Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 9
Nove - Do que eu tenho medo.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!
Voltei mais cedo do que o esperado, eu sei. É que tive um surto de inspiração e larguei os estudos pra escrever!! o/ fiquem felizes.
Ah, eu sei que ainda não respondi aos capítulos passado, mas é que eu só fiquei com duas opções postar ou responder. Achei que vcs iam gostar mais de capitulo novo rsrs. Acertei???
Bom é isso. Boa leitura e bem vinda galera nova!
Mas principalmente, Bem-vinda My Dark Side!!!!



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Nove – Do que eu tenho medo.

Nos dias que se seguiram ao sábado, eu e Will adquirimos um certo grau de “coleguice”, por assim dizer. Não existia mais tanta implicância entre nós e percebi aos poucos que Will era bem mais do que deixava transparecer. Ele era atencioso e divertido, e nunca perdia a paciência quando eu pedia que ele me explicasse pela trigésima vez o assunto. De um modo interessante, Will sabia como me fazer prestar a atenção no que ele dizia, coisa que não era muito fácil pra mim já que meu pensamento tendia a ir pra longe em aulas teóricas. Acho que por isso matemática é bem mais fácil pra mim: os números mantêm o meu cérebro funcionando e focado no assunto. Mas as coisas entre nós dois tinham realmente evoluído para uma coisa legal e simples. Meu pai era quem mais estava gostando disso, pois Mike achava que Will era uma boa influência e que talvez ele colocasse juízo na minha cabeça, segundo meu pai. Eu não podia culpa-lo por pensar assim, Will era mesmo um filho da mãe com a reputação boa demais para qualquer um contestar. Entretanto, eu me sentia ok com isso. Era bom conversar com alguém normalmente, sem precisar burlar as restrições de Mike.

Quem não estava nada feliz com a minha recente aproximação do loiro era Liz. A garota acreditava piamente que Will era um ser macabro, que estava se aproximando de mim com o intuito de nos ferrar ou melhor, de ferrar ela de vez. Eu não entendia o porquê de Liz ficar tão na defensiva quando o assunto era Will ou por que ela fazia questão de pinta-lo como um monstro, mas eu sabia que tinha alguma coisa por trás desse sentimento todo. Ninguém odeia alguém assim sem um motivo muito bom e eu tinha quase certeza que Matt sabia o porquê. Mas quando o confrontei, o moreno se manteve calado e desconversou o tempo inteiro.

– Está livre as 15hs? – Will perguntou segurando sua agenda em uma mão e uma caneta azul na outra.

Uma das primeiras coisas que descobri sobre Will foi a sua obsessão por organização. Seus cadernos eram organizados por ordem alfabética dentro do seu armário na escola, na sua mochila e aposto que na sua casa também, assim como os livros, que ficavam numa pilha diferente das dos cadernos, sendo que os dois ficavam empilhados um ao lado do outro. Ele tinha uma agenda com seus compromissos para o dia, os horários e sempre que um deles era cumprido, o mesmo escrevia um ‘ok’ do lado. A primeira vez que o vi escrevendo na sua agenda e todos aqueles ‘oks’ escritos do lado de cada compromisso, tive vontade de rir porque nunca tinha visto alguém tão organizado assim e também porque não podia acreditar no quanto éramos diferentes. Pois enquanto ele tinha TOC por organização, eu era um tremendo bagunceiro. Meus livros ficavam em parte jogados no chão do meu quarto ou empilhados de qualquer jeito ao lado da minha cama, já que as vezes eu tinha muita preguiça de levantar dali e ir até a estante. E o mesmo acontecia com minhas roupas e com meus sapatos.

E por causa desse meu jeito largado, Will e eu costumávamos ter algumas discussões sem sentido, como daquela vez que ele arrumou meus livros na estante por ordem de tamanho enquanto eu tomava banho e depois eu não conseguia mais achar meus livros de matemática, ou quando ele viu a minha mesa de estudos e quase teve um ataque cardíaco, me passou um sermão sobre organização enquanto arrumava minha mesa, organizando as folhas de rascunho por data e colocando as canetas e lápis nos seus devidos lugares. Will não entendia como eu conseguia pensar em lugar todo bagunçado ao passo que eu não entendia por que ele tinha que deixar tudo arrumadinho pra poder começar a pensar, ou como ele dizia “se concentrar”.

