Caminhamos até a minha casa sem falar nenhuma palavra a mais. Assim que cruzamos a porta encontramos uma cena surpreendente: minha sala estava cheia de sangue por todos os lados, respingos sobre todas as superfícies. Corri até o anjo deitado no sofá:

— Ryan! Ryan, por Deus, o que aconteceu? – perguntei preocupada.

— Nada demais – falou baixo, logo em seguida cuspindo sangue.

Faith, vendo a cena, se aproximou de Ryan e tocou em sua testa para curá-lo, porém a condição do meu anjo não melhorou muito.

— O que houve Ryan? – Faith perguntou seriamente.

— Philip fez outra investida – suspirou com dor – desta vez ele parecia estar com mais raiva do que nunca.

— E Miguel não lhe ajudou? Foi ele que veio pedir sua ajuda, afinal - eu estava inquieta, sem saber o que fazer.

— Philip, de alguma maneira, lançou um feitiço que fez com que nós dois fôssemos para algum tipo de realidade alternativa onde nenhum outro anjo poderia me ajudar – respirou fundo, com dor – eu tenho que descobrir como ele fez isso.

— Ryan, eu… - tentei oferecer algumas palavras de consolo, mas Faith me interrompeu.

— Se você não ficar quieto e me deixar curá-lo suas dores nunca vão passar – advertiu a loirinha.

Chorei em silêncio ao ver o estado do meu amado anjo. Como Philip ficou tão poderoso? Será que foi o que eu disse a ele que o motivou a fazer isso? As lágrimas se intensificaram, eu não podia acreditar que uma atitude minha fez Ryan ficar tão machucado.

— Hey – Ryan passou a mão no meu rosto – não chore, eu vou ficar bem.

— Eu acho que sei o que causou isso, mas vou ter que confirmar com Miguel antes – declarou Faith – eu já fiz o que pude para amenizar os ferimentos, agora o seu poder de cura vai ter que fazer o resto.

Ela levantou do sofá em que sentara anteriormente e correu os olhos pela sala. Suspirou e estalou os dedos, fazendo com que todo o cenário de filme de terror no qual a minha casa tinha se transformado desaparecesse. Sem nenhuma palavra a mais, Faith foi embora.

— Meu amor, não chore. Eu vou ficar bem, não esqueça de que eu sou um anjo – tentou me reconfortar.

— Meu amor? – quis confirmar.

— É isso o que você é para mim – sorriu – agora venha aqui, o que eu preciso agora é de um abraço.

Com o máximo de cuidado possível, realizei o seu pedido. Mesmo assim, ao encostar em seu corpo, Ryan gemeu baixo de dor.

Ficamos abraçados em silêncio por um bom tempo enquanto eu sentia o corpo dele se curar. O calor irradiava do seu corpo e fui ficando sonolenta. Era incrível a calma que estar ao seu lado me transmitia. Senti beijos por todo o meu rosto e abri os olhos.

— Bom dia, dorminhoca – sorriu.

— Eu não estava dormindo – protestei – só não queria me mexer para não lhe causar dor.

— Vou fingir que acredito – disse, logo em seguida puxando o meu rosto para me dar um beijo apaixonado.

O beijo foi se tornando cada vez mais urgente, como se ele quisesse demonstrar toda a sua paixão através dele, e o anjo subitamente me puxou para cima dele.

— Ryan, eu… - tentei impedi-lo, já que há pouco tempo ele estava completamente machucado.

— Por favor, não fale nada – pediu.

Resolvi deixar aquele momento seguir e ficamos naquele sofá por um longo tempo, até que o anjo me segurou no colo e me levou até o quarto.

— Você tem certeza que quer isso? – me perguntou antes de me colocar na cama. Somente assenti e tivemos a tarde mais romântica que eu poderia imaginar ao lado do amor da minha vida. Eu não poderia estar mais feliz.

Já era noite quando acordei com muita fome. Olhei para o rosto adormecido de Ryan e sorri. Senti um leve peso na minha cintura e vi seu braço ali repousado. Me mexi muito lentamente para não o acordar e coloquei um robe. Fui até a cozinha e resolvi fazer uma vitamina de frutas para comer com algumas panquecas que estavam esquecidas no micro-ondas.

Terminei de fazer a comida e me dirigi à mesa da sala de jantar, onde rapidamente me sentei e comi toda a comida em poucos minutos. Eu estava sem comer há muito tempo. Recordei-me do meu dia e me peguei sorrindo. Tanto havia acontecido hoje que não parecia verdade.

Terminei a minha refeição e lavei a louça. Pensei em voltar para o quarto, mas não queria acordar Ryan. Resolvi ficar na sala. Me aproximei do sofá e encontrei meu celular perdido no chão. Peguei-o. Eu tinha uma mensagem da Faith:

“Ryan melhorou? Sinto muito se não pude fazer mais por ele, mas eu precisava falar com Miguel. Amanhã lhe conto mais”.

Estava a ponto de respondê-la quando lembrei de olhar as horas. Já passava da meia noite, então achei melhor não mandar nada. Subitamente lembrei que amanhã teria aula, parecia que muito tempo havia passado desde a última vez que fui para a faculdade. Resolvi voltar para a cama.

Quando cheguei na soleira da porta encontrei uma cena muito fofa: Ryan dormia abraçado ao meu travesseiro. Resolvi tirar uma foto daquele momento. Tirei o meu robe e, com muito cuidado, subi na cama e peguei o travesseiro. Ryan resmungou e me abraçou.

— Você demorou para voltar – murmurou durante o sono.

Sabendo que ele não iria ouvir resolvi não dizer nada, mas saber que ele havia sentido a minha falta me fez muito feliz. Ele mal parecia a pessoa toda machucada que vi quando cheguei mais cedo. Passei a mão em seu rosto em um carinho suave. Esse anjo realmente mudou minha vida.