A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 8
Velhos e novos amigos parte 1


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo, não se preocupem, pois tudo que não for revelado nas notas finais desse capítulo será revelado em outro capítulo.



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Alguns dias se passaram, mas a atividade não se encerrou na Embaixada. Enquanto tentavam se integrar ao acampamento, as moradoras faziam suas próprias atividades. Raven tinha que dar continuidade às aulas de Jasmine no inglês, já que Seshat tinha concluído as de grego e iniciado o inglês da menina. Diana tinha que diminuir o ritmo na arena e às vezes ajudava Jasmine a treinar com a adaga, visto que o cajado dependia da relação dela com a natureza. Jasmine, por sua vez, recebia ligações frequentes de Njord, perguntando como ela estava, se tinha progredido e dando novas lições ou só jogando conversa fora.

Todas as noites no acampamento havia seleção para os chalés. Reclamações aconteciam aos montes, mas ninguém ia para a Embaixada.

— Por que ninguém é mandado para cá? – Perguntou Jasmine.

— Os deuses estrangeiros cuidam de seus filhos. – Respondeu Raven. – Não precisam passar pela reclamação, pois já foram reclamados no nascimento.

— Eu sei, mas e aqueles cujos pais não têm um chalé?

— Eles ficam no Chalé de Hermes.

— Eles têm medo. – Disse Helena.

— Medo?

— A administração do acampamento não quer problemas com os estrangeiros e os novos reclamados ainda não saíram do choque inicial.

— Choque?

— Você entrou no dia em que nos conhecemos e falamos sobre sua mãe.

— Tudo ainda é novo para eles. – Esclareceu a egípcia. – Em um dia eram pessoas normais, como você era, e no outro descobrem que seus supostos pais mortos ou que os abandonaram estão vivos e são deuses e eles precisam vir para cá sem a mínima noção do que está acontecendo.

— A diferença entre eles e nós é que nós crescemos sabendo o que éramos e aprendemos sobre mitologia e línguas mitológicas ainda crianças. – Pronunciou-se Diana. – Eles descobriram agora, há muita coisa passando pela cabeça deles.

— Raiva, revolta, surpresa e principalmente medo. – Finalizou Helena. – Eles ainda não sabem o que fazer e têm muitas perguntas precisando de respostas.

— Entendo. Eu queria poder fazer alguma coisa por eles.

— Dê um tempo para se adaptarem.

— O que acham de falarmos com os novatos? – Perguntou Diana.

— Eu me recuso.

— Vai ser legal! Vamos tentar.

— Não acha que pode acelerar as coisas? – Perguntou Raven.

— Se não quiserem, a Jasmine vai comigo.

— Eu?!

— Não, meu irmão Höõr. Você vai sim.

No dia seguinte, Diana e Jasmine sentaram em um canto conversaram um pouco com os recém-reclamados e alguns dos recém-chegados daquele dia. Não disseram sobre seus pais, apenas trocaram experiências humanas, o que surpreendeu a grega, já que não conhecia a vida humana da nórdica.

— Uma vez eu acabei puxando a corrente do cadeado para abrir a porta do telhado e arrebentei a fechadura. – Contou a ruiva. – Minha mãe ficou uma fera quando descobriu.

— Eu já quebrei a costela de um colega em uma briga uma vez. – Contou um. – Minha mãe me deu uma surra e tanto, mas até hoje não me lembro do que eu fiz. Eu juro que não me lembro, em um instante eu estava defendendo o meu irmãozinho e no outro o cara estava sendo levado por uma maca. Meus colegas me disseram que eu dei uma surra e tanto.

— Você é filho de Ares, certo?

— Foi o que me disseram ontem.

— A raiva e a luta fazem parte de você, mas podem ser sua ruína. Tome muito cuidado com ela ou poderá ser usada contra você.

— Como vai ser a reclamação? – Perguntou uma garota pequena, uma criança. – Minha mãe virá aqui e vai me abraçar?

— Não, não vai ser assim. Eles vão te chamar para perto da fogueira e um símbolo irá aparecer sobre sua cabeça. Me admira que alguém tão jovem venha para esse acampamento. Quantos anos você tem?

— Sete.

— Vai ser a mais nova meio-sangue a ser reclamada. – Disse um rapaz.

— Eu não diria isso.

— O que é meio-sangue? – Perguntou Jasmine.

