As Crônicas de Pan Gu escrita por Nanahoshi


Capítulo 6
As Crônicas dos Reinos - Histórias que não deveriam ser contadas


Notas iniciais do capítulo

GLÓRIA AO SENHOR TODO-PODEROSO! Depois de um milhão de anos o capítulo saiu!
Tudo bem com vocês?
Hoje tem uma penca de novidades para eu avisar pra vocês! Mas vamos começar pelo capítulo. Um novo ciclo de histórias se inicia, numa terra que fica mais para o sul de Pan Gu. Foi um capítulo que deu muito trabalho pra escrever porque ele tem a intensão de ser picado para deixar vocês com uma pulga atrás da orelha!
Bom, alguns de vocês devem ter lido em algum lugar que eu disse que NÃO precisa saber sobre o jogo para entender a história, certo? Como, eu frisei, eu vou explicar tudo o que é necessário no decorrer dos capítulos. E mais! Eu criei um Tumblr exatamente para situar vocês no quesito personagens, paisagens, localizações, mapas, instâncias e muito mais! O post sobre esse capítulo ainda está em processo de montagem, mas já, já vocês poderão conferir!
Aqui está o link: http://fanficperfectworld.tumblr.com/
Se vocês estiverem curtindo, comentem, deem a opinião de vocês, critiquem, sugiram!
Uma ótima leitura pra vocês meus lindos! Obrigada à todos pelo apoio e pelos acompanhamentos!



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Pan Gu, Cidade das Plumas, ano 19990.

O som do piano era o único que fazia o ar do salão vibrar. Udyni estava apoiada na amurada da janela contemplando a cidade verde-esmeralda de cima, enquanto sua mente vagava na harmonia das notas.

Ela está progredindo bem. Talvez tenha apenas que ter mais confiança...

Plém.

Um escorregão de dedos e toda a entalpia musical foi quebrada. A alada piscou duas vezes e se virou para dentro do salão.

—Algum problema, Alteza?

Sentada no banquinho diante do piano, estava uma garotinha miúda que não teria mais do que cinco anos. Pálida e magricela, ela estava encolhida com as mãos espremidas entre as pernas, e movia os ombros num gesto nervoso.

Udyni se aproximou suavemente da garota e do instrumento e se abaixou para olhar nos olhos da menina.

—Vossa Alteza treinou muito nos últimos dias. É melhor descansar.

—Não. Me desculpe. Eu não vou errar de novo. Me deixe treinar mais!

Udyni percebeu que a voz da menina estava carregada de nervosismo. A sacerdotisa fitou o rosto de sua pupila e tocou levemente em seu queixo.

—A princesa parece nervosa. Aconteceu alguma coisa?

A menina hesitou. Nesse meio tempo, a sacerdotisa analisou todos os traços da garota. Seus grandes olhos negros infantis tremiam levemente, e ela tentava desviar seu olhar para o chão. Seus lábios rosados estavam encrespados e trêmulos, e sua pele estava ainda mais branca.

—Não aconteceu nada, Mestra.

—Tem certeza, querida?

Ela assentiu ainda apertando os lábios. Udyni suspirou. Sua mão subiu do queixo da garota para os fios negros que lhe emolduravam o rostinho de cinco anos.

—Pode treinar mais um pouco. – disse a alada de cabelos brancos. – Depois disso, Vossa Alteza vai descansar.

—Pode me chamar de Andreza, Mestra.

Udyni riu, e a princesa teve pela milionésima vez a sensação de que sua mestra tocava uma flauta ao invés de rir.

—Se seu pai me escuta, vou levar uma bela bronca.

—Mas só quando estivermos nós duas. É muito estranho esse jeito de falar... Alteza.

A alada ponderou.

—Tudo bem. Mas não conte isso pra ninguém. Está bem... Andreza?

Foi o primeiro sorriso genuíno que Udyni viu no rosto da menina em muito tempo.

—Agora pode voltar a praticar. Ficaremos aqui no máximo mais meia hora, e aí iremos descansar.

—Sim, Mestra.

Os pequeninos dedos da princesa se estenderam sobre as teclas de marfim do piano fabricado em madeira élfica, e uma melodia muito suave começou a preencher no ar do salão. Udyni cruzou os braços diante do ventre e observou com muito cuidado os movimentos de sua pupila.

Ela percebeu o tremor leve, mas constante, de seus dedinhos pálidos. Seus ombros estreitos tinham adquirido o hábito de se encolher, como se ela estivesse sob constante ameaça ou perigo.

Andreza...

