ainda quiser é claro.

– Eu-eu quero. – gaguejei inutilmente tamanha foi minha surpresa por ele está aceitando isso agora, eu até mesmo já tinha me conformado com a ideia de Fabi me ajudar ou de reprovar no ano.

– Ah, que bom. – Will soou tão aliviado que era como se ele tivesse prendido a respiração até ouvir minha resposta. – Podemos começar hoje.

– Agora?

– Você está ocupado agora?

– Na verdade, não. – então pensei no que meu pai disse, sobre eu poder chamar alguém para almoçar conosco enquanto ele chamava sua “colega de trabalho” também. - Mas o meu pai está cozinhando hambúrgueres no quintal e... – eu mordi meu lábio, nervoso. Por que eu estava tão nervoso? – Você quer almoçar aqui? – silêncio do outro lado da linha e eu me xinguei mentalmente por isso. Agora Will deve estar achando que estou dando em cima dele, do jeito que ele é egocêntrico não duvidaria que seja isso que ele está pensando. – E então poderíamos estudar depois. – me apressei em concertar qualquer que seja a coisa que ele pensou.

– Almoçar aí? Eu não sei... – suspirou. – Almoçamos em família nos fins de semana. – explicou.

– Ah. Tudo bem então. – e mordi a parte interna da minha bochecha, uma pontinha de decepção me assolou.

– Mas acho que eles vão entender. Espere um segundo. – e pelo jeito abafado com tudo ficou, aposto que Will tapou o bocal do telefone com a mão. No entanto isso não foi suficiente para me impedir de ouvir a conversa dele com a mãe.

“MÃE?” – o loiro gritou.

“O QUE? ” – uma voz respondeu.

“POSSO ALMOÇAR NA CASA DE UM AMIGO?”

“QUE AMIGO?”

“O NOAH, MÃE. ELE É LEGAL.” – balancei a cabeça e ri com esse comentário.

“NÃO SEI QUEM É. ENTÃO, NÃO.”

“O PAI DELE TRABALHA NO HOSPITAL DA CIDADE, É O DR.GRACE.”

“DR.GRACE? DR. MIKE GRACE?” – era uma cidade pequena realmente, até mesmo já sabiam quem era o meu pai.

“ISSO.”

Silêncio.

“TUDO BEM, MAS TE QUERO DE VOLTA A TEMPO PRO JANTAR.”

“SIM, SENHORA.”

– Tudo certo. – disse no telefone, alegria adornando as suas palavras. – Estou indo.

– Estou te esperando. – falei e eu estava rindo mais uma vez, sem motivo aparente.

Desliguei, coloquei o telefone no lugar e sai para o quintal. Papai ainda estava ali, os raios de sol batendo contra seu cabelo os fazendo parecer mais claros, a camisa de flanela vermelha parecida demais com a que eu estava usando, mas a minha era cinza. Olhando ele daqui, consigo ver o que tanto as pessoas costumam comentar quando nos veem juntos: a semelhança. Nós temos o mesmo porte, a mesma cor castanha no cabelo e os mesmos traços no rosto. Vovó costuma dizer que sou uma cópia mais nova de Mike, mas ela não diz isso com um ar saudoso de quem sente saudade do passado, ela diz isso com um ar amargo com se sentisse muito por mim, por eu ser tão parecido fisicamente com alguém como ele. E as vezes, sinto muito por mim mesmo. Não por ser parecido com ele, mas por não ser parecido o suficiente. Pois ainda encontro traços de Erica em mim. A forma alongada e magra dos meus dedos vem dela, assim como a personalidade e o traço estranho e dourado nos olhos ou a pequena cicatriz no dedo indicador esquerdo ou até mesmo o sinal de nascença no pescoço, que compartilho com Maya e que nos lembra todos os dias de quem somos filhos afinal.

– Ei. – ele chamou. Me aproximei dele e vi que o mesmo já tinha colocado a carne para assar. – Quem era no telefone?

– Um colega da escola. – contei. – O chamei para almoçar conosco.

