Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 20
XIX — Eu Odeio Te Amar Tanto Assim.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou...
Eu sempre dou essas sumidas sem avisar, eu sei, eu sei.
Dessa vez eu tenho desculpa e... espero que entendam.
Fiquei duas semanas internado e bem... Não havia MESMO como postar. Mas vou agilizar as postagens antes que eu acabe voltando pro hospital... Então deve sair uns 3 à 4 capítulos tudo de uma vez.
Espero realmente que entendam a minha situação.
Vejo vocês novamente assim que der e, ah, provavelmente hoje (01/03) vai ter capítulo duplo, senão será no dia 02...
Não deixem de comentar, favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão... É sério mesmo! Vocês não sabem como isso é importante para nós escritores e não custa nem dois minutos.



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ANTÔNIO

Acho que vocês estão acostumados comigo o suficiente pra saber como eu me sinto nas manhãs de segunda, não é mesmo? Desta vez eu não perderei meu tempo narrando meu mau humor matinal. Bem, só preciso acrescentar algo: meu mau humor está um pouco pior, pois Marcos só sabe foder com a minha vida.

Desde que ele foi embora sem se despedir eu ando desconfiado que algo está acontecendo e... E depois de ontem que ele mal me respondeu ao telefone.

Tem caroço nesse angu, veado. Ah se tem.

Mas eu hei de descobrir.

Antes de o sinal bater fui para sala, dei bom dia para os que já estavam presentes e coloquei os fones de ouvidos. Talvez um pouco de indie francês me ajudasse a acalmar naquele momento. 

Elle me dit qu'elle l'aime que les slow en anglais, et shakespeare un Shakespeare très français.

Cantei sussurrado, mas mesmo assim alguns alunos me encaravam espantados.

Eu não dou a mínima.

A aula estava prestes a começar quando Caio, junto de seu primo, adentrou a sala com um olhar intimador. Pelo tom vermelho na pele de Marcos que não tivera coragem de me cumprimentar, soube que alguma coisa meu chegara aos ouvidos de Caio.

Duas horas falando direto e... Salvo pelo gongo.

— Vou mandar um artigo no e-mail de vocês e quero um relatório de duas páginas para amanhã. — Disse com um sorriso amarelo no rosto.

Estava de costa para as carteiras enquanto colocava os meus pertences na bolsa tira colo quando fui surpreendido por uma voz conhecida.

— Professor Antônio? — Marcos disse em um tom baixo. Havia outros alunos por perto.

— Sim? — Me virei.

— Será que a gente poderia conversar?

— Ficou alguma dúvida na matéria? — Questionei. — Se for isso posso te explicar.

— Não, não é isso. A aula foi perfeita. — Ele sorriu. — Mas não é sobre isso. Preciso de uma... Orientação. — Ele hesitou enquanto pensava na palavra certa.

Caio passou por nós.

— Primo, estou indo passar o intervalo com o povo da Civil, quer vir com a gente? — O rapaz que mais parecia um estereotipado aluno de Educação Física perguntou.

— Tenho que resolver algo antes. — Marcos o fitou com os olhos.

Esperei o aluno mais insuportável que já tive sumir do meu campo de visão e voltei a atenção para Marcos.

— O que precisa conversar pode ser discutido dentro de uma sala de aula? Caso você não saiba há uma ética que nós professores devemos cumprir...

— Eu sei disso. — Ele disse seco. — Não vou tomar muito do seu tempo.

— Desembuche. — Sugeri.

— Seja lá o que for que nós tínhamos, acabou.

Ele iniciou seu trajeto para a saída da sala, mas o segurei firme pelo pulso.

— É simples assim pra você? — Eu estava sem entender.

— Não. É complicado demais. Por isso deveria acabar. — Ele explicou.

— Eu pensei que você estava superando os problemas em relação a isso.

— Você não sabe, não entende.

— Então me diga o que está acontecendo, quero realmente entender.

