Depois de uma noite de sono perturbada acordei com o barulho de panelas na cozinha e levantei-me assustada, esquecendo de trocar de roupa e saindo do quarto com o cabelo desarrumado e meu micro pijama de verão. Fui até a cozinha e encontrei Ryan todo perdido tentando fritar bacon em uma panela. Não pude me segurar e dei uma risada alta com a expressão dele, chamando sua atenção.

– Eu queria fazer o café-da-manhã para você, já que Faith me expulsou ontem e quando voltei você já estava dormindo – desculpou-se envergonhado.

Fiquei emocionada com o ato do anjo e não pude evitar um sorriso no rosto.

– Eu vou lhe ajudar – decidi – primeiro: você está segurando uma panela e não se frita bacon em uma panela.

O moreno me olhou com uma expressão confusa e eu continuei:

– Isso aqui é uma frigideira, é o que se usa para fritar algo, como ovos ou bacon – expliquei enquanto lhe mostrava calmamente o que eu fazia – o que você pretendia fazer?

– Bacon e ovos mexidos, soube que é o mais comum para o café-da-manhã nos Estados Unidos – coçou a cabeça totalmente envergonhado.

– Bem, você estava certo, mas para fazer o bacon antes você precisa cortá-lo – peguei uma faca e mostrei como se faz; seu rosto iluminou-se – quer tentar?

Ele rapidamente se aproximou da faca e segurou-a de um jeito que ele iria se cortar se eu não intervisse:

– Você tem que segurar a faca assim – disse, colocando minha mão por cima da dele e mostrando-o a posição correta. Quando me dei conta do que estava acontecendo afastei-me deixando-o cortar o alimento.

– Para o ovo mexido você deve abrir o ovo e despejá-lo em uma tigela – falei caminhando pelo cômodo atrás do que eu queria.

Fiz o que havia falado e logo despejei o conteúdo suficiente para duas pessoas em uma frigideira maior.

– Terminou? – perguntei.

– Sim – o anjo disse me entregando os pedaços cortados que eu logo pus em outra frigideira.

Alguns minutos depois tirei os alimentos do fogo e servi-os em dois pratos, que Ryan logo retirou de minhas mãos e levou até a mesa. Segui atrás dele e me surpreendi ao ver a mesa ricamente disposta. Abri a boca para comentar algo e o anjo rapidamente respondeu:

– Eu não sabia o que fazer e me lembrei de como se colocavam as mesas no século passado.

– Século passado? – perguntei abismada.

– Foi a última vez que estive na Terra – disse envergonhado – eu adaptei algumas coisas para que não ficasse tão formal.

– Está perfeito – tranquilizei-o e sentei-me a mesa.

Comecei a comer calmamente e, com o canto do olhar, notei que Ryan observava a comida como se não soubesse o que fazer. Ri baixinho.

– Você tem que pegar os talheres, cortar a comida e colocá-la na boca – expliquei como quem explica a uma criança.

Ele me olhou agradecido e fez o que eu disse, logo fazendo uma careta de confusão.

– O que houve? – perguntei.

– A comida... ela tem um gosto... estranho... – falou, logo fazendo uma expressão de felicidade - ... é muito bom!

Ri de como o anjo parecia uma criança nesse momento, esquecendo da situação constrangedora pela qual passamos ontem. Comemos tranquilamente conversando sobre alguns assuntos sem importância.

– Bonito pijama – comentou sarcasticamente Ryan quando nos levantamos para tirar a mesa.

Fiquei vermelha na mesma hora.

– Eu esqueci de trocar de roupa – disse, só reparando naquele momento a besteira que eu havia feito.

Andei rapidamente até o meu quarto, tentando puxar meu shorts com a mão enquanto caminhava. Peguei o primeiro vestido que vi (de alcinha, preto e branco com estampa geométrica) e uma sapatilha preta. Prendi meu cabelo, sem tempo de tentar arrumá-lo, e pus uma maquiagem básica. Sai do quarto, vendo o anjo saindo da cozinha levemente molhado.

– Você vai comigo até a faculdade? Já estou atrasada – perguntei enquanto pegava meu material.

