Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 3
Três - O garoto vendido.


Notas iniciais do capítulo

Oi??



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/651093/chapter/3

Três – O garoto vendido.

Colei as fotos dos meus amigos no teto do meu quarto, assim posso olhar para todos enquanto me lamento até dormi. Estavam lá também as fotos de minha irmã, Maya e do meu pai e da minha mãe. As fotos dessa última eram poucas se comparadas com as dos outros, se eu contasse daria menos de cinco e em todas ela não estava sorrindo, nem mesmo na última e única foto que ela me tem no colo – eu ainda um bebê rechonchudo. Esse devia ser o primeiro sinal de que havia algo errado com ela, que ela faria algo errado, mas é claro que ninguém se importou em prestar atenção nesse detalhe. Estavam ocupados demais olhando ao redor, procurando o problema no lugar errado.

– Noah? – papai abriu a porta e colocou só a cabeça para dentro do meu quarto.

Eu estava deitado transversalmente na cama de modo que quando meu pai chamou, apenas virei o rosto em sua direção. Vi seus olhos saírem de mim e irem pro teto acima da minha cama e observar as fotos ali coladas, mas de onde ele estava não dava não pra o mesmo ver quais estavam coladas ali.

Que? – resolvi perguntar quando ele ficou em silêncio tempo demais. O castanho voltou a focar em mim.

– O jantar está pronto.

sem fome. – respondi e voltei a observar as fotos.

Foquei meus olhos em uma que Bianca aparecia, estava rindo e fazendo pose. As maçãs do rosto altas e os olhos brilhando. Não fui eu quem tirou essa foto, todos os créditos vão para Kate e seu talento com fotografia. Mas eu lembro desse dia, era sábado e tínhamos acabado de completar a primeira semana de namoro, então acho que isso explica o jeito apaixonado dela na foto. Ainda não tinha ligado para, mas ela já o tinha feito e eu tinha rejeitado todas as ligações, simplesmente porque escutar sua voz não ia fazer nada por mim além de aumentar minha saudade de Los Angeles.

Escuto meu pai suspirar audivelmente e fecho os olhos com isso, pois já estou esperando que ele comece um discurso, dizendo que essa minha raiva não vai me levar a nada e que eu tenho que parar com essa birra, mas então eu vou rebater falando que não é birra coisa nenhuma, que minha vida estava em Los Angeles e que enquanto ele insistir que eu fique nessa droga de cidade, eu vou continuar negando tudo que envolve a presença dele ou de qualquer um. No entanto, o silêncio perdura e logo escuto a porta ser fechada. E dessa vez é eu quem suspira.

Mais tarde eu posso descer e fazer um sanduíche pra mim, já que a cozinha está montada agora. Mas por enquanto eu só quero ficar sozinho pensando na coisa estranha que aconteceu hoje, porque eu definitivamente não consigo tirar o garoto loiro da minha mente. Quando fecho os olhos, ainda posso ver o jeito raivoso que ele reagiu depois que o ajudei, mas também posso escutar o que o Grandão N°1 disse a ele: “se considere avisado”. Se considera avisado sobre o que? O que o garoto fez para ter que ser avisado daquele jeito?

Balanço minha cabeça para afastar esses pensamentos, porque está na cara que isso não é assunto meu. Afinal, ninguém pediu minha ajuda.

###

Liz sentou na carteira a minha frente na aula de Química, foi quando descobri que tínhamos horários comuns. Mas afinal, estamos no mesmo ano escolar é meio óbvio que em algum momento fôssemos nos encontrar. Contudo, o engraçado foi que ainda não tinha parado para pensar nisso.

– Hey. – ela disse se virando na carteira para ficar de frente pra mim, seu cabelo roxo estava trançado em suas tranças, cada uma sobre um ombro e assim ela me pareceu inocente demais.

– Hey. – cumprimentei, apenas para não ser mal educado.

Ela se preparou para dizer mais alguma coisa, até mesmo abriu a boca e parecia realmente animada quando um garoto sentou na carteira da fila ao lado esquerdo, na direção da carteira dela.

– Hey, Liz. – ele disse e Liz foi obrigada a tirar os olhos verdes de cima de mim e foca-los no garoto de pele escura ao seu lado. – Preciso te mostrar uma cois...

