A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 16
Querido, mas eu não sou como o resto (Bônus) | A Seleção


Notas iniciais do capítulo

CHUCHUS! *Sorrisão* Eu não ia começar notas assim, mas é que o meu avô arrumou a maior briga com a minha avó que cozinhou dois chuchu, aí, como a casa é pequena e eu não tinha para onde ir, fiquei na sala, observando o show dele lá. Não sei porque não gravei... nossa...
Bem, eu queria postar no dia 14/01, mas eu não tinha terminado ainda, na verdade, eu não tinha nem metade dele :/ Só terminei nessa madrugada, MAS, aqui está! Espero que gostem de Selena Gomez, porque nesse capítulo tem ela aí cantando, em momentos que marcam uma grande oscilação - essa palavra existe?! - do humor e pensamentos de uma garota. Eu disse que essa fic seria a que mais teria algo de mim, pois é. 99% Personagem, mas aquele 1% Eu, sabe? bem, na verdade, está mais para 40% personagem, 60% Eu, mas vamos abafar o caso *emotion de lua do WhatsApp*
Antes de lerem, quero que saibam que tem coisas que eu falo no POV Katniss que não é mencionado com muita clareza no POV Peeta, e vice-versa, apenas para não ficar falando sempre a mesma coisa, mas ao mesmo tempo dar mais profundidade e característica aos personagens. Bom, boa leitura, pessoal, e espero que meus dedos não caiam por esses 18 graus aqui no Rio de Janeiro. Misericórdia, gente, aqui tá chovendo TODO dia! E tipo... EU NAO VOU NA PRAIA HA MAIS DE UM ANO! Odeio praia, odeio, mas eu quero ir pra tirar foto e tomar água de coco! *chorando*
MUITO obrigada a cada um dos comentários lindos, cada um deles, de verdade mesmo, não sabem o quanto eu sou grata a vocês, e espero estar nas expectativas.
Peço desculpas, mil desculpas pelo capítulo que vocês vão ler, porque eu não sei o que achar dele! *jogando as mãos pro alto* Dei o meu melhor, inclui falas, pus música, mas sinto que faltou algo... sério, me desculpem, mas é que eu estou me sentindo tão estranhamente triste e sozinha, que sinto que isso refletiu nesse capítulo, e peço mil desculpas mesmo, desde já!
Nota: Maior capítulo da fic.



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O dia que eu te conheci
Você me disse que nunca iria se apaixonar
Agora que eu te entendo
Eu sei que era medo na verdade
Agora estamos aqui, tão perto
Contudo tão longe, não passei no teste?
Quando você perceberá
Amor, eu não sou como o resto

Não quero quebrar seu coração
Quero dar um tempo ao seu coração
Eu sei que você está com medo, que é errado
Como se você fosse cometer um erro
Há apenas uma vida para viver
E não há tempo a perder, perder
Então, me deixe dar um tempo ao seu coração
Dar um tempo ao seu coração
Me deixe dar um tempo ao seu coração, um tempo ao seu coração

Oh, sim, sim!

 

Give Your Heart a Break, Demi Lovato

 

Dois dias antes do beijo na cachoeira.

— Quando decidiu que seria modelo? — perguntei para Cato, enquanto atirávamos dardos em um alvo, na sala de pintura. Ele é agradavelmente gentil, inteligente e educado. Perfeitamente bonito, sem nada mais nem menos.

— Não tenho talento para outra coisa, Katniss. — respondeu risonho, chamando-me pelo nome por minha imposição sobre ele para tal ato — Meus pais são distantes de mim, preferem meus irmãos, e sempre me disseram que a única coisa que eu serviria para fazer era sair em fotos. 

Fechou um olho, dando um passo para trás, então atirou com uma precisão invejável seu dardo, passando perto do alvo.

— Meus pais são presentes até demais, você sabe. — riu, colocando as mãos na cintura, enquanto eu mirava no alvo, então, puxei o braço um pouco para trás, e na altura dos olhos, estava minha mão, segurando o dardo, quando senti o corpo dele atrás do meu 

— Não vai acertar o alvo se continuar assim. Mude a posição. — disse, com sua voz em um tom atraente, mas sem aparentar ter segundas intenções. Ele colocou a mão sobre a minha, então, lancei o dardo, junto dele. 

— Acertou. — falei, sentindo sua respiração bem suave no meu ombro, sua mão ainda sobre a minha, causando um arrepio gostoso em mim, acelerando meus batimentos cardíacos de leve. Seu corpo, dez centímetros mais alto que o meu, estava de forma gentil atrás de mim, mas não sei se suas intenções eram tão suaves quanto. Eu também não estava com os pensamentos claros a respeito disso.

— Sim, acertou. — Senti um frio na espinha, fazendo eu morder com força o lábio inferior, por não saber qual a melhor forma de reagir a isso — Acho que está na hora de você chamar outro Selecionado. 

Sim, estava, mas eu sabia que ele queria ouvir um "não, não está".

— Muito obrigada por vir, Cato. Foi um prazer jogar com você. — Fiquei de frente para o loiro bonito que estava na minha frente. — Teremos outro encontro o mais rápido possível, prometo. — riu, balançando a cabeça em concordância 

— Todas as vezes que me disse isso, levou mais de uma semana para falar comigo.

— Isso aconteceu duas vezes, Cato. — respondi, revirando os olhos, mas com um sorriso e em tom brincalhão, fazendo-o rir.

— E nos encontramos duas vezes em duas semanas! — Era verdade. Eu sempre me complicava com os encontros com os Selecionados que eu mais tinha afinidade, Cato era um deles, a começar pelo nosso gosto por fotografia. Nunca faltava assunto a respeito disso entre nós dois, e como é uma das coisas que mais amo, depois de praticar arco e flecha — onde ele é incrível, o melhor arqueiro esportivo que já vi — é difícil me despedir dele, só me dando mais vontade de encontrá-lo, mesmo que me digam que ele é um pouco arrogante com outras pessoas.

— Prometo que farei melhor da próxima vez, e como daqui a três dias farão o top 18, nos falamos durante a sessão! — Lembrei-o, com um sorriso, e ele devolveu o mesmo.

— Está bem. Vou acreditar em você, Princesa Everdeen. — disse com uma sobrancelha arqueada, fazendo eu rir.

— Que bom que acreditou, porque é verdade. A mais pura verdade. Prometo só trocar algumas palavras com os outros Selecionados, mas uma conversa sobre como você se tornou um hipista tão bom, se você é um Dois! — ele riu, sincero, podia ver em seus olhos, e tudo nele era adequado e perfeitamente bom. 

— Longa história... — disse, olhando-me calmamente 

— Eu gosto de longas histórias. — Pisquei, então, ele precisou ir, mas não sem antes sorrir. 

Finnick entrou, assobiando, com as mãos no bolso, despreocupado, fazendo com que eu risse sinceramente. 

— Você quer um cubo de açúcar? — perguntou, tirando dois do pote, com um sorriso torto que realçava suas covinhas perfeitas, como todo ele, com um brilho diferente do de Cato, um brilho que vinha da alma, sendo elogiado pelos criados, sempre, pela gentileza e educação.

— Sim, eu aceito. — sorriu novamente, jogando para mim um cubo de açúcar, que logo coloquei na boca, assim como ele, sem me preocupar com os bons modos. 

— O que nós podemos fazer dessa vez? — perguntou, se sentando em um pulo na mesa de sinuca, balançando as pernas, como uma criança, mesmo que seus pés tocassem o chão. 