Marcos pestanejou.

Eu nunca havia o visto daquele jeito.

Seus lábios tremiam.

— Eu só queria dizer que… Saí de casa.

— Que? Vamos para um lugar mais discreto para você me contar mais sobre isso.

No caminho até a ponte que cortava o lago do campus, Marcos me pos a par de tudo.

Eu não sabia o que dizer.

Lidar com aquilo era novo pra mim.

— Não vai dizer nada? — Ele questionou.

— Por que não foi para minha casa?

— Até parece. — Ele riu revirando os olhos. — Não temos nada para eu me enfiar na sua casa.

— Ótimo. — Sussurrei.

— Não é isso que quis dizer…

— Não precisa se explicar.

Ele acendeu um cigarro indiano. O tragava abstraído.

— Eu só precisava contar isso pra alguém e olha… Você é uma das únicas pessoas que confio no momento. E não quero mais falar sobre isso.

Confia. Mas é claro que confia. Tanto que foi correndo pra casa daquele racista e preconceituoso sem pensar duas vezes.

— Mas talvez eu queira e não acho certo você ter ido pra casa do Caio. Se ele descobrir que você gosta de macho…

Ele me interrompeu.

— Eu não gosto de “macho”. Eu gosto de você.

Encarei seus olhos verdes sem coragem de retrucar.

O dia já estava sendo maravilhoso o suficiente.

Evitarei o máximo discutir, ainda mais quando a discussão é com o homem que eu… amo.

Ainda não consigo aceitar que estou perdidamente apaixonado por um aluno.

E o pior disso tudo é saber que não há nada que eu possa fazer.

Decidido a cortar aquele clima chato, comecei a puxar assunto com meu aluno. No início foi difícil manter a conversa, pois todas as respostas eram monossilábicas. Em algum instante ele percebeu que eu realmente estava com disposição o suficiente para não calar a boca e começou a me dar mais atenção. Não obstante sua expressão séria ainda doía em mim.

Eu estava distraído respondendo um e-mail pelo celular e não pude ver um cisne se aproximar de mim. Quando me dei conta já era tarde demais. Graças a minha alectorofobia não consegui sair do lugar. Com os olhos ardendo pela vontade de chorar e com a garganta seca de tanto gritar, eu só queria socar Marcos.

— Faz alguma coisa! — Ordenei.

— O que eu posso fazer? — Ele disse em meio a uma gargalhada. — Ele só deve estar querendo algo pra comer.

— Não faça isso! — Gritei. — Ele vai aproximar.

Marcos não conseguia disfarçar as gargalhadas ao me ver desesperado e imóvel.

Apesar de estar quase sujando minhas calças por tanto medo, no fundo me sentia bem por estar vendo o meu bem sorrir.

Depois que ele finalmente conseguiu espantar a ave que vinha em minha direção com as asas abertas, demorou um pouco até eu me recuperar do constrangimento.

— Você está bem? — Ele riu mais uma vez.

— Depois de ver esse sorriso, não tem como não ficar. — Sorri sem mostrar os dentes.

— Besta. — Ele balançou a cabeça. — Eu aqui todo preocupado e você fazendo charminho.

Dei de ombros.

— Sei muito bem onde você está preocupado.

— É verdade.

Tomamos nosso caminho de volta para o nosso bloco.

Não resisti em convidá-lo.

— Vamos estender a festa da piscina da Alexandra lá em casa?

— Não sei se estou pronto para… — Ele fez uma pausa. — Você sabe, fazer aquilo de novo.

— Só estou te chamando para ir para a piscina. — Ri. — Quem está pensando em outras coisas.

— Quem não te conhece que te compre. — Ele franziu o rosto.

O silêncio se formou entre nós dois.

Quando chegamos onde nosso caminho se bifurcaria fui surpreendido pela sua voz.

