Antes que novembro acabe... escrita por OmegaKim


Capítulo 4
Quatro - Eu sou pego.


Notas iniciais do capítulo

LEIAM NOTAS FINAIS!!!!



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Quatro – Eu sou pego.

– Tudo bem. – Matt se sentou no sofá da minha casa, ele tinha deixado a mochila no chão e pegado de dentro da mesma um anuário que tínhamos pegado escondido na biblioteca e agora o tinha aberto sobre a mesinha de centro. Me inclinei em direção ao mesmo, foquei minha atenção em cada um dos rostos que apareciam na página. – Esse é William Moore. – ele tocou com a ponta do dedo uma foto pequena quase no fim da página, já que como eu tinha percebido, os alunos estavam organizados em ordem alfabética. – Essa é Emma Lewis. – apontou a garota loira que anda com eles. – E esses são Mark Hoke – o grandão nº1, identifiquei. – e Roderick Bruce. – o grandão nº2.

Matt tinha aceitado vim em minha casa me contar tudo o que sabia sobre o embate Liz-Will no refeitório. Claro, depois de eu ter insistido muito. E depois que Liz nos disse que ia ter que ir para casa já que agora estava suspensa por ter fumado na escola, Matt ficou desanimado para continuar estudando e como eu não estava nem um pouco afim de estudar, apenas insistir para que saíssemos dali e viéssemos para minha casa, onde ele podia me contar essa história direitinho. Ele topou e agora estamos aqui, enquanto Liz está aproveitando um belíssimo sermão dos seus pais.

– Eles são os maiorais da escola, sempre com notas boas, sempre os queridinhos dos professores e da diretora, são os tesouros de Dickson. E todos querem ser como eles. – falou. – Mas o que ninguém sabe é que eles são tão podres quanto. Emma é a garota mais rodada da cidade inteira e até onde sei, ela tem um caso com o professor de educação física. Mark é todo músculos e pode até ser o craque do time de vôlei e parecer burro como uma porta, mas é ardiloso como uma cobra e inteligente também, soube que ele fez Jorge ser expulso do time só para poder se tornar o capitão. Ele é o chefe do grupinho. – Ele olhou para mim e eu assenti para dizer que estava entendendo e acompanhando. – Roderick é o bichinho de estimação do Mark, obedece apenas a ele e acha que Mark é um deus ou algo parecido, e é burro com uma porta.

Então Matt parou, ficou em silêncio. Se afastou do anuário e encostou sua costa no encosto do sofá, mas eu continuei esperando e quando ficou claro que ele não ia dizer mais nada, resolvi perguntar:

– E Will?

– Will é o melhor amigo de Mark além de ser o chefe do jornal da escola, ele escreve algumas das matérias e até mesmo tira algumas fotos, e todas as notícias antes de serem publicadas passam pelo por ele, e ele sabe de tudo que acontece na cidade e na escola, nada fica escondido dele. O que aconteceu com a Liz não devia ter acontecido. Ela tinha um acordo com ele, onde ele faria vista grossa diante de algumas transgressões dela na escola como fumar ou gazetear aula.

– Acordo? Mas ele disse que não havia acordo algum. – acabei falando.

– Existia acordo sim. Eu estava lá, eu vi. – ele disse. – No final do ano passado, Will a procurou, disse que tinha uma proposta para fazer a Liz. Ela aceitou, como você percebeu. Liz deu a Will o que o mesmo queria e em troca ele lhe deu isto: uma bela de uma suspensão.

– Mas o que ele queria? Por que quebrou o acordo assim? Porque Liz o acusou de ter se vendido?

– Eu não sei. – ele passou a mão pelo cabelo encaracolado. – Liz não me disse o que ele pediu, mas sei que ela conseguiu o que ele queria. E olhe como ele retribuiu.

Eu não conhecia Will, não sabia como ele tinha sido antes e nem como era agora. Pois tudo que eu sabia sobre ele desde que cheguei nessa cidade, era que Will tinha um gosto bem estranho para escolher amigos. Por que, que tipo de pessoa senta, fala ou anda com as pessoas que te espancaram num beco?

– Will. – ele bufou e sorriu amargo. E pelo jeito que ele disse o nome do outro, percebi que não era só Liz que o conhecia há bastante tempo. Esperei. – Conheço Will desde da quinta série, assim como Liz, éramos amigos antes que ele conhecesse Mark, no primeiro ano e então nos deixasse de lado para andar com essas pessoas. Will não é como essas pessoas – falou. – ele sempre foi gentil e inteligente, não combina nem um pouco com essa pessoa prepotente e manipuladora que anda pelos corredores da escola.

