Acordei me sentindo muito descansada e coloquei minhas músicas para tocar no volume mais alto, esquecendo por um momento de que não estava sozinha e me deixando contagiar cantando e dançando pelo quarto enquanto me trocava. Separei uma calça skinny azul clara e uma blusa tomara que caia preta juntamente com uma sapatilha nude e comecei a tirar meu pijama quando Ryan entrou no quarto esfregando o rosto de sono e abaixando o volume do meu som.

– Qual o motivo do bom humor? – perguntou mal-humorado.

– Acordei feliz – exclamei – é fim de semana, não tive sonhos com a guerra hoje, vamos numa festa – comecei a enumerar.

– Tudo bem, já entendi – bufou – mas eu ainda não consegui os ingressos.

Virei-me indignada na direção dele e disse:

– O que você está fazendo aqui então? – fui na direção dele e empurrei-o e direção à porta.

– Calma, eu acabei de acordar – falou rindo – deixa eu pelo menos trocar de roupa.

Nesse momento me dei conta que não tinha ideia de como ou onde Ryan se trocava, pois sempre que ele aparecia estava com uma roupa diferente e, sinceramente, não sei porque seres que passam o tempo inteiro no céu precisavam de tantas roupas.

– Onde você guarda as suas roupas? – não me contive e acabei perguntando.

Ele me olhou estranho por um momento, mas respondeu:

– Eu sou um ser mágico, não preciso de algum lugar para guardar minhas roupas.

Ryan deu um passo pra trás e, bem diante dos meus olhos, sua roupa trocou tão rapidamente que em um piscar de olhos eu não teria visto. Olhei espantada pra ele que somente sorriu de lado e se encaminhou à porta, saindo em seguida. Fiquei parada no mesmo lugar por alguns segundos até que voltei ao meu quarto e finalmente troquei de roupa. Mal terminei de calçar minhas sapatilhas e ouvi batidas na porta. Fui correndo atender à porta.

– Sophie! Estou entediada e preciso me distrair – disse Anne já entrando na minha casa.

– Olá pra você também – falei irônica.

Anne foi em direção ao sofá e, ao ver meu sofá levemente desarrumado, se virou pra mim e disse:

– Por que seu sofá está desarrumado? Você sempre está com tudo impecavelmente arrumado.

– E-eu me distraí pintando e esqueci de arrumar – eu realmente não consigo mentir.

– Sei – me olhou desconfiada – mas e aí, quais as novidades?

– Nada demais, andei pintando como sempre e vou numa festa hoje com a Cindy.

– Você vai numa festa e não está quase morrendo? – começou a rir – quem é você e o que fez com a Sophie?

– Sou eu mesma, mas uma festa de vez em quando não mata ninguém – ri junto com ela.

– Vou fingir que acredito nesse motivo. Festa de quem? Brian novamente?

– Não, o pessoal que faz cinema que está organizando – falei naturalmente.

– Você conhece alguém do cinema? – perguntou espantada.

– Eu não sou tão antissocial assim – respondi ofendida.

Nesse momento (nem um pouco oportuno) Ryan entrou casualmente pela porta já falando:

– Adivinha quem conseguiu os ingressos pra festa? – veio caminhando em nossa direção e, assim que viu Anne estacou no mesmo lugar.

– Esse é o seu conhecido que faz cinema Soph? – perguntou sugestiva.

Antes mesmo que eu pudesse responder Ryan disse:

– Eu sou o namorado da Sophie – falou se aproximando de mim e me abraçando por trás – meu nome é Ryan.

– Namorado – me olhou indignada – por que eu não sabia disso antes?

– Por que nós começamos a namorar oficialmente ontem – o anjo me interrompeu novamente.

– Ontem? Uau, isso foi rápido – ela exclamou.

Ryan, como se quisesse tirar Anne dali, começou a beijar do meu cabelo até o meu ombro e Anne, envergonhada, deu uma desculpa e logo saiu da minha casa. Levantei na mesma hora em que ela cruzou a porta.

– Por que você fez isso? Não podia ser mais discreto? Tinha que me interromper? – perguntei de uma vez só.

– Acalme-se – pediu-me – não senti a energia de algum anjo aqui e me esqueci que você poderia estar acompanhada; eu não sou discreto: eu sou um anjo! E eu a interrompi porque você sempre fica nervosa com esse tipo de pergunta.