— Podemos ir jogar golfe. — fez uma careta, de "não, amiga, não", e eu gargalhei sinceramente, sendo acompanhada por ele.

— Podemos ir tocar alguma coisa. — Olhei surpresa para ele — Não sei tocar nada, mas sei cantar algumas coisinhas. 

— Ok! — Sorri, feliz, e ele veio até mim, estendendo seu braço para ele entrelaçar o meu — Não sabe tocar piano? 

A família de Finnick era dona de uma das maiores redes de restaurantes de toda Panem, e sendo filho de pessoas nesse tom, é plausível que saiba tocar algum instrumento musical, pois sua mãe é fã de piano. Descobri tudo sobre a vida de cada um dos Selecionados.

— Minha mãe sabe, e quis me ensinar, mas deixei isso como responsabilidade do meu irmão mais novo. — sorri — Mas, dizem que sei cantar algumas coisas.

Eu me sentia bem à vontade com Finnick, como amigo. Eu não sei se poderia beijá-lo um dia, mas talvez seja isso, para ver se temos alguma química.

Chegamos na sala de música, então logo fui para o piano, já que é o meu instrumento favorito. Finnick se sentou ao meu lado, depois de pegar uma flauta. 

Logo que colocou o instrumento em mãos, começou a tocar a melodia de uma música conhecida por mim, Let It Go, deixando-me encantada com sua maestria com o instrumento.  

Era a introdução, então, Finnick parou, colocando a flauta sobre o piano, e se inclinou um pouco para a esquerda, o lado que eu estava, para tocar algumas teclas no piano. Era uma nova melodia, mas não estranha para mim.

Deixei meu coração cair

E enquanto ele caía, você se ergueu para reivindicá-lo

Estava escuro e eu estava acabada

Até que você beijou meus lábios e me salvou

— Finnick... — Fiquei impressionada com seu talento. A voz dele era como um dia de sol, com sombras confortáveis e suficientes, fazendo-me arrepiar.

Minhas mãos eram fortes

Mas meus joelhos eram muito fracos

Para permanecer em seus braços

Sem cair aos seus pés

Olhou para mim, sorrindo torto, com suas covinhas incríveis.  

Mas há um lado seu que eu nunca conheci, nunca conheci

Todas as coisas que você disse, nunca foram verdade, nunca foram verdade

E os jogos que você tinha jogado, você sempre ganharia, sempre ganharia

Mas eu ateei fogo à chuva

A assisti cair enquanto eu tocava seu rosto

Bem, ela queimava enquanto eu chorava

Porque eu a ouvia gritando seu nome, seu nome! 

Parou de tocar no piano, talvez por não saber mas as notas, mas como eu conhecia, continuei, cantando, percebendo seu olhar de incentivo 

Quando eu deitava com você

Eu poderia permanecer lá, fechar os olhos

Sentir você aqui para sempre

Você e eu juntos, nada é melhor!

Dei de ombros, com um sorriso, olhando para ele, que sorria  

Mas há um lado seu que eu nunca conheci, nunca conheci

Todas as coisas que você disse, nunca foram verdade, nunca foram verdade

E os jogos que você tinha jogado, você sempre ganharia, sempre ganharia

 Ele quem cantou essa parte, no tom perfeito. Era impressionante o que saia de seus lábios.  

Mas eu ateei fogo à chuva

A assisti cair enquanto eu tocava seu rosto

Bem, ela queimava enquanto eu chorava

Porque eu a ouvia gritando seu nome, seu nome! 

Eu ateei fogo à chuva

E nos joguei nas chamas

Bem, eu senti que algo morreu

Porque eu sabia que aquela era a última vez, a última vez!

 

— Você tem uma voz encantadora, Finnick. E sabe tocar piano e flauta muito bem. — Senti-me na obrigação de fazer isso, elogiá-lo. 

— Obrigado... e eu só sei a introdução da flauta de Let It Go, e até a parte que parei de tocar no piano de Set Fire To The Rain… — Corou, envergonhado, abaixando a cabeça, obrigando-me, quase, a rir dessa situação! — Pare de rir de miiimmm! — Me balançou com as duas mãos, de leve, fazendo eu rir ainda mais — Katniss!

— Oi! — Olhei pra sua cara, e voltei a rir de novo — Desculpa, mas não parece ser muito do tipo que se envergonha quando ouve uma verdade. 

— É que você é a princesa e... Asegundagarotaquemostroqueseicantar. — A última coisa ele disse baixo e rápido 

— Que? — Fiz uma careta realmente confusa

— Asegundagarotaquemostroqueseicantar. — disse um pouco mais alto, mas ainda sim, rápido demais para eu poder interpretar.

— Finnick Odair! — Fingi estar brava, então, ele suspirou, fechando os olhos verdes intensos, e respondeu melhor

— É a segunda garota que mostro que sei cantar. — respondeu — Bom, é pedir demais para que eu não me constranja em sua presença, ainda mais recebendo um elogio. 

Sorri por sua sinceridade.

— Mas me disse que sabia cantar. — Finnick sorriu carinhosamente. 

— Sim, mas não esperava que fosse gostar. — Ergueu as mãos em rendição. 

— Ah, pare com isso! — O empurrei de leve, fazendo-o sorrir suavemente — O que mais devo saber que te constrange?

— Hm...acho que me contar que estou errado, quando sabe que eu sei que estou errado. — disse, pensativo.

— Do tipo... — Parei para refletir — Eu dizer que está errado em se constranger em minha presença? — Corou, abaixando a cabeça

— Mais ou menos... — Balançou a mão — Eu gosto de ouvir piano.

— E eu! Gosto de tocar piano. — Sorriu gentilmente — Posso tocar para você? 

— Seria uma honra. — respondeu, calmo, sentando-se melhor ao meu lado.

Endireitei a postura, e com um sorriso torto, comecei a tocar nas teclas, com pouca pressão, pois o tocar piano exigia essa delicadeza e sutilidade. 

O que eu faria sem a sua boca inteligente

Me atraindo, e você me afastando

Minha cabeça está girando, sério, eu não consigo te decifrar

O que está acontecendo nessa mente linda?

Estou em sua jornada mágica e misteriosa

E eu estou tão tonto, não sei o que me atingiu, mas eu ficarei bem 

Cantei, da forma mais leve que poderia, sentindo os olhos de Finnick sobre meus dedos e rosto 

Minha cabeça está debaixo de água

Mas eu estou respirando bem

Você está louca e eu estou fora de mim

Meus dedos apertam sem muitos problemas, pois meu pai disse que essa era a música dele para a minha mãe, e é uma das minhas músicas com Prim, costumamos dizer o refrão uma para a outra, e sinto-me à vontade suficientemente com Finnick para compartilhar isso com ele. Só que não como um provável futuro parceiro, como sinto com Cato, Gale, Logan... Peeta. E sim como um amigo, o que é um pouco... Estranho, talvez. Eu gosto tanto do Finnick, mas não sei se poderia passar uma vida ao seu lado, beijando sua boca, compartilhando meus segredos, e depois, ele me confortando com seus braços. Até posso, mas não da forma da qual deveria. 

Porque tudo de mim

Ama tudo de você

Ama as suas curvas e seus limites

Todas as suas imperfeições perfeitas

Me dê tudo de você

Eu darei tudo de mim para você

Você é o meu fim e o meu começo

Mesmo quando eu perco estou ganhando

Porque eu te dou tudo, tudo de mim

E você me dá tudo, tudo de você

Senti meus olhos brilharem, mesmo que estivessem fechados para cantar o refrão, e um sorriso se formou em meu rosto, imaginando que alguém um dia poderia cantar ou tocar isso para mim, com a mesma paixão que meu pai toca para a minha mãe, e seus olhos se enchem d'água. Lembro-me uma vez que ela disse que quando meu pai demonstra seu amor dessa forma, ela se esquece de títulos, qualidade de vida, e até mesmo que respira, mesmo que seja involuntariamente. Ela disse que se esquece de tudo, absolutamente tudo, e que no mundo só há ela, meu pai, e a escolha do amor deles. 