— Aceito. — Ele disse rápido, como se estivesse com medo de se arrepender. — Mas chame a Alexandra, por segurança.

Ótimo!

Marcos não estava pronto para transar comigo e eu não estava pronto para encarar Alexandra.

 

[...]

 

Na sombra de uma árvore eu esperava meu aluno dar as caras pra irmos embora juntos. Não demorou muito, mas lá estava ele. Junto de seu primo e dos amigos do mesmo. Eu não vou mentir, e, jamais negarei isso: a presença de Caio me faz mal. Me sinto muito melhor quando ele não está nos rondando feito um urubu-rei. Sinto que me sentiria muito melhor se um dia ele sumisse pra sempre.

Me fitando com os olhos de longe, o rapaz se despediu do primo e seguiu seu rumo.

— Que cara é essa? — Questionou.

— Felizmente, a minha. — Abri um sorriso enquanto caminhava em direção ao carro.

No trajeto para casa, diferente de mais cedo, quem puxava assunto era ele.

Ele parecia estar muito empolgado com a faculdade. Isso me deixava feliz.

Tive que me conter para não contar que eu estava quase o selecionando entre os melhores da turma que virão a trabalhar comigo na empresa. Por sorte me contive.

Quando chegamos, Dona Vitória nos recebeu com um enorme sorriso e serviu a mesa com snacks. Havíamos decido juntos esperar Alexandra, que chegaria um pouco mais tarde, para jantarmos juntos. Mas, poxa vida, estávamos com muita fome e realmente precisávamos forrar o estômago.

Durante a refeição senti falta de minha gata Vênus. Ela sempre estava na porta a me esperar. Mas antes que eu pudesse abrir a boca para perguntar sobre o seu paradeiro, ela passou entre as pernas de Marcos roçando sua calda peluda o fazendo eriçar.

— Ai meu Deus! — Ele disse com os olhos arregalados.

— O que foi? — Perguntei imaginando o que fosse.

— Algo passou entre minhas pernas. — Ele arredou a cadeira pra ver se havia algo no chão.

Vênus que a essa altura já havia pulado em meu colo começou a ronronar.

— Acho que sei o que foi. —  Ri apertando minha gata contra meu corpo.

Ao acabar a breve refeição, o chamei para o quarto e Dona Vitória levantou as pressas.

Fiquei sem entender muito bem pelo porque.

— Acho que vou dar uma volta meu querido, você não se importa?

Cerrei os olhos. Minha governanta não era muito de sair e sempre me avisava horas, as vezes dias, antes.

— Claro que pode. — Respondi desconfiado. — Seria muita intromissão da minha parte perguntar aonde?

— A qualquer lugar… Só não estou a fim de escutar gemidos.

Senti meu rosto queimar. Quando vi  Marcos vermelho à um pimentão me senti mais constrangido ainda.

— Nós só estamos indo trocar de roupa para ir pra piscina.

Agora era ela quem estava ficando corada.

— Mil perdões é que… Eu pensei… Eu pensei que…

Se eu não estivesse constrangido o suficiente estaria no meio de uma gargalhada que me tiraria todo o ar.

— Não por isso meu amor. — Caminhei até ela e dei um beijo na testa.

Já no quarto, Marcos sentou na cama enquanto eu mexia no armário.

Notei que ele estava calado demais. Olhei para trás e vi que ele continuava enrubescido.

— O que está acontecendo? — Indaguei.

— Também quero um. — Marcos mordeu os lábios fazendo com que um arrepio subisse pela minha espinha.

Larguei a peça de roupa que estava em minha mão e fui em direção a cama o derrubado sobre ela.

Diminui em quase zero a distância entre nós e quando estava prestes a encostar meus lábios em suas testas, ele inclinou o rosto encostando os lábios no meu. Sua língua abria lentamente minha boca que correspondia a cada movimento. O gosto de suco de melão ainda presente em sua boca deixava aquela sensação ainda mais gostosa.