— Eu ouvi por pelo acampamento ontem e parece que é o que somos.

— E é um termo extremamente pejorativo para semideuses estrangeiros. Chame um de meio-sangue e acabará sem a cabeça.

— O que são semideuses estrangeiros?

— Alguns de vocês aprenderam alguma coisa sobre mitologia grega, outros devem ter se encantado pelo Thor da Marvel e decidido ler mais sobre mitologia nórdica e outros preferiram descobrir sobre a egípcia. Alguns podem ser indianos ou descendentes de indianos e ter ouvido falar nos deuses hindus. Estrangeiro é um termo utilizado para definir aqueles que são de outra mitologia, uma mitologia diferente da sua, é claro.

— Há outras mitologias?

— Claro que há. Nenhuma história mitológica está errada. Há semideuses estrangeiros também, mas eles são reclamados no nascimento.

— É sério?!

— Reclamados no nascimento?! Pode isso?

— Eu sabia que existiam! Sempre gostei mais dos nórdicos.

— Você também? Eu achava que era o único que creia nos nórdicos! Mas somos meios-sangues gregos.

— Digam semideuses, meio-sangue é um termo que faz os nórdicos se zangarem.

— Por quê? – Perguntou a menina de 7 anos.

— É um termo ruim. “Meio-sangue”, metade do sangue. Como se apenas você tivesse metade do seu sangue no seu corpo, a metade considerada “boa”, como se apenas a metade divina fosse importante. Ou em outra interpretação, como se a metade mortal fosse podre e fraca e você não fosse uma deusa completa por causa do seu sangue mortal. Somos feitos de sangue de deuses e de mortais. Temos os poderes dos deuses e a astúcia e força de vontade dos mortais. Somos poderosos, mas tão surpreendentemente imprevisíveis quanto os mortais, fora que nós não temos imortalidade. Isso seria culpa da nossa metade mortal.

— Vendo por esse lado, é um termo pejorativo. – Disse o garoto loiro que adorava os nórdicos.

— Quando foi reclamada?

— No nascimento. – A maioria se espantou. – Mas a minha amiga aqui foi reclamada nesse acampamento, como alguns aqui foram e como alguns aqui serão.

— É verdade. – Disse Jasmine. – Foi assustador.

— Não foi tão assustador assim. – Disse o filho de Ares.

— Não nesse sentido, digo, eu vim para cá sem ideia do que estava acontecendo, tinha acabado de ser atacada por uma mulher cobra gigante que antes era minha professora.

— Sua mãe não te contou nada depois disso?

— Minha mãe é uma deusa e meu pai me abandonou ainda bebê. Eu não tive ninguém para me contar ou explicar, só soube por uma ninfa que me mandou vir pra cá nesse mesmo dia. Vim atrás de respostas, mas mesmo assim, muitas perguntas permanecem.

— E seus irmãos? Os outros filhos da sua mãe?

— Eu não tenho irmãos. Minha mãe não tem um chalé aqui. Percebi que estava completamente sozinha, perdida nesse mar de gente desconhecida e coisas estranhas, porém eu conheci a Diana, a Raven e a Helena. Elas me ensinam muito e vivem me ajudando, mesmo sendo muito diferentes.

— É normal ter medo, ainda mais em uma situação dessas. – Complementou a nórdica. – Porém, verão que não há o que temer. Irão conhecer pessoas com o mesmo problema de vocês. Não desanimem se não conseguirem algo de primeira, sempre poderão se aperfeiçoar. Há muita gente legal por aqui.

Sem aviso, Diana retirou a espada da Chain e a ergueu a tempo de desviar uma flecha que vinha em direção ao grupo, arrancando exclamações de todos. Se era para alguém ou não, não sabia dizer.

— E há os babacas também. – Ela se levantou. – Quem foi o filho da puta que atirou essa merda dessa flecha?! Mostre a cara se tem piroca pra isso!

— Hey, não precisa ser grossa desse jeito! – Exclamou o garoto de aparentemente 17 anos com o arco. – Foi só uma brincadeira.

— Brincadeira é a minha espada no teu cu!

— Diana, se acalme. – Pediu Jasmine. – Você não precisa fazer isso.

— Vocês não deviam andar com as meninas da Embaixada. Elas abrigam a filha de uma titã que tentou derrubar o Olimpo.

— É agora que eu arrombo esse viado.