– Que bom! – sorriu, mostrando todos os dentes. – Anna também está vindo para almoçar conosco.

– Bacana. – falei apenas para dizer alguma coisa.

– Ah, ela vai trazer a filha quase da sua idade. – e tocou no meu ombro, todo orgulhoso com esse fato como se isso fosse me deixar orgulhoso também.

‘Tudo bem, ela tem uma filha. Mas e daí?’ tive vontade de perguntar, mas se eu fizesse isso ia estragar meu plano de querer ser amigável e consegui meu castigo reduzido. Então apenas sorri amarelo.

Eu não sabia bem de onde vinha essa coisa do meu pai de empurrar garotas pra cima de mim ou de querer que eu as admirasse como qualquer garoto da minha idade faria, mas o problema era que eu não me interessava tanto por garotas assim. Claro, eu namorei com a Bianca por um bom tempo, mas na real éramos mais amigos que namorados. Era apenas que não existia tanto interesse da minha parte para com alguém do sexo oposto ou do mesmo sexo. No entanto tinha vezes que escapava alguma coisa, alguém chamava minha atenção como aconteceu no nono ano, um ano antes que eu conhecesse Bianca. Tinha esse garoto que era do mesmo bairro que o meu. Eu o via nas férias de verão quando saia do internato, mas apenas via. Nunca falei com ele, mas por vergonha das coisas que sentia do que por não ter coragem suficiente, e eu sempre tive muito medo do que Mike poderia pensar se soubesse ou do que as pessoas poderiam pensar se soubessem que um garoto chamava minha atenção mais que uma garota usando minissaia. E isso não me fazia gay, fazia? E no entanto, isso foi há muito tempo. Nunca mais me interessei por nenhum garoto, nunca mais pensei em um garoto desse jeito.

Ao longe escutamos a campainha tocar, papai me passou a espátula e foi atender a porta. Virei uma das carnes, só mais alguns minutos e estariam boas. Eu não queria admitir, mas até que estavam com uma cara ótima e meu estomago estava começando a dar sinal de fome.

– Noah, - Mike chamou e me virei pra ele. – essas são Anna – me apresentou uma mulher alta e esbelta, os cabelos ruivos curtos na altura do pescoço, os olhos muito escuros como uma noite sem estrelas. – e Isabella – com o mesmo cabelo ruivo da mãe e os olhos escuros, existiam sardas em volta do nariz que a faziam parecer inocente e infantil demais, mas tinha alguma coisa no modo como o canto da sua boca estava torcido que denunciava seu aborrecimento em está aqui. – Garotas, esse é meu filho: Noah.

– Prazer. – dei a espátula para Mike e estendi a mão para elas.

– Prazer, Noah. – Anna disse ao apertar minha mão.

– Prazer. – disse Isabella a contragosto sem apertar minha mão, os braços cruzados, depois que recebeu um olhar da mãe.

A campainha tocou mais uma vez.

– Com licença. – e sai de perto delas.

Atravessei a cozinha e a sala até chegar a porta da frente. E a abri. Will estava ali, de bermuda, camisa azul clara e tênis, usando o óculos de sempre de lentes redondas, o cabelo loiro meio bagunçado e trazia uma mochila nas costas.

– Oi. – falei e ele sorriu, o seu sorriso torto que me causava irritação por nunca parecer autentico.

– Oi. – acabou respondendo.

– Entra. – e dei espaço para que ele entrasse.

– Onde posso deixar...? – e indicou a mochila.

– No meu quarto. Me dê aqui. – Will me deu sua mochila e pedi que ele me esperasse na sala enquanto eu ia no meu quarto e deixava a mesma lá.

Apenas corri escada acima e larguei a mochila em cima da minha cama e desci o mais rápido que pude.

– Vamos. – falei assim que desci. – Estão todos no quintal. – comecei a andar e Will me seguiu. – Espero que goste de hambúrgueres caseiros. – e saímos no quintal.

– Ah, sim. Eu gosto bastante.

– Então espero que esteja com fome.