Era impossível ignorar nossos sexos enrijecidos.

Eu estava prestes a por tudo aquilo em minhas mãos quando um barulho diabólico do interfone cortou o barulho dos beijos.

Pulei para trás assustado.

— Deita de bruços! — Ordenei.

— Pra que? — Ele franziu o cenho.

— Quer que Vitória veja isso? — Apontei para o volume em sua calça.

Peguei o primeiro cabide que minhas mãos alcançou e tentei disfarçar a ereção.

— Estão vestidos? — Dona Vitória gritou de longe.

— Pode entrar. — Respondi em meio a uma gargalhada.

— É uma tal de Alexandra, pode mandar subir?

Respirei fundo.

— Pode, é claro que pode.

Enquanto esperava minha amiga subir, vesti uma sunga estampada com palmeiras tropicais e perguntei a meu companheiro se ele queria algo emprestado. Dizendo que ficaria de cueca, não insisti para que ele aceitasse algo.

Quando Dona Vitória abriu a porta, Marcos e eu estávamos abraçados perto do sofá. Suas mãos em minha cintura. - Bem, pelo menos uma delas. A outra estava um pouco para baixo. - As minhas em seus ombros.

Ale cumprimentou a governanta e pediu licença para adentrar.

Sem um filtro na língua, ela logo fez questão de anunciar a chegada.

— Pelo visto vamos nadar no rio que está saindo de mim, não é mesmo? — Ela se abanou com a mão.

Rimos.

Me soltei de Marcos e a cumprimentei.

Pelo visto ela não tocaria no assunto e… muito menos eu.

Com poucas delongas, nos caminhamos para a varanda da minha cobertura onde estava a piscina e logo fiz questão de entrar. Marcos pulou logo em seguida.

Antes de entrar, Alexandra nos comunicou que precisava ir ao banheiro. Disse que havia um a sua direita, mas caso preferisse podia usar o banheiro social. Sem frescura, ela foi no banheiro - quase inutilizado - da área de lazer.

Aproveitando a privacidade, Marcos caminhou até mim e passou os braços me envolvendo em seu corpo quente. Ele aproximou nossos lábios novamente e ao final do beijo o mordiscou meus lábios.

— Nós ficaríamos bem juntos, não acha? — Perguntei para Marcos olhava no fundo dos meus olhos.

— Não. — Ele disse aproximando nossas bocas novamente.

— Por quê? — Indaguei depois de roubar um beijo.

— Porque eu vou quebrar seu coração. — Ele riu.

— Talvez eu quebre o seu. — Me opus.

— Ninguém quebra o meu coração.

Arrepiei-me.

Talvez tenha sido a brisa que corria por todo o meu terraço. Talvez tenha sido o medo de perder alguém que eu tanto amava.

Antes que pudesse responder, Alexandra voltou do banheiro e se juntou a nós na piscina.

— Não pude de deixar de ouvir essa conversa e só tenho algo a dizer: O que esperar dessa geração que ainda acha que a vida é um episódio de Skins?

Não quis responder. Me soltei dos braços de Marcos e atravessei a piscina em um mergulho repentino.

Quando voltei a superfície, ele havia ido atrás de mim.

Me envolvendo com os braços na cintura novamente, ele me agarrou por trás jogando meu pescoço para o lado e deixou uma marca bem… visível.

— Eu odeio te amar tanto assim. — Disse mordendo os lábios ao sentir suas mãos encostarem em um lugar nada discreto.


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Notas finais do capítulo

Comentar em uma fic é mostrar para o autor o quanto
você respeita e gosta da historia. Não custa nada e não
demora dois minutos, então por que não comentar?

Com certeza todos que leêm essa nota já escreveram algo
e viram como é ruim escrever para as paredes. Muitos desistem,
outros desanimam.

Então faça uma forcinha, nem que seja para dizer que amou
ou odiou. Com toda certeza o autor se sentira melhor.



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