— Podem parar com isso. – Disse Quíron chegando aos trotes. – Austin, por que atirou a flecha nos calouros?

— Era só brincadeira. Eu não ia acertar ninguém, mas essa grossa teve que me insultar!

— Acontece que essa grossa vai te encher a porrada até rasgar o seu cu em dois!

— As filhas do Maior Nórdico são sempre assim? – Perguntou o centauro.

— Eu sou a primeira filha dele.

— E tem a boca dos seus irmãos. – Disse o Senhor D. aparecendo por entre as árvores. – Se quiserem se matar, ótimo. Só não venham encher o meu saco depois.

— Não vai fazer nada com essa aí?!

— Essa aí é a égua da arrombada da tua mãe. Eu sou Diana, filha de Odin e princesa de Asgard. Eu vou te ensinar a respeitar.

— Ih, o maluco se fodeu.

Austin encaixou outra flecha no arco ao mesmo tempo em que Diana pegou a adaga da Chain. O grego disparou a flecha e a nórdica arremessou a adaga. A flecha e a adaga não se encontraram, passaram uma pela outra e continuaram pela trajetória. Austin tinha permanecido parado, então teve que girar o corpo para não ser acertado fatalmente, apenas ganhou um corte de raspão. Já Diana tinha se movido para nordeste, ficando fora do alcance da flecha e avançando. Quando viu o corte sendo feito no adversário, a ruiva não perdeu tempo e avançou. Ao chegar perto, ela ergueu a espada e atacou. O golpe foi defendido pelo arco, mas a espada de aço asgardiano cortou o arco em dois.

Vendo o inimigo desarmado, Diana retornou a colocar a espada na Chain e socou Austin, jogando-o alguns metros para trás. Outro soco foi desferido fazendo o mesmo e o estalo de costelas se partindo foi ouvido. Por fim, ela deu um gancho que fez o adversário literalmente voar pelo acampamento até se chocar contra a forja. Após o evento, recolheu a adaga e a guardou.A essa altura, Raven e Helena se aproximaram para ver o que estava acontecendo

— Nada que eu não deveria esperar. – Comentou o Senhor D. enquanto os outros estavam boquiabertos. – É, foi um bom entretenimento. Na próxima vez, me lembre de trazer a pipoca, Quíron.

— O senhor não pode estar falando sério! – Exclamou o centauro.

— Como não? Nórdicos foram feitos para lutar. É para isso que treinam. Lutar, comer e beber, se bem que eu concordo com a parte de beber.

— Desculpe discordar, mas nem todos os nórdicos foram feitos para a luta. – Disse Jasmine timidamente. – Pelo menos não os vanir. Embora saibam, eles não gostam.

— Aesir, vanir, é tudo a mesma merda.

— Não são. Aesir são os deuses da guerra, os lutadores e vanir são os deuses da fertilidade, os cultivadores. Pelo menos foi isso que meu mestre me disse.

— Seu mestre?! Quem é o seu mestre?

— Njord, o deus da fertilidade, dos mares e dos ventos e protetor dos caçadores e dos pescadores.

— Puta merda! Dupla nacionalidade?!

— O que é isso?

— É quando um deus adota um semideus de outra mitologia. – Disse Raven surgindo das sombras com Helena. – Seja como aluno, pupilo, empregado ou até mesmo filho. Os nórdicos têm mais facilidade de adotar, visto que qualquer um pode entrar em seu clã, desde que seja digno para tal. Já os egípcios, é mais difícil, pois valorizamos muito as relações de sangue, embora possamos adotar os que mais nos agradam.

— Só esqueceu de mencionar que todos são provisórios, menos filho, mas se tratando do velho Njord, a diferença entre eles é zero.

— Isso é ruim? – Perguntou a grega.

— Porra! Só a sua mãe e Njord que podem te fazer mal e mais ninguém! – Esbravejou o deus do vinho e das festas. – Se qualquer outro te atacar, é guerra. Você ganhou na loteria e me fodeu e nem percebeu?!

— Ela ainda é verde. – Mencionou Helena.

— Hei, vocês se acham boas, não é?! – Gritou um filho de Ares se aproximando.

— Traz o seu traseiro até aqui que eu te mostro. – Desafiou Diana.

— Diana, já não basta a briga que acabou de se meter? – Repreendeu Raven. – Odin não te deu bom senso? Quer nos expulsar e trazer má fama para nós?

