Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 21
XX — Eu Não Sou.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou!
Estou aqui mais uma vez tirando o atraso e postando antes do sábado... Com o tempo as coisas vão se ajeitando e eu volto a postar normalmente ao sábado. Eu espero. Enquanto isso vou postando quando der porque olha... Ô vida que gosta de me surpreender.
Ah, gostaria de agradecer as mensagens/comentários de carinho dos novos leitores. Vocês são ó ♥
Não deixem de comentar, favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos.



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 MARCOS

Levantei-me com pressa, joguei minha camisa no chão e quase bati a cabeça na quina da escrivaninha enquanto tirava a bermuda do pijama. Eu teria que agilizar no banho caso não quisesse me atrasar pra aula. Desde que mudaram o horário depois do falecimento de uma das professoras, a vida de calouro está cada vez mais insuportável.

Sentindo a água morna cair sobre meu corpo eu finalmente despertei. Esfregando o sabonete contra meu corpo liso fui surpreendido por Caio que invadiu o banheiro ignorando o barulho do chuveiro.

— Idiota. — Gritei. — Estou pelado, poderia ter pelo menos batido.

— Não tem nada ai que eu nunca tenha visto. — Disse em um bocejo.

Ao escutar o barulho da tampa do sanitário levantar, não consegui desviar o olhar do sexo de Caio. A ereção matinal ainda era perceptível. Quando me dei conta do que estava fazendo, puxei a toalha e a enrolei na cintura.

— É melhor agilizar caso queira chegar pra primeira aula. — O alertei.

Sem dar atenção para o que ele gesticulou, passei o perfume me encarando em frente ao espelho. A camisa anil, a calça jeans, sapato branco e... Eu estava esquecendo meu relógio.

Pronto.

Agora sim estou pronto.

Alguém bonito como eu não deve sair de casa sem estar no mínimo... Transável.

E é assim que eu estou me sentindo hoje.

Branco, loiro, olhos caros... Muitas diriam que eu sou a definição de “beleza”.

Eu não havia ido dormir cedo na noite anterior. Fiquei até tarde estudando. Meus planos para hoje se resume a: ir a faculdade, de lá ir pra um motel sozinho para poder dormir em paz e voltar para a casa de Caio só quando seus pais estiverem dormindo.

Sim. Ainda estou evitando meus tios e voltar para casa tão cedo fará com que eu não tenha oportunidade de me safar caso eles toquem no assunto. Eu definitivamente não estou pronto para isso.

Ora, se eu pudesse voltar ao passado a primeira coisa que eu teria feito é planejar uma forma de sair de casa o mais rápido possível. Evitaria muitas coisas. Já estou na casa dos trintas e tenho que dizer para minha mãe que horas vouchegar ou se não vou dormir em casa.

Eu cresci!

E a única forma de fazê-los perceberem isso é saindo de casa... Infelizmente estou colhendo aquilo que plantei anos atrás e se minha vida continuar assim não terei dinheiro nem para frequentar o restaurante universitário.

Droga!

Mesmo acordando extremamente cedo, ainda corro o risco de me atrasar caso perca a próxima condução.

É.

Vou pagar caro por tudo que eu fiz.

[...]

Cheguei ao campus morto de sono, não obstante ainda me sobrava alguns minutos antes da aula começar. Fui até o quiosque mais próximo e comprei 500ml de café preto. O copo térmico marrom ia em direção a minha boca a todo instante. O gosto amargo do café afastava o sono. Era tudo que eu precisava naquele momento.

Para minha sorte, consegui suportar os três primeiros horários antes do intervalo sem ficar bocejando.

Talvez milagres realmente existissem.

Já o intervalo foi uma merda. Tive que deixar de comer para me dedicar a uma lista de exercícios de cálculo.

Eu realmente espero estar plantando meu jardim de uma forma certa. Na hora de colher as flores. Quero que sejam das mais belas, perfumadas e coloridas.