Udyni não poderia de forma alguma condenar sua pupila por isso. Ela era a filha mais velha do rei do Reino dos Alados. Com cinco anos ela já era considerada um prodígio e uma princesa a meio caminho de se tornar feita. Tinha uma ótima noção de mundo, e já percebia situações complicadas de conflito ao seu redor. Por tudo isso, não só seu pai, mas outros sacerdotes e nobres membros da corte, já lhe cobravam comportamentos maduros demais para sua idade. Ela era capaz de lidar com isso, porém o preço apagar era o sacrifício de uma fase maravilhosa da vida de Andreza na qual ela podia crescer, sonhar, brincar sem ter consciência do horror iminente que cercava Pan Gu.

E ainda tinha a questão da antiga rainha...

Plém!

A sacerdotisa foi arrancada bruscamente de suas reflexões. Ela piscou, e seus olhos focalizaram a princesa com as mãos suspensas sobre as teclas do piano. Seus braços tremiam.

—Já está bom de treino por hoje, Andreza. Você precisa descansar. – e dizendo isso, adiantou-se até o banquinho que sua aluna estava sentada e se agachou. Suas mãos envolveram os dedinhos trêmulos da menina e sua voz saiu novamente como um sopro de flauta. – Você parece muito aflita, querida. O que está te incomodando?

A pequenina puxou o ar fazendo barulho. Seu corpo permaneceu completamente imóvel por quase um minuto, e enfim, ela disse:

—Não é nada, Mestra.

—Você não costuma errar tantas notas por estar com os dedos tremendo. Suas mãos são muito firmes para o piano.

A menina se encolheu. Seus olhos correram de um lado para o outro nas teclas de marfim como se nelas ela fosse encontrar o argumento certo para a observação de Udyni.

—Eu tô nervosa porque o dia da apresentação está chegando. Não posso dar vexame no... – ela fez uma longa pausa onde lutou bravamente para que as palavras saíssem de forma clara – casamento do papai.

A sacerdotisa já sabia. Mas ouvir aquilo da boca da princesa a preocupou de uma forma angustiante.

—Andreza, se você não qui-

O som de várias cornetas preencheu subitamente o cômodo real. As duas aladas tiveram um leve sobressalto, e rapidamente seus olhos buscaram a janela.

—O que está acontecendo? – perguntou a menina.

Udyni se levantou prontamente e avançou até a janela. Não foi necessário empurrar as vidraças para ouvir os gritos, as saudações e as vivas que vinham lá de baixo. Um tropel de cascos se fazia ouvir cada vez mais próximo, e ao longe, nas colinas do subúrbio da Cidade das Plumas, um bando de cavalos branquíssimos cortou o verde oscilante e místico das terras dos alados.

—Eles voltaram. – anunciou a alada mais velha para a mais nova.

Andreza suspirou aliviada.

A sacerdotisa dedicou-se a observar a cena enquanto a menina também avançava para a janela. Ambas então assistiram a multidão receber a tropa de guerreiros alados formando um corredor que conduzia direto ao pátio central da cidade. Lá provavelmente, o rei e o ancião estariam esperando para cumprimenta-los e receberem o relatório da missão. Quando os heróis se aproximaram montados em seus garanhões alvos e brilhantes, Udyni percebeu que a expressão em seus rostos era de euforia.

Um calafrio percorreu sua espinha.

Mas o que é isso? Eu não devia estar achando bom? Por que esse arrepio...?

A alada de cabelos alvos segurou a mão de Andreza e puxou-a para a porta.

—Vamos cumprimentar os guerreiros. Depois você pode descansar... Alteza. – e, dizendo isso enfaticamente, piscou para a menina e seguiu para o corredor gélido de mármore que antecedia o salão de estudo.

*

Chegando ao pátio central que ficava sob uma das enormes árvores que protegiam os habitantes da Cidade das Plumas, Udyni viu que os oficiais já estavam posicionados no local onde normalmente se faziam os pronunciamentos para os cidadãos.  Eles haviam formado uma fileira com os principais oficiais:  capitães, majores e tenentes. E dentre eles, a mais temida guerreira alada do último século...

General Jen.

Ela era a general do exército da Cidade das Plumas, e sua habilidade com o arco era conhecida por todas as terras de Pan Gu. Diziam que quem fosse atingido por sua Flecha de Gelo era transformado num filete de fumaça.

Ela trazia a mesma expressão dura no rosto bonito, mas podia-se claramente perceber um ar de excitação em sua postura. O rei fazia um pronunciamento de agradecimento aos membros da missão que haviam se arriscado até os domínios dos Selvagens para tentar uma aliança entre as duas raças.

Enfim, a palavra foi passada para Jen.

—Saudações, Alados. – sua voz era grave e tinha um timbre bastante ameaçador. – Eis que retornamos da nossa missão na terra dos Selvagens, cujo objetivo era retornar com um acordo de paz e aliança... Mas não foi isso que conseguimos.