Parei de tocar, não porque não queria mais tocar, ou para olhar para Finnick, que estava um pouco emocionado, e sim porque eu precisava aprender a organizar meus sentimentos, parando de pensar no que deu certo para meus pais, para descobrir o que vai certo para mim.

— Por que está com os olhos lacrimejando? Eu sou tão mal assim? — perguntei, curiosa, mas então ele riu sincero, negando

— O oposto disso, com certeza. É que você é tão profunda como Gale quando toca, como se as teclas fossem o coração das pessoas, e isso me deixa emocionado. Eu sou sentimental. Talvez, não tanto como o Peeta... — ri, jogando a cabeça para trás, batendo palmas, sabendo que o outro loiro se emociona facilmente, principalmente nessas coisas de sentimentalismo. Me lembrar dele chorando na noite em que nos conhecemos me faz rir, não importa a tristeza que eu esteja sentindo. 

— Mas sou bem sentimental, com relação a isso. Sou sensitivo. — Continuou, sorrindo torto, um pouco tímido — Já ouviu Gale tocando piano? — Neguei, pois mesmo que soubesse qual era a profissão dele antes, nós conversamos mais do que andamos por aí e contamos nossos verdadeiros interesses. Sempre somos interrompidos.

— Ainda não, mas pedirei para ele tocar algo para mim no nosso próximo encon… 

— Princesa, sua presença é solicitada imediatamente na sala do rei. — Um guarda me interrompeu, ofegante, pois era longe a sala do meu pai até a sala de música. 

— O que? Mas eu estou no meio de um encontro! Ele sabe disso! — Pus me de pé, a claro contragosto 

— Sinto muito, vossa alteza, mas ele exige que a senhorita vá ao encontro dele. — Pela expressão dele, do guarda, era urgente. Urgente mesmo

— Finnick, preciso ir, e não sei quando vou voltar... — Mordi o lábio inferior, por não saber o que fazer, mas ele foi tranquilo 

— Está tudo bem, eu entendo. Nos vemos por aí? — perguntou, se levantando, estendendo-me sua mão para eu apertar 

— Claro. — Apertei nossas mãos, de forma cúmplice 

— Nos vemos por aí. — Continuei, pois eu sempre o via andando por aí, com Gale, ou com Peeta. Sempre paramos e falamos sobre alguma coisa. 

— Boa reunião, e que a sorte esteja sempre ao seu favor. — Brincou, e eu ri alto, balançando a cabeça, indo em direção ao guarda, que não entendeu nada. Problema é dele. — Tchau! — Acenou, longe, mas ainda sim o correspondi, com um sorriso. 

**

— Qual é o problema? — Como eu usava calças de algodão, na cor bege, de cintura alta, e uma blusa de cetim que ia até meus cotovelos, ou seja, vestida para os negócios, atrai a atenção de todos. 

— Mortes no Sul,  Katniss. — Meu pai avisou, logo de imediato, e com um aceno, jogou o que estava no seu aparelho celular para a parede branca, e logo o holograma azul apareceu, com rostos de pessoas nunca vistas por mim, mortas, e a causa logo ao lado, de maneira objetiva, porém bem explicada.

— Sulistas. — Jack disse, cerrando os punhos. Era o conselheiro mais jovem, com 26 anos, porém, com mais experiência no ódio do que qualquer um ali. Os Sulistas estupraram e mataram sua esposa e filha, que na época tinha apenas dois meses de vida. Acho que se ele visse um, é muito provável que mate com as próprias mãos. — Nós precisamos tomar logo uma providência quanto a isto majestade. — Olhou para meu pai, que assentiu, com o cenho franzido, deixando-lhe uma ruga de expressão.

— Sim, precisamos, mas o que? O que poderia acalmá-los, para-los? — Indagou meu pai, aos seus conselheiros e a mim. 

— Encontrarmos métodos de sanar as necessidades básicas, eu insisto. — falei, levantando um pouco a voz, já que havia um murmurinho — Pessoas morrem de fome, pa… — ele me olhou severamente, e me lembrei que não era adequado chamá-lo de pai na frente dos conselheiros — Majestade. 

— É uma ótima opção, mas é sempre a mesma. Precisamos de um plano B. — respondeu, dando a volta em sua mesa, sentando-se na cadeira digna de um rei — Nós já estamos trabalhando nisso, não é, Dexter?

— Sim, majestade. — respondeu o moreno, que cuidava dessa parte, de agir. 

— Mas acho que você não está exercendo seu trabalho com exatidão se ainda temos pessoas mortas por vingança de pessoas que não tem absolutamente nada. — debati, olhando em seus olhos cor de mel 

— Olha o respeito, Katniss. — Corrigiu-me meu pai.

— Onde está o respeito para essas famílias? — Ergui a voz, sentindo meu coração bater rapidamente em meu peito, e o sangue correr mais depressa em minhas veias — Pai! 

— Você ainda não é rainha ainda, Katniss, abaixa a bola. — Ouvir aquilo do meu próprio pai fez meu coração bater ainda mais depressa, a ponto de causar suor em minha testa e minha vista embaçar.

— Mas um dia EU serei, e você não.

Era possível ouvir um grampo cair no chão, mesmo que fosse de carpete.

— Majestade, vossa Alteza... — Arminda interrompeu nosso momento discussão — A vossa Alteza tem razão. É mais adequado que cuidemos da alimentação e saúde dos Sulistas.

— Isso já foi resolvido, enviamos dois caminhões lotados com comida, caminhões grandes, para eles, mas queimaram tudo, e tivemos quatro baixas. — Dexter disse, suspirando, jogando as imagens dos veículos do palácio, totalmente queimados, e vi um conjunto de ossos, horrorizando-me, mas disfarcei, mantendo minha expressão de fúria, que só aumentava. 

— Então não temos NADA resolvido se eles queimaram a droga da comida. — Jack disse antes de mim — É preciso insistir. Mas tentemos desta vez no Norte do país. Por lá tem alguns Selecionados, não é mesmo, Alteza? — Eu gostava de Jack, e entendia-o, assim como sentia que ele me entendia.

— Gale Hawthorne, Finnick Odair, Travor Mendes, Logan Johnson. — citei alguns do Norte. Peeta era do Oeste (e sabia de tudo), Cato, Jeremy, eram do Sul, e talvez pudessem me dar informações, mas eu não me atrevo a contar algo sobre o que está acontecendo em suas respectivas regiões, até porque as famílias dos que estão no Sul, Oeste, Norte, Nordeste, independentemente, estão sendo protegidas pela Guarda Real, e mesmo assim, não estão em perigo porque são distantes da zona dos miseráveis que querem vingança por não sei o que. Não lhes falta nada! 

— Ok, que assim seja — Meu pai disse — Você tem mais uma única chance, Dexter. 

— Mas senhor...! — Tentou contestar, pois honestamente, não era uma tarefa fácil

— Você é pago para isso. — Snow foi claro, objetivo — Qual o plano B?

— A princesa vem sendo questionada de sua capacidade de liderança e decisão pela lentidão da Seleção, Majestade. — Carmen, braço direito da minha mãe, então, infelizmente eu encontrei a malícia em suas palavras. 