Distraído na biblioteca, assustei-me ao sentir o celular vibrando sobre a mesa. Era o despertador anunciando que meu tempo acabara e eu deveria voltar para a sala. Sinceramente? Eu realmente estou cogitando a ideia de não ir assistir essa aula do Antônio. Está tudo bem entre nós, eu acho. Mas ao mesmo tempo em que quero o encher de beijos, fico com a consciência pesada. Imaginar minha mãe repugnando-me após descobrir sobre nós embrulha meu estômago.

Amar sempre causa feridas. Não importe se é você, a pessoa amada, um familiar, um amigo ou um terceiro que vão causa-las. As feridas sempre estarão lá.

Joguei a mão sobre a testa para limpar o suor que escorria pela testa enquanto juntava minhas coisas. Eu necessito esvaziar minha mente e querendo ou não, estudar faz isso. Mineralogia é uma matéria que me chama a atenção e quando eu for dar conta... Já estarei saindo do campo de visão do Antônio.

Só não posso demonstrar que quero me afastar, afinal, não quero magoa-lo.

No caminho encontrei Alexandra. Ela parecia preocupada ao conversar com dois homens que se vestiam com extrema elegância. Será que o salário dela realmente vale a dor de cabeça que ela passa sendo reitora?

Aproximando-me da porta, soltei um suspiro enchendo o pulmão novamente com certa pressa, enfiei um sorriso no rosto e desejei bom dia pra classe enquanto atravessava o arco da sala.

Os que já haviam chegado responderam em um uníssono.

Antes mesmo de eu me acomodar, uma voz aguda ao mesmo tempo em que carismática se destacou entre as demais que cochichavam enquanto esperavam o início da aula.

— Bom dia turma! Hoje é um dia muito importante. No final da aula vocês descobrirão porque — ele fez uma pausa olhando para o visor do celular rapidamente, imaginei que estivesse conferindo as horas. — Não podemos perder muito tempo, então esperarei apenas mais um minuto pelos que gostam de fazer hora pelo campus. — Antônio acrescentou cerrando os olhos nada simpáticos em Caio e sua trupe que haviam chegado naquele momento.

O professor virou de costas e organizou umas folhas sobre sua mesa.

Olhando para o celular impacientemente quando o um minuto exato acabou ele fez um pronunciamento.

— Hoje faremos um teste oral — anunciou. — O mesmo valerão cinco pontos extras. Não são obrigados a fazer, mas não posso autorizar que saiam da sala. Quem não quiser participar, por favor, vão para o fundo da sala e se mantenham em silêncio. Não me importa o que vocês vão fazer desde que permaneçam em silêncio — ele passou os olhos rapidamente sobre as folhas que descansavam em suas mãos enquanto a sala se locomovia.

Uma parte de mim naquele momento não tinha certeza sobre querer participar ou não. Eu teria uma hora e meia pra ficar fazendo a lista de exercícios que precisava entregar no dia seguinte, porém, o outro lado já me dizia que eu iria perder a oportunidade de me aperfeiçoar em mineralogia e petrografia.

A dor da indecisão.

Antes que eu pudesse tomar qualquer decisão, Antônio abriu a boca fazendo com que eu me arrepiasse.

— Já anotei os nomes de quem está participando e — ele coçou a nuca como se tentasse se lembrar de algo. — Um acerto equivale a um ponto. Um erro equivale a menos dois pontos.

— Mas professor — Aparecida o questionou. — E tem alguma regra?

— Falarei uma pergunta. Quem souber responder levanta a mão. Se houver alguma pergunta que nenhum aluno saiba responder todos os participantes irão ter que fazer um trabalho sobre o assunto fracassado.

Alguns alunos protestaram, mas Antônio dera os ombros.

— Vou começar — ele voltara a atenção para o papel em suas mãos. — A primeira é fácil: — Defina rocha, mineral e minério.

Para a surpresa do professor, vários alunos levantaram a mão. A primeira a se manifestar foi a mesma aluna extremista religiosa que eles haviam discutindo há dias atrás.