– Você tem aula de quê? Não quero ficar sem fazer nada esperando sua aula acabar – coçou o cabelo nervosamente.

– Hoje eu tenho aula de fotografia digital, com o pessoal do cinema – falei, logo percebendo o que havia dito.

– Então eu vou para a aula com você – ele sorriu largamente.

Somente sorri e fomos caminhando tranquilamente até a faculdade. Essa era uma das únicas aulas que eu não tinha com a Cindy, seria bom ter companhia. Estranhei o fato de Ryan no meio do caminho pegar em minha mão, como se fosse uma coisa normal. Decidi não falar nada. Assim que chegamos na faculdade todos os olhares se voltaram para nós e eu me encolhi ao lado do anjo.

– O que houve? Não gosta de chamar atenção? – riu sozinho.

Não respondi e continuamos a nossa caminhada em direção à sala. Chegamos e a aula já havia começado, o que fez com que o professor parasse e falasse na frente da turma inteira:

– Senhorita Sognare, senhor... – o professor disse e olhou para Ryan como se pedisse por seu nome.

– Ryan Angelus, senhor – disse calmamente.

O olhei abismada antes do professor continuar:

– Me procurem no fim da aula, quero conversar com vocês.

Assenti nervosamente e andei ao lado do moreno até o nosso lugar. A aula de hoje era teórica (diferente do usual) e o anjo alguns minutos depois de nos sentarmos tentou me chamar a atenção. O que aconteceu com esse anjo hoje? Tentei ignorá-lo a todo custo, mas uma hora não consegui mais e cedi, conversando sobre assuntos sem importância, mas muito engraçados, que quase nos fez chamar a atenção do professor novamente. Quando a aula finalmente acabou nos dirigimos à mesa do professor:

– O senhor queria falar conosco – disse Ryan.

– Vocês dois não podem chegar no meio da aula desse jeito. Da próxima vez farei com que vocês façam um trabalho extra – falou de um jeito sério.

– Isso não acontecerá novamente professor – garanti a ele.

Saímos da faculdade e subitamente me lembrei que tinha que comprar telas novas. Assim que informei o anjo ele se prontificou a ir comigo e fomos até a loja. Chegando lá fui procurar o que precisava enquanto o anjo ficava admirando algumas telas expostas. Observei atentamente as diferentes telas disponíveis e mal percebi quando alguém se aproximou de mim.

– Olá, você quer ajuda? – perguntou uma voz atrás de mim.

Me virei na direção da voz e dei de cara com um garoto aproximadamente da minha idade, alto, não muito musculoso, olhos de um verde quase sobrenatural (me lembravam um pouco os olhos de um gato), com um rosto angelical, barba rala e cabelos castanhos tão claros que quase chegavam a ser loiros.

– Não, já achei o que queria – sorri – você trabalha aqui?

– Não, só achei que você estivesse precisando de uma ajuda para alcançar os objetos mais altos – deu um lindo sorriso – meu nome é Miguel.

– O meu é Sophie. Você estuda o quê? – perguntei curiosa.

– Por enquanto não estou cursando nada, mas pretendo começar o curso de teatro – disse.

– SOPHIE! – ouvi a voz de Ryan soar alto do outro lado do estabelecimento.

– Eu tenho que ir – desculpei-me, pegando as telas de que eu precisava e me dirigindo ao local que o anjo se encontrava.

Paguei pelas telas que eu comprei e eu e Ryan fomos em direção à minha casa. Guardei as compras e, juntos, decidimos almoçar fora. Fomos a um restaurante por perto e pedimos um almoço simples. Estávamos já comendo nossa comida quando uma loirinha conhecida entrou no estabelecimento.

– Procurei vocês por toda parte – bufou Faith – eu tenho uma notícia muito importante pra você Ryan.

– O que houve? – perguntou o anjo se levantando e indo para longe da mesa com a mais nova.

Os dois conversaram por longos minutos e Ryan retornou com uma expressão preocupada. Perguntei o que havia acontecido e ele fingiu não me ouvir. Terminamos de almoçar e fomos embora. Passamos uma tarde agradável vendo programas de comédia na televisão e, ao cair da noite, dormi no sofá ao lado do meu anjo-namorado.