Um burburinho ferveu na multidão, e todos começaram a se remexer inquietos. Jen continuou:

—Quando entramos nos domínios dos Selvagens, só encontramos destruição, e sequer conseguimos chegar à algum vilarejo que possuísse oficiais para nos conduzir à Cidade Perdida. – ela fez uma pausa e respirou fundo. – Os Selvagens foram atacados massivamente pelos Sem-Alma.

Gritos de horror pulularam entre os presentes, e o burburinho se tornou mais denso.

—Eles estão enfraquecidos agora, e isso remete à questão que eu creio que todos vocês se lembrem. Por mais que os Sem-Alma estejam ganhando força e avançando pelas terras de Pan Gu, ainda nos encontramos numa guerra civil. Nenhuma outra raça é nossa aliada de verdade, existem apenas tréguas e tentativas de organizar um pouco o caos desse mundo. É a nossa chance de subjugar aqueles animais! Vamos dominá-los, e então a Cidade das Espadas estremecerá de terror, pois eles saberão que são os próximos da lista.

Houve uma confusão. Pessoas começaram a berrar em apoio ao discurso da general, mas algumas começaram a gritar e questionar essa decisão.

—Mas o mundo não é mais o mesmo! As raças estão se unindo por causa dos Sem-Alma! – ouviu-se da multidão.

—A guerra deveria ser contra os Sem-Alma! Já lutamos uns contra os outros por milênios! – um outro gritou.

—A Cidade do Dragão não ficará quieta diante disso! E se eles decidirem atacar a nossa cidade, estaremos perdidos! – berrou uma sacerdotisa bem próxima aos oficiais.

—SILÊNCIOOOO! – berrou o rei.

A multidão emudeceu como se ele tivesse usado um encantamento silenciador. Esperados alguns segundos, o rei olhou para a general e fez um gesto com a cabeça para que ela prosseguisse.

—Eu tenho ciência disso tudo, mas vocês já se esqueceram do que os humanos nos fizeram?? Já se esqueceram do horror que aqueles bárbaros selvagens espalharam na nossa gente? Já se esqueceram da Dinastia do Crepúsculo? Já se esqueceram da Guerra pela Cidade da Dor Celestial??

Uma nítida atmosfera de tensão e vergonha tomou conta da multidão. Udyni conseguia sentir os poderes das palavras de Jen em sua pele. Estava tão absorta no discurso que não percebeu que Andreza estava agarrada à sua mão com uma força fora do normal. Uma pontada de dor acometeu uma de suas falanges, e ela finalmente desviou o olhar para a princesa. Ela olhava fixamente para a general, e seus olhos estavam marejados de lágrimas.

Rapidamente, a sacerdotisa se abaixou e pegou Andreza no colo. A menina piscou atônita várias vezes, mas se deixou levar sem resistência.

—Essa gritaria não vai te fazer bem. – sussurrou Udyni. – Vamos para o seu quarto.

Ela seguiu para uma das enormes ramificações das raízes de uma da grandes Árvores das Plumas.  Na madeira esverdeada, havia uma porta pequena com o topo curvo que levava a uma escada que dava acesso ao palácio. A alada subiu as escadas com todo o cuidado, e enquanto pisava nos degraus, acariciava os cabelos grossos e negros da pequena Andreza.

—Por que você não voou? – perguntou a menina quando elas finalmente pararam de subir e viraram num corredor.

—Para não chamar a atenção, querida.

Udyni seguiu direto para o quarto da princesa. Abriu as portas sem cerimônia e levou-a para a cama. Depositou seu corpinho pálido sobre os cobertores e se dirigiu para a porta, fechando-a em seguida. Ao virar-se novamente, vislumbrou grossas lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto da menina alada. Sentiu seu peito ficar apertado.

—Qual o problema, Andreza? – ela enfatizou a última palavra tentando animá-la.

A menina novamente hesitou em responder.

—Eles vão mesmo atacar os Selvagens? Eles precisam mesmo fazer isso?

Pela primeira vez, a sacerdotisa alada não sabia o que dizer à garota. Todo o discurso da General Jen lhe parecera o roteiro de um pesadelo, e remeter àquelas guerras citadas era realmente uma chantagem terrível.

Andreza olhou atentamente para sua mentora e fixou seus olhinhos infantis nos aros esverdeados que delimitavam sua pupila anormalmente dilatada. Ela também percebeu que Udyni respirava com dificuldade.

—Mestra? – ela estendeu a mãozinha e puxou o braço da alada para que ela sentasse na cama ao seu lado.

A sacerdotisa fixou o rosto de sua aluna e apertou os olhos. Que cenário terrível. E o pior é que ela sabia que a menina não ficaria de fora. Ela tinha consciência das dimensões do que estava acontecendo.

Com uma dor intensa no peito, Udyni apertou de leve a mãozinha de Andreza e, suspirando, disse:

—Eu não sei.

