A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 9
Velhos e novos amigos parte 2


Notas iniciais do capítulo

Natal chegando e problemas também. Semana que vem não tem capítulo novo. O motivo? Eu vou viajar, mas levarei a fic comigo para escrever mais capítulos, só não poderei postar até voltar de viagem (saudades, wi-fi).
Boa leitura.



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O dia ainda não tinha terminado e os mortos andavam de um lado a outro pelo acampamento para construir um estábulo perto da Embaixada e decorar os quartos restantes. Além disso, havia reclamações dos filhos de Apolo e Deméter sobre mais trabalho na enfermaria.

O pessoal da Embaixada e quatro amigos que Diana e Jasmine fizeram naquela manhã conhecidos como Marvin, o filho de Ares, Lena, a menina de 7 anos, Thales, o filho de Atena apaixonado por mitologia nórdica, e Bryan, outro apaixonado por mitologia nórdica, além de Alan, um garoto com quem Nicolas, Eliot e Angus tinham feito amizade além de Frísio, estavam sentados na grama vendo Diana e Raven darem ordens aos mortos.

– Não sentem pena dos mortos? – Perguntou Nicolas.

– Não. – Respondeu Angus deitado na grama com os braços atrás da cabeça enquanto tentava dormir. – Eles precisam de algo pra fazer além de sofrerem seus castigos ou colher flores no paraíso.

– O que acontece quando a gente morre? – Perguntou Lena.

– Depende da mitologia. – Respondeu Helena. – Por falar em mitologia, explique-nos a sua, Frísio. Você se apresentou como sendo da mitologia celta gaulesa.

– É verdade. A mitologia celta não é como as outras, é uma mitologia regional. Nas outras, há variações dos mitos dos mesmos deuses conforme a região, mas na mitologia celta, os deuses mudam conforme a região.

– Como assim? – Perguntaram os gregos.

– A religião celta dominava as ilhas britânicas e o continente europeu, países como Gália e Ibéria e até mesmo alguns tinham culto em Roma, como minha mãe. Nós somos divididos em três subcategorias importantes: irlandeses, originários da Irlanda e que se propagaram para a Escócia, Galeses, originários nos País de Gales e também abrangem os ingleses e alguns escoceses, e gauleses, que abrangem do resto do continente europeu, em principal a Gália, Gália ibérica, Gália belga, enfim. Mas temos muito mais em outros territórios não gauleses. A estimativa é que haja 300 deuses celtas.

– 300?!

– Como eu disse, somos regionais. Cada região acreditava em determinado grupo de deuses e eram celtas do mesmo jeito. Nossos Três Grandes representam cada uma das três subdivisões mais importantes.

– O que são Três Grandes? – Perguntou a menininha.

– Três Grandes é um termo que se refere aos três principais deuses de uma mitologia, mas é muito relativo. – Respondeu Jasmine.

– Como puderam ver a exemplo do Frísio. – Disse Helena.

– Cada mitologia tem seus Três Grandes. – Afirmou Eliot. – Os Três Grandes Gregos são Zeus, Poseidon e Hades, os Três Grandes Egípcios são Rá, Atum e Amon, os Três Grandes Nórdicos são Odin, Ve e Vili e os Três Grandes Celtas são Dagda, Beli e Sucellus.

– No caso da minha, os Três Grandes são um dos três líderes de cada subdivisão. Eles são Dagda, pelos irlandeses, Beli pelos galeses, e Sucellus, pelos gauleses. Dagda, juntamente com Bilé e Morrigan, formam os Três Líderes Irlandeses; Beli, juntamente com Cerridwen e Arianrhod, formam os Três Líderes Galeses; e Sucellus, juntamente com Belenus e Cernunnos, formam os Três Líderes Gauleses.

– Mas só há Três Maiores no mundo. – Comentou Angus.

– Três Maiores é o termo usado para referir aos três maiores líderes das três maiores mitologias que há.

– Não que a minha não seja grande. – Alertou Frísio. – Mas as mitologias grega, egípcia e nórdica são as mais lembradas, as mais conhecidas e as mais famosas mundialmente. Poucos são os que se lembram da mitologia celta e os que se lembram ou são praticantes de wicca ou são exotéricos ou ocultistas.

– Você está bem visto. – Zombou o filho de Anúbis.