— O que sugere? — Papai questionou, tirando os hologramas assustadores da parede, em um puxar da mão. 

— Apressar algumas situações, encurtar logo o número de Selecionados, e ter mais romance. O que está fazendo com os Selecionados, Alteza?

— Em primeiro lugar, onde isso pode ser bem usado nas nossas questões políticas? — Era um assunto demasiadamente desconfortável.

— Esperança. — Meu pai disse, se levantando, indo para a frente de sua mesa, apoiando as mãos atrás do corpo, segurando-se um pouco na mesa, acentuando-lhe todo o ar majestoso que carregava, mesmo sem sua coroa ou farda. Ele estava com uma blusa social verde até os pulsos, vestindo uma calça social preta, mas como fora educado desde pequeno para ocupar o cargo, até o jeito de andar era pura imposição de poder.

— Esperança? — perguntei, junto com Dexter, Jack e Bennet (outro conselheiro, este, braço esquerdo de meu pai, Jack era o braço direito).

— Esperança é a única coisa mais forte do que o medo. Um pouco de esperança é eficaz, muita esperança, perigoso. Você é uma ponta de esperança em meio a tudo isso, Katniss. O seu futuro marido vai ser todo o resto. Eles precisam conhecer mais os seus Selecionados, e os deixe escolher alguns. — Meu pai disse, então pude entender onde ele queria chegar. Eu não tenho a verdadeira chance de escolher o meu futuro marido. Só dar sorte em, no que o povo escolher, ter o amor da minha vida.

— Aonde querem chegar com essa conversa? — perguntei, escondendo que queria matar todos "tomarem banho", lá na "ponte que caiu". 

— Você precisa se demonstrar mais interessada e misteriosa com os Selecionados. Caminhadas no entardecer, visita a lugares incomuns no palácio... - Carmen disse, anotando em um papel — Parece ser amiga deles do que namorada.

— Eu não sou namorada de ninguém! — Aquela conversa estava absurda! — Carmen, isso está fora de cogitação. Pai, invista no Norte e em segurança. A questão da água foi resolvida? 

— A água sim, e estamos seguros por lá. — Shalom, líder do exército, entrou na conversa, finalmente — Nortistas são bem mais fáceis de domar do que os Sulistas.

— Não são animais para tratá-los nesse tom. — Pensei, mas não disse nada, apenas virando o rosto para meu pai. 

— Ótimo. Mas reforce por lá, Shalom. Envie tropas preparadas para o Sul e Oeste, que achou que pode se rebelar. Sufoque as faíscas antes que façam tudo pegar tudo pegar fogo. Que na sala fiquem apenas Jack, Carmen, Katniss e Caleb. — Os outros três conselheiros e o líder do exército saíram da sala. É extremamente estranho ter que ficar na sala com essas pessoas, tratando de assuntos tão sérios. Meus sentimentos estão sendo disputados, como se fosse um quadro.

— E aí? — Meu pai perguntou para Carmen — O que vai ser preciso fazer? — Ela sorriu, e me olhou de forma diferente, de forma ruim e disse:

— Sugiro, Majestade, que se apresse as coisas na Seleção. — Sugeriu — Caleb, você que anda com o povo, o que eles mais querem? — O ruivo ficou quase da cor vermelha original de seu cabelo, como os de Annie, mas não tinham nenhum parentesco.

— Eles querem envolvimento. — Papai o olhou confuso. — "Envolvimento". — As aspas clarearam tudo — Não estou mentindo, Snow. Até eu, que vi a Rainha ser coroada, acompanhei a gravidez da Katniss, da Prim, e as vi crescer. Eu não diria se não fosse mesmo verdade. — O rei confiava em Caleb, e eu também. Ele é o irmão de consideração do meu pai, é adotado, mas não assume o reinado porque eu existo, e caso algo aconteça comigo, Prim assume.

— Ai meu Deus do Céu... — Meu pai cobriu o rosto com as mãos, suspirando profundamente. — Não acredito nisso. Sério? 

— Sim. — Passou as mãos nos cabelos ruivos — Eles querem envolvimento, e que saia logo uma matéria contando mais sobre os Selecionados. Com fotos de passeios e talvez, algum beijo. Beijo mesmo. — Senti a minha espinha gelar, gelar por completo, arrepiando minha nuca, arrepiando cada fio contido por creme. Querem que eu faça sexo com todos os 18 Selecionados?! 

— Não dissemos para você fazer isso, até porque seria promiscuidade. — Lembrou meu pai, então notei que eu tinha dito a última frase. — E eu não deixaria. De forma alguma. Nem me dando a fórmula da juventude. 

Aaaahhh... — Gemi de frustração, quase chorando, e ainda bem que eu já estava sentada de frente para o Rei, onde sempre sento. Mas caso eu precisasse anotar, o que é em 8 de 10 reuniões, eu uso a escrivaninha exatamente para isso, ou quando meu pai quer me ensinar alguma coisa. — Por que não veem logo o que o povo precisa e erradicam com a miséria? — Bati as mãos na mesa, com muita raiva, assustando-os.

— Porque isso nós fazemos todos os dias. — Jack respondeu — Não temos mais pessoas que morrem de fome no país. 

— Até onde eu fui, e foi até o Seis, ninguém morre de fome. — Garantiu meu tio Caleb. — Mas passam algumas necessidades, como por exemplo, com o Saneamento Básico. 

— Então, melhorem o Saneamento Básico! — Pedi, espalmando as mãos na mesa, para não bater em ninguém. 

— Você, Katniss, dispensada. — Ordenou meu pai, então, precisei obedecer. 

No dia do beijo na cachoeira.

05:30, marca o relógio, e eu me levanto da cama com um sorriso radiante em meu rosto, depois de me espreguiçar lentamente, com o mesmo sorriso no rosto, sentindo raios solares penetrarem a janela bem polida do meu quarto, já que com um gesto com a mão, fiz as cortinas se afastarem, por um relógio que uso. Eu não gosto muito de ter objetos fazendo as coisas por mim, mas é útil às vezes... 

Selecionei a música Hands To Myself, que Annie tinha passado para mim, e as primeiras batidas logo me fizeram dar um gritinho de animação.

Não consigo não encostar
Não importa o quanto eu estou tentando
Eu quero você todo pra mim
Você é um gin e um suco metafórico
Então vamos lá, me deixe experimentar o gosto
Do que é estar perto de você
Não vou deixar uma gota ir pro lixo
Você é um gin e um suco metafórico

Porque todas as dúvidas e as explosões
Continuam mantendo nosso amor
E eu estou tentando, tentando, estou tentando, tentando
Todas as dúvidas e as explosões
Continuam mantendo nosso amor
E eu estou tentando, tentando, estou tentando, mas eu 

Caminhei como uma bailarina para meu banheiro, com direito a voltinhas, e jogadas de cabelo, bem sutis, cantarolando com uma das minhas cantoras prediletas, porque era dos Dias Escuros. Os cantores de hoje não possuem mais a mesma essência de antes. 

We keep making love with each other... — Balancei meu corpo, fazendo meu robe de seda cair no chão de forma muda, e eu sorri, puxando para cima minha camisola fina - por causa do calor aqui em Angeles, e por eu ser muito calorenta -, e joguei no cesto de roupa suja no canto do banheiro, finalmente começando a tirar a lingerie, que na verdade era apenas a calcinha, já que eu odeio sutiã, e o melhor momento do dia é quando os tiro. É um verdadeiro mártir tê-los em meu corpo! 