– Sim, sim. – e olhou pra baixo.

– Tudo bem? – perguntei no meio do caminho, meu pai já tinha nos visto e estava vindo na nossa direção.

– Sim. – falou e olhou pra mim, sorriu mais um pouco pra me convencer de que estava bem.

– Você deve ser o amigo de quem Noah falou tanto. – papai fez questão de me constranger e olhei pra baixo. Eu nem tinha falado tanto dele, só disse que tinha convidado alguém para vim almoçar.

– William Moore. – e Will estendeu a mão a frente, que papai apertou com um sorriso.

– Mike Grace.

– Tem uma bela casa, Senhor Grace.

– Obrigado, William. – disse e me surpreendi por meu pai está sendo tão amigável, nem mesmo o olhou desconfiado para Will ou fez todo um interrogatório para saber o passado do garoto. – Fique à vontade.

– Me chame de Will. – mas o mais surpreendente era Will. Todo educado e gentil como um personagem do século passado.

E ele foi assim durante todo o almoço: Will super educado e roubando toda a cena. Até mesmo Anna, a candidata a minha madrasta, caiu de amores por ele e me peguei pensando se papai perderia as chances com ela. Mas a surpresa veio de Isabelle. Ela tinha se mantido emburrada e com a língua afiada durante todo o tempo com qualquer pessoa que tentasse falar com ela, por isso me limitei a me manter longe dela. No entanto, a garota não foi pálio para os encantos de Will. Pois toda vez que ele dirigia uma palavra a ela, a mesma se derretia por completo e eu tinha certeza de que o loiro tinha acabado de ganhar mais uma admiradora. Ele era um prodígio com as palavras e com a arte da manipulação. O seu jeito de agir só me lembrava cada vez mais um predador, seduzindo a presa até o ponto de atacar. Me perguntei durante o almoço se ele tinha aprendido isso sozinho, se alguma coisa de ruim tinha acontecido para que ele fosse obrigado a agir assim ou se tudo isso é o que, no fim, ele é.

– Eu li um dos seus artigos, Will. – Anna comentou. – Você escreve muito bem.

Seus olhos azuis brilharam com o elogio por trás das lentes.

– Está sendo gentil.

– Não estou. – riu. – Você realmente escreve muito bem.

– Então, você escreve? – meu pai entrou na conversa.

– Will escreve no jornal da escola. – respondi.

– E tem um blog. – Isabelle se pronunciou. Todos olhamos pra ela, pois a mesma tinha permanecido em silêncio o almoço inteiro. A garota corou imediatamente. – Eu sei porque uma amiga lê.

Percebi que não era só a sua amiga que lia o blog do Will. Mas de qualquer forma, essa era nova: Will tem um blog. Guardei essa informação. Talvez eu desse uma olhada no que ele escrevia ali mais tarde.

– Seu blog é sobre o que? – papai perguntou.

Bebi um gole da minha coca, o fitando. Também queria saber sobre o que o loiro escrevia.

– Sobre a cidade. Os eventos, a escola, sobre os moradores. – respondeu simplesmente.

– Ele usa o blog para arrecadar doações para o orfanato e para o abrigo de animais. – Isabelle disse, os olhos brilhando e a voz naquela entonação melosa como se Will fosse um príncipe. Me limitei a revirar os olhos.

– Doações?

– Sim, arrecadamos doações em dinheiro, brinquedos usados e roupas ou alimentos. Tudo isso vai para o orfanato e para o abrigo de animais, onde eu sou voluntario.

– Que trabalho incrível. – meu pai elogiou e lançou um olhar significativo pra mim, como que dizendo ‘por que você não é assim?’. Tomei mais um gole da coca.

Ótimo, agora meu próprio pai é do Time Will.