– Agora não, Matt. – cortou e voltou sua atenção pra mim. – Então, -

– Mas é muito importante. – o garoto disse a interrompendo agora. Me segurei pra não rir.

Liz virou sua cabeça na direção dele, ela cravou os olhos verdes nele e vi quando o garoto, Matt, se encolheu diante da imensidão verde. Foi aí que percebi que Liz era bem mais do que parecia. Eu estava pensando nela como uma garotinha do interior que ficou deslumbrada com o cara novo, que veio de uma cidade realmente grande. Mas vendo o jeito como ela silenciou Matt, percebi que não. Liz podia ser intimidante, e isso foi algo que eu não gostei, mas de um jeito estranho a tornava atraente.

Ela ainda estava intimidando Matt quando o professor de química entrou na sala. Era um homem baixinho de cabelo cacheado loiro que o fazia parecer um querubim e as bochechas proeminentes só contribuíam pra isso. Ele se apresentou com Prof.º Rafael Scott. Liz me sussurrou que ele tinha dado aula pra ela ano passado e que era uma decepção ela ter ficado de ano e agora ter que aguentar ele de novo. E que eu não devia me enganar com a aparência dele, pois segundo ela “ele pode ser um demônio quando quer”. Eu não duvidei quando ele começou a escrever no quadro os assuntos que íamos estudar nesse bimestre e então pediu que abríssemos na página 102 do livro, e o resto da aula foi um tédio total.

Eu viajei a maior parte, marquei algumas coisas no livro apenas pra fingir que estava prestando atenção, em alguns momentos Liz sussurrava coisas para mim, passava-me bilhetes dizendo o quanto a aula estava chata e o quanto ela estava morrendo de sono, apenas me limitei a lê-los. Não os respondia e foi com grande alivio que a aula terminou.

– Exercício da página 115 a 117 para a próxima aula. – o professor disse e todos resmungaram em resposta, inclusive eu.

Qual é, tínhamos acabado de começar o ano letivo.

Guardei o livro de química na mochila e depois a coloquei na costa, hora da próxima aula. Cálculo avançado. Realmente, meu pai quer me ferrar. Vi Liz sair da sala sem falar comigo ou com o Matt. Dei de ombros com isso. Comecei a sair da sala quando, Matt veio falar comigo.

– Qual sua próxima aula?

– Cálculo Avançado. – respondi.

– Nossa, cara. Você deve ser muito nerd pra ter conseguido entrar nessa matéria.

Eu não era tão nerd assim. Tudo bem que eu era bastante inteligente e tinha um certo fraco por números, enquanto Inglês era um total pesadelo. E que, sim, minhas notas eram incríveis na minha antiga escola, eu até mesmo fazia parte da equipe de Decatlo.

– A prova não estava tão difícil assim. – falei e continuei andando com Matt no meu encalço.

Porque para entrar nessa matéria não era só apresentar seu boletim, você tinha que fazer uma prova e tirar uma nota acima de 6, 5.

– Não estava tão difícil assim? – Matt riu enquanto eu parava em frente ao meu armário no corredor, colocava a senha e o abria.

Abri minha mochila, tirei o livro de química e substituir pelo de matemática.

– Cara, você é bem nerd mesmo. – acabei rindo.

Entramos juntos na sala de cálculo avançado.

– Mas parece que você é tão nerd quanto eu. – comentei quando me sentei na carteira perto da janela e Matt se sentou atrás de mim.

– Eu me esforço.

Cheguei à conclusão de que Matt era um cara legal.

O resto das aulas foi bem normal e passaram tão devagar quanto. E até a hora do intervalo eu já tinha me tornado o melhor amigo de Matt. Ele era alguém bem inteligente e bastante risonho, era fácil está na presença dele. Enquanto estávamos na fila para pegar o lanche, Matt me avisou para não pegar a salada porque o conteúdo era duvidoso, nem tudo ali era vegetal. Ainda bem que eu nunca gostei de salada mesmo. Mas o resto estava liberado. E agora, quando observo as minhas opções penso que poderia ser pior.

Hoje eles estão servindo purê de batata, sanduíches, suco e frutas, como maçãs, laranjas e fatias de melancia. Opto pelo sanduíche e uma maçã, acompanhado por um copo de suco.