– 15hs parece bom pra mim. – concordei.

Estávamos combinando um horário para os estudos e como eu não fazia muita coisa depois da escola e como Will fazia muitas coisas depois da escola, era meio difícil encontrar um horário em comum. Mas o loiro sempre dava um jeito. Nessas duas semanas em que estamos tendo aulas, ele sempre foi capaz de encontrar um tempo para em ensinar mesmo que isso significasse o cancelamento de algo.

– Então, eu te vejo amanhã as três. – falou depois que escreveu isso na sua agenda e sorriu pra mim.

Desde o sábado, quando Will veio almoçar na minha casa, o loiro tem se mostrado mais suscetível a sorrisos sinceros. Fato que eu ando apreciando bastante.

Will guardou a agenda na mochila, pôs a mesma nas costas, olhou pra mim.

– Tchau. – falei.

– Tchau. – repetiu e se afastou.

Fechei a porta de casa, desejando que amanhã chegasse logo.

###

Era terça-feira e de quebra era o dia mais frio que eu já tinha enfrentado desde que cheguei em Dickson. O céu estava nublado e havia neve por todo lado, quando acordei. Pensei seriamente em não ir pra escola, porque estava tão friozinho e bom pra dormi que me pareceu uma ideia incrível ficar e dormi. Mas papai teve outra ideia, o que basicamente quer dizer que ele me obrigou a ir pra escola.

Coloquei meu casaco mais quente e luvas pra poder ir. E papai até mesmo preparou um chocolate quente pra mim, já que ele sabe que não gosto nenhum pouco de café. Nós conversamos na hora do café e durante o caminho até a escola, coisa que achei particularmente interessante pois não tínhamos uma conversa civilizada fazia muito tempo e isso foi... legal.

Assim que entrei na sala de aula e me sentei no meu lugar de sempre, Liz apareceu de lugar nenhum e se sentou na carteira a minha frente, virou de frente pra mim e sorriu. Eu sorri de volta e tirei minhas luvas, as guardei no bolso do meu casaco.

– Com frio?

– Um pouco. – respondi. – O clima dessa cidade é bipolar ou o que?

– Você se acostuma.

Eu tinha minhas dúvidas, mas ao que tudo indicava eu não ia sair dessa cidade tão cedo, então, é, pode ser que eu me acostume mesmo.

– Tenho uma coisa que vai te animar. – e sorriu mais um pouco cheia de malicia. Ela enfiou a mão no casaco e me mostrou o que tinha trazido.

Meus olhos se arregalaram imediatamente e eu quis esticar minha mão e pegar o que ela me mostrava, mas não pude tamanha a minha surpresa. Tudo o que pude fazer no fim das contas, foi perguntar:

– Enlouqueceu?

O sorriso dela murchou instantaneamente. Ela fechou a mão em volta do maço de cigarro e guardou de volta no casaco.

– Qual é, Noah. Eu sei que você está afim de um desses a bastante tempo.

Eu não podia dizer que ela estava errada. Eu realmente estava muito afim de um cigarro. Meu corpo inteiro implorava por uma tragada, implorava pela nicotina e pelo sabor amargo da fumaça na minha língua. No entanto, mesmo que minha vontade fosse muita, eu não era idiota e sabia muito bem que ser pego com cigarros na escola não era bom pra ninguém e minha situação já estava ruim o suficiente.

– Mas não aqui. – sussurrei-lhe.

A garota me deu um sorriso de lado.

– Depois da escola. Na minha casa.

– Sabe que eu não posso. Ainda estou de castigo.

– Faz um esforço, Noah. – e me mostrou mais uma vez os cigarros. – Sei que seu pai vai trabalhar depois que te buscar na escola.

Mordi meu lábio. Eu podia fazer isso? Podia fazer meu pai acreditar que eu ficaria em casa enquanto ele ia trabalhar?

– Não é uma boa ideia. – falei por fim.

Eu não podia mentir pro meu pai. Mike estava se esforçando pra construir um relacionamento comigo, eu percebi isso hoje de manhã durante nosso papo descontraído no café da manhã. Foi a primeira vez em meses que sentamos juntos numa mesa e realmente tivemos um café da manhã ‘em família’, sem alfinetadas ou silêncios constrangedores. Talvez estivéssemos evoluindo pra uma coisa bacana de pai-e-filho e eu não queria estragar esse comecinho de algo.