– Mas por quê? – Perguntou a filha de Gaia.

– Nós celtas somos ligados à natureza e à magia. Somos pacíficos, mas nossa história está cheia de sangue e guerra. É como um lema: guerra, natureza e magia. Sempre esses três, afinal meus deuses amam o número 3. É um número sagrado, representando os Três Reinos: céu, terra e mar. Seus múltiplos também são igualmente venerados, principalmente o número 9, pois é a manifestação natural do nº3 repetido 3 vezes. Essa é a minha cultura.

– Ih, o cara viajou. – Disse Angus enquanto Frísio estava em transe. – O que acha Eliot? Eliot?

Eliot estava sentado na grama de qualquer jeito, tinha se tornado alheio à conversa e olhava para o céu. Estava azul com algumas nuvens, mas nada de interessante.

– Está um dia bonito. – Comentou o filho de Hórus.

– Ótimo pra dormir. Me acorde quando a noite chegar.

– Você disse que a sua mãe era Epona. – Começou Jasmine. – Quem é ela?

– Epona é a deusa dos cavalos, asnos e mulas. – Respondeu o celta. – Mas ela também atrai pôneis e unicórnios, tanto que Fiáin e Gaoithe foram me dados de presente por ela. Os equinos a amam e adoram sua presença, tanto que agora ela está tentando montar zebras.

– Zebras podem ser montadas?

– E por que não? Ouvi falar sobre um deus elefante que monta um rato. Tudo é possível.

– Por falar nas montarias, para onde foram eles? – Perguntou Marvin, o filho de Ares.

Os quatro equinos passaram trotando pelo grupo. Quando pararam, viram que na verdade eram cinco. Um cavalo cinza de oito patas tinha se juntado a eles.

– Sleipnir, o que faz aqui? – Perguntou o filho de Njord.

– Ele só está de passagem. – Respondeu Árion. – Viu a mim e Sinnen com novos amigos e decidiu vir e se enturmar também. Ah e ele veio conhecer o jovem mestre também.

– Virei atração?

Nós cavalos não temos muito com o que nos divertir e o que gostar. – Respondeu Sleipnir. – Sou o primeiro filho de Loki e a montaria de Odin, nunca conheci cavalos além dos comuns de Asgard. Quando conheci Árion e o pesadelo Sinnen, percebi que não quero ser apenas um cavalo.

– Nós não temos muito que fazer além de comer, correr e dormir. – Disse Fiáin. – Árion está nos ensinando coisas novas porque ele não cresceu somente sendo um cavalo.

Devo tudo à minha gêmea Derpina.

Será que dá pra chamar a sua irmã para montar o campo de Stoneball? – Perguntou Sinnen.

– Até dá, mas Dionísio vai cagar nas calças e me xingar pelo resto da eternidade. Vamos ver quem cospe mais longe?

Você brincava disso com a sua irmã? – Perguntou Gaoithe.

– Claro que sim! Ela não tem frescura. Se ela tivesse um pau, a gente competiria para ver quem mija mais longe.

– Há uma criança entre nós. – Alertou Helena.

– Está certo. Se alguém precisar de nós, estaremos cuspindo por aí.

Os cavalos, os unicórnios e o pesadelo trotaram para longe do grupo para que então pudessem realizar sua competição. Novamente o grupo pôde conversar em paz. Alguns se diziam receosos pela reclamação que aconteceria durante a noite. Diana e Raven voltaram na hora do almoço. O estábulo tinha sido construído e os quartos decorados. Após Nicolas, Frísio, Eliot e Angus deixarem suas coisas em seus quartos, todos foram almoçar e os estrangeiros e Jasmine se separaram dos gregos por conta da maldita regra do refeitório.

Inicialmente, os equinos estavam em uma competição de cuspe à distância, porém ela evoluiu para uma batalha de cuspe, uma corrida louca sobre duas patas e até mesmo uma competição de mijo à distância. Árion arrumou uma tábua redonda de pedra e ensinou aos unicórnios a jogar Stoneball, embora as pedras não deslizassem tão bem como na arena de gelo. Roubaram morangos da plantação, correram feito loucos pela floresta e quase atropelaram um grupo de meninas, que depois descobriram ser as caçadoras de Artêmis e a própria deusa.

– Seu cavalo estúpido, imundo e idiota! – Gritou a deusa.