Puxei os dois palitinhos que prendiam meu cabelo, e os mesmos caíram como uma cortina perfeita até metade das minhas costas, com ondas bonitas, oscilando entre o mel e o castanho escuro, por causa de algo que Annie passou sem querer no meu cabelo, mas todos aprovam a mudança. Principalmente eu. 

Não consigo não encostar
Não encostar
Não consigo não encostar
Não encostar

Meu médico diz que eu não estou bem
Mas as pessoas dizem o que elas querem dizer
E você deve saber que se eu pudesse
Eu respiraria você todos os dias

Abri o chuveiro, no morno, sorrindo ao sentir a água começar a cair no topo da minha cabeça. Era como se todos os meus problemas, dificuldades que surgiam de repente na minha relação com meu pai, a incompatibilidade com o gene e atitudes da minha mãe, minha bipolaridade, os 20 Selecionados até o momento, simplesmente fossem ralo abaixo com a água. E se algum pensamento diferente de uma oração de graças por eu ter acordado mais um dia resolvia entrar na minha mente, logo eu falava mais alto, para espanta-lo. 

No ritmo da música, passei as mãos pelo meu corpo, cantando junto, sorrindo, dançando suavemente, jogando o quadril de um lado para o outro.

Não consigo não encostar
Eu quero isso tudo, não, nada mais que isso
Não consigo não encostar
Eu quero você todo, nada mais
Oh, eu, eu quero tudo
Eu quero tudo, eu quero tudo
Não consigo não encostar
Quer dizer, eu poderia, mas por que eu iria querer?

Não consigo não encostar
Eu quero isso tudo, não, nada mais que isso
Não consigo não encostar
Eu quero isso tudo, não, nada mais que isso
Eu quero isso tudo, não, nada mais que isso
Não consigo não encostar
Eu quero você todo, nada mais
Não consigo não encostar

CHEGUEI! — Ouvi Annie gritar — TÁ TUDO BEM?!

— TÁ SIM, ANNIE! — respondi de volta, desligando o chuveiro para passar shampoo com cheiro de chocolate, já que eu não posso comer muito desse doce.

— Vai querer que eu faça alguma coisa especial para se encontrar com o seu Boy Unção? — perguntou, arqueando uma sobrancelha, com um sorriso malicioso. Ela chama Peeta dessa forma, porque todas as vezes que saio com ele, estou passando por algum problema, mas simplesmente me esqueço em um piscar de olhos quando estou com ele, e sempre volto muito melhor. É como se ele fosse um verdadeiro presente enviado de Deus para que eu não pirasse com tanto cara andando pela minha casa. Talvez ele realmente seja. 

— Pode fazer aquela trança lateral? Lá eu vou soltar o cabelo. — Sorriu, animada, concordando imediatamente. — Muito obrigada.

— Me agradeça quando trazer ele pra cá. — Piscou, maliciosa, e me deixou no banheiro, com cara de taxo. Meu Deus do Céu. Essas amizades...

Esfreguei devagar o meu cabelo, sabendo que me restava tempo, e depois passei o condicionador, quando Madge entrou no banheiro, toda-toda, dizendo:

— São 06:05. 

— O QUE?! — Na mesma hora toda a minha paz de espírito foi embora, e eu logo fui puxando a toalha, fechando o chuveiro, quase voando até a minha penteadeira, aos risos de Annie e Madge, já que Johanna só chegaria ao meio-dia. 

— Qual maiô, Katniss? — Madge perguntou, enchendo uma de suas bochechas com ar, fechando o olho esquerdo, confusa.

— O que tem uma argola no meio, segurando a parte de baixo e de cima, transversal. 

— Tem dois com uma alça só e a argola. — Avisou — Preto ou o florido? Bem, na verdade, só tem uma flor, mas é muito bonito.

Peeta gosta de flores. 

— O florido. — Annie disse por mim — Troy disse que ele vai para a estufa, e passa bons minutos lá, ajudando o George e Laura. Ambos dizem que ele é quase um biólogo das flores, e sabe que eles são demais, não sabe?

Papà os mantém desde que assumiu o país. — Eu disse, inclinando a cabeça para a direita para Annie fazer melhor a trança. — Eu não sabia que Peeta ia para a estufa. Minha mãe é a única que gosta daquele lugar. — Torci o nariz — As flores lá são muito estranhas pro meu gosto.

— Bem, ele ama aquele lugar. Depois das aulas da Dama Effie, vai pra lá. É algo tão certo como o quanto vocês estão se a-pai-xo-nan-do. — Annie cantarolou a última palavra, me deixando furiosa.

— Eu não gosto quando vocês falam que eu estou gostando de alguém! — Me levantei, quando vi que ela já tinha terminado, e fui para o closet, depois de pegar o maiô das mãos de Madge.

— Por que ele não é um Dois? — Madge perguntou, arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços

— Claro que não! — Coloquei um chapéu, o que minha mãe usou em seu primeiro encontro oficial com meu pai, e era bem informal. — Sabe que eu não olho o Distrito!

— Então porquê fica sempre na defensiva quando torcemos para você e Peeta? Ele é um rapaz tão bom, Katniss... — Madge disse, suspirando — Assim fica difícil acreditar.

— Eu só o tenho e o vejo como amigo. Amigo que não tenho.

— Do sexo masculino, certo? Porque nós te consideramos nossa amiga. — Annie abriu um sorriso falso, mostrando todos os dentes brancos e certinhos - que precisaram ser ajustados com um aparelho, que ela sempre arrumava alguma complicação aos 15 anos -, abraçando Madge pelo ombro, que sorriu da mesma maneira da ruiva, tirando um sorrido sincero meu, e que o meu stress era apenas recorrente de que em poucos dias eu estaria em guerra comigo mesma, quando ficasse "Naqueles Dias", mesmo que meus seios ainda não estejam doloridos.

— Claro. É que há coisas que apenas um cara pode me contar sobre outros. Eu o tenho como amigo.

— Mas tá doida pra beijar aquela boca, não tá não? — Madge perguntou, sorrindo maquiavélica, batendo as pontas dos dedos na palma da mão oposta, como se arquitetasse um plano maligno para me juntar à Peeta.

— Não sei. — respondi, mas meu eu interior berrava vários "SIM!" "SIM, EU QUERO!" "EU QUERO BEIJAR MUITO!", só que esse lado, esse lado mal da força, é pequeno dentro de mim, e só me visita quando estou dormindo, fazendo com que eu acorde suada de vez em quando, pois é o único momento depois que tenho ataques de bipolaridade, que não consigo me controlar, nem mesmo na base de remédios, que é quando estou dormindo. 

Eu quero beijar 14 de 20 Selecionados, mas vou esperar esse número diminuir para não comparar quando finalmente me casar. Imagina que tenso seria se eu me casar com o Logan, por exemplo, mas me lembrar dos beijos de Marvel? Ou o contrário? É assustador. É errado. Vontade de beijar todos tem, mas é bom preservar um momento tão especial, que é sempre tão valorizado nos livros, até mesmo na Bíblia, para o menor número de pessoas possível. 

— Veste essa bermuda. — Aconselhou-me Annie, estendendo-me uma peça de roupa cinza, com suaves traços brancos, bem livre, e Madge me entregou uma blusa de amarrar na metade da barriga, colorida. 

— E ainda esconde o maiô, olha, Ann. — A loira cutucou a ruiva, que sorriu, me fazendo dar uma viradinha. — Você está linda, Katniss.

— Muito obrigada, meninas. — Peguei a bolsa que Johanna tinha feito para mim, e coloquei de forma transversal, do lado posto que o meu maiô estava. Combinava com meu chapéu e óculos escuros, estilo aviador. 