Elizabeth bufou, impaciente, frustrada e irritada. Ela deu as costas pra mim, ficou ereta e fingiu que o quadro branco da sala era interessante.

– Sabe, Noah – ela começou ainda de costas pra mim. Esperei. – desde que você começou com essas aulinhas com William tem se tornado um chato.

– Chato por que não quis ir fumar na sua casa? – cruzei os braços.

– Não me refiro só a isso. – ela se virou de frente pra mim. – Você não sai mais conosco, quase não fala mais conosco durante as aulas e sempre que pode está enfiado naquela maldita biblioteca com o Will.

– Se você não percebeu, eu estou de castigo por sua causa! – me irritei de vez. Ela não podia me acusar de estar os abandonando como se fosse uma escolha minha. – Porque invadi aquela maldita loja por causa de uma maldita rixa que você tem com o Will.

– Eu tenho meus motivos para não gostar de William Moore, ok?

– Isso mesmo, - fiquei de pé e peguei minha mochila. – são seus motivos, não meus. – me afastei dela.

– Noah! – ela ainda me chamou, mas eu já estava sentando do outro lado da sala, bem longe dela.

Me sentei bem quieto na carteira, encostei a lateral da minha cabeça na parede e fingi que Liz não existia durante o resto da aula. Eu bem que senti o olhar dela sobre mim, mas ignorei. Elizabeth não podia dizer que eu estava me afastando dela e de Matt por uma escolha minha, eu nunca faria isso se pudesse escolher. Eles foram as primeiras pessoas a falar comigo nessa escola, eles me acolheram e foram bastante legais comigo quando eu não quis contar o porquê de ter vindo parar nesse fim de mundo. Tudo bem, que eu não vinha mesmo falando tanto com eles ultimamente, mas isso se deve ao fato de eu estar empenhado em recuperar minhas notas e tornar minha situação escolar estável mais uma vez. E sei que Liz se ressente com isso e com o fato de não termos mais saído, os três, para uma noitada de farra e bebedeira como nos velhos tempos, mas será que ela não via que eu também sentia falta disso? Que tudo que eu estava fazendo era para reduzir minha pena? Porque se meu pai confiasse em mim de novo, ia ser mais fácil inserir ela e Matt na minha vida mais uma vez. No entanto o que me irritou mesmo foi a insinuação de que meu afastamento era culpa de Will, como se eu fosse alguém sem opinião própria que era manipulada por qualquer um.

Depois que a aula terminou Liz não veio falar comigo, fato que achei muito bom porque eu ainda estava irritado e se ela viesse falar besteiras no meu ouvido íamos acabar brigando feio. Então como ela não veio falar comigo, eu não fui falar com ela. Nos limitamos a lançar um pro outro olhares atravessados.

– Ok, o que aconteceu entre vocês dois? – Matt foi logo perguntando quando nos encontrou no corredor da escola durante a troca de salas.

– Pergunte a Elizabeth. – falei e joguei o livro de biologia de qualquer jeito no armário, peguei o de Cálculo e soquei na minha mochila.

– Elizabeth? – a garota se dirigiu a mim. – Duas semanas na presença daquele loiro falso e você já está falando como ele, e ainda quer que eu acredite que Will não tem nada a ver com seu afastamento.

Matt passou a mão pelo rosto.

– Eu devia imaginar que uma hora isso ia acontecer. – ele murmurou e senti uma pontinha de compaixão por ele, pois agora o garoto estava no meio do fogo cruzado.

– Eu não estou me afastando de vocês! – acabei falando alto demais. – Quantas vezes tenho que dizer que meu pai me proibiu de falar com vocês?! E você, Liz, sabe muito bem o porquê.

– Agora a culpa é minha, é? – ela cruzou os braços.

– Sim, é. A ideia foi sua.

– Eu não te obriguei a ir comigo.

– Ei, ei. – Matt se enfiou entre nós. Ele colocou uma mão em cada um de nós. –Parou, ok? Vocês são amigos, lembra? – olhou pra cada um de nós.

Eu respirei fundo. Passei os dedos por entre os cabelos. Matt tinha razão, eu e Liz éramos amigos. Não podíamos deixar a nossa amizade acabar assim, por acusa de uma discussão besta.

– Tudo bem. – acabei falando. – Mas ela tem que pedi desculpas.