Fiquei sem palavras absorvendo o que ele havia me dito e resolvi mudar de assunto:

– Como você conseguiu os ingressos? – perguntei curiosa.

– Foi fácil, eu posso hipnotizar as pessoas facilmente, só tive que hipnotizar algumas e logo o boato de que um aluno transferido estava estudando em Princeton se espalhou. Depois só tive que conseguir os ingressos – respondeu-me mostrando os quatro ingressos em sua mão.

– Nossa, isso é muito legal – falei pegando os ingressos da mão dele – você já avisou Faith?

– Não se preocupe com isso. Já falou com Cindy?

– É mesmo, vou ligar para ela – disse enquanto ia em direção ao meu quarto.

Peguei meu telefone e, no segundo toque, Cindy atendeu:

– Oi! Seu namorado conseguiu os ingressos? – perguntou ansiosa.

– Oi Cindy, estou bem, obrigada por perguntar – disse irônica e comecei a rir – Ryan acabou de trazer os ingressos. A festa começa às 22 horas – avisei-a e me lembrei – Ryan também convidou a irmã dele pra ir.

– Ele tem irmã? Bem, não importa, vou começar a separar minha roupa – Cindy nem me deu tchau e desligou o telefone.

Decidi ver algum filme e achei uma comédia que achei que Ryan poderia gostar. Levei o filme até a sala e vi Ryan parado olhando para o nada. Fiquei observando-o por um tempo e ele pareceu me notar. Me aproximei e lhe mostrei o filme.

– Quer me acompanhar, meu amor? – falei brincando, não esperando que ele entrasse na brincadeira.

– Claro, querida – sorriu.

Vimos pouco mais da metade do filme até que Ryan subitamente deu pausa no filme.

– Sophie, você não tem sonhos há quanto tempo? – perguntou sério.

– Uns dois dias ou mais, acho – falei incerta – por quê?

– Estou estranhando que Philip não tenha planejado mais nenhum ataque – suspirou – eu entrei em contato com Faith e ela estava estranhando isto também.

Assim que ele mencionou Faith lembrei-me de perguntar:

– Você falou sobre a festa pra ela?

– Sim, falei.

– Eu falei para Cindy que Faith era sua irmã, algum problema com isso? – perguntei.

– Ela não é parecida comigo, mas tudo bem. – disse, dando play no filme.

Continuamos vendo o filme (que Ryan mal parecia estar assistindo) e, assim que ele terminou, fui para o meu quarto para me arrumar para a festa. Tomei um banho relaxante e separei minha roupa: um vestido branco tubinho com um leve brilho dourado e um sapato de salto dourado. Fiz uma maquiagem leve, com somente um batom vermelho e uma sombra marrom e deixei os cabelos soltos, levemente cacheados. Terminei de me arrumar e fui para sala, onde Ryan já me esperava, vestido de terno e gravata. Ri da roupa que ele usava e recebi um olhar confuso em resposta.

– Você está muito formal para uma festa – expliquei – eu lhe ajudo – disse me aproximando.

Tirei a gravata e o paletó dele sob o seu olhar vigilante e baguncei um pouco seu cabelo (antes milimetricamente arrumado). Me afastei para ver o resultado e falei:

– Está quase perfeito – analisei a roupa mais um pouco – troque de calça, ponha uma jeans escura e ponha a blusa para fora da calça – concluí.

Ele fez o que eu disse e fiquei sem palavras ao ver o quão bem ele ficava com aquela roupa.

– Você está linda – Ryan me pegou de surpresa ao constatar isso – você devia usar branco mais vezes.

– Obrigada – fiquei envergonhada – onde está Faith?

– Já deve estar vindo – ele mal terminou de falar e eu ouvi batidas na porta.

Fui abrir a porta e me surpreendi ao ver a garota usando um vestido rosa com muitas rendas e o cabelo preso em um coque frouxo. Ela estava linda.

– Sophie – disse animada – você está linda – me abraçou.

– Você também está Faith.

Ryan se aproximou e falou num tom de voz que era para parecer sério:

– O que a minha irmã mais nova faz com essa roupa curta?

Eu e Faith nos entreolhamos e começamos a rir, Ryan logo nos acompanhando.