— Porra, corvo! Você tem razão.

— Alguém precisa ter.

— O que foi?! Se acovardou, é?! Ou precisa da permissão namoradinha para brigar?

— Isso era para ser uma ofensa? – Perguntou Raven sem muito interesse. – As ninfas gritam ofensas piores que essas.

— Desculpe. – Disse Jasmine ao filho de Ares recém-reclamado.

— Pelo que? Pode ser meu irmão, mas não o vejo assim.

— Sua vadia desgraçada, vamos te quebrar inteira! – Com isso vários filhos de Ares apareceram e se juntaram àquele.

— É sério mesmo? Precisa dos irmãos mais velhos para resolver essa questão comigo? Está bem, não reclamem se Hades receber algumas almas de presente. – Disse tirando o arco da Chain.

— Que menina arrogante! – Exclamou o Senhor D. – Como todos os heróis!

— Nunca nos referimos como heroínas. – Contou Helena. – Raven é só a filha de um faraó, precisa manter a pose régia, não importa a situação.

— Não estou gostando disso. E você também é arrogante, Helga!

— Helena. Não me obrigue a tirar o capuz.

— Vai aprender com quem está se metendo!

— Com um bando de hospitalizados.

— Nós somos filhos de Ares, vamos te mandar pro túmulo.

— E eu sou Raven, filha de Rá, herdeira de todo o seu legado e aquela que ensinará a vocês a ter bom senso.

— Puta...! Foi com uma dessas que deu a merda da outra vez! – Disse o deus para o centauro.

Os filhos de Ares começaram a avançar. Raven concentrou uma pequena quantidade de energia solar para criar uma flecha. Depois só precisou apontá-la para o grupo e atirá-la. Ao atingir o chão, a flecha explodiu como uma erupção no sol em menor escala. A luz cegou, a radiação se espalhou e tudo terminou tão rápido como começou. No lugar havia uma cratera e os atacantes com queimaduras de 3º grau. Dionísio, Quíron, Jasmine e os estreantes ficaram boquiabertos. A explosão chamou a atenção de todos do acampamento e Raven guardou o arco.

— Que foda! – Exclamou Diana.

— Você quer destruir meu acampamento?! – Exclamou o deus.

— Se eu quisesse, teria feito uma flecha mais forte. Essa foi a flecha mais fraca que já fiz na vida.

— É melhor avisarmos à enfermaria. – Aconselhou Quíron.

— Não precisa, já está todo mundo aqui. Hei, povo da enfermaria! Cuidem disso! E alguém me traga uma coca diet!

— Ray!

— Essa voz...

Outro grupo de novatos se aproximou para ver. Desse grupo quatro garotos se aproximaram das meninas. Um era alto, tinha a pele alva o cabelo loiro esverdeado, cujo comprimento ia até os ombros, com a parte superior presa em um curto rabo de cavalo e a debaixo solta, possuía belos olhos azuis e vestia um blusão xadrez por cima de uma regata branca, jeans e botas; o segundo tinha a pele bronzeada, o cabelo loiro dourado na altura dos ombros, e extremamente bagunçado, e olhos azuis como o céu e vestia uma camisa branca, um casaco jeans, uma calça jeans rasgada cinza e all star; o terceiro tinha a pele pálida como um cadáver, cabelo negro até o meio das costas e olhos negros e vestia uma regata preta, calça preta, coturnos negros e munhequeiras negras com alguns braceletes de tachas; e o último era um rapaz alvo de cabelo negro encaracolado e olhos verdes escuros e vestia jeans, camiseta verde e botas de cano baixo. Todos possuíam correntes nas calças.

O loiro queimado de sol e o moreno cadavérico abraçaram a egípcia enquanto o loiro esverdeado abraçou as nórdicas e o outro ficou enfeitando a paisagem.

— Eliot! Angus! – Exclamou Raven. – Que surpresa encontrá-los aqui!

— Minha mãe me obrigou a vir. – Disse o moreno. – Mas quando soube que você estava aqui e montou uma embaixada, Eliot quis vir correndo.

— Nada a ver! – Exclamou o loiro de nome Eliot. – Você que me arrastou para cá!

— Nicolas! – Diana retribuía o abraço triplo da melhor maneira que podia. – Até que enfim sua mãe te liberou dos serviços da floricultura.