— Responda. — Ele apontou o dedo para a Aluna.

— Rocha é um agregado de um ou mais minerais, mineral por sua vez é um corpo natural, sólido e cristalino que se resulta de processos físico-químicos em ambientes geológicos. — Ela fez uma pausa mordendo a caneta enquanto forçava a mente a se lembrar de minério.

— Falta um ainda — Antônio a lembrou.

— Esqueci professor.

— É uma pena — ele riu. — Alguém aqui será que pode ajudar a colega e responder? Se sim, meio ponto para os dois.

Logo levantei a mão.

— Minério é qualquer mineral que apresente valor viável desde a extração até o transporte. — Respondi assim que ele autorizou a minha fala.

— Correto. — Ele disse enquanto anotava algo no canto das folhas.

E assim foi até o fim da aula. Nunca fiquei tão apreensivo em uma sala de aula. Apesar de tudo, foi divertido. Só queria saber o motivo desse jogo. Utilizando de todo resto de coragem que me restava, o indaguei.

— Antônio, desculpa, professor Antônio — o chamei.

— Sim? — Ele se virou com um sorriso amarelo aparente.

— Pode nos informar agora porque disso?

— Foi uma forma de avaliar vocês. Na próxima aula terá uma espécie de continuação, então... Quem não participou hoje pode ficar pra fora da sala caso não queira ficar presenciando o... Sofrimento dos demais.

Uma queimação tomou conta da minha garganta.

— E tem como saber quem foi o ganhador?

— Na hora certa vocês saberão, afinal, é fundamental sabermos quem passou ou não para fazermos a segunda parte.

Para a minha felicidade, antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, o sinal da faculdade tocara alertando o fim das aulas nesse dia completamente estranho.

Juntei minhas coisas as pressas e saí correndo pelo campus.

[...]

Passei o resto do dia na biblioteca. Eu tinha que me apressar caso quisesse tomar o último ônibus que passava no dia.

Cheguei em casa e tomei mais um banho para descansar o corpo e tirar a sujeira do dia-a-dia.

Ao sair do banheiro enrolado pela cintura com uma toalha enquanto com que a outra eu secava os cabelos, me deparei com Caio sentado na cama com os cotovelos apoiados na coxa. Seu olhar em minha direção era intimador.

Sem me importar, me troquei na frente dele mesmo.

Estava prestes a me jogar no colchão e dormir até a manhã seguinte quando Caio colocou uma das mãos sobre a minha.

— Nós precisamos conversar e eu não vou deixar que você adie essa conversa.

— De que diabos você está falando? — Senti o rosto queimar.

— Essa putaria que nosso professor te convenceu a viver.

— Está falando que ele me seduziu?

— Viu. Nem precisei dizer qual professor — ele balançou a cabeça com desaprovação. — Você sabe muito bem de quem estou falando, não é mesmo?

— Agradeço muito a sua preocupação, mas não te dei abertura nenhuma pra falar da minha vida pessoal assim.

— Você não consegue enxergar que esse homem é mais ardiloso a que o próprio demônio?

Cai em gargalhadas.

— Você realmente acha que sabe alguma coisa em relação a isso?

— Eu sei como você acha que sente por ele — disse meu primo. — Mas não sente. Você só gosta dele porque ele seguro, financeiramente. Fora o sexo que deve ser bom, digo, comer cu apertadinho deve ser uma maravilha. E assim, nunca precisa aturar uma TPM. — Caio não sabia o quão cruel estava sendo cruel ao me dizer isso, mas ele parecia mal se importar.

Fechei os punhos.

— Não acredito que você é veado. — Ele completou.

Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Infame! Ele não tinha o direito de estar fazendo aquilo comigo. Peguei minha roupa de cama e levei para o sofá, onde fiquei chorando até cair no sono.

Eu não sou veado.


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Notas finais do capítulo

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leêm essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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