Depois de retornarmos do Céu eu consegui, milagrosamente, fazer Faith me ouvir e deixar que eu falasse com Ryan sozinha. Entrei em casa e me joguei no sofá, exausta depois de tudo o que havia feito. Fui tirar os sapatos e lembrei-me que não havia trocado de roupa antes de ir embora. Bufei, Faith iria me pagar por isso.

Liguei a televisão e fiquei assistindo vagamente a um programa qualquer na televisão até o meu anjo chegar. Algum tempo depois senti meu corpo ser levantado e abri os olhos (eu tinha caído no sono).

— Olá, querida, não queria lhe acordar – sussurrou Ryan antes de me dar um selinho.

— Eu não quero dormir, eu… - não conseguia lembrar o que eu queria devido ao cansaço.

— Você não precisa dormir, eu só vou levá-la até o quarto – explicou.

Ryan me levou até o quarto e me deitou gentilmente na cama, logo deitando ao meu lado.

— Dia cheio? – murmurei ao vê-lo com uma expressão cansada.

— Sempre é – suspirou – mas nada que eu não consiga lidar.

Eu sentia o sono tentando me vencer, mas não quis me render:

— O que você… - bocejei – droga! Eu não quero dormir!

— Bom, eu posso lhe ajudar com isso se você quiser – disse, já beijando o meu pescoço.

Deixei-o continuar por um tempo, até que o parei:

— Certo, certo, eu já acordei – me esquivei dele – o que você fez hoje?

— Nada demais, só precisava falar com alguns soldados e discutir estratégias, nada que valha a pena comentar.

— Hum – aquiesci.

— E você? O que faz com essa roupa tão angelical? – riu do próprio trocadilho.

Isso me fez lembrar do que eu tinha combinado com a Faith. Ryan iria me odiar por isso.

— Amor, tem algo que eu preciso lhe contar – comecei – e acho que você não irá gostar.

Contei-lhe toda a história enquanto o anjo me encarava de olhos arregalados, sem pronunciar uma palavra. Quando cheguei na parte que fui com Faith ao Céu fui interrompida:

— Você foi ao Céu? – estava incrédulo – Faith nunca deveria tê-la levado Lá.

Levantou-se da cama de repente e começou a andar em círculos.

— Isso explica a sua roupa. Eu não acredito que Faith foi tão descuidada. Se algo tivesse acontecido com você, eu… - parou.

— Espere – pedi – você me deixou falar tudo que aconteceu entre Philip e eu sem dizer uma palavra. Você não está bravo?

— Não. Quer dizer, você deveria ter me contado, mas não vou culpá-la por isso. Não é sua culpa que aquele ser miserável tenha desenvolvido “sentimentos” por você.

Fiquei mais calma depois de suas palavras. Eu sei que não deveria me sentir tão insegura com a opinião de Ryan quanto a algo assim, porém isso não foi somente um flerte com outra pessoa, foi um flerte vindo do inimigo dele que deseja acabar com todos os anjos.

— Fico feliz que você diga isso, tive medo que isso pudesse lhe prejudicar em algum sentido.

— Acredito que a guerra iria se complicar independentemente do que você fez. Eu só fico feliz por nada ter acontecido a você.

Nesse momento levantei da cama e o abracei. Era tão bom não ter mais que guardar esse segredo. O soltei segundos depois:

— Ei, só não esqueça que eu sei me defender – pisquei o olho.

— Eu sei disso muito bem – me puxou pela cintura e me deu um beijo apaixonado.

Ficamos algum tempo sem nos desgrudarmos, até que o anjo me segurou pelos ombros.

— Você ainda não me disse o que você foi fazer no Céu – cobrou.

Terminei de contar a história e ele ficou pensativo diante do que Faith disse. Lhe dei pequenos beijos em torno do seu pescoço até que ele esquecesse aquilo e logo paramos na cama.

— Hey, dorminhoco, hora de acordar – sussurrei.

Eu quis acordá-lo desde que o conheci, finalmente tive a oportunidade. O anjo gemeu ao som da minha voz e virou para o outro lado.

— Não vai acordar, é? – sussurrei de uma forma que ele não ouviria.

Pulei em cima do anjo e comecei a lhe fazer cócegas. Ryan começou a rir de uma forma muito fofa e, antes que eu pudesse fazer algo, já estava tentando me tirar de cima dele para retribuir as cócegas. Não deixei.

— Não vai ser tão fácil assim – sorri.

— Veremos – desafiou-me.

Ficamos nesse impasse por um longo tempo, até que ele conseguiu virar-me na cama e começou a me fazer cócegas. Quando eu já estava vermelha de tanto rir Ryan finalmente parou. Respirei fundo e o anjo rolou para o lado.

— Você está ficando mais forte – afirmou.

— Eu ando treinando – sorri.

— Gostei disso – sorriu de volta – eu vou ao banho.

O anjo levantou da cama e me deixou sozinha. Levantei-me e troquei de roupa, já que já tinha tomado banho antes de o anjo acordar. Fui para a cozinha e peguei uma maçã. Não estava com muita fome. Mal terminei de comer a fruta e ouvi uma voz vindo da sala:

— Não pense que você vai comer somente isso – me censurou.

— Eu não estou com fome – protestei.

— Espere para ver o que eu farei e depois me diga se você está ou não com fome.

Ryan foi em direção à geladeira e pegou vários ingredientes. Depois começou a pegar alguns temperos. O que ele iria fazer? Ignorada, resolvi pintar mais um quadro (tinha que compensar todas as aulas que faltei entregando algumas obras novas). Pouco mais de meia hora se passou até que o anjo me chamou para comer. Sentei-me a mesa e fui recebida por um cheiro maravilhoso.

— Minha querida, prepare-se para uma explosão de sabores – gesticulou – hoje resolvi preparar algo da culinária francesa: ratatouille.

Olhei para o prato que, apesar do cheiro maravilhoso, não parecia ter nada de especial e encarei o anjo.

— Prove.

Resolvi ouvi-lo e me servi. Provei a comida e o sabor era maravilhoso. Eu estava impressionada.

— E você me disse que não estava com fome – riu.

— Eu não estava até você preparar uma comida tão boa – reclamei.

O anjo riu mais um pouco, mas logo se concentrou em me acompanhar naquela refeição divina.