– Só me xinga porque sou macho, se eu fosse fêmea estaria lambendo a minha boceta.

– Árion fala?! – Perguntou Thalia, a tenente.

– Não, eu to peidando pela boca, não é assim que os humanos fazem?!

– Olhem aqueles cavalos com chifres. – Disse uma caçadora.

– E aquele em chamas.

– Aquele tem oito patas?

– Você e seus amigos vão ficar magníficos no meu quarto! – Disse a deusa.

– Eu cuido disso, gente. Ô prima freira com xereca de limão estragado, eles estão comigo.

– Eu não sou a sua prima, cavalo boca suja.

– Sério? Então devem ter outros irmãos chamados Zeus, Poseidon e Deméter em algum lugar.

– Me dê um bom motivo para não acertar uma flecha no meio do seu crânio. – Disse pegando o arco e mirando no cavalo.

– Se fizer isso vai surgir um inverno tão longo e gelado que não vai ter o que caçar.

– Quione não é sua aliada, cavalo.

– HAHAHAHAHAHA Quione não chega aos pés da minha irmã gêmea. Ela sim é gelada. Já deve ter ouvido falar na senhora do inverno.

– Ela é sua irmã?! – Os olhos da deusa se arregalaram.

– Milady, se quiser, daremos conta desse cavalo. – Disse a tenente.

– Não, Thalia. Não nesse. Maldito dia que te libertaram das amazonas. – Disse abaixando o arco.

– Eles só pouparam as amazonas da fúria do inverno de Westeros. Pelos heróis ou pelo gelo eu estaria livre de qualquer jeito.

– Seu...

– Os outros dariam ótimas montarias.

– Vai morrer antes que possam nos montar. – Disse Sleipnir na língua dos humanos.

– Eu sabia que você falava!

– Outro cavalo falante?! A cabeça dele vai servir de decoração no meu chalé.

– E a sua alma vai servir à minha meia-irmã se fizer isso, isso é, se não prestar contas a Odin antes.

– Odin?

– Sou Sleipnir, montaria de Odin, primeiro filho de Loki e meio-irmão do Trio Temível. Acho que já ouviu falar do lobo mau, da anaconda e da senhora de Helheim e Niflheim.

– Do que ele está falando? – Perguntou uma caçadora.

– De problemas muito maiores do que eu pensei.

– Ainda sobram três.

Os chifres de Fiáin e Gaoithe começaram a brilhar. Uma estranha luz esverdeada tomou conta das gargantas dos unicórnios e do pesadelo e depois sumiu.

– Eu discordo disso, milady. – Disse Fiáin. – Ferir um unicórnio é um ato grave, matá-lo é mais grave ainda. Todos aqueles que fizerem um unicórnio sangrar, serão amaldiçoados. A maldição é pior quando o unicórnio é morto, mas acho que sabe disso.

– Tão bem quanto eu sei que unicórnios preferem se aproximar de mulheres virgens. Sendo assim, o terei como montaria.

– Eu o pegarei, milady. – Disse uma das caçadoras.

A menina cruzou a distância que separava as caçadoras dos equinos. Embora Árion e Sleipnir protestassem, Fiáin os impediu de fazer qualquer coisa que envolvesse ameaçar ou atropelar. Quando a caçadora estava perto o suficiente para tocar o unicórnio, Gaoithe foi até lá e enfiou o chifre por entre suas pernas e a jogou de volta para as meninas, deixando-as horrorizadas. Sinnen soltou uma gargalhada brutal, Sleinpir ficou surpreso e Árion soltou um sonoro “Se fodeu!”.

– Gaoithe, que coisa horrenda!

– É isso que vai acontecer se tentarem usar o velho truque da isca virgem.

– Você não tem jeito, irmão.

– Vai dizer que não pensou na mesma coisa.

– Pensei que unicórnios fossem puros. – Contestou Artêmis.

– Sou um unicórnio negro, unicórnios negros são cruéis, não contaram? A maldade está em meu ser. Sangre-me e será duas vezes mais amaldiçoada que um unicórnio comum, mate-me e as maldições serão piores que qualquer uma que já tenha posto. Use uma virgem para atrair o meu irmão e poderá escolher entre o cu e a vagina. Talvez um buraco entre os dois.

– Como alguém tão puro como você pode ser irmão dele? – Perguntou Sleipnir.