O silêncio se instaurou no quarto como uma névoa pesada e úmida. A princesa fitava seus joelhos com um olhar perdido, remoendo o discurso da general em sua mente. Que guerras eram aquelas que ela havia falado? Dinastia do Crepúsculo? Cidade da Dor Celestial?

O momento do discurso voltou nítido em sua cabeça, e ela teve um pequeno flashback...

Flashback on

—Eu tenho ciência disso tudo, mas vocês já se esqueceram do que os humanos nos fizeram?? Já se esqueceram do horror que aqueles bárbaros selvagens espalharam na nossa gente? Já se esqueceram da Dinastia do Crepúsculo? Já se esqueceram da Guerra pela Cidade da Dor Celestial??

Assim que o último nome foi pronunciado, Andreza percebeu a tensão horrível que se instaurou nos cidadãos presentes. Próximo a onde ela estava, um senhor alado de aspecto abatido, ao ouvir a frase final de Jen, arregalou os olhos e estremeceu. Os olhos da pequenina automaticamente começaram a vigiá-lo. Depois do tremor violento que acometeu seus músculos, ele congelou onde estava, seus olhos quase saltando das órbitas. E dentro deles, Andreza não enxergou nada mais e nada menos que um horror profundo e imensurável. Qualquer um que olhasse se perguntaria como uma pessoa poderia sentir tamanho medo sem enlouquecer.

Por que ele está... com tanto medo?, pensou a menina apertando as mãos de mestra.

Flashback off

—Mestra? – chamou a garotinha alada quebrando o silêncio.

—Sim? – Udyini respondeu despertando um pouco atônita de seu transe silencioso.

—O que aconteceu na Guerra pela Cidade da Dor Celestial? E o que é a Dinastia do Crepúsculo?

Uma sombra passou pelo rosto da alada de cabelos alvos, e ela virou o rosto. Quando respondeu, mediu cada palavra dita à princesa:

—Infelizmente, Alteza, não é a hora certa de você escutar essas histórias.

—Por quê? – protestou a pequena.

—Porque isso não é assunto para crianças. – foi difícil, mas Udyni tentou soar o mais fria possível para liquidar o assunto. Levantou-se e andou pisando firme até a porta.

Andreza olhou com um olhar perdido para as costas adornadas com rendas de sua mentora.  Ela jamais ouvira-a falar de uma forma tão seca.

—Fique aqui e descanse. Eu preciso resolver algumas coisas. Não saia até eu voltar, entendeu? – disse ela ao alcançar as portas duplas do quarto.

A princesa assentiu.

Udyni tornou a virar as costas e saiu.

A menina ergueu uma das mãozinhas e limpou uma lágrima que escapara.

***

Kallahari carregava uma cesta de frutas que coletara no bosque pela manhã. Já era a terceira viagem que fazia até a cozinha naquela manhã, sem contar os outros serviços que tivera que fazer para sua mãe mais cedo naquele dia. Ela era ora copeira, ora chef, e era responsável por definir as refeições a serem servidas no palácio da Cidade das Plumas todos os dias.

—Meus braços vão cair de tanto carregar esses baldes. – ele reclamava com seus botões.

Seguindo pelos corredores do palácio que se escondia nas entranhas das Três Árvore das Plumas, Kallahari alcançou a ala na qual encontrava-se a biblioteca. Ao passar pela porta, ele diminuiu o passo e enfim parou. Virou o rosto e encarou a madeira branca enfeitada com detalhes em ouro. Seus olhos baixaram para a maçaneta, que parecia gritar desesperadamente para que ele entrasse.

O menino alado pousou o balde no chão e se aproximou dois passos. Sua mão tocou timidamente a maçaneta dourada...

Flashback on

Ele estava substituindo uma das empregadas responsáveis pela limpeza. De acordo com o que ouvira na cozinha, ela tinha contraído alguma coisa parecida com caxumba e estava muito mal.

Kallahari jogou o balde de madeira no chão com um baque agudo e olhou ao redor. Aquela era uma das bibliotecas do castelo do rei dos Alados. Graças a Pan Gu ele não tinha ficado com a principal. Mas isso não significava que ele não teria trabalho. A sala era enorme, com no mínimo umas vinte estantes abarrotadas de livros e pergaminhos que tinham umas mil vezes a idade dele.

Suspirando, ele se abaixou, pegou um pano surrado e um espanador e avançou para a estante mais próxima. Pegava os livros como se todos fossem feito da mais delicada porcelana, e limpava-os até que não pudesse vislumbrar sinal de poeira. Sabia bem qual era o preço de um serviço mal feito.

As horas se arrastaram e o menino entrou num transe, fazendo tudo automaticamente. Sua mente começou a vagar por entre as capas poeirentas e os pergaminhos manchados.