— Pois é, Dia. Eu queria ter ido àquela reunião em Asgard, mas não pude.

— Você tirou o meu capuz. – Repreendeu Helena.

— Foi mal. Mas está um dia bom demais para usar capuz.

— É por causa dele.

Helena apontou para Dionísio com a cabeça. O deus se encontrava mortificado e era amparado pelo centauro.

— O que houve com o Senhor D? – Perguntou Jasmine.

— Filha de Hel. – Comentou Helena, que viu o desespero e a surpresa começarem a se formar nos olhos do centauro e alguns sátiros na multidão, enquanto apontava para o seu cabelo.

— Quem é o seu amigo?

— Sou...

Perdeu playboy, perdeu!

Árion apareceu gritando na língua dos cavalos, meteu a cabeça por entre as pernas de Jasmine, ergueu-a, fazendo-a montá-lo e saiu correndo a toda velocidade para o interior da floresta.

— Mas o que deu nesse cavalo? – Perguntou Raven.

— Sinnen. – Chamou Helena.

Sinnen surgiu da fumaça que se formou, majestoso e perigoso como um pesadelo sabia ser. Helena iria montá-lo, mas o garoto que estava prestes a ser apresentado se aproximou do pesadelo antes.

— Posso pegá-lo emprestado? – Sem esperar resposta, ele montou o pesadelo. – Obrigado. – Com isso, ele galopou para a floresta atrás de Árion, deixando Helena furiosa.

— Tem algo errado. – Disse Nicolas. – Pesadelos não queimam as bundas de quem tenta montá-los sem que seja seu cavaleiro?

— E o seu pesadelo o aceitou tão bem. – Complementou Diana. – Nem relutou.

— Sinnen se permitiu ser montado. – Sentenciou Helena.

Enquanto isso, Árion corria pela floresta que nem um maluco. Quando achou que estava longe o bastante, parou.

— Por que você fez isso?!

— Considere um teste. Preciso voltar a falar como um cavalo.

— Um teste?

Já começou dando problemas?

Sinnen. Como chegou tão rápido?!

Pesadelos andam pelas dimensões.

— Devolva a menina. – Disse o rapaz.

Se conseguir me pegar antes.

Árion começou a correr e Sinnen foi em seu encalço. Começaram uma perseguição louca por entre as árvores ao estilo Scooby-Doo. Árion só parou novamente na margem do rio e começou a cruzá-la com cuidado. Sinnen estava lá com o garoto, porém ainda em terra. O garoto disse algumas palavras em uma língua incompreensível e depois, seguindo o curso do rio, estava uma torrente de cavalos de água prestes a atropelar o cavalo.

Caralho!

Árion correu para a margem oposta, sobrando muito tempo entre a tropa de água e seu atropelamento. Correu por aquele campo por uma fração de segundos antes de ser atingido no flanco direito. O impacto fez com que Jasmine se desequilibrasse e voasse e quando aterrissou, nem sabia onde estava. Tudo tinha ocorrido em uma fração de segundos. Quando a menina voltou a si, viu Árion já levantado e encarando um estranho cavalo inteiramente negro, com exceção dos olhos turquesa. Um chifre terrivelmente negro brotava da testa do cavalo. Ela tentou se levantar, mas quase perdeu o equilíbrio e deu de cara no chão.

Cuidado. Você pode cair.

As palavras vieram do cavalo o qual ela jazia no lombo. Ele era igual ao cavalo que encarava Árion, porém era inteiramente branco, incluindo o chifre. Sinnen cruzou o rio e Árion se viu cercado pelos três. O garoto desceu do pesadelo e se aproximou de Árion.

— Pare, eu não quero machucá-lo.

E não vai. Sei quem você é. Você passou no teste.

— Do que ele está falando? – Perguntou a garota.

Eu não sei.— Respondeu o branco. – Ele é maluco.

— Você estava me testando?!

— Claro! – Respondeu na língua humana. – Queria ter mesmo certeza de que era você, jovem mestre. É mesmo você! Sua presença... É filho da grande senhora!

— Do que ele está falando?

Mestre Frísio é filho da grande senhora dos cavalos. Espere, como consegue me ouvir?

— Sou filha de Gaia, eu consigo falar com animais e árvores.

Você sabia?— Perguntou Sinnen furioso.