– Puro?! Fiáin não é tão puro assim!

– Nós somos gêmeos. Um pouco de sangue de unicórnio negro corre por minhas veias.

– Te entendo cara.

– Maldição ou não, isso não vai ficar impune.

A deusa pegou uma flecha e atirou contra o unicórnio negro. Antes de acertá-lo, uma densa fumaça negra projetou-se à frente do unicórnio, impedindo-o de receber o dano. A fumaça se materializou em dois olhos flamejantes, que trouxeram uma onda de terror entre as caçadoras, mas mantiveram a pose de duronas e toda sua dignidade. Quando a sombra esfumaçada se materializou, o terror ficou estampado nos olhos de cada uma ali. O cavalo de fogo que tinha sido visto de relance e apontado anteriormente se apresentou ser mais que um simples cavalo negro com fogo no rabo.

– U-Um pesadelo?! – Começou Artêmis, reunindo o resto da sua dignidade e coragem.

– Só agora fui notado?

– IT’S TERROR TIME! – Gritou Árion.

Sinnen bufou e avançou. Artêmis pela primeira vez em toda sua eternidade teve que fugir frente a um cavalo. Fez com que as outras pegassem a garota que estava no chão e começaram a correr do pesadelo em fúria. Os outros equinos correram atrás e começou uma bela perseguição ao estilo Scooby-Doo com direito a Sinnen soltando fogo pelas ventas, Gaoithe tentando chifrar alguém ou só lançando magia para aterrorizar, Fiáin lançando magia do chifre para restaurar o que o irmão tinha destruído e Árion e Sleipnir correndo como se tivessem pegado a doença da vaca louca.

Enquanto isso, no acampamento, os semideuses tinham terminado o almoço e faziam sua rotina sem nenhuma preocupação. Até que um grupo de caçadoras fugindo de um pesadelo furioso, que estava sendo seguido pela plateia da treta, passou correndo pelas dependências.

– Eita caralho! – Exclamou Dionísio. – Que porra é essa?!

– São os equinos da Embaixada, Árion e... Aquele cavalo tem oito patas? – Espantou-se Quíron.

– Só pode ser Sleipnir! Estou sóbrio demais para essas porras!

– SINNEN! Quieto! Agora! – Ordenou Helena.

– Fiáin! Gaoithe! Quietos os dois! – Ordenou Frísio.

O pesadelo parou de perseguir e retornou para a amazona com o rabo de fogo entre as pernas. Os outros também pararam, embora Frísio só tivesse ordenado aos unicórnios.

– Minha senhora?

– Vejo que os unicórnios o fizeram falar.

– Peço perdão. Principalmente por hoje de manhã.

– Nenhum equino resiste ao sangue de Epona, não? E você não resistiria ao de Macha também. – Disse vestindo a máscara da impassividade, embora houvesse notas de desaprovação em sua voz.

– Eu sinto muito.

– Não sinta. Pode me explicar essa corrida?

– As caçadoras queriam arrancar nossa pele e depois nos usar como montarias.

– Quiseram, até ver quem Sinnen realmente era. – Disse Gaoithe.

– Você fez de novo! – Exclamou Frísio ao notar o sangue no chifre do unicórnio negro. – Eu não acredito, a tática da isca virgem?

– Não enfiei meu chifre entre as pernas de alguém por diversão.

– O que é isso? – Perguntou Jasmine.

– Unicórnios são seres puros, mas tão puros que não é possível se aproximar deles sempre que desejar. Eles só se aproximam de pessoas puras, principalmente mulheres virgens. A isca virgem é quando usam uma mulher virgem para atrair e acalmar o unicórnio para então os caçadores capturá-lo. Apesar de Fiáin e Gaoithe serem gêmeos, Gaoithe não é afetado por essa isca, pois puxou mais ao pai dele.

– Ao pai dele?

– O pai deles era um unicórnio negro, pelo que eu ouvi dizer. Pode ver que eles têm os olhos da mãe, mas é só o que possuem em comum. Unicórnios negros tendem a ser cruéis, preferem comer carne crua a vegetais e começam a mastigar antes da presa começar a morrer, são especialistas em maldições, perfuram a carne com chifres, porém possuem o mesmo sangue prateado dos unicórnios comuns.

– Gaoithe é cruel?