Matt estava triste. Dava para perceber pelo jeito como os seus olhos estavam baixos e cada parte dele denunciava o que eu ainda não tinha visto, o seu coração estava quebrado.

– Matt, - comecei, mas não sabia ao certo como começar. O que eu podia dizer? Vai ficar tudo bem? Você devia conversar com ele sobre isso? As pessoas mudam? Não, nada disso. Eu nunca tive o coração quebrado, mas sabia pela experiência de ter escutado meus amigos reclamarem dos deles que nenhuma dessas coisas era boa o bastante para se dizer a alguém. Então me limitei a apenas começar e deixar que ele dissesse algo, que disfarçasse a dor com um sorriso.

E acho que ele entendeu que eu tinha percebido tudo, pois recomeçou a falar:

– Então como você se diverte aqui? – e se levantou e começou a olhar em volta. – Até que sua casa é bem bonita.

Me inclinei em direção a mesinha de centro e fechei o anuário. Me levantei do sofá.

– Bom, tenho um Xbox. – falei e ele sorriu.

– O que estamos esperando? Estou louco para ganhar de você.

O que foi o que realmente aconteceu. Perdi de lavada para Matt bem umas trezentas vezes seguidas, esse garoto era muito bom em estratégias. E nos jogos de luta e em todos os jogos praticamente. Mas então Liz apareceu em minha porta, nos convocando para uma tarde divertida ao seu lado pela cidade, o que me salvou de perder mais para o moreno. E fomos os três curti a cidade.

Liz era uma guia turística bem empenhada, me mostrou onde ficava os bares, as lojas onde era fácil consegui um desconto, onde eu podia comprar bebidas sem precisar mentir minha idade, mas se eu precisasse existia um cara que fazia identidades falsas por um preço muito bom. Acabei dispensando isso, pois eu já tinha minha identidade falsa. O que fez ela ergue uma sobrancelha e me dá um tapinha o ombro:

– Esse é o meu garoto.

Eu apenas rir.

A cidade, na companhia desses dois, até que era agradável e as pessoas não me pareciam tão caipiras assim.

Paramos em frente a uma loja, que tinha os vidros decorados com pinturas e na entrada se lia “Kiera Tatuagens” acima da porta. Entramos.

– Esses são Kiera e Emmeth. – Liz me apresentou a um casal, ambos exibiam tatuagens nos braços e no pescoço, que iam desde símbolos tribais a frases em latim ou francês. Eles aparentavam ser mais velhos, por isso supôs que não estudavam na mesma escola que a minha. – Esse é o Noah. Ele é de Los Angeles.

– Oi. – eu os cumprimentei apertando a mão de cada um.

– Los Angeles, hein? Que droga para você ter que viver aqui agora. – Kiera comentou.

– Alguns dias são melhores que outros. – falei. E ela riu.

– Tem razão. – disse e se dirigiu a Liz. – Estão indo para onde?

– Para as colinas. – Matt respondeu.

– Colinas? – soltei.

– Você vai adorar o lugar, Noah. Não se preocupe. – Liz me assegurou.

Dei de ombros.

Acabou que Emmeth emprestou o carro para Matt, que era o único mais responsável entre nós três e por isso deu a chave para ele. E Kiera nos forneceu bebidas e alguns salgadinhos enquanto se lamentava por não poder deixar sua loja de tatuagem sozinha, já que era ela quem era a tatuadora enquanto Emmeth ficava no caixa. Então fomos os três na velha caminhonete de Emmeth em direção as colinas.

– Kiera ficou caidinha por você. – Liz disse depois que ganhamos a estrada, ela estava sentada no banco do carona ao lado de Matt que dirigia, e agora tinha se virado no mesmo para poder me encarar com os olhos verdes brilhando com malicia.

– Que nada. – falei. – Ela só estava apenas sendo simpática.

A garota balançou a cabeça, um meio sorriso nos seus lábios.

– Não sabe de nada.

Apenas dei um sorriso em resposta.

O resto do caminho foi regado a músicas de gêneros variados, onde cantávamos a plenos pulmões ou fazíamos imitações dos cantores. Era bem engraçado e caiamos na gargalhada o tempo todo, o que dificultava cantar. E quando finalmente chegamos nas colinas, que no fim não passavam de morros nada parecidos com colinas, já era quase noite. O sol ainda estava se pondo quando paramos a caminhonete. Pegamos as bebidas, sentamos no capo da mesma e curtimos o sol indo embora. Brindamos ao dia, as pessoas e a saudade. E por incrível que pareça, foi a primeira vez que não odiei ter saído de Los Angeles.