Quantas histórias haveriam ali escondidas nas páginas amareladas?

Quantos segredos poderiam ser revelados quase ele abrisse uma daquelas obras?

Quantos mundos ele poderia visitar se desenrolasse um rolo de papel carcomido?

Sua mente flutuava com a ajuda de asas que o garoto ainda não conseguira fazer brotar de suas costas, e suas mãos apenas tateavam seu trabalho. Ele passou para a estante da direita, e recomeçou o processo. Ele seguiu a fila de prateleiras de cima para baixo, da esquerda para a direita. Ele não se lembrava exatamente quando percebeu que tinha algo de errado na organização de uma em particular. Só lembra de ter se virado para umedecer novamente o pano e, ao se virar, percebeu que havia uma estante sem a última prateleira debaixo, a que ficava praticamente em contato com o chão.  Na verdade, a prateleira estava lá, mas completamente vazia.  Além disso, a altura que a separava da seguinte era maior do que as outras.

Kallahari se aproximou e abaixou-se, analisando meticulosamente a madeira das laterais e do fundo. Tateou, bateu, esfregou. Nada.

—Hm... Que coisa estranha. – ainda olhando desconfiado para a estante, o menino deu de ombros e voltou ao trabalho.

Imerso em suas reflexões sobre os livros, continuou a limpeza instintivamente. Ele não sabe exatamente em qual dos livros aconteceu, se foi no quinto ou vigésimo terceiro. Ao puxar o maço de folhas encadernadas da prateleira, ele ouviu o barulho de uma fechadura sendo destrancada, e depois, o som de uma porta de madeira correndo.

E som vinha debaixo.

Ele se afastou da estante e olhou novamente para a prateleira vazia. O estranho fundo de madeira escura havia desaparecido, revelando um vão escuro que levava sabe-se lá para onde.

Kallahari engoliu um seco.

Uma passagem secreta? Será que eu tô sonhando acordado?

Seus olhos se fixaram no quadrilátero negro. Duas forças duelavam bravamente dentro da mente do pequeno alado.

Se eu for explorar essa passagem, sabe-se lá o que eu vou encontrar... Além disso, mamãe pode vir atrás de mim e achar essa passagem aberta. Ela ficaria uma fera se descobrisse que deixei serviço sem fazer para explorar coisas secretas do palácio!

Mas...

Talvez essa seja a minha chance de quebrar esse tédio ridículo que toma conta de todos os meus dias. E se isso levar para uma caverna cheia de tesouros? Ou quem sabe algum item mágico poderoso, uma arma, uma armadura... Ou até, quem sabe, ruínas de uma cidade perdida? Os rastros de um povo que viveu aqui antes de nós?

Kallahari tinha esse aspecto peculiar que o destacava dos outros garotos de sua idade. Enquanto a maioria se limitavam a bater espadas, aprender a manejar arcos de madeira e bambu, ele ia além. Como filho da chef do palácio dos Alados e residente da construção real, usava e abusava dos livros que o castelo do rei lhe oferecia, e adorava ir até a Vila Nanke para ouvir os bardos que viviam lá.

Isso fizera dele um garoto extrema e perigosamente curioso. E foi essa curiosidade que venceu o seu medo da mãe e do desconhecido que espreitava na escuridão do buraco.

Sem fazer barulho, ele foi até a porta da sala de estudos e verificou o corredor. Estava completamente deserto. Fechou a porta e empurrou algumas cadeiras e mesas para segurá-la caso alguém tentasse entrar. Voltou para a frente da estante e abaixou-se.

Foi aí que ele se lembrou que não tinha nada para iluminar seu caminho.

Tornou a se colocar de pé e olhou em volta. Felizmente, na sala de estudos eles deixavam inúmeras luminárias que podiam ser usadas como lampiões. Ele pegou a mais próxima, girou a válvula que liberava o óleo e apertou o botão que fazia faísca. A chama apareceu de súbito, avivando-se entusiasmada, mas logo diminuiu e brilhou num laranja calmo e constante. O menino segurou pela alça de metal e levou-a para o túnel.  Abaixou-se e, colocando uma mão no chão e erguendo a que levava a lamparina, engatinhou para a escuridão.

O túnel era baixo e estreito, devia ter uns oitenta centímetros tanto de largura como de altura. Kallahari seguiu devagar, sempre prestando muita atenção nos sons e nas vibrações que ora ou outra sentia. Vagarosamente ele se distanciou da entrada do túnel, que ele percebeu estar descendo. Alguns metros à frente, a passagem fez uma curva para a esquerda, fazendo o ponto de luz da sala de estudos desaparecer. Agora, a única luz que poderia iluminar seu caminho era o lampião a óleo.