– Não acredito que seja. Ele só é meio maluco e protetor, embora tenha meios nada ortodoxos. Eu não sabia que Sinnen era tão leal e subordinado.

– Não sabe muito sobre pesadelos, não? – Perguntou Helena.

– Não mesmo. Sinnen foi o primeiro pesadelo que vi e montei.

– Você não o montou, ele deixou ser montado. Ele é um cavalo afinal de contas e você é filho de Epona.

– Pelo visto, eles não gostam de ser montados.

– Pesadelos não são montados até serem domados. Uma vez domado o pesadelo, ele se torna sua montaria, irá sempre te obedecer e será seu mais leal servo e companheiro. – Helena acariciou o focinho de Sinnen. – Não é fácil domar um pesadelo. Sinnen não me foi dado como Fiáin e Gaoithe foram a você e não me deixou montá-lo. Eu tive que domá-lo.

– Entendo. Desculpe por tê-lo pegado emprestado sem sua permissão.

– Não há nada que desculpar. Agora eu percebo... Ele nunca teve qualquer tipo de convivência com outros equinos que não fossem pesadelos. É uma experiência nova pra ele.

– Minha senhora...

– Os outros estão em situação parecida. – Disse o celta. – Eu sinto isso.

– Mas o que isso tem a ver como fato desse pesadelo perseguir a mim e as minhas caçadoras?! Pesadelos são vis e deveriam ser esfolados vivos. – Helena retirou o capuz. – Você...!

– É a minha sobrinha. – Disse Sleipnir abrindo um sorriso de orelha a orelha.

– Não me faça avisar pela segunda vez. Tenha cuidado ao falar de algo dos deuses da morte e do submundo, principalmente ao que diz respeito à minha mãe.

– Ô, Ô, Ô, Ô! Sem brigas no meu acampamento! – Gritou Dionísio apartando a possível briga. – Porra, caçar esses cavalos é pedir pra se foder! Até eu sei que dois unicórnios e um pesadelo juntos não são um bom sinal. E deem um jeito desses cavalos não se meterem em confusão! Um deles feriu alguém!

– É sangue de virgem. Não perfurei ninguém.

– Puta merda!

Após a bronca, cada um dos grupos seguiu para um lado. Os unicórnios retiraram o feitiço que permitia com que eles e o pesadelo falassem a língua humana. Sleipnir retornou a Valhalla e Sinnen desapareceu em uma nuvem de fumaça negra. Árion, Fiáin e Gaoithe foram ao estábulo construído para eles. Era enorme com palha fresca para todo lado e divisórias sem portas para que pudessem transitar sempre que quisessem. Não havia comedouro, pois não precisavam de ração de cavalo e diferente dos unicórnios negros, Gaoithe não comia carne crua, preferia uma picanha na brasa, bacon ou um bom frango assado.

Quando menos esperaram já era noite. Novamente os campistas estavam no Pavilhão de Jantar, mas desta vez para a reclamação dos novatos. Conforme iam sendo reclamados, eles se alojavam nas mesas de seus novos chalés, porém alguns retornavam à mesa do Chalé de Hermes.

– Parece a seleção do Harry Potter, só que mórbida. – Comentou Eliot.

– Eliot!

– É sério, Ray. Nem parecem que estão felizes de receber os outros em seus próprios chalés. E outros nem parecem felizes de irem para outro chalé.

– Não é verdade. Senão, como estariam sorrindo? – Questionou Nicolas.

– Você não está vendo através dos sorrisos. Eles sorriem, mas no fundo...

– Ciúmes. – Concluiu Angus. – Alguns não aceitam que seus pais mortais foram os únicos para seus pais divinos e ao verem seus meios-irmãos, pensam no quão importante seus pais mortais devem ter sido para os deuses. Alguns vêm de famílias desestruturadas e não se dão bem com os pais. Não posso culpá-los.

– Alguns não foram bem recebidos pelos seus pais mortais. – Continuou Helena. – Cresceram achando que seus pais os odiavam e com razão. Não nos diferenciamos tanto assim dos mortais e nem dos deuses. Todos nós temos problemas familiares.

– Jasmine, o que foi? – Perguntou Diana. – Você mal tocou na comida.

– Não é nada. Eu só...

– Está se sentindo deslocada porque todo mundo aqui, com exceção do Frísio, já se conhecia? – Perguntou Angus.