###

Fazia dois meses que eu tinha me mudado para a pequena cidade de Dickson, e eu ainda não tinha aprendido a gostar dela tanto assim. Mas tinha momentos que escapavam, me faziam pensar que Dickson podia ser bem legal. Acho que no fim são as pessoas que fazem o lugar, porque na presença de Liz e Matt, Dickson era incrível. Saiamos muito juntos e desde que Liz tinha sido suspensa por causa dos cigarros, eu e Matt já não aparecíamos tanto assim na escola. Passávamos os três a andar pela cidade, eles me apresentavam pessoas, me apresentavam festas, me apresentavam o mundo escondido de Dickson que envolvia muitas coisas que iam desde jogos de azar a casas noturnas para maiores de 22 anos.

Bebíamos frequentemente em minha casa quando meu pai estava trabalhando no hospital ou fingíamos que estudávamos no meu quarto quando meu pai estava em casa, mas na real fumávamos maconha no banheiro por causa do vapor do chuveiro que ajudava a dissipar o cheiro.

Na madrugada, eu fugia de casa para poder frequentar as festas com Kiera e Emmeth, e ficava tão cansado no dia seguinte que mal conseguia acordar e quando o fazia, dormia na sala de aula.

No entanto Liz e Matt tinham uma vida bem mais agitada que a minha. Mesmo depois que a suspensão de Liz acabou, a nossa vida louca nas noites continuava. Era tanta bebida, cigarros e drogas envolvidas que ainda me surpreendo por meu pai não ter percebido antes. Mas também pudera, ele saia antes que eu acordasse e só voltava depois das sete da noite, que era quando eu estava com Liz ou Matt ou os dois, fingindo que estava estudando na casa de um deles.

Tinha vezes na madrugada que fazíamos corrida de carros entre nós ou com alguém que acabávamos de conhecer nas festas, que aconteciam nos porões de algumas casas. Quando essas corridas aconteciam, era uma loucura. Era tanta adrenalina no sangue que eu me sentia invencível e em maiorias vezes, eu ganhava.

Eram dois meses que tinham passado, mas mais parecia uma vida inteira. Uma vida cheia de loucuras e adrenalina.

– Tem certeza? – perguntei a Liz depois que dei uma tragada no cigarro.

A garota se encostou na parede de tijolos no beco onde estávamos e suspirou.

– Claro que eu tenho. – respondeu meio impaciente. – O que há agora, Noah? Você já tinha concordado e agora está dando pra trás.

– Eu não estou dando pra trás coisa nenhuma. – me apressei em dizer. – Apenas acho que não é uma ideia tão boa assim.

– Claro que é uma boa ideia. – insistiu. – Não vamos pegar nada, só vamos quebrar algumas coisas e deixar nossa marca.

Joguei o cigarro no chão e pisei em cima.

Matt não estava com a gente hoje. Ele teve que comparecer ao jantar de casamento do seu irmão, mas tinha concordado com esse plano maluco de vingança da Liz, que era envolvia vandalismo. E agora estávamos aqui, em plena quarta-feira, escondidos num beco perto o bastante da loja que era o nosso alvo. A loja do pai de Will. Era uma lojinha de variedades, o tipo de lugar que vende de tudo desde pilhas para radinhos a biscoitos. A loja tinha acabado de fechar, as luzes estavam apagadas e tudo estava trancado. E daqui, o lugar parecia não ter nenhum alarme.

O plano de Liz era fácil: entrar, destruir, deixar nossa marca e sair. Ninguém ia nos ver, ninguém ia saber que foram nós e principalmente, Liz estaria vingada porque depois de dois meses Liz ainda estava nessa de “ele vai pagar”. E bom, eu já tinha concordado antes e dá pra trás agora ia pegar mal para mim.

– Tudo bem. – concordei e na penumbra do beco peguei seu sorriso. – Mas temos que ser rápidos.

– Ok.

Colocamos as máscaras que tínhamos trazido e avançamos em direção a loja. Assim que ficamos frente a frente com o local, eu procurei uma pedra no chão. Achei uma, a peguei e joguei contra o vidro da loja. Ele se estilhaçou na minha frente ao passo que o alarme tocou. Olhei para Liz assustado, mas o olhar dela dizia apenas uma coisa: Rápido.

Avançamos pela janela quebrada e começamos o trabalho. Jogamos prateleiras, eu quebrei garrafas de bebidas, destruí revistas, peguei garrafas de óleo e espalhei pelo chão. Liz tinha achado um spray de tinta preta e agora escrevia nas paredes da loja. Riscava frases que eu não tive tempo de ler, pois a sirene da polícia soou ao longe.

