Por onde passávamos todos nos olhavam, afinal não são todos os dias que duas mulheres correm desesperadas pelos corredores da faculdade a toda velocidade. Não tinha ideia de para onde estávamos indo e não tinha fôlego para perguntar enquanto corria.

De repente Faith parou, o que quase me fez cair por cima dela. Olhei para frente e dei de cara com Ryan, que me olhava aliviado. Antes mesmo que eu pudesse exprimir alguma emoção o anjo me abraçou fortemente, me tirando do chão.

– Eu estava tão preocupado com você – sussurrou contra meu cabelo, enquanto me apertava tanto que quase perdi o fôlego. Ficamos por algum tempo nessa mesma posição, até que Faith nos interrompeu, dizendo:

– Sabe quem fez uma visita a Soph hoje, Ryan? – perguntou, irônica.

O anjo me soltou em um salto, me encarando.

– Philip veio atrás de você? Você está bem? – perguntou enquanto me inspecionava rapidamente em busca de ferimentos.

– E-eu estou bem – eu finalmente começava a processar tudo que tinha me acontecido hoje – Philip fugiu.

– Por que ele não lhe atacou? – perguntou Faith, não se dando conta de que ainda estávamos na faculdade.

– Quem sabe não saímos daqui antes que alguém resolva prestar atenção à nossa conversa? – questionei.

Ryan finalmente pareceu perceber onde estávamos e me pegou no colo. Ouvi um barulho estranho e estava a ponto de me debater em seu colo quando percebi que estávamos na minha casa. Como ele fez isso?

– Agora responda: por que ele não lhe atacou? – questionou Ryan assim que me pôs no chão.

– Primeiro eu tenho uma pergunta: eu sei que vocês podem voar, mas teletransporte? – rebati, curiosa.

Faith bufou antes de me responder:

– Não é exatamente um teletransporte, mas uma variação do nosso voo, assim você só ouve o barulho das asas enquanto voamos em uma velocidade próxima a supersônica. Isso nos torna praticamente invisíveis. Agora responda.

Fiquei atordoada com a resposta, mas já devia esperar por isso. Respirei fundo antes de responder:

– Philip não me atacou porque eu segurei o seu braço...

– Você o que? – gritaram os anjos, me interrompendo.

– Foi um ato reflexo, não sei de onde veio a força para isso, adrenalina talvez? – parei por um minuto, considerando – o fato é que antes de Philip reagir Faith e Cindy entraram na sala e o Caído simplesmente foi embora.

Faith encarou Ryan e se aproximou dele.

– Ryan, você sabe que nem mesmo sob o efeito da adrenalina ela seria capaz de ter uma força dessas, certo? – perguntou Faith em voz baixa, mas mesmo assim consegui ouvi-la.

– Nunca mais você vai ficar sozinha, ok? Especialmente depois de hoje – Ryan começou a andar em círculos – eu devia estar lá com você, não podia lhe deixar sem ninguém por perto.

O anjo se sentou no sofá, como se estivesse derrotado. Depois de lhe tocar o ombro rapidamente, expressando compaixão, Faith disse que tinha que ir embora. Sentei ao lado de Ryan.

– Isso poderia ocorrer a qualquer momento, você não pode estar lá por mim em todos os momentos – suspirei, mas o anjo não me olhava nos olhos.

Puxei seu rosto na minha direção e disse:

– Eu estou bem, não vamos falar disso, por favor – supliquei.

Depois de observar meu rosto por alguns instantes o anjo me olhou profundamente:

– Eu me preocupo com você – disse, encostando sua testa com a minha.

– Eu sei – sussurrei, fechando os olhos.

Senti seu rosto se aproximar do meu e logo nossos lábios se encontraram. Depois de um longo selinho, como se sofresse com isso, Ryan se afastou.

– Eu preciso que você fique em casa até eu voltar. Pegue o filtro dos sonhos e se mantenha segura. Se qualquer coisa acontecer, me contate imediatamente – falou com uma convicção que eu nunca tinha visto antes – eu vou descobrir o que aconteceu.

Depois disso, Ryan simplesmente foi embora (o que me deixou confusa, afinal há poucos minutos ele tinha me dito que não me deixaria sozinha). Rapidamente fiz o que ele me pediu e fiquei pensando em como nosso relacionamento tinha evoluído desde que o vi desmaiado na rua. Afinal, o que tinha mudado? Adormeci com esses pensamentos.

Pouco tempo depois, tive uma visão de Ryan no Céu:

“O anjo de olhos azuis circulava novamente entre muitos outros anjos, como se fosse o seu líder. Ele berrava, falando do acontecimento recente envolvendo Philip. Os anjos ficaram sem fala ao final de seu discurso, até que uma delas - que parecia mais velha do que a maioria dos ali reunidos - perguntou como Sophie tinha se defendido de um Caído. Teorias começaram a surgir, mas nada que fizesse muito sentido, até que Ryan silenciou todos ao falar que não importava o que aconteceu, Sophie precisava ser protegida acima de tudo”.

Sentei rapidamente na cama, subitamente respirando com dificuldade. Se os anjos estavam se preocupando tanto, sem chegar a alguma conclusão, é porque deveria ser algo grave. O que eu tinha de tão especial, afinal?

Decidi preparar um brigadeiro de panela para me acalmar (sempre fui apaixonada por comida brasileira). Calmamente mexia na panela quando recebi uma mensagem de Cindy, me dizendo que queria conversar. Com medo de que ela viesse para cá e algo acontecesse respondi dizendo que Ryan veio para a minha casa passar um tempo comigo, o que pareceu fazê-la desistir de vir para cá.

Após pegar uma colher, fui para sala com a panela nas mãos e coloquei em uma comédia romântica qualquer. Antes mesmo do meio do filme eu já chorava de emoção, até que um barulho ao meu lado me fez dar um pulo do sofá. Faith riu da minha reação e sentou ao meu lado, me fazendo parar o filme.

– Não se assusta pessoas assim! – reclamei.

– Desculpe, mas achei que não iria querer ficar sozinha depois do que passou – explicou.

Dei de ombros.

– O que é isso? – disse a loira, já provando a minha comida.

– Brigadeiro – disse simplesmente.

– Bom – degustou por um tempo – pelas suas lágrimas o filme deve estar bom. Vamos ver juntas – disse, como se nada de anormal tivesse ocorrido naquele dia.

Nos entreolhamos e rimos antes de eu colocar o filme novamente.