– Você não estava conversando com os outros?

– Presto atenção em várias coisas ao mesmo tempo, principalmente as que mais me chamam atenção.

– Não fique assim. – Disse Eliot. – Vocês dois podem não ter ninguém de suas mitologias para conversar, mas não é tão ruim.

– Eu não disse nada. – Comentou Frísio.

– Mas não está socializando.

– A gente tem que fazer alguma coisa. – Disse Raven. – Meus colegas vão dar uma festa amanhã. Por que não vem comigo?

– Acha uma boa ideia, Ray?

– E por que não? Vai ser divertido.

– Eu não tenho certeza. – Disse a filha de Gaia.

– Nunca esteve em uma festa, aposto. – Disse Nicolas. – Não se preocupe, meu pai disse para cuidar de você como uma irmã. Vai estar segura comigo.

– Obrigada.

– Combinado, todo mundo vai amanhã.

– E a permissão para sair do acampamento? – Perguntou Helena.

– Já falei com Quíron e ele concorda em dar uma amenizada nos problemas. Sem a gente aqui, ele vai ter mais tempo para cuidar dos novatos sem maiores traumas ou enfermaria lotada.

– Quanto tempo ficaremos fora?

– O churrasco começa às 13h e como eu conheço os anfitriões, vai se estender até a noite em uma festa de arromba.

– Eu gostei da ideia. – Disse Diana.

– Combinado então.

Lena, a menina de sete anos correu para a mesa destinada à Embaixada e se esconteu atrás dos lugares onde estavam sentados Diana e Nicolas. Olhares de confusão, reprovação e até mesmo surpresa das outras mesas. Quíron teve que ir até a mesa.

– Lena, o que faz aqui? A mesa do Chalé de Hecate está bem ali.

– Mas eu prefiro ficar aqui.

– Hecate? – Perguntou a ruiva. – Você foi reclamada como filha de Hecate?

– Fui.

– Hecate tem um chalé e é pra lá que tem que ir. – Disse o centauro.

– Mas eu não quero!

– Eu cuido disso. – A filha de Odin respirou fundo. – Lena, você sabe que não pode ficar com a gente. Sua mãe tem um chalé para os filhos dela.

– Mas eu não quero ir pra lá.

– Eu sei que é difícil. – Disse saindo do banco, se abaixando na altura da garota e colocando a mão no topo da cabeça dela. – E que é assustador, mas você precisa ser forte. Sabe, muitas vezes a gente nem sabe onde está se metendo, grandes mudanças vão acontecer, é muita coisa acontecendo e pouco tempo para se adaptar e isso é assustador e muito difícil, às vezes achamos que é impossível, mas se você conseguir dar o primeiro passo, vai ver que não é tão ruim assim. Entende?

– Acho que sim.

– Meus irmãos sempre me disseram para ser forte e não ter medo de nada e se eu tivesse medo de alguma coisa, eu deveria enfrentar meus medos.

– Você tem medo de alguma coisa?

– Todos temem alguma coisa, até eu tenho medo, até meu pai Odin, o Grande Rá e Zeus têm medo. Vamos fazer o seguinte, eu vou com você até a mesa do Chalé de Hecate e vou te mostrar que não precisa ter medo.

– E se forem maus?

– Mando todo mundo para Hel cuidar. – Dionísio cuspiu a coca.

– Não fale esse nome!

Diana pegou a menina no colo como se fosse um bebê de dois anos e andou até a mesa dos filhos de Hecate.

– Com licença, acho que tenho algo que é de vocês.

– Ah, sim. Lena, não é? Por que fugiu?

– Só está com medo. Ela ainda tem sete anos. Isso tudo é novo para ela ainda e ser reclamada tão jovem não ajuda muito.

– Sete anos?! É a meio-sangue mais jovem a ser reclamada!

– Não é por mal, mas o pessoal daquela mesa ali, tirando a de cabelo castanho foram todos reclamados no nascimento.

– Como isso é possível?!

– Somos diferentes. Prazer, Diana Niamburg, filha de Odin.

– Lou Ellen, conselheira do Chalé de Hecate. Droga, a gente ia ter a mais jovem reclamada.

– Por que não a mais jovem reclamada grega? Ainda é um título.

– É, tanto faz.

