Depois de preparar e comer meu sanduiche resolvi voltar à sala para fazer algumas perguntas ao anjo. Estava mais calma, mas o que vi quando entrei na sala me deixou em choque: Ryan não havia se mexido um centímetro desde que eu saíra da sala.

– Ryan? – perguntei insegura.

– Sophie? Me desculpe, eu estava imerso em pensamentos – ele disse um pouco envergonhado, mudando de posição rapidamente.

Comecei a me aproximar lentamente do anjo sem nem pensar no que estava fazendo e, ao perceber, rapidamente fui em direção ao sofá e me sentei, evitando olhar em sua direção. Um silêncio incomodo se instalou no ambiente até que resolvi dissipar a tensão que se instalava entre nós e perguntei sobre a cena que eu vira em minha visão. Ryan não me disse nada que eu não soubesse anteriormente, somente que estava procurando respostas ainda. Fiquei curiosa quanto ao que ele me disse, pois não tinha ideia de como os anjos faziam para procurar alguma informação, mas resolvi não perguntar. Não querendo prolongar aquele momento estranho e também querendo algumas respostas fui para o meu quarto para ligar para Faith e pedir ajuda.

– Faith, preciso conversar com você – falei assim que a loirinha atendeu.

– Tudo bem, eu posso ir para aí agora – ela disse com naturalidade.

– Não, não quero que Ryan ouça – sussurrei.

– Não se preocupe com ele – ela afirmou e desligou.

Como estava no meu quarto e não queria encarar Ryan novamente nesse momento resolvi me deitar na cama e esperar para ver o que a loirinha faria. Poucos minutos se passaram e vi a cabeleira loira de Faith na porta do meu quarto.

– Oi, já me livrei do Ryan – disse sorrindo.

– E como você fez isso? – perguntei curiosa.

– Não importa – falou e se sentou na minha cama – o que você queria me falar que ele não podia ouvir?

– Faith, eu não sabia mais a quem recorrer, isto não é algo que eu possa perguntar a Cindy ou a Anne – suspirei sem saber o que dizer – acho que você deve ter visto que Ryan me beijou na festa que fomos ontem, certo?

– Sim – sorriu maliciosa – por quê?

– Eu estou confusa, Ryan ficou agindo estranho desde que voltamos para casa ontem e eu não sei o que fazer.

– Bem, isso é difícil de explicar. Teoricamente anjos não possuem sentimentos humanos ou desejos, se é que você me entende – me olhou profundamente – mas você sabe porque os Caídos foram para o lado de Lúcifer?

– Eles queriam ser mais importantes que a humanidade, não? Lúcifer se revoltava porque o Senhor dava mais atenção aos humanos do que aos anjos – respondi confusa.

– Você não deixa de estar certa, mas nem todos os anjos foram para o lado de Lúcifer por esse motivo. Alguns deles queriam mais do que tinham, queriam poder conviver com os humanos, ter sentimentos, viver na Terra.

– Então existem Caídos que vivem disfarçados na Terra? – perguntei assustada.

– Sim, existem – respondeu naturalmente – eles vivem há séculos entre os humanos e ninguém nunca os percebeu porque eles usam corpos humanos.

– Corpos humanos? Você não quer dizer que... – perguntei chocada.

– Os Caídos tem o poder de tomar um corpo humano e viver nele, podendo abandoná-lo a qualquer momento. Quando um Deles se apossa de um corpo humano a alma que ali habitava fica adormecida dentro do seu próprio corpo – explicou.

– E eles vivem como humanos? Têm relações humanas?

– Sim, e da união de um humano com um Caído surgiram os Nefilins, criaturas metade anjo e metade humano.

– E como eu nunca ouvi falar deles?

– Porque Nefilins são uma aberração, eles não deveriam existir. Existem anjos no Céu que eliminam esses seres.

Fiquei sem reação diante da informação que Faith havia me passado. Isso significava que anjos podiam ter sentimentos!

– E os corpos que vocês usam? – perguntei, me referindo a Ryan e Faith.

– Esses corpos são como uma representação do nosso corpo real e não são todos os anjos que podem tê-los, somente os que têm contato direto com humanos e por um tempo determinado.

– Então como vocês estão usando-os por tanto tempo?

– Autorização especial – deu de ombros e suspirou – enfim, você me perguntou sobre Ryan. Ele nunca teve contato direto com a humanidade antes da guerra e você é a primeira humana de quem ele se aproximou.

– Ele nunca esteve na Terra antes? – exclamei espantada.

– Não por tanto tempo. Mas o que importa é que ele se aproximou demais de você e acho que ele vem desenvolvendo algum sentimento por você – me olhou no fundo dos meus olhos – e eu não sei o que pode acontecer.

– Vo-você acha que ele está...? – não pude completar a pergunta.

– Sim, mas ele nunca se rebelou contra o Céu, eu não sei o que ele fará quando perceber o que sente por você e você por ele.

– Eu não sinto...

– Não minta pra mim Sophie – ela me interrompeu – só o que posso dizer é que enquanto estivermos em guerra o Senhor não vai expulsá-lo do Céu, mas quando a guerra acabar não sei o que acontecerá com vocês dois.

Fiquei em silêncio absorvendo o que a Faith havia me dito. Eu não sabia o que fazer com essa nova informação.

– As suas visões do Ryan parecem ficar mais fortes e mais frequentes com a maior aproximação de vocês e isso é bom, mas nunca um caso como esse foi documentado, ninguém sabe o que fazer – suspirou – eu já lhe dei informações demais, você deveria descansar.

Ia protestar, mas ao constatar isso a loira respondeu:

– Não se preocupe, quando acordar Ryan já estará aqui.

Resolvi seguir o conselho da mais nova e voltei a me deitar, mas não consegui relaxar depois das informações que Faith havia me contado hoje. Depois de muito tempo me revirando na cama, ouvi o barulho de Ryan chegando na sala e finalmente adormeci.