— Ah, e não se esqueça de seus sapatos, sua burra! Lerda! — Annie lançou minhas botas de cano médio, indo quatro dedos acima do meu calcanhar. 

— Valeu, meu amor! — Mandei beijo para ela que revirou os olhos. — Tchau, pessoal. 

Madge acenou para mim, com um sorriso torto e gentil. 

— Boa sorte. — disseram juntas, e no fundo, sabiam que isso era o que eu mais ia precisar.

A caminho do quarto de Peeta, em passos sem pressa, fiquei pensando no momento em que eu me sentei em sua cama ontem à noite, na ponta, e não aguentei as lembranças do meu pai me diminuindo na frente dos Conselheiros, e tampando os ouvidos para o que eu dizia, basicamente. Às vezes eu me esquecia que ele era meu pai, outrora, que era o meu Rei, e estava acima de mim. Por enquanto.

Peeta é muito pouco carinhoso, muitas vezes, porém quando ele precisa ser um amigo, um irmão, ele é, e nem sente. Talvez tenha medo. Não sei de que, mas talvez tenha, pois é a única razão óbvia para isso. Talvez tenha medo de se dar muito, e não necessariamente receber pouco, e sim não ser correspondido, quem sabe? Eu só sei que a antiga amada dele era uma paixão intensa. E ele tem medo de que aconteça o mesmo comigo, quem sabe?

Enquanto eu caminhava para busca-lo, pensei também no quanto eu o considerava. Não sei se teria coragem para fazer o que estou fazendo, levá-lo aonde vou levá-lo, com Cato, Marvel, Steve, Gloss, etc. Só vou conseguir relaxar se ele estiver comigo, e quando digo ele, eu me refiro neste momento à Peeta. 

Tomei todos meus remédios de uma só vez, pois não sinto que seja a hora de contar o que acontece comigo em algumas partes do tempo. 

— Olha quem resolveu aparecer! — Eu disse, escorregando um pouco do meu óculos escuros para a ponta do nariz. — Bem na hora, Selecionado. Seis e meia da manhã! — Ele me olhou confuso, então olhou para relógio que tinha no corredor, depois colocou a cabeça para dentro do quarto, aparecendo ainda mais confuso, me fazendo rir.

— Me acordaram mais cedo! Uma hora mais cedo! — exclamou, boquiaberto, e eu ri mais, por ver que ele não estava chateado, e sim surpreso. 

— Vamos logo. — chamei, e ele assentiu, dizendo:

— Ok, peraí, só preciso fazer uma coisa. — Entrou novamente no quarto, e os agradeceu, eu acho que foi o que ouvi, então, saiu com um sorriso enorme no rosto, estendendo seu braço para mim. — Para onde vai me levar, Princesa? 

— Vamos em meus cavalos, Selecionado. Mas temos que ir por fora, pois se pegarmos o caminho mais curto, vão descobrir que saímos. — Assentiu, então, saímos correndo pelo palácio, um ao lado do outro, tentando fazer o mínimo de barulho possível, tirando risadas sinceras do guardas de plantão. É divertido ter 18 anos, mas mais ainda é poder agir como se eu tivesse essa idade.

— SENTI SUA FALTA! - disse Peeta, abrindo um sorriso sincero, passando as mãos no pêlo do Pirata, que se animou claramente na presença dele. - É bom que tenha sentido minha falta, porque eu senti muito a sua. — Deu uma maça verde para meu cavalo, as favoritas do Pirata, e não faço ideia de como Peeta descobriu isso.  Estou impressionada. — Não, essa é minha. — disse rindo, com uma maçã para si nas mãos.

Pirata viu que Peeta ia morder uma maçã igual a que acabou de dar para ele, e tentou tirar das mãos do loiro, que agia como se nem se lembrasse que eu estava ali. Bem melhor assim, eu me sinto mais eu.

 — Nada disso, seu invejoso. — respondeu, balançando a cabeça em desaprovação — Eu já te dei uma.

Ri do diálogo dele com o cavalo, que pareceu ter bufado sabendo que não receberia uma segunda maçã por enquanto, mas fechou os olhos quando Peeta continuou o afago perto de sua orelha, aprovando totalmente. 

— Como aprendeu a andar à cavalo? Seu Distrito não era o Quatro. - Sorriu.

— Mas eu trabalhava limpando as piscinas nesse Distrito. De tanto olhar - Se virou para mim, enfim. - A gente acaba aprendendo alguma coisa. Anteontem foi a primeira vez que montei em um para passear mesmo, antes fora apenas para guiá-los até os estábulos. 

— Levei uns seis anos para aprender a montar em um. - Riu, do meu tom de voz decepcionado comigo mesma. — E sete para andar sobre um. Vamos? Cookie e Pirata estão preparados desde às quatro da matina. — Assentiu, copiando minha iniciativa de abrir a portinhola. — Apenas me siga, ok? — Concordou, sorrindo para o cavalo, que queria claramente a maçã. — Dá pra ele logo, seu burro! 

 — Que droga! — Fingiu raiva, e ela sorriu. — Toma, Pirata. Porque você é um cara legal, mas eu só vou dar para o Cookie quando chegarmos seja lá aonde. 

— Espero que me acompanhe desta vez! — Em um pulo eu consegui montar sobre o cavalo, depois de tanto tempo treinando alguma forma rápida, porém que não machucasse os animais. Peeta me olhou sorrindo torto, logo se virando para subir no cavalo que lhe fora cedido.

 — Eu quem digo isso para você. — Piscou, sorrindo debochado, fazendo eu dar a língua cinicamente, mas sem me sentir culpada, e sim com vontade de sorrir.  — Desde quando temos tanta intimidade? Para você ficar fazendo isso? — ri, depois que subi no cavalo, e começamos a cavalgar devagar, passando pela lateral do castelo, para não corrermos o risco de nos verem saindo para fora dos arredores do palácio. 

 — Não sei, apenas me sinto à vontade com você. E você comigo. — Sorriu, e eu sorri de volta — Agora, vamos apertar o passo. — eu disse, guiando Cookie para o lado de Pirata durante dos vinte minutos que ainda estávamos nos campos do palácio, que era bem extenso, então eu tomei a frente, sendo seguida por ele, que ia para onde eu ia sem questionar, mas não era motivo para tanta exaltação por minha parte, pois ele não sabia chegar até a cachoeira.  

**

— Você prefere uva ou morango no leite condensado? — perguntei, colocando algumas frutas em um palito, e depois jogando leite condensado por cima. 

— Eu quero tudo! — Peeta disse, colocando pedaços banana, algumas uvas e morangos, depois jogando leite condensado, comendo devagar, como eu, porque estava realmente uma maravilha. 

 — Será que vão notar nossa falta? — perguntei, e quando olhei para ele, comecei a rir, porque a ponta de seu nariz e bochechas estavam sujas de leite condensado, com ele pouco se importando com isso, então, com calma, limpei com o meu polegar, e logo em seguida, colocando a minha boca, sem nojo, fazendo-o rir. Seu riso é como o de uma criança, era o encaixe certo para seu rosto, totalmente brancos e alinhados, e sem maldade. 

 — Eu não sei comer essas coisas. Eu não podia pagar uma lata de leite condensado, e a única vez que comi, foi quando minha mãe trouxe o que o seu antigo patrão deu para ela. Umas dez latas disso. 

 — O que?! — Fiquei assustada — Você não podia comprar uma lata de leite condensado? — Assentiu, dando de ombros. — Já comeu brigadeiro?