– Sem chance. – ela virou de costas pra mim. – Não posso pedi desculpa por dizer a verdade.

Matt lançou um olhar significativo para ela, mas a garota não viu por estar de costas.

– Liz. – ele disse, a voz firme e naquele tom patriarcal.

– Peço se ele parar as aulas com Will. – ela se voltou pra mim, olhou bem nos meus olhos. E percebi que ela estava me fazendo escolher. Ou ele ou nós, sua expressão corporal estava dizendo.

Matt olhou pra mim solidário. Ele parecia dizer: “São só aulas, você pode encontrar outro professor.” Mas eu trinquei meu queixo em teimosia. Liz não podia me obrigar a escolher entre eles e Will.

– Você se merecem. – falei e dei as costas pros dois.

– Noah. – Matt chamou e logo ele estava me fazendo parar, segurando meu braço. Me desvencilhei dele. – Está mesmo escolhendo Will em vez de nós?

– Não estou escolhendo ninguém. – falei.

– Diga que vai parar de ter aulas com ele. – Liz disse ao se aproximar.

– Não posso fazer isso só porque você quer.

– Então está de fato escolhendo ele.

Mas a verdade, era que eu não estava. Não estava escolhendo ninguém. Eu estava, no fim, sendo teimoso. Não ia fazer uma escolha estupida só para agradar Elizabeth. Não ia parar de ter aulas com Will só porque ela queria. Eu não ia me sujeitar as imposições dela. Elizabeth não mandava em mim, e se isso significava perder sua amizade e a de Matt, tudo bem. Ótimo. Perfeito. Eu podia muito bem me virar sozinho.

– Pense o que quiser.

– É melhor você encontrar outra mesa para sentar no almoço. – ela rebateu. – Vamos Matt. – ela segurou na mão do moreno e começou a puxa-lo pra longe de mim.

– Matt. – chamei, pois pensei que ele ficaria do meu lado nessa briga.

– Desculpa, Noah. – ele respondeu e sumiu por entre o turbilhão de alunos que estavam no corredor.

E eu fiquei sozinho, vendo meus dois únicos amigos nessa cidade irem embora.

O resto das aulas foi um saco total, principalmente pelo fato de todas elas serem com Liz ou com Matt, eu era obrigado a ignora-los, fingir que ambos não existiam. E isso me trazia um sentimento ruim, que deixava um incomodo no estômago. Mas a hora do almoço foi a pior parte. Eu os vi juntos indo sentar na mesa de sempre como se tivessem feito isso desde sempre sem a minha presença, o que era bem verdade. Fazia apenas quatro meses que éramos amigos, não era uma amizade tão longa assim. Acho que eles nem ao menos estão sentindo minha falta.

– Sem lugar pra sentar? – alguém perguntou do meu lado na fila na merenda. Olhei para a pessoa, apenas para encontrar Will me olhando divertido.

– Está me convidando pra sentar com você? – rebati no mesmo tom de diversão. Ele alargou o sorriso mais um pouco.

O loiro olhou para a mesa que costuma sentar, observou Mark, Emma e Roderick lá sentados. Todos nos seus devidos lugares. Faltava apenas ele. Então voltou a olhar pra mim.

– Talvez. – pegou uma maçã e colocou na sua bandeja. Ele segurou mais uma maçã e me ofereceu, assenti e ele a colocou na minha bandeja.

– Mark não vai se incomodar?

– Não precisamos sentar com eles. – ele pegou um sanduíche atum, me ofereceu um e eu balancei a cabeça em negação.

Olhei para a comida servida ali. Peguei uma fatia de bolo e um copo de suco de laranja, apenas para ganhar tempo e processar direito o que Will estava dizendo. Sentar. Eu. Ele. Só nós dois. Não tinha de anormal nisso. Os alunos daqui faziam o tempo inteiro, mas era Will. O garoto mais popular da escola e que sempre sentava na mesa dos populares com Mark e todo o resto.

– Isso não ia ser estranho? – perguntei pensando nos olhares que íamos receber.

– Ia. – respondeu sem rodeios. E já tínhamos acabado de nos servi. Estávamos parados entre as mesas, onde Will dobraria e iria para a sua mesa e eu seguiria direto para a mesa junto de Liz e Matt. Mas não nos mexemos. Mordi meu lábio.