É quando Matt e eu estamos indo para uma das mesas vazias na parte oeste do refeitório, que Liz surge de lugar nenhum e começa a falar, a bandeja com seu lanche na mão.

– Vocês não vão acreditar, Nick acabou de me chamar pra sair.

– Não diga. – Matt resmungou ao mesmo tempo que eu perguntava:

– Quem é Nick?

– Aquele é o Nick. – ela deu um tchauzinho para um cara, que estava sentado numa mesa com vários outros garotos, todos usando um casaco de time.

Nick tinha os olhos bem escuros e o cabelo da mesma cor enquanto a pele era dourada, olhando daqui aposto que ele tem parentes latinos. Mas parei de pensar nisso quando meus olhos foram atraídos para uma figura loira sentada junto de dois outros garotos grandes tão familiares quanto o primeiro, foi quando eu me dei conta: Era o garoto loiro que estava apanhando no beco ontem.

– Ei, Noah. Acorda. – Liz falou rindo.

Pisquei e olhei a minha volta, mas os dois já não estavam mais comigo. Ambos estavam sentados numa mesa não muito longe de mim, enquanto eu estava parado como um idiota no meio do refeitório. Me apressei até eles. Sentei de frente pra Liz e Matt. E ao todo, só tinha nós três naquela mesa. Peguei meu sanduíche e dei uma mordida.

– Liz, tenho que te mostrar uma coisa. – Matt começou e percebi que ele ia entrar naquele assunto da aula de Química. Ele se virou, mexeu na mochila que estava ao seu lado no banco, ao passo que Liz revirava os olhos, um claro sinal de tédio. – Aqui. – o moreno colocou sobre a mesa, bem à frente de Liz e consequentemente a minha frente, um jornal impresso.

Virei minha cabeça de lado para poder ler o que estava escrito naquilo.

“Aluna é flagrada fumando nos fundos da escola”. – leio e só então Liz se interessa e pega o jornal.

Vejo quando seus olhos verdes se arregalam e sua boca se abre levemente.

– Ele não fez isso. – ela diz entre dentes, seus dedos amassando as bordas do papel.

– Ah, ele fez. – Matt diz e eu fico apenas boiando, porque não sei quem fez o que com quem.

Liz se levanta, o rosto contorcido de raiva. Então ela simplesmente anda a passos duros até a mesa onde o garoto loiro está sentado. Daqui posso ver que ele está de cabeça baixa, ao seu lado tem uma garota loira sentada meio rindo meio desconfortável, a sua frente há o Grandão Nº 2 e ao lado dele o Grandão Nº1 e ambos então rindo naturalmente, nenhum dos dois percebendo o desconforto da garota ou o olhar resignado do garoto loiro. É com nesse cenário que Liz aparece, ela joga o jornal bem no meio da mesa, espalma as mãos na mesma e encara o garoto loiro.

– O que é isso, Will?! – e não preciso nem me esforçar para escutar o que ela diz, porque a garota está falando alto o suficiente para todos escutarem, coisa que estão fazendo porque todo mundo no refeitório parou de comer ou conversar, pra ver Liz.

O garoto loiro, que deve ser o tal Will, ergue a cabeça e encara Liz. Vejo a raiva que ela está sentindo dando uma fraquejada ao ver o olho do roxo do loiro. Mas então ele responde:

– É um jornal, Elizabeth. – ele diz calmamente e toda a brecha que existia no semblante de Liz, é tapada por mais raiva.

– Não me venha com isso. – ela olha bem pra ele, a sobrancelha franzida e a mandíbula cerrada enquanto Will parece tão calmo quanto um buda. – Nós tínhamos um acordo.

– Eu nunca disse que tínhamos um acordo, você acreditou no que quis. Agora me deixe comer. – e então voltou a olhar pro seu lanche intocado.

Liz tirou as mãos de cima da mesa, colocou o corpo muito ereto e ficou encarando Will, que não estava mais olhando pra ela. Se ele estava sentindo o peso do olhar dela sobre si, então ele estava fazendo um ótimo trabalho escondendo o quanto ela o estava afetando. Porque mesmo eu que não estava na mira daquele olhar, já estava me sentindo parcialmente desconfortável.

