Acordei com muita dor depois do que me pareceram anos. Eu me senti enjoada. Estranho, não costumo me sentir assim, deve ser por causa do tratamento que recebi dos Caídos. Ouvi barulhos estranhos, como se uma luta estivesse acontecendo. Levantei-me com dificuldade, respirei fundo, fechei os olhos e tentei ignorar o enjoo. Eu precisava saber o que estava acontecendo.

Concentrei-me e consegui, depois de algumas tentativas, abrir a grade que me prendia em uma sala completamente branca. Vi dois Caídos guardando a porta que havia mais à frente e, tomada de uma raiva profunda por ter sido presa, lutei com ambos e os deixei desacordados no chão. Ouvi o som de espadas intensificar-se.

Corri em direção ao som e parei estática ao encarar a cena ao meu redor: muitos anjos e Caídos se enfrentavam no que parecia ser uma espécie de pátio, lutando até a morte. Observei a cena mais detalhadamente procurando por Ryan e encontrei-o de um dos lados do campo de batalha, encarando alguém do outro lado… Philip. Eles pareciam esperar por algo. Logo atrás de Ryan se encontravam Faith e Miguel discutindo algum assunto enquanto encaravam um livro.

Me aproximei do campo de batalha tentando entender o que acontecia e tanto os anjos quanto os Caídos abriam espaço para eu passar, parando de lutar imediatamente e me encarando. Olhei para mim mesma para ver se havia algo errado e percebi que alguém havia trocado a minha roupa. Eu estava com um vestido parecido com o que usei quando Faith me trouxe ao Céu pela primeira vez. Sim, eu estou no Céu novamente.

— Sophie… - sussurrou Ryan de um lado.

— Não ouse se aproximar dele, minha querida – riu Philip do outro lado.

— O que está acontecendo aqui? – perguntei.

— É bem simples, na verdade – sorriu o Caído – é o fim da guerra pelo qual eu tanto esperei.

— Como?

— Sabe que quando nos conhecemos eu achei que você fosse somente uma intrometida que sabia demais – veio caminhando em minha direção – mal eu podia saber que você era a resposta para todos os meus problemas.

Philip se aproximou de mim e eu me preparei para me defender quando senti meu braço ser puxado para trás.

— Não ouse – sibilou Ryan antes de se colocar na minha frente.

— Quer dizer que o seu amado anjinho não lhe contou? – Philip riu perversamente.

— Chega! – eu explodi de raiva – se ninguém me contar o que eu quero saber eu mesma vou destruir cada um de vocês!

— Acalme-se, Soph – Faith se aproximou – eu vou lhe explicar tudo.

Miguel vinha logo atrás dela carregando o livro que eles anteriormente encaravam.

Os dois me guiaram para um local um pouco mais afastado e começaram a me contar o que eu tanto necessitava saber:

Naquele dia que Faith perseguiu Philip ela descobriu que o Caído sabia mais sobre mim do que qualquer um de nós imaginara. Faith se arriscou tanto a ponto de se machucar tanto para descobrir de onde vinha aquela informação. Juntos, ela e Miguel passaram a procurar na biblioteca do Céu sempre que podiam. Assim eles acharam mais sobre a minha origem.

Eu já tinha uma noção de que fui criada com um propósito (como a própria Faith me disse anteriormente), mas nunca imaginei que isso pudesse significar tanto.

De acordo com a profecia que eles acharam, quando uma guerra celestial se iniciasse, um Escolhido seria criado com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio. Esse Escolhido fui eu.

O motivo pelo qual Faith sempre viu minha aura de uma cor diferente das demais também é explicado nessa mesma profecia: eu sou composta de trevas e luz, podendo ser influenciada por qualquer um dos lados. Naquela época eu já tinha começado a desenvolver algum tipo de sentimento por Ryan, por isso Faith viu minha aura resplandecente: eu já tinha sido influenciada pela luz.

Obviamente o vínculo ainda era tênue, mas quanto mais eu me apaixonava por Ryan mais eu era influenciada pela luz. Quando Philip passou a ter sentimentos por mim isso nada mais era do que um reflexo do que a profecia causava.

Eu sou a arma necessária para o fim da guerra. Eu sou a Escolhida. Mas para isso eu terei que morrer… sim, o meu coração é a arma necessária para acabar o conflito, esse é o propósito pelo qual nasci.

Cambaleei ao terminar de ouvir o que os anjos falavam, isso não podia ser real. Eu nunca vou poder ficar com Ryan novamente. Me joguei de joelhos no chão.

— Ryan – sussurrei enquanto lágrimas desciam pelos meus olhos.

Faith me abraçou com força e me amparou para que voltássemos ao local onde a batalha acontecia.

— Parece que você finalmente entendeu, não é? – riu Philip.

— Sophie… - Ryan correu em minha direção – eu não vou deixar nada de ruim acontecer a você.

O anjo me beijou desesperadamente, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos também. O anjo subitamente se afastou e encarou o Caído com raiva nos olhos.

— Você não vai chegar perto dela novamente – Ryan desembainhou sua espada.