— Eu previ, Sinnen. Só queria ter certeza de que era verdade. Quando o vi montado em você, tive certeza! Eu me curvo a você. – Disse se curvando. – E juro meus serviços. Não há cavalo mais veloz no mundo do que eu.

E mais rabugento também.— Árion lançou um olhar mortal para Sinnen.

— Você está bem? – Perguntou o garoto para Jasmine.

— Estou. Como foi que...? Como é que...? Você consegue ouvir o que os cavalos falam?

— Sim. Alguns semideuses conseguem ouvir o que eles têm a dizer, basta ter ligações com cavalos.

— Como Poseidon. – Intrometeu-se Árion.

— Fiáin, se abaixe para a menina descer. – O equino branco obedeceu e o garoto ajudou Jasmine a descer.

— Obrigada.

— Como se chama?

— Jasmine. Jasmine Oak, sou filha de Gaia.

— A famosa filha de Gaia que todos estão comentando? Ás vezes os deuses fazem tempestade em um copo d’água.

Vai deixar assim impune?!— O equino negro se pronunciou pela primeira vez.

— Era apenas um teste, Gaoithe. Espero que esteja feliz pó ter me obrigado a chamar meus companheiros.

— Muito. Só reforçou minhas expectativas.

Vamos voltar.— Sugeriu Sinnen. – Os outros devem estar preocupados. E ninguém quer semideuses nórdicos e egípcios passando o pente fino na floresta.

E foi o que fizeram. O rapaz voltou montado em Árion, Jasmine em Fiáin, o corcel branco, e Sinnen e o corcel negro chamado Gaoithe os seguiram. Quando chegaram ao acampamento, encontraram uma multidão ainda maior, Dionísio se enchendo de coca diet e Diana brigando com Helena enquanto os outros ponderavam.

Quando os quatro equinos apareceram, os olhares se voltaram para eles, alguns eram de espanto, outros eram de deslumbramento. Dionísio cuspiu a coca, Raven demonstrou algum alívio e Diana era um misto de preocupação e alívio. Ambos desmontaram quando se aproximaram dos estrangeiros.

— Eu não disse? – Disse Helena. – Confie em Sinnen como eu confio. Pesadelos sabem o que fazem.

— Você entrou na floresta com um pesadelo e saiu com dois unicórnios e esse cavalo pau no cu?! – Gritou o deus.

— Também te adoro, primo bafo de vinho.

— Nem me lembre que eu sou seu primo!

— Árion fala?! – Exclamaram os campistas mais antigos que o conheciam. – Primo?!

— Não conhecem a própria mitologia não? Bando de pau no cu. E ainda têm orgulho de dizerem que são semideuses.

Ele é sempre assim?— Perguntou Gaoithe.

Ele é pior.— Respondeu Sinnen.

— Jasmine! Você está bem?! – Perguntou a ruiva. – Se machucou?!

— Não. Está tudo bem, eu acho.

— Hei, Frísio, deixe a gente te apresentar as criadoras da Embaixada. – Disse Nicolas. – Você estava procurando por elas quando chegou aqui.

— Frísio?! – Exclamou o Senhor D rindo. – Isso é nome de raça de cavalo!

— Minha mãe me deu esse nome.

— Por que estava nos procurando? – Perguntou Raven calmamente.

— Minha mãe me obrigou a vir para cá dizendo que havia uma embaixada. Eu só espero não haver problemas.

— Não tem problema nenhum! – Exclamou Diana. – A Embaixada estará sempre aberta para deuses estrangeiros ou que não tenham representatividade e queriam sair do chalé de Hermes.

— Fico mais aliviado.

— Sou Diana Niamburg, filha de Odin, o líder dos aesir e da mitologia nórdica. – Disse estendendo a mão ao recém-chegado.

— Raven Oally, filha de Rá, aquele quem lidera a mitologia egípcia.

— Helena Nifelmung, filha de Hel, a rainha de Helheim e Niflheim, mitologia nórdica. Você já conhece Sinnen, meu pesadelo.

— Nicolas Vanenmont, filho do vanir Njord, mitologia nórdica. – Apresentou-se rapaz de cabelo loiro esverdeado.

— Eliot Skyfall, filho de Hórus, mitologia egípcia. – Disse o loiro restante.

— Angus Underground, filho de Anúbis, mitologia egípcia. – Falou o moreno cabeludo.