O resto do almoço seguiu essa linha: todos endeusando o Will. “Ah, Will isso é tão legal. Ah, Will é tão bom ver um garoto da sua idade se preocupando com o bem estar do próximo. Ah, Will seu blog é tão inspirador.” Eu estava ao ponto de gritar o que ele tinha feito com Liz na escola ou como ele era masoquista o suficiente para continuar na companhia de Mark. No entanto me segurei. Permaneci na minha, sorrindo quando necessário ou revirando os olhos quando meu pai começava a babar demais em cima do loiro. Parece que Mike encontrou em Will tudo que ele sempre quis que eu fosse, e isso era frustrante o suficiente para fazer minha autoestima baixar mais um pouco. Mas o alivio veio quando o almoço terminou e eu finalmente consegui tirar Will daquele mar de elogios e o levar para meu quarto, para que começássemos logo os estudos antes que eu mudasse de ideia e o mandasse embora daqui.

– Deixe que eu ajudo a tirar a mesa. – Will se ofereceu.

– Não precisa. – Anna disse. – Eu faço isso.

– Eu insisto.

Bufei.

– Ela disse que não precisa. – falei e ele me lançou um olhar atravessado. – Vamos logo. – ignorei seu olhar.

Era verdade que eu tinha me mantido meio emburrado durante o almoço. E ainda continuava emburrado agora, mas qual é. Experimente ficar duas horas escutando sobre o quanto alguém é incrível e isso e aquilo, qualquer um ficaria irritado. O segurei pelo braço e o tirei dali. Mas Isabella nos seguiu até meu quarto.

– O que vão fazer? – ela perguntou assim que entramos no cômodo.

– Estudar. – falei sem muito interesse.

– Estudar o que?

– Inglês. – Will respondeu. – Noah é péssimo em Inglês.

– Posso ajudar. – disse a ruiva, os olhos escuros o tempo todo em cima de Will. – Sou boa em Inglês.

– Que pena, a vaga de professor irritante já está ocupada. – respondi meio emburrado demais de braços cruzados. O fato de Will ter passado quase que o almoço inteiro seduzindo as pessoas da mesa meio que acabou com o pouco bom humor que me restava. Por que ele tem que ser tão exibido?

– Que isso Noah. Não seja ríspido. – me repreendeu e a ruiva fez cara feia pra mim. – Que tal você vir comigo até o corredor? Tenho uma coisa pra te dá. – a garota assentiu e os vi sair do meu quarto, mas como sou naturalmente curioso acabei os seguindo.

Fiquei parado na entrada do meu quarto enquanto Will não fazia questão alguma de ser discreto. Ele fez a garota ficar de frente pra si e antes que qualquer um de nós dois pudesse prever, o loiro se inclinou em direção a ela e simplesmente a beijou, ali no corredor do meu quarto. Ele a beijou ali como se fosse a coisa mais normal do mundo. Pateticamente observei, incapaz até mesmo de ter uma expressão de surpresa decente no rosto. Quando eles acabaram, Will sussurrou algo no ouvido dela. Então Isabelle se foi, ainda olhou pra trás extremamente corada, mas foi logo sumiu de vista.

– Você enlouqueceu?! – perguntei quando ele se aproximou de mim. – Ela é só uma criança!

– Ah, pare de surtar Grace. – falou e entrou no meu quarto. – Ser um ano mais velho que ela, não a faz uma criança e nem de você um ancião. E além do mais foi só um beijo, Isabelle não vai engravidar e ninguém além de você viu. E também, ela queria isso mais do que eu.

– Que seja. – fechei a porta. – O que disse a ela?

Will tinha parado em frente à minha janela e agora olhava fixamente através de dela.

– Nada demais.

– O que disse a ela? – repeti a pergunta.

O loiro bufou.

– Disse que agora ela ia ter algo para contar para as amigas na escola.

Balancei a cabeça, incrédulo.

– Você é... – eu não conseguia encontrar um adjetivo que definisse Will ou o que ele tinha feito.

Esse garoto ainda era um verdadeiro mistério pra mim. A verdade era que eu ainda não tinha a mínima ideia de quem era William Moore. Ainda.

– O que? – se virou pra mim. – Eu sou o que?

– Não sei. – balancei a cabeça mais uma vez, me sentei na beira da minha cama. – Não tenho a menor ideia de quem você é.