– Não escutou, Clark? – o Grandão Nº 1 falou. – Cai fora.

– Quer saber. – ela disse ignorando o grandão completamente, e por isso ela ganhou um pontinho comigo. – O Will que eu conheci nunca teria se vendido como você.

– As pessoas mudam. – ele respondeu.

– Não. Você mudou.

Então ela deu as costas para todos e saiu do refeitório. Matt se levantou e a seguiu. Eu continuei onde estava, ainda fiquei encarando Will por um tempo. Em nenhum momento ele comeu algo, então a garota loira sussurrou algo para ele, que se limitou a assenti, e o Grandão Nº1 começou a falar e o loiro deu sorriso falso em resposta. Eu não sabia o que tinha acontecido ali e nem porque o tal garoto Will estava sentado na mesma mesa com seus agressores ou porque Liz o acusou de ter se vendido e principalmente, eu não sabia porque ele parecia tão infeliz. Mas não fiquei muito tempo ali remoendo isso, eu estava curioso. Por isso peguei meu sanduíche meio comido e sai do refeitório atrás de Liz e Matt.

Liz estava histérica. Não tinha outro jeito de descrever o jeito como ela estava agindo. Seus olhos estavam meio vermelhos, o que denunciava o tanto de raiva que a garota sentia.

– Eu não acredito! Como ele pôde fazer isso, Matt? – ela disse ao moreno, então virou de frente para a parede e deu um soco na mesma, se doeu ela não demonstrou.

– Calma, Liz. – Matt tentou apaziguá-la. – Você viu o rosto dele? Tá na cara que o Will não fez isso porque quis, ele...

Eu comi o resto do meu sanduíche e esperei o momento certo para entrar na conversa, talvez quando Liz não estivesse com tendências homicidas.

– Ele nada, Matt! – ela praticamente gritou focando o incrível verde em Matt, vi o garoto se encolher. – Will sabia muito bem o que estava fazendo. Ele me traiu, traiu nosso acordo. Quero mais que ele se dane.

– Não pode dizer isso.

– Eu posso, porque aquele garoto eu não sei quem é. O Will que eu conheci nunca teria feito isso, e você sabe muito bem disso.

Matt ficou em silêncio. E então quando eu me preparava pra perguntar algo, uma voz soou no corredor.

“Elizabeth Clark compareça na diretoria imediatamente”.

Olhei em volta assim como os dois e logo encontramos a fonte da voz, era o autofalante acima dos armários na parede oposta. Liz suspirou audivelmente enquanto fechava as mãos em punho e se afastava a passos duros em direção a diretoria. Ela estava encrencada e disso eu, ao menos, sabia. Depois que ela se foi, eu dei alguns passos incertos em direção a Matt, que tinha se encostado na parede, de cabeça baixa e os olhos perdidos. Me encostei ao seu lado, ele virou a cabeça e dei um sorriso amarelo em retribuição antes de perguntar:

– Então, o que exatamente foi isso tudo?

– Ah, cara. Você não vai querer saber. – ele respondeu e focou os olhos castanhos em algo atrás de mim.

Olhei também e acabei por encontrar as pessoas da mesa onde Liz fez o barraco. Will, os Grandões Nº 1 e 2 e a garota loira. Eles andavam lado a lado, todos bem sérios e se achando os reis do mundo. Will com o seu nariz em pé, não parecia nenhum pouco com o garoto que levará uma surra num beco ontem. Na verdade, ele parecia bastante bem agora, o uniforme da escola sem nenhum amassado, e tinha até mesmo arranjado óculos novos. E se não fosse pelo olho roxo, que arruinava toda essa fachada de aluno exemplar, Will teria passado despercebido. Encarei bem ele, achando que assim eu podia ler alguma coisa em seu rosto que denunciasse o que tinha ou o que estava acontecendo, porque eu estava simplesmente odiando não saber de nada. Mas surpreendentemente, Will me encarou de volta. Os olhos muito azuis por trás das lentes arredondadas dos óculos pareciam dizer apenas uma coisa: Fique fora disso, novato.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olha só, tem mais um capitulo!! kkkkk



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Antes que novembro acabe..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.