Tomara que eu não tenha escolhido um com o reservatório no fim. Droga! Por que eu não verifiquei antes de entrar? Será que eu deveria voltar? É arriscado seguir sem luz...

Assim que o pensamento lhe ocorreu, o menino balançou efusivamente a cabeça.

Não. Não posso amarelar agora. Já estou fundo demais nesse túnel.

Entretanto, a situação foi apenas se complicando. A passagem de terra batida começava a se tornar muito íngreme, formando uma descida brusca e perigosa. Kallahari decidiu parar e jogar as pernas para frente, o que não foi fácil. O espaço era mínimo e ele tinha medo de pressionar demais as paredes e causar um desabamento. Depois de se retorcer em ângulos que ele jamais imaginara ser possível, ele finalmente prosseguiu a descida apoiando se com os dois pés e a mão esquerda.

Em um determinado ponto, o menino percebeu que chegara num ponto crítico. Interrompeu sua decida e tentou iluminar mais embaixo, sem sucesso. Agora teria de descer com o máximo de cuidado possível, pois um escorregão e ele deslizaria túnel abaixo. Com cuidado, ele arrastou seu corpo um pouco mais para baixo, e sua perna direita desceu procurando outro ponto de apoio. Havia um vão que ele usou para encaixar o calcanhar, e quando sentiu firmeza, prosseguiu com a outra perna. Do lado esquerdo, não havia onde apoiar o pé, então arrastou-se de forma a ficar mais próximo da parede. Ao fazê-lo perdeu o ponto de apoio do seu calcanhar, e seu pé escorregou, se soltando.

Não havia o que fazer. Seu corpo escorregou furiosamente pela terra túnel abaixo.

—UAAAAAAAAAAAAAAH!

Droga, droga, droga!

Ele tentou instintivamente prender os dedos em alguma irregularidade na parede, mas ao tentar, seus dedos rasparam na terra cheia de pedregulhos e arderam até que ele teve certeza que estavam em carne viva. No processo, ele acabou batendo a lateral da lamparina na parede e a válvula girou, apagando a chama.

—UAAAAAAAAAAAAH! – ele tornou a berrar.

O vento passava levantando seus fios de cabelo, e ele só conseguia ouvir o silvo do ar protestando contra a brusquidão com que o menino o cortava. Foram os segundos mais longos e apavorantes da vida do pequeno Kallahari. Parecia que ele ficaria escorregando para sempre.

E então, tão repentinamente quanto começara, a descida terminou. Seus pés de repente bateram contra um chão sólido e terroso, e seus joelhos se dobraram dolorosamente. Seu corpo projetou-se pra frente e ele deu uma cambalhota, batendo as pernas contra algum tipo de portinhola de madeira.

—Ai! Aaaaaii...

O alado ficou alguns segundos completamente imóvel, olhando para o teto do túnel que ele não conseguia ver. Sua respiração ainda era ofegante por causa do susto, e seu coração parecia querer quebrar suas costelas.

No que é que eu fui que meter?, pensou o menino apertando os olhos. Agora não tem como voltar atrás. A merda eu já fiz.

Tentou se apoiar em suas mãos, e ao levantar a direita, percebeu que ainda segurava a lamparina. Rapidamente tateou sua base e achou a válvula e o botão. Acendeu-a e ergueu a alça de metal.

Ele estava sentado na porção final da passagem, e diante dele havia uma pequena porta quadrada de madeira maciça. Aproximando a luz, ele percebeu que do lado direito havia uma alça enferrujada.

Hesitou.

Será que eu devo abrir?, ele virou o pescoço e olhou para o túnel que subia de volta para a escuridão. A portinhola lhe pareceu ainda mais atraente.

Vencendo o medo, ele agarrou a alça e puxou. A madeira cedeu um pouquinho, e uma nuvem de poeira se levantou no túnel. Ele puxou com mais força, e a porta correu até a metade. Puxando o ar com barulho, Kallahari terminou de puxar a madeira, e através do buraco, ele pode finalmente ver onde estava.

Piscou várias vezes ao contemplar o cenário através da passagem que abrira. Beliscou-se, deu tapas em seu próprio rosto, mas a imagem não desapareceu. Ele não estava sonhando.

Medindo cada movimento que fazia, Kallahari jogou as pernas para fora do túnel e saltou para a caverna abobadada. A porta que ele abrira, vista da caverna, era uma das muitas que forravam um bom pedaço da parede terrosa, e lembravam pequenas gavetas para guardar pergaminhos e documentos.