– Liz! – Gritei.

– Só mais um minuto! – ela gritou de volta ainda escrevendo na parede atrás do caixa.

– Não temos um minuto!

Corri até a janela por onde tínhamos entrado e olhei para a rua, tentando ver se a polícia estava perto.

– Liz! – gritei mais um pouco quando vi a luz da sirene na esquina, o desespero em cada parte da minha voz.

– Já! – ela desceu do balcão com um baque surdo, correu até onde eu estava, pegou minha mão e corremos dali.

Disparamos pelas ruas da cidade, correndo como dois malucos usando máscaras de Halloween no rosto e de mãos dadas. Nós simplesmente corremos e corremos e corremos e corremos como se nossas vidas dependessem disso, o que de algum modo dependia.

– Não... dá... mais... –falei me curvando, cada mão em um joelho, meu rosto pingando de suor e meus pulmões queimando.

– Não... podemos... parar... – ela disse arfando tanto quanto eu.

O tempo que passamos fumando como se não houvesse amanhã, cobrando seu preço. Tínhamos 16 e 17 anos, respectivamente, mas parecíamos com 60 anos.

– Vamos... Noah. – ela me ofereceu mão, olhei para ela e ao longe escutamos as sirenes mais uma vez. Peguei sua mão e recomeçamos a correr mais uma vez.

A vida é uma coisa engraçada, não é? Sempre te surpreendendo, te ferrando, te ajudando ou simplesmente, sendo qualquer coisa.

Enquanto eu corria com Liz pelas ruas de Dickson, mesmo que meus pulmões estivessem queimando e as caibras já tivessem começado a dá sinal nas minhas pernas, eu nunca tinha me sentido tão vivo como naquele momento. Era toda aquela adrenalina da fuga no meu corpo, fazendo meu cérebro ficar em alerta, meu coração bater rápido e me tornando invencível. Porque, eu realmente acreditava que era invencível. Ninguém podia me pegar naquele momento. Eu era o ser mais rápido que existia.

Quando finalmente paramos de correr, quando as sirenes finalmente pararam. Liz e eu estávamos tão exaustos que não tínhamos forças nem para comemorar nossa fuga. Nos limitamos a nos jogar na grama em frente a uma casa qualquer no começo do nosso bairro. Ficamos ali, imóveis e respirando descompassadamente por mais ou menos uma hora inteira. E quando o mundo parou de rodar, nós começamos a rir. Rimos da nossa travessura, da nossa fuga, da nossa invencibilidade, rimos de nós mesmos. E nós despedimos muito tempo depois, e andamos meio mancando um para a casa do outro.

Estranhei o fato de as luzes estarem acesas em minha casa pois já passava da meia-noite, mas pensei que meu pai poderia ter recebido uma chamada do hospital – como sempre acontecia – e estivesse se arrumando pra sair. Usei minha chave na porta e assim que entrei em casa, segurei o ar e senti todo o sangue do meu corpo ser drenado, deixei a máscara que segurava cair tamanho o meu susto.

Ali, sentados no sofá da minha sala, estavam meu pai e dois policiais e pela cara que o meu pai fez quando me viu, eu já sabia o que tinha acontecido: eu tinha sido pego e agora estava muito muito encrencado.


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Notas finais do capítulo

Oi gente!!!! Vamos a noticia: A minha faculdade saiu da greve depois de quatro meses parada, o que significa reposição de aulas e zero de vida social, ou seja, zero de nyah por enquanto. A parada é que eu vou demorar para postar de novo, ok? Então tenham paciência.
Ah, outra coisa: preciso que TODOS vcs digam o que estão achando da fic, pq eu sei que tem gente lendo isso. Eu juro que o dedo não cai kkkk... é apenas que preciso de opiniões mesmo, coisas como: está bom, está ruim, o enredo está sendo legal? O Noah está muito feminino?
Quero lembrar a vcs q esse é meu primeiro yaoi, então eu preciso de um retorno de vcs, ok?
Obrigada a quem tem comentado, obrigada mesmo!!
Sobre o cap: foi legal escrever esse capitulo hehe. E vcs perceberam que teve uma passagem de tempo, ne? Alguém ficou confuso? No próximo cap alguém vai conhecer alguém :-) haha... opiniões????
Ah, Perguntinha: O que acham que o Will esconde? A Liz o acusa de ter se vendido. Mas, ele se vendeu mesmo? Se sim, pq? E sobre o Matt: ele tem uma quedinha pelo Will rsrs..., e parece acreditar na inocência do Will, vcs acham q ele sabe de alguma coisa??????
Apareçam fantasmas!!!
bjs e até.



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