 — Duas vezes na vida. — disse, pegando mais morangos. — E eu quase morri nessas duas, literalmente.

 — Eu como quase todos os dias! — Riu, vendo minhas mãos nas minhas bochechas. — Vou pedir para fazerem para você! Me lembra de pedir quando chegarmos. Grease faz o melhor brigadeiro do MUNDOOOOO! — Joguei os braços para o alto, e me lancei para trás, sentindo minhas costas serem amortecidas pela grama verde e macia, enquanto ouvia a risada dele, me fazendo sorrir. 

 Senti seu corpo se deitar na grama também, mas de barriga pra baixo. Olhei para seu rosto, não me surpreendendo em encontrar os seus olhos azuis esverdeados, mas a cor predominante ainda era o azul, me deixando aérea por alguns segundos.

 — Eu estava pensando... — Começou, deitando mais confortavelmente, com o rosto sobre a mão, virado na minha direção, enquanto minhas mãos estavam em baixo da minha cabeça, olhando para a copa da grande árvore. — Poderíamos ouvir música.

 — Verdade. — Me sentei, apenas erguendo meu tronco, deixando minhas pernas imóveis, pescando meu fone e aparelho de ouvir música. Dei o lado esquerdo para ele e fiquei com o outro, o lado direito. Pus em uma música aleatória

Amor, amor, você está ouvindo?
Me pergunto por onde você andou toda minha vida
Eu acabei de começar a viver
Oh, amor, você está ouvindo?

— Muda! Quanta tristeza! — ele disse rindo, pegando o aparelho da minha mão, me deixando sorrindo olhando para ele — Como se mexe nisso? — Ri mais, fechando os olhos. 

 

— Você ligou o modo holograma, querido. — respondi, ficando de barriga para baixo como ele 

 — Você tá usando essa palavra pra me afrontar. — Não aguentei, e o aparelho escorreu das minhas mãos, que caíram sem forças na grama, enquanto eu ria alto, pela forma que ele falou, fingindo que estava furioso comigo. 

 Acabou que Peeta riu comigo também, puxando os hologramas e os pondo novamente na tela, em um simples gesto. 

 Peguei novamente o aparelho, e coloquei uma música mais animada, chamada Beauty And A Beat, fazendo nós dois começarmos a balançarmos nossos corpos pra lá e pra cá, como se soubéssemos de alguma coisa. 

Porque tudo o que preciso é de uma bela e uma batida
Quem pode fazer minha vida completa
É você, quando a música faz você se mexer
Baby, faça do seu jeito
Porque você é

Mexa seu corpo garota, posso sentir seu corpo se mexer
Aceite o elogio, você está na turma mais descolada agora
Vamos festejar como se fosse 3012 esta noite
Quero lhe mostrar todas as coisas boas da vida
Então, simplesmente esqueça o mundo, seja jovem esta noite

AAAAAAAAALLLLLL I NEEEEEEDDDD! — Cantamos alto, e propositalmente desafinados — IS A BEAUTY AND A BEEEEAAAATTTTTTT! WHO CAN MAKE MY LIFE COMPLEEEEETTTTTEEE! — E levantamos nossas mãos, descendo-as logo em seguida, e as levantamos novamente, seguidas vezes, então começamos a rir novamente. 

— Vamos, bote outra música, por favor. — Pediu, fechando os olhos, quando um vento passou, balançando seus cabelos ondulados. 

 Nossa... Suspirei, sentindo algo queimar no meu ventre, precisando passar discretamente uma perna na outra, não sabendo o que estava acontecendo comigo, com meu corpo. De repente eu me aqueci por dentro.

 — Qual tipo de música? — perguntei, passando pela minha lista de músicas.

 — Uma mais calma... — Pediu, me estendendo morangos com leite condensado, que peguei com uma mão, sem tirar os olhos do aparelho. 

 — O que acha dessa? — Sugeri, colocando Silhouettes, e ele sorriu, ficando barriga para cima — Eu também gosto.

 — A voz dela é linda. E é realmente difícil deixar ir. 

 — Deixar ir o que? — Fechou um dos olhos, franzindo um pouco o cenho, e levantou uma mão, deixando no nosso campo de visão - pois eu me virei, ficando de barriga pra cima -. 

 Peeta fingiu poder tampar o sol com o polegar, de forma infantil, e eu também tentei, ao seu lado, e até que conseguimos tampar os raios que penetravam suavemente nas folhas da grande árvore acima de nós, então, ele disse:

 — Tudo. É difícil deixar para trás as pessoas, mesmo que pareça fácil manda-las irem embora, ou terminar um relacionamento, mas quando elas ultrapassam a porta, é como se, todas elas, deixassem algo delas, mas levam algo de nós junto. — Deixou a mão cair ao lado do corpo, então, fechou os olhos.

 Fechei meus olhos também, querendo me deitar em seu peito, relaxar e dormir, mas eu não posso.

 Mas gostaria. E muito.

**

Quase nos beijamos assim que pulamos na água, e aquilo me deixou tremendamente afetada, mexeu com meu psicológico, meu sistema nervoso, porque a minha vontade era as mais mal intencionadas com ele, no lado malicioso. Eu quero beija-lo, e saber qual  o seu maior ponto fraco. Eu quero saber mais sobre seu corpo, poder... Ahhh... 

 — Eu sei nadar. — falei a primeira coisa que passou pela minha cabeça, fazendo-o sorrir, sentindo que ali havia um ímã, que nos atraía todas as vezes que nos aproximávamos demais. Bem, isso só aconteceu uma vez, que é hoje, mas está tudo bem claro que essa proximidade não é adequada para nossa sanidade mental.

 Comecei a nadar em direção onde a água caía, e mergulhei, sendo seguida por ele, sentindo aquela pressão quando atravessávamos por debaixo da cachoeira, afundando um pouco, e admito ter rido quando isso aconteceu, admirando as bolhas saindo da minha boca, e quando coloquei a cabeça para fora, fiquei impressionada com tamanha beleza natural. 

 Era uma espécie de ovo, mas aberto embaixo, onde estava a água, e dava para sair da água, ficando em pé sobre as rochas que tinham ali. Era um pouco quente, mas tremendamente confortável.

 Sai da água, quase engatinhando porque queria sentir absolutamente tudo, mas fui de pé, sentindo os olhos de Peeta sobre mim, o que me fez dar um sorriso discreto, quando na verdade eu queria empurra-lo naquelas rochas e pedir para que me explique pelo amor de tudo a razão de eu sentir meu corpo, exclusivamente o meu ventre, queimar ao vê-lo apenas de bermuda. Mas sei que não convém. E por essa razão eu não fiz isso. 

 — Entre na água, entre na água agora! — Ele pediu, sinalizando um lugar ao seu lado, rindo, e eu ri de volta, balançando os pés, divertida. É bom passear com Peeta. 

 — Não, vamos ficar um pouco sem essa água. — Sugeri, sorrindo torto para ele dessa vez. 

 — Tá... — Revirou os olhos, mas com um sorriso torto no rosto,  então saiu da água. 

 Eu vi um peixinho pular para fora d'água, dando uma pirueta, antes de voltar com tudo para dentro da mesma, e aquilo me fez rir, completamente feliz com a sensação de estar de bem com absolutamente tudo ao meu redor. 

 Até que algo aconteceu, e eu me perdi dentro de mim mesma.

 — Não me toca! Não me toca! — Eu empurrei Peeta com força, a ponto dele cair sentado. Mas o que está acontecendo aqui? Pare com isso, Katniss. Pare com isso agora!