Estarrecido, o menino alado ergueu os olhos e girou o pescoço. Ele jamais vira uma biblioteca como aquela. O teto era tão alto que se perdia na escuridão. Diante dele havia centenas de estantes, e pela profundidade da caverna, poderiam haver milhares delas. Mesas ricamente adornadas com ouro e prata estavam distribuídas sobre o piso de ladrilho empoeirado. Tudo carregava uma espessa camada de poeira. Haviam livros em cima das mesas, cadeiras arrastadas e tombadas, luminárias apagadas e até pedaços de pedra aqui e ali.

O menino se aproximou de uma das mesas. Havia um livro com uma capa verde que parecia brilhar mudando de tom. Com cuidado, ele estendeu a mão e encostou apena a ponta dos dedos na capa. Nada aconteceu. Como membro de uma raça que era conhecida por inventar poderosos encantamentos de proteção, Kallahari não podia baixar a guarda num lugar como aquele.

Virando-se para as paredes, percebeu que a iluminação do lugar não era convencional. Lâmpadas que oscilavam entre o azul e o verde estavam pregadas na terra e na rocha que moldavam a biblioteca subterrânea, e possuíam a forma de uma gota gorda. A fonte de luz com certeza não era fogo, e a falta de calor no ambiente fechado evidenciava isso. Ao redor delas, um entalhe de madeira cheio de curvas no estilo élfico abraçava a luz como um polvo esnobe.

Kallahari seguiu com os olhos a fileira de lâmpadas até a outra extremidade do enorme salão subterrâneo. Devido à distância e à iluminação difusa, ele não conseguiu distinguir exatamente o que havia lá. Pé ante pé, ele se aproximou avançando sobre a poeira, até um quarto do comprimento da biblioteca.

—Mas o que raios significa isso? – ele murmurou, sua voz infantil saindo ainda mais esganiçada que o normal.

Aparentemente, no fundo da biblioteca deveria haver um vão que daria em outra caverna. Porém, a passagem estava completamente bloqueada por pedras gigantescas e poeirentas.

Será que foi algum desabamento natural? Ou será que explodiram o teto de propósito? O que será que tem atrás daquela parede de rochas?, as perguntas fervilharam na cabeça do alado.

Sua atenção se dispersou, e seus olhos vagaram pelas estantes.

Uau! Sorte que eu não tenho que limpar uma biblioteca desse tamanho! Imagina ter que tirar toda essa poeira...

Ele estava bem perto de uma das estantes, e em sua base, havia um balcão com vários papéis e pergaminhos espalhados. Seus olhos baixaram para as folhas amareladas e exploraram as inúmeras imagens e letras em nanquim. Sem perceber, seus pés começaram a se mexer, e ele caminhou rente à bancada, tocando de leve nos itens milenares que descansavam sob a poeira.

Quanta coisa! Quantos anos será que esses pergaminhos têm? Cem? Mil? Dez mil?, ele ergueu um que estava parcialmente aberto e tentou ler, mas o texto estava escrito em uma língua que ele jamais ouvira falar.

Kallahari ficou alguns minutos tentando encontrar alguma palavra que ele conhecia, mas não encontrou nada. Baixou o pergaminho insatisfeito e analisou a bancada novamente.

—!!!...

Uma exclamação muda estampou-se em suas sobrancelhas. Do lado direito do pergaminho, havia uma folha maior do que as outras repleta de desenhos estranhíssimos. Eram figuras humanoides, mas todas possuíam detalhes que lembravam peixes. Suas orelhas eram espalmadas e lembravam uma barbatana pequena. Espirais, listras e vários padrões enfeitavam a pele dos seres-peixe, e ora eles eram representados com pernas, ora com caudas gigantescas.

Será que criaturas com aquelas realmente existiam? Desde que passara a frequentar a Vila Nanke para ouvir um velho bardo que contava histórias antigas, ele jamais ouvira falar de algo parecido com aquilo.

Colocando a folha com os desenhos de lado, ele vasculhou novamente os papéis a procura de algo que contasse mais sobre aqueles seres metade humanos, metade peixes. Ele arrastou alguns pergaminhos cheio de letras, tentou ler o que estava neles, mas estavam todos escritos naquela língua estranha. Revirou os documentos, separou-os, mas nada parecia estar conectado com as ilustrações.

Já quase perdendo a esperança, ele seguiu para a outra ponta da estante e, olhando para os papeis mais superficiais, encontrou um outro desenho. Parecia a planta de uma cidade circular, e suas entranhas eram tão complicadas que pareciam um labirinto. Ao lado do desenho da cidade, havia uma pequenina ilustração de um homem-peixe. Kallahari teve um sobressalto.

—Será que essa... é a cidade deles?

Ele passou rapidamente os olhos pelo mapa. Do lado esquerdo ele viu algumas letras rabiscadas.

Foram as primeiras palavras que ele conseguiu ler.

—Cidade das Tormentas. – ele leu em voz alta. – Cidade... Das Tormentas? Por que será que ela tem esse nome?