– Tem uma mesa vaga bem ali. – falei meio baixo, a voz cheia de incerteza.

– Parece perfeita. – ele concordou e começou a ir em direção a ela. Eu o segui com passos apressados e pegando o olhar pasmado e cheio de raiva de Liz sobre mim ao passo que Matt me olhava surpreso assim como o resto dos alunos, incluindo Mark.

Will colocou sua bandeja sobre a mesa e se sentou, me sentei a sua frente. Tomei um gole do suco numa tentativa de disfarçar meu desconforto em ter tantas pessoas olhando pra mim. Não sabia como Will não se sentia incomodado, mas talvez todo esse tempo como o centro das atenções o tenha feito achar isso natural.

– Leu os capítulos que eu marquei? – perguntou e logo depois deu uma mordida no seu sanduiche.

– Sim e são chatos pra caramba. – reclamei, o nervosismo se dissipando.

– Literatura não é chato. – defendeu.

– Tem razão. É bem mais que chato. – e ri e ele me acompanhou, e eu não estava mais desconfortável com todos aqueles pares de olhos sobre nós.

Em nenhum momento Will perguntou porque eu não estava sentado na mesa junto de Liz e Matt. Ele agiu normalmente e isso foi muito legal da parte dele. Isso era uma das coisas intrigantes em Will. Ele nunca se intrometia nos meus assuntos, nunca perguntou por que eu colava fotos no teto ou onde estava minha mãe, ou porque eu não assistia filmes muito violentos ou porque eu virava o rosto quando as cenas de sangue apareciam. Já tínhamos assistido filmes suficientes juntos para ele percebe que eu fazia isso. Mas ele não perguntava, ele não me obrigava a dizer como Liz disse que ele faria, mas ele fazia o contrário: o loiro deixava que eu não falasse. William tinha percebido mais rápido que qualquer um que se eu quisesse dizer, eu diria.

O nosso almoço foi agradável. Demos muitas risadas de piadas sem sentido aparente, falamos sobre os assuntos que eu estava aprendendo em sala de aula e se eu achava que ia bem na prova de Inglês semana que vem, eu achava que sim. Contei a ele a proposta do Professor de Cálculo, sobre eu me juntar à equipe de matemática da escola e como o Professor achava que eu me daria muito bem, já que era ótimo com números.

– Vai dizer sim? – perguntou.

– Ainda estou pensando.

– A competição interestadual já está para começar, se eu fosse você decidia logo.

– Você acha que é uma boa ideia?

– Acho que com você na equipe teríamos alguma chance de ficar entre as finalistas esse ano, além do fato de que a equipe ficaria bem mais bonita com você nela.

Corei imediatamente quando escutei isso, abaixei meu rosto. Observei a minha bandeja de lanche vazia, ela parecia tão mais interessante agora. Will acabou de dizer que sou bonito ou foi só impressão?

– Bom, eu preciso ir. Nos vemos as três? – eu olhei pra ele. O loiro parecia tão normal, olhando o relógio no seu pulso.

– Han-ram. – murmurei e o vi ficar em pé se afastar, levando a sua bandeja. Observei ele ir embora e mesmo depois dele ter sumido do meu campo de visão, ainda continuei onde estava. Pensando no que ele tinha me dito, se aquilo foi um elogio ou só algo sem significado que ele disse para parecer simpático.

Quando me cansei de formar teorias na minha cabeça e já ia me pôr de pé. Liz entrou no meu campo de visão. Ela não parecia mais tão irritada, na verdade o seu rosto trazia uma certa culpa.

– Desculpa. – ela foi logo dizendo sem me dá a chance de perguntar o que ela estava fazendo aqui. – Eu estava errada em falar aquelas coisas. – então olhou para Matt como que dizendo ‘pronto’. E tive vontade de rir, porque se existia alguém nesse mundo capaz de fazer Liz mudar de ideia esse alguém era Matt. O seu poder de persuasão era surpreendente.

– E... – Matt incentivou.

Liz suspirou resignada.

– E não precisa parar com as aulas de reforço com Will, quem tem pendências com ele sou eu, não você. Não seria justo da minha parte fazer você se prejudicar por causa de problemas que são apenas meus. – parecia que ela estava lendo aquilo.

Eu sorri.

– Desculpas aceitas.

Matt sorriu e Liz fez menção de sorrir, mas o sorriso que tinha começado a brincar na sua face foi substituído por uma expressão assustada.