– Viu, Lena? Não há o que temer. – Disse a colocando no chão. – Estou certa? – Perguntou à conselheira.

– Claro que não. Pode vir.

– Isso quer dizer que a gente não vai mais se ver?

– Que isso?! Estamos nesse acampamento, não estamos? Vamos nos ver todos os dias até as férias acabarem.

– A gente se vê amanhã então?

– Claro, mas só na parte da manhã porque vou ter que sair com o pessoal da Embaixada.

– Por quê?

– O Senhor D precisa de um tempo para por o acampamento em ordem e quer um pouco de sossego. Vai ser bom para o pessoal da Arena treinar mais e o pessoal da enfermaria vai parar de me xingar até a quinta geração. Pelo menos só um pouquinho.

– Mas há minotauros lá fora!

– Eu matei meu primeiro gigante aos nove anos. – Queria falar jotun, mas duvidava que alguém ali conhecesse essa palavra. – Um minotauro não é grande para mim. E o pessoal sabe se defender. Se você for forte chegará um dia em que poderá viver uma vida normal sem se preocupar com minotauros ou qualquer outro monstro lá fora. Mas para isso vai ter que treinar e muito. O Senhor D e Quíron vão treinar os novatos amanhã, seus irmãos podem te ensinar algumas coisas também.

– Vou dar o meu melhor.

– É assim que se fala. Cuidem bem dela.

– A gente vai cuidar. Só queria que alguém tivesse me dito algo assim quando entrei nesse acampamento pela primeira vez.

– Mas você ainda pode dizer isso aos seus irmãos. Poderá dizer aos seus futuros irmãos e quando sair, o próximo conselheiro poderá fazer o mesmo. Meu pai sempre diz que um verdadeiro líder é aquele que inspira os outros a segui-lo. Você será uma grande líder.

– Você acha? Obrigada.

– Disponha.

Diana se despediu dos filhos de Hecate com um sorriso e retornou à sua mesa. O resto do jantar ocorreu normalmente e ao final da noite, todos puderam ir para seus chalés descansar.