– Sophie falou para Cindy que você era minha irmã. – disse ele – você é adotada.

Ela ficou indignada e exclamou:

– Por que eu tenho que ser adotada? A única diferença é que você tem cabelos escuros e eu não!

– Tudo bem, tudo bem tampinha, você venceu – falou suspirando.

Os dois anjos ficaram implicando um com o outro por mais um tempo até que ouvi outra batida na porta. Abri-a e Cindy logo exclamou:

– Eu não acredito que você está usando esse vestido! – ficou boquiaberta – você sempre disse que ele era muito curto e justo!

– Cindy! – repreendi-a – eu... estava com vontade de usá-lo, é só.

– Sei, vou fingir que acredito – disse e entrou.

Eu realmente tenho que aprender a mentir, todos descobrem quando estou mentindo. Entrei logo atrás da minha amiga e vi que ela conversava animadamente com Faith:

– Você só vai ficar aqui por pouco tempo? Então você tem que aproveitar para ir nos melhores lugares, não se preocupe que eu lhe mostro – abaixou a voz, mas ainda sim ouvi – se depender da Sophie ela só vai ficar dentro de casa.

Faith riu.

– Hey! – exclamei indignada – eu gosto de usar roupas confortáveis e ficar em casa, é relaxante.

– Certo. Por favor Ryan, me diga que você não é desses também – Cindy disse.

– Na verdade eu também gosto de ficar em casa Cindy – vendo a expressão que ela fazia logo completou – hoje mesmo passei o dia aqui.

Fiquei extremamente envergonhada e vermelha, o que só piorou quando minha melhor amiga se virou com um sorriso malicioso para mim.

– Acho melhor irmos ou vamos nos atrasar – desconversei.

– É uma ótima ideia – Ryan disse e pegou minha mão. Fiquei espantada, mas não pude falar nada por causa de Cindy.

Fomos para a festa e, assim que entramos, Faith e Cindy foram para a pista de dança, deixando a mim e Ryan sozinhos.

– Vamos beber alguma coisa? – perguntei.

Ryan concordou e fomos até o pequeno bar que havia sido instalado no local. Pedi um drink e Ryan ficou parado olhando para o cardápio, claramente sem saber o que pedir. Ri de sua expressão e questionei:

– Você tem algum problema com álcool?

– Nunca provei – parecia embaraçado.

– Acho que não terá problemas – nesse momento o barman me entregou minha bebida e dei um gole ao anjo – prove.

Ryan tomou um gole da bebida e ficou com uma expressão pensativa.

– Não é ruim – concluiu.

Ele pediu a mesma bebida que eu bebia e ficamos bebendo e conversando por um tempo, até que um homem loiro e alto se aproximou e sussurrou perto do meu ouvido:

– Não quer dançar, gracinha? – ele estava claramente bêbado.

– Ela está acompanhada – Ryan disse e me puxou de encontro ao seu corpo.

O homem apenas riu.

– Vocês estavam sentados somente conversando até agora e acha que eu vou acreditar nisso? – perguntou com a voz um pouco engrolada.

Não encontrei resposta para a pergunta e me surpreendi quando Ryan subitamente me virou em sua direção e me beijou. Olhei-o com os olhos arregalados, mas logo cedi ao seu beijo. Nos beijamos até que o homem saiu de perto. Afastei-me rapidamente.

– Desculpe por isso – Ryan coçou a cabeça, nervoso – eu não sabia o que fazer.

– S-sem problemas – olhei para a pista de dança – vamos dançar.

Puxei meu namorado até a pista de dança e logo comecei a me mexer ao ritmo da música, rindo do jeito um tanto desengonçado como Ryan dançava. Pouco tempo depois Faith e Cindy se aproximaram e dançamos todos juntos até quase o fim da noite. Quando saímos da festa, Cindy falou que iria direto para sua casa e saiu de perto de nós, puxando Faith com ela. Suspeitei que ela tinha feito isso de propósito e fiquei envergonhada.

– Acho melhor irmos para sua casa, Faith pode ir embora sozinha – falou sem me olhar diretamente.

Fomos para minha casa num silêncio incômodo e, ao chegar, me despedi rapidamente de Ryan e fui para o meu quarto, dormindo logo em seguida.