– Noah, - ela começou e eu temi pelo que viria. – seu nariz.

Eu senti algo escorrer por sobre meus lábios e queixo, olhei para baixo e vi uma gota vermelha cair sobre minha bandeja. E com a mão tremendo, levei-a até meu nariz. Toquei meu buço e como se eu tivesse entrado em câmera lenta, meus dedos voltaram manchados de um líquido vermelho. E tudo a minha volta ficou silencioso. Fitei meus dedos sujos de sangue incapaz de parar. O cheiro de ferro e sal ficando mais forte. Me levantei num rompante, a cadeira caindo no processo. Minha mão estava tremendo e meu corpo estava seguindo o mesmo exemplo. Olhei em volta e tudo estava começando a girar. Minhas pernas ficaram fracas e desabei no chão. Liz correu até mim, se abaixou e começou a dizer algo. Mas eu não podia escutar, estava tudo girando. Eu ainda podia sentir o sangue escorrendo por meu queixo.

Vi Liz fazer gestos, parecia está chamando alguém. Matt apareceu no meu campo de visão. Ele rasgou um pedaço a sua camisa e pressionou contra meu nariz, mas o cheiro do meu próprio sangue estava me deixando enjoado. Eu simplesmente o afastei e vomitei. Eu vou morrer, pensei. Já estou morrendo.

Eu podia sentir que estava morrendo. Meu coração estava batendo cada vez mais lentamente e tudo estava girando a minha volta, eu sentia tanto frio. Me encolhi no chão enquanto Liz e Matt com rostos preocupados e desesperados pairavam sobre mim, gritavam algo. Queria dizer a eles que estava com frio, eu podia sentir meus membros tremendo e eu estava com tanto medo. Tanto medo. Pisquei e tentei contar até dez como a doutora de Los Angeles havia ensinado. Pisquei e tentei me concentrar em algo a minha volta, qualquer coisa. Mas o cheiro de ferro e sal me puxava de volta para a realidade.

E o medo só parecia aumentar. Eu vou morrer. Vou morrer numa poça do meu próprio sangue.

Liz segurou o meu rosto.

– Olhe pra mim, Noah. – escutei, mas a voz dela parecia a anos-luz daqui e o rosto dela estava começando a ficar desfocado.

Quis dizer para ela ligar pro meu pai. Ele saberia o que fazer.

Então pisquei mais uma vez e as cores brilharam por trás das minhas pálpebras. Não não não não não. Abri meus olhos e um cenário totalmente diferente do refeitório da escola apareceu diante de mim. As pessoas tinham sumido. Liz e Matt tinham sumido. Me encolhi mais um pouco no chão, me abracei porque o medo tinha ficado mais forte. Eu sabia onde estava e não queria está aqui nenhum pouco. Pisquei outra vez numa tentativa de quebrar a ilusão, de voltar para a realidade mas não deu certo. Pois assim que abri os olhos outra vez eu a vi na minha frente. Deitada no chão como eu. Os olhos azuis desfocados, a pupila dilatada como a de um drogado.

“É bom demais para que eu consiga parar”, ela me sussurrou e a sua volta o sangue se acumulava e percebi que ele estava vindo em minha direção. Em puro pânico me levantei e me afastei, mas não existia lugar algum que eu pudesse usar como refujo. E o sangue dela já estava me alcançando. Eu me encolhi contra a parede e fechei os olhos, coloquei as mãos nos ouvidos para não escutar a voz dela.

“Não conte ao papai, Noah.”- Erica estava dizendo. Fechei os olhos e contei até dez.

– Me tire daqui. Alguém me tire daqui! – implorei quando vi o sangue dela tocar a ponta do meu tênis, o cheiro salgado forte demais para que eu conseguisse respirar pelo nariz, eu puxava o ar pela boca numa tentativa de consegui oxigênio.

Mas ninguém veio e logo tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Capitulo tenso, hein. Espero que a cena final tenha ficado boa, eu me empenhei bastante nela, porque o Noah não é só um garoto mimado, ele tem um passado turbulento que envolve a mãe dele, como muita gente já percebeu.
Quem entendeu o nome do capitulo??? Ou melhor, quem descobriu do que o Noah tem medo???
Não deixem de comentar!
Vou responder os comentários durante a semana, ok?
xoxo.