Depois que o filme acabou e Faith foi embora, eu e Ryan fomos para a cama. Tinha sido um longo dia. Mal deitamos na cama e eu já estava dormindo, já que teria aula cedo no outro dia. Não posso mais faltar aulas, toda essa questão de anjos e Caídos tem me deixado muito ocupada, mas não posso correr o risco de perder o semestre inteiro.

Pela primeira vez em muito tempo eu consegui acordar quando o despertador tocou. Levantei em um pulo da cama e fiz minha higiene matinal. Quando fui para o quarto trocar de roupa encontrei Ryan já acordado.

— Bom dia – disse com uma voz rouca.

— Bom dia! Dormiu bem? – perguntei animada enquanto separava as roupas.

— Sim, até estranhei eu ter dormido tanto – coçou a nuca.

— Nós merecemos depois de ontem.

Me aproximei da cama para largar minhas roupas e dei um selinho no anjo.

— Agora acho melhor você se levantar se quiser ir para a faculdade comigo – apressei-o.

— Você tem mesmo que ir? – puxou-me pela cintura.

— Sim, tenho – ri da sua expressão pidona.

Afastei-me de seus braços e comecei a me vestir. Estava um pouco frio, então resolvi colocar um vestido de mangas compridas bordô com um cinto na cintura e botas de salto baixo.

— Tudo bem, vou ao banho – bufou derrotado.

Era estranho que quanto mais tempo passávamos juntos, mais atividades humanas o Ryan passava a fazer. Sorri ao perceber o quanto o anjo tinha mudado com o tempo.

Fui para a cozinha e preparei uma rápida omelete para o café-da-manhã e, quando estava colocando a comida na mesa, ouvi batidas na porta. Corri para atendê-la.

— Hey! Bom dia! – disse ao ver Anne parada na porta.

— Bom dia – ela parecia diferente, talvez cansada.

— Está tudo bem? – perguntei.

— Sim, só que eu tinha… aula hoje e quis saber se você não queria ir comigo – falou sem me olhar nos olhos.

— Claro, só tenho que esperar Ryan… - comecei a falar.

— Não! Eu tenho que ir logo, não posso perder tempo! Você vem ou não? – me interrompeu.

— Espere, deixe eu pelo menos pegar meu material – argumentei.

Anne estava um pouco estranha, porém fazia tempo que não conversávamos, então resolvi acompanhá-la. Gritei para Ryan que a comida estava na mesa (eu já havia comido) e que o via na faculdade. Não ouvi resposta, mas supus que ele tinha me ouvido.

— Como está a sua aula? Ainda fazendo estágio no hospital? – questionei quando saímos da minha casa.

— Está bem, continuo fazendo o mesmo que fazia antes.

— Certo.

Ela não parecia estar muito no humor para conversas, então o nosso assunto se encerrou rápido. Caminhamos silenciosamente por um tempo até que, quando estava virando uma esquina, Anne segurou me braço e me fez parar.

— Espere, eu descobri um atalho para a faculdade. É melhor irmos por aqui – apontou para uma rua praticamente deserta.

— Tem certeza? – eu estava desconfiada – Não me parece muito seguro.

— Tenho, vamos – puxou-me pelo braço, quase me arrastando.

Assim que atravessamos pouco mais da metade da rua, comecei a ver vultos estranhos me encarando da escuridão. Olhei assustada para minha amiga, mas ela parecia alheia ao que acontecia. De repente ela soltou meu braço e seu corpo pareceu tremer dos pés à cabeça.

— Anne? – ela não respondia – Anne?

Dei um grito quando, bem diante dos meus olhos, o corpo de Anne se transformou no corpo de Philip. Comecei a andar de costas, tentando escapar dele somente para ir de encontro a um dos Caídos que me encarava na escuridão. Fui levada até Philip novamente.

— Você realmente achou que poderia fugir de mim? – deu uma risada maligna – eu estou muito mais poderoso agora.

Não respondi e o Caído continuou falando:

— Sabe, eu achei em alguns momentos que você estava desconfiando da sua amiguinha Anne, mas parece que você é uma amiga tão boa que só pensa em ajudar os outros. Chega a ser bonitinho.

Eu estava com muita raiva dele nesse momento.

— Se eu soubesse que tudo que eu precisava para despertar o meu verdadeiro potencial era ter um propósito, como o de separar você de Ryan, eu já teria feito isso há muito tempo. É tão bom ter todo esse poder em minhas mãos.

Eu estava me controlando muito para não lhe responder.

— É feio não responder aos outros, sua mãe não lhe ensinou? – riu – Você deve estar pensando agora no que irá fazer sem o seu amado anjo Ryan.

Philip se aproximou e tocou em meu rosto.

— O que a garota dos sonhos irá fazer agora? Quem poderá defendê-la? – debochou.

Esta foi a gota d’água que eu estava esperando. Em um movimento certeiro, dei um soco em seu rosto, logo atingindo seu estômago também. Me preparei para que ele revidasse, mas ele somente levantou a cabeça e riu.

— Você realmente achou que isso iria adiantar algo? Eu sou muito mais forte agora! – vociferou.

O Caído simplesmente deu um tapa em meu rosto e eu caí no chão, com muita dor. Fazia tempo que eu não sentia tanta dor. Gemi.

— Agora essa é a reação que eu esperava – gargalhou – levem-na daqui, nós temos que esperar que o cavalheiro celestial dela apareça. Até lá, mantenham-na bem presa.

Comecei a me debater nas mãos dos Caídos que me seguravam, tentando me soltar de todas as formas possíveis. Eu não podia deixar que eles me usassem de isca para pegar Ryan. Não importava o quanto eu me debatesse, eram muitos Caídos em volta de mim, eu não tinha forças para derrubar todos. Sem forças, acabei caindo no chão.

“Ryan, por favor, não venha atrás de mim. Você tem que pensar que eu sumi por outro motivo, por favor” era só o que eu podia pensar. O meu anjo não estava pronto para essa batalha ainda e eu não queria que ele perdesse somente por culpa minha. Isso era inaceitável. Eu estava indefesa.