– Ora, eu sou William Moore. Melhor amigo de Mark Hoke e Emma Lewis. 17 anos e estudo na escola Estadual de Dickson, estou no terceiro ano do ensino médio. Tenho as melhores notas daquela escola e sou chefe do jornal escolar. Ah, e sou voluntario no abrigo de animais.

Entretanto, mesmo quando ele dizia aquilo eu percebia que não era o que ele era de verdade. Eram só títulos sociais, que adornavam a sua imagem e o tornavam bonito socialmente. Faziam ele parecer adorável e respeitável, mas não diziam qual era a sua cor predileta ou porque preferia usar óculos em vez de lentes de contato, ou qual a sua comida preferida. Esses títulos não diziam nada sobre William Moore.

– Isso não é quem você é.

– Não? – cruzou os braços, uma sobrancelha arqueada em desconfiança, como se eu pudesse estar brincando com ele.

– Não.

– Então, me diga Grace, quem é você? – devolveu a pergunta. – Porque estou tão no escuro quanto você.

Pisquei sem acreditar que ele havia devolvido a pergunta e pisquei sem acreditar que ele quisesse realmente saber quem sou eu. Esfreguei a palma da mão na bermuda numa tentativa de mantê-las secas, porque tinham começado a suar com o repentino nervosismo que me assolou, porque percebi, ali, enquanto pensava em que resposta dá a ele, que eu não tinha resposta alguma. Quem eu sou? Um garoto de 16 anos, que morava em LA e tinha tudo que queria até que bateu um carro depois que bebeu demais numa festa? Ou o garoto sem amigos que agora mora numa cidadezinha do interior, sem celular e mesada? Ou, quem sabe, o garoto que sem mãe, que foi separado da irmã quando era muito novo e passou a infância toda vivendo entre odiar a mãe ou não? A verdade, era que quanto mais eu procurava uma resposta para essa pergunta percebia que não tinha a menor ideia de quem eu era. Procurei em minhas lembranças alguma coisa que me dissesse algo real sobre mim, mas tudo que encontrei foi nebuloso. Eu gosto de números, pensei. Mas isso não me faz uma pessoa racional. Sou impulsivo e teimoso, coisas que odeio em mim pois Erica também era assim. Sinto falta de coisas que não lembro de ter, como uma refeição com a família completa. Ou o cafuné de mãe quando depois de um dia ruim... Mas então, isso me resume como alguém feito de saudade? Quem sou eu, afinal? No entanto, cheguei a resposta mais idiota e que resumia tudo.

– Eu sou o Noah. – acabei dizendo e o loiro riu imediatamente, alto e claro. A coisa mais pura que ele fez até agora desde o dia que o conheci, até mesmo jogou a cabeça pra trás. Will parecia tão natural enquanto ria que fui obrigado a esboçar um sorrisinho.

Então ele parou. Olhou pra mim, o rosto ainda convertido e diversão. Uma ponta do sorriso brincando no canto da boca.

– Prazer, Noah. – estendeu a mão na minha direção e percebi que ele era canhoto. Apertei-a. – Eu sou Will.

Sorri mais um pouco ao passo que ele sorria mais um pouco. Percebi que o loiro tinha um sinalzinho no canto esquerdo do lábio superior e que quando ele sorria, esse sinalzinho subia, me peguei reparando no quanto isso era adorável e no quanto Will parecia bem mais relaxado desse jeito. E me dei conta de que esse era o primeiro sorriso sincero do loiro. Não existia a malícia ou a ironia de sempre, existia apenas um sorriso sem pretensões, delicado e sincero e tão natural quanto respirar. Me peguei pensando que William ficava bem mais bonito quando sorria assim.


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Notas finais do capítulo

Quem sentiu a fofura? kkkk
Eu tentei fazer uma coisa legal nesse capitulo, tornar esse começo deles natural e nada forçado. Então consegui????!!!!
Comente o que acharam.
Até o próximo.
xoxo.



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