— Jasmine Oak, filha de Gaia, mitologia grega. – Ela achou por bem se apresentar, já que todos faziam isso.

— Frísio. Frísio Wildwind, filho de Epona, mitologia celta gaulesa. E esses unicórnios são meus companheiros Fiáin e Gaoithe. – Ele apertou a mão da ruiva.

— Unicórnios?

— Ela ainda é nova nesse campo. – Desculpou-se a egípcia.

— Cacete! Porra! Caralho! – Gritava o deus.

— Acalme-se, Senhor D. – Disse Quíron.

— Como eu posso me acalmar?! Hel tem filha! Hórus e Anúbis têm filhos! E o maluco é celta! Tudo bem que eu adoro a Epona e a maioria dos celtas, mas celtas são um grande problema!

— Desculpe-me, mas não vejo problema?

— Não?! Corvo de Batalha, A Grande Rainha, fadas, unicórnios, até os Três Grandes Celtas são temíveis se forem irritados!

— Hei, vamos tocar o terror nos pegasus? – Perguntou Árion.

Finalmente concordamos em algo. — Concordou Sinnen.

Eu quero!— Exclamou Gaoithe.

Como assim pegasus?Eles estão aqui? O que fizeram de errado? – Perguntou Fiáin.

— Ninguém vai tocar terror em pégasus nenhum. – Proibiu Frísio.

— Ah, é verdade! – Exclamou a ruiva. – O estábulo está cheio de pégasus e não acho que vão gostar dos unicórnios.

— Angus, preciso dos seus mortos. – Ordenou Raven. – É uma questão urgente de construção e decoração. E não tente me convencer do contrário!


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Notas finais do capítulo

A "cerimônia" de reclamação lembra um pouco a cerimônia do Harry Potter e essa foi a intenção. Descobre-se o pai divino das criaturas e depois mandam para o chalé.
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Rá é o deus do sol, ele ensina seus filhos a manipular energia solar.
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A flecha utilizada nada mais é do que concentração de energia solar pronta para explodir ao colidir com algo. O objetivo não é acertar um único alvo, mas sim causar estrago.
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Pesadelos, quando possuem um cavaleiro, são extremamente leais e não se permitem ser montados por mais ninguém, a menos que seu dono exija ou o próprio queira por outras razões.
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Pesadelos também podem andar por entre as dimensões.
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Unicórnios são cavalos com chifres no meio da testa, possuem sangue prateado e são ditas como as mais puras criaturas.
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Não custa ressaltar: na mitologia grega, Árion é filho de Poseidon e Deméte e irmão gêmeo de Despina, além de poder falar e ver o futuro; Dionísio é filho de Zeus; Zeus é irmão de Poseidon, portanto são primos.
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Frísio é o nome de uma raça de cavalo. É um cavalo de pelo negro, robusto e peludo de temperamento dócil. Aqui está uma das imagens do cavalo frísio ou friesian: http://www.curtacavalos.com/wp-content/uploads/2012/06/friesian-horse-netherlands.jpg
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Os nomes Fiáin e Gaoithe são uma brincadeira com o sobrenome do personagem Frísio Wildwind. Em irlandês, fiáin quer dizer selvagem (wild) e gaoithe quer dizer vento (wind), pelo menos foi o que vi no tradutor.
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Epona é a deusa celta gaulesa patrona dos cavalos, burros e mulas, dos equinos em geral. Outras duas deusas celtas que também são patronas dos cavalos (e somente dos cavalos), sendo uma irlandesa e uma galesa, mas irei falar delas mais para frente. Por enquanto, nos concentremos em Epona.
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Por ser a deusa dos equinos, ela os atrai naturalmente. O sangue de Epona nas veias dos filhos dela faz os equinos os reconhecerem como seus senhores ou pelo menos pedem para que os montem uma vez, além de respeitá-los.
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Epona também é o nome da égua do Link de Leged of Zelda.
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Skyfall foi retirado de um dos filmes do 007, não vi o filme, só o trailer e ouvi falar muito do nome.
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Sobre a fala "Corvo de Batalha, A Grande Rainha, fadas, unicórnios, até os Três Grandes Celtas são temíveis se forem irritados!", desvendaremos mais sobre os deuses celtas ao seu tempo.
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É isso, espero que tenham gostado, não se esqueçam de avaliar e, se possível, comentar... Não, espera... Aqui não é o youtube.



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