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Notas finais do capítulo

A mitologia celta é diferente das outras porque é regional. Não que as outras não seja, mas é a única que se mudar de região, os deuses mudam também e não há contrapartes, embora dois deuses diferentes ocupem a mesma função e os historiadores façam alusão a eles.
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Os celtas eram predominantes nas ilhas britânicas (Reino Unido [Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte] e Irlanda), na Gália (atual França), Gália Ibérica ou só Ibéria (Portugal e Espanha), Gália Belga e um monte de outros lugares.
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A língua celta ajudou na formação do inglês ao cruzar com a germânica e deu origem ao escocês, irlandês e galês. Atualmente sua influência limita-se ao oeste da Irlanda, um pouco do País de Gales e ao norte da Muralha de Adriano na Escócia.
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Alguns deuses possuíam culto em Roma, mas o culto foi erradicado pelos deuses romanos.
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Estima-se que haja em torno de 300 deuses celtas, alguns deles são descritos como mitologia portuguesa e espanhola. Como havia 2 ou 3 deuses diferentes com a mesma função em regiões diferentes, isso aumentou para o grande número de deuses.
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Apesar da característica regional, três tipos de mitologia celta se destacam: irlandesa, galesa e gaulesa.
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Para quem não se lembra da Gália, lembre-se de Asterix e Oberix, eles eram gauleses.
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Dagda é o deus celta irlandês da magia, da música, da poesia, dos bardos, dos guerreiros, pai dos celtas, pai de todos, da profecia e da sabedoria. Ele tem um taco de duas pontas sendo que uma delas pode matar 9 homens e a outra pode ressuscitar os mortos.
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Beli é o deus celta galês que é o grande líder e ancestral do povo galês. Ele corresponderia a Bilé na mitologia irlandesa e Belenus na gaulesa.
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Sucellus é o deus celta gaulês da fertilidade, da cura, das florestas e rei dos deuses. Anda com um grande martelo de cabo longo que usa para golpear a terra e despertar as plantas, dando início à primavera.
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Os Três Líderes é a tríade de deuses celtas de cada uma das três grandes subdivisões.
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Bilé é o deus irlandês pai dos deuses e dos homens, o primeiro ancestral, também é o deus do outro mundo. Alguns mitos o colocam como pai de Dagda.
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Morrigan é a deusa mais conhecida e famosa da mitologia celta. É a deusa da guerra, da morte, associada à magia e ao ocultismo, às fadas, na verdade ela tem tantos títulos e associações que é impossível se lembrar de todos. Ela é uma deusa tríplice que sempre aparece com mais duas irmãs, as três são conhecidas como as três Morrigan. A Morrigan principal, que dá título ao trio, também é conhecida como A Grande Rainha.
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Cerridwen é a deusa galesa associada às fases da lua e à fertilidade. Ela anda com um caldeirão que usa para suas poções. Ela é representada na obra Taliesin do bardo Taliesin, que teria sido antecessor de Merlim. Taeslin bebeu do caldeirão dela a poção da inteligência destinada ao filho feio dela, com isso, ela passou a persegui-lo. Ambos se metamorfoseavam em vários animais e até mesmo plantas, já que Taliesin virou um grão de milho que foi comido pela Cerridwen em forma de galinha. Ela acabou engravidando e quando Taliesin nasceu de seu ventre, era uma criança tão bonita que deu pena de matar.
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Arianrhod é a deusa galesa da fertilidade, do nascimento, da iniciação e da reencarnação. É uma deusa lunar e também é conhecida como A Roda de Prata ou Senhora da Roda de Prata. Ainda virgem deu à luz a dois meninos: Dylan e Lleu (ou Llew) após passar pelo teste de seu tio Math.
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Belenus ou Belenos ou Bel é o deus gaulês da luz e do fogo e também uma divindade solar. Era associado à ciência, cura, sabedoria e invocado pelos guerreiros em batalha.
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Cernunnos é o deus gaulês da natureza e da fertilidade e o senhor dos animais, tanto selvagens quanto domésticos.
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Celtas são conhecidos pelos praticantes de wicca, ocultismo e afins pela sualigação com a natureza e com a magia.
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O número 3 é importante para os celtas. São sempre tríades, três reinos (terra, céu e mar), três mundos (céu, terra e subterrâneo) e quando não é o 3 são seus múltiplos 6 e 9. O nove é melhor porque é a manifestação natural do número 3 repetido 3 vezes (3 x 3 = 9).
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Todo número que for múltiplo de 3 vai ter como resultado final 3, 6 ou 9, não importa quantas vezes sejam somados. Para ver se um número é múltiplo de 3, é só somar seus algarismos:
12 >>> 1 + 2 = 3 21 >>> 2 + 1 = 3 30 >>> 3 + 0 = 3 39 >>> 3 + 9 = 12 >>> 1 + 2 = 3
15 >>> 1 + 5 = 6 24 >>> 2 + 4 = 6 33 >>> 3 + 3 = 6
18 >>> 1 + 8 = 9 27 >>> 2 + 7 = 9 36 >>> 3 + 6 = 9
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Celtas têm tara pelo 3, então se quiser conquistar a gatinha celta ou o boy celta, foca no 3!
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Zebras não são boas para montaria porque a sela não foi feita pare elas, mas quem precisa de celas quando se pode montar ao natural?
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Unicórnios são sere puros de sangue prateado que comem raios de sol da manhã e orvalho. Machucar um desses é passível de maldição, matar então é pior ainda.
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A "isca virgem" é uma armadilha para unicórnios em que uma garota virgem é usada para se aproximar do animal e quando ele deitar em seu colo e dormir ou a seguir, os caçadores aparecem e o capturam.
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Unicórnios negos não são puros, são cruéis e se alimentam de carne. Dizem que eles começam a mastigar suas presas quando elas ainda estão vivas. Matar um desses implica maldições piores, pois estes adoram amaldiçoar.
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Artêmis é a deusa grega da lua e da caça. Ela fez voto de castidade. Seus pais são Zeus e Leto (Latona para os romanos) e seu irmão gêmeo é apolo, o deus do sol, da música e das profecias.
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Ufa, pensei que não ia acabar nunca. Queria deseja a todos um bom natal, um feliz ano novo, um próspero ano novo chinês também (não sei se vou estar aqui antes dele), um bom feriado pagão, aniversário de Isaac Newton, hanukkah, ramadã, enfim, não importa no que acredite, feliz qualquer coisa pra vocês e um ótimo fim de ano com TV pifada para não ouvirem o especial do Roberto Carlos e as mesmas músicas de sempre.



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