Nesse momento, seus olhos se desviaram para baixo involuntariamente. Havia um pequeno caderno surrado aberto sobre a madeira. Kallahari abaixou-se para enxergar melhor as letras e leu:

“17 de julho, ano 7869, localização desconhecida.

Esse povo estranho, de peles tão coloridas e escamosas, me trouxe além dos limites conhecidos pelo povo de Pan Gu. Não tenho a menor idéia de onde me encontro, só sei que minha vida depende da boa vontade dessas criaturas...”

Tap. Tap. Tap.

O menino ergueu a cabeça bruscamente.

Aquele som... eram passos?

Tap.Tap.Tap.

Seu coração começou a martelar furiosamente contra sua caixa torácica, e sua respiração ficou ofegante repentinamente.

—Quem está aí? – Kallahari berrou para o ar abafado.

Nenhuma resposta.

Ficou alguns minutos parado, prestando o máximo de atenção em sua audição.

Frush.Frush.

Páginas caindo. Havia alguém ali na biblioteca com ele.

O som dos passos se repetiu.

Uma sombra passou no fundo do corredor.

—!!!

O menino conteve um grito, virou-se bruscamente e agarrou o que tinha deixado sobre a bancada: o diário, a planta da cidade e os desenhos dos homens-peixe. Inspirando uma enorme quantidade de ar, Kallahari iniciou sua corrida em direção a portinhola que o levaria de volta ao túnel. Em meio ao som do sangue pulsando furioso por suas veias, ele ouviu os passos novamente, que se aproximavam...

Flashback off

***

Udyni bateu à porta da sala de reuniões onde o rei se encontrava com seus oficiais. Repentinamente, o burburinho que ela ouvia por trás do portal se transformou-se numa explosão de gritos.

—Eliah! Pare de ser tão compassivo! Como pode se declarar um major do nosso exército!? – berrou uma voz grave e ameaçadora.

—Não estou sendo compassivo. – respondeu uma voz calma que contrastava totalmente com a que falara antes. Provavelmente era o major que o outro chamara de Eliah. – É uma questão de estratégia. A Cidade do Dragão não deixará passar uma invasão dessa. Os tempos mudaram.

—Que eles venham nos atacar! Empalaremos todos eles! – devolveu a outra voz. – Já se esqueceu do que somos capazes?

—Você não tem noção do poder bélico deles. – Eliah agora erguia a voz de forma tensa. – Só o General Lotor Akre já dizimou uma tropa inteira de Sem-Almas sozinho.

—Já se esqueceu dos Sem-Alma que viraram fumaça ao invadir a Vila Nanke cinco anos atrás? Não subestime o poder da General Jen! – uma outra voz uniu-se à discussão.

—SILÊNCIO! – era a voz do rei.

A calmaria que se seguiu foi sepulcral.

—A questão é extremamente delicada. – prosseguiu o monarca depois de alguns segundos. – Nós ainda precisamos investigar mais sobre a possibilidade da intervenção da Cidade do Dragão. Mas nós não podemos ficar parados. É uma chance única de subjugarmos aqueles animais horrendos...

Udyni começara a se afastar da porta, mas não conseguia deixar de prestar atenção na conversa. Virou-se para o corredor, e murmurou baixinho:

—Voltarei numa hora melhor.

Com esforço ela deu o primeiro passo, mas a frase do rei ainda a alcançou através da porta.

—Afinal foram eles que mataram a minha esposa.

A sacerdotisa congelou. A voz da princesa soou clara como se estivesse ao seu lado.

Não posso dar vexame no... casamento do papai.

Em seguida, a imagem do rosto tristonho de sua pupila preencheu sua mente.

Ela abaixou o rosto e apertou uma mão diante do peito.

Andreza...


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam!?
Ah, é! Tem mais uma novidade pra vocês!
Eu irei começar uma sessão em TODAS as minhas fanfictions chamada PAN!
PAN? Mas que diabo é isso?
É a minha novíssima sessão de perguntas: Pergunte À Nana-chan!
Vocês poderão deixar qualquer tipo de pergunta nos comentários, desde curiosidades sobre a fanfic até a cor da calcinha que estou usando! (brincadeira gente AUHSAUHSUAH) Caso a pergunta tenha relação com algum spoiler da história, eu responderei avisando que aquilo será esclarecido posteriormente.
As perguntas e suas respectivas respostas aparecerão nas notas finais do próximo capítulo, e serão respondidas no Tumblr também!
Muito obrigada meus leitores maravilhosos!
Caso vocês queiram saber mais sobre o meu trabalho, curta minha página no facebook que abri recentemente com uma amiga que é uma artista maravilhosa: https://www.facebook.com/sayuuienanahoshi/
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BEIJOS MIL PRA VOCÊS SEUS LINDOOOOSS!!