 — Eu não fiz nada de errado! - Ele ergueu as mãos em rendição, assustado. — Não dessa vez! 

 – EU NÃO QUERO QUE VOCÊ ME TOQUE E NEM SE DIRIJA A MIM! - Minhas mãos formigaram, por tanta autoridade que eu usei para falar com Peeta, e minhas pernas queriam falhar, eu pude sentir, mas não falharam. Meu corpo me engana. Eu me engano comigo mesma.

 Meus atos seguintes foram como um clarão, um verdadeiro vulto. Vi alto pontudo, quando senti que estava sentada sobre algo macio, e mesmo que fosse de ferro quente, não faria diferença. Nunca sinto dor quando estou confusa como agora.

 Senti algo bem quente escorrer do meu corpo, com um grande incômodo em algum lugar, acho que meus pulsos... Fechei os olhos, balbuciando coisas incompreensíveis, talvez. 

 — Seleção. Mãe. Surras. Pai. Poder. Coroa. Casamento. — Essas palavras saíam dos meu lábios, em um tom quase sussurrante, e era desesperador. Eu queria parar com isso. Eu quero parar com isso.

 Largue a faca. Largue a faca. Eu penso, mas nada acontece. Eu não me obedeço. Me causa náuseas. 

 Ouvi um grito assustado, de uma voz reconfortante, bonita, como um algodão na pele macia. Peeta. Peeta. Meu amigo.

 — Katniss! Meu Deus! JESUS CRISTO! — ele queria chorar, mas não ouvi ele fazer isso, e nem senti, enquanto tirava o objeto cortante das minhas mãos, lançando longe. 

 Ele gritou comigo, me deixando um pouco assustada, causando mais lágrimas em meus olhos.

 — Me ajuda... Me ajuda... — Era quase um sussurro. Não consigo falar baixo nessas situações, mas parece que minha mente conseguiu controlar algo de mim naquele instante, e eu consegui falar. — Não estou aguentando. — Minha garganta latejava, e meus olhos queimavam por causa das lágrimas. Eu sentia meus pulmões vazios de oxigênio, ardendo em meu peito. 

 — O que?! — Peeta não sabia do que se passava comigo, e não sabia qual a melhor atitude de se tomar. — Como?! Meu Deus do Céu! — Estava exasperado. — Vem, vou te levar de volta ao palácio, e...

 Ele não pode me levar de volta para aquele lugar.

 — NÃO! NÃO! — berrei, desesperada, tentando tirar minhas mãos das suas, que as segurava com muito cuidado. — AAAAAAAAAAA! — berrei em plenos pulmões, soluçando de tanto chorar, babando um pouco, querendo me matar por não conseguir me entender. 

 — ME SOLTA! ME SOLTA! — gritei, pedindo, quando ele fez a coisa mais estranha do universo: me abraçou.

 Ninguém nunca tinha feito isso quando tenho uma recaída. 

 Um de seus braços cercou minha cintura, aproximando-me dele, e o outro meus ombros, já que éramos do mesmo tamanho, basicamente, e fez carinho na minha nuca. Instintivamente coloquei a cabeça entre seu ombro e pescoço, fechando meus olhos, sentindo meu coração desacelerar um pouco, mas minhas pernas bambearem por sua atitude inusitada.

 — O que você está fazendo? — perguntei soluçando, com a cabeça em seu peito agora, por seu queixo estar sobre minha cabeça. - Eu não sou normal.

 — Ótimo saber. — falou ofegante — Quem é normal hoje em dia, não é verdade?

 — Muito diferente do normal. Eu sou uma princesa. — Minhas mãos foram para meu rosto, e senti algo incomum em meu rosto, por eu não conseguir definir nada no momento, de tão mal e culpada que eu me sinto.

 — Isso não é nada normal mesmo, mas é ainda mais anormal eu estar ao seu lado agora, Princesa.

 Ficamos em silêncio, e eu sentia meu corpo tremer muito, ainda nos braços dele. Da minha boca escorregava algumas palavras que eu não conseguia discernir, e eu parava de chorar, mas de repente tudo voltava, me confundindo novamente, gritando em plenos pulmões, porém, ele não me soltou de jeito algum. 

 Peeta não me soltou, e fez o que nem mesmo meu pai tinha feito um dia: Me abraçou mais forte ainda, acariciando minhas costas e cintura com carinho, com leveza.

 — Eu sou doente... Peeta...  — eu disse, soluçando, me debatendo, e batendo nele. — ME LARGA! ME LARGA! — Não sei quais eram minhas reações, e eu não era puramente capaz de identificar as expressões, ainda mais nesses casos, perdendo sangue, eu acho. — PEETA! AAAAAAAAAAA! — Senti meu corpo ser erguido por ele — Eu... Eu... — Então eu comecei a chorar novamente, o abrando, sentindo meu corpo ficar febril, em especial os meus pulsos, que me faziam gemer de dor, por eu estar conseguindo me "conectar" a mim mesma novamente. — Eu não gosto de você, porque está me vendo aqui agora. Prim. Onde está Prim. — Olhei preocupada para ele, querendo saber onde estava minha irmã. Era arriscado para ela. — Onde está a Prim, Peeta? 

 — O que? 

 — Eu estou me sentindo mal, preciso ver a Prim, ela não está bem. Eu preciso vê-la! Eu preciso, inferno! — Minha mente dava giros e giros, sem parar, como um carrossel, e isso mexe comigo de maneira descomunal. Na verdade, é o que causa a minha recaída. 

 Senti os braços de Peeta me abraçarem com mais força, e enquanto me mexia, querendo por alguma estranha razão me soltar dele, por não me sentir boa o bastante, ouvi seus batimentos cardíacos. Não havia na mais estranhamente seguro do que seu peito e nem algo tão reconfortante como as batidas de seu coração.

 — Você tem que me deixar ir. Eu não mereço seu tempo. — Tampei meus ouvidos, chorando alto.

 — E daí? Todos são dignos de tempo. Ainda mais o meu. Eu quem não sou digno de seu tempo. 

 — Eu sofro de bipolaridade desde os sete anos. - Confessei, escondendo meu rosto no pescoço dele, fechando meus olhos. — E minha mãe disse que ninguém poderia um dia me respeitar dessa forma.

 — O amor de verdade... — Tirou com cuidado alguns fios de cabelo do meu rosto, como se eu fosse de porcelana, e qualquer toque mais bruto pudesse me quebrar. 

 — Pode não concordar, mas ele respeita, suporta. Tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo mesmo, e a bipolaridade não é nada demais. Isso está na Bíblia, e eu acredito no que está escrito lá. Sei que você também. — Completou.

 Eu chorei ainda mais, abraçando-o com toda a minha força, como se eu fosse morrer se não fizesse isso.

 — Há muitas rebeliões no Distrito 8... — contei, baixinho, depois de conseguir respirar sem dificuldades. — Mas perderam a força com a Seleção, mas já voltaram a ganhar força novamente, e pessoas do palácio infiltradas, porém não tão para saber a razão desses ataques, nos informou que tudo tem estado muito parado. Se não houver um casamento real em três meses, vão começar a matar. Já estão matando alguns mendigos e prostitutas, depois, moradores do Oito, então, quem estiver nas ruas depois das nove, e enfim, família dos Selecionados. — Acho que começarão com os que estão na região Sul, mas por Peeta ser um ex-Sete, eu não sei. 

 — E o que pretende fazer? — perguntou, e eu sabia que estava assustado comigo. Todos ficam. Mas bem, ele, diferente dos outros, que me dão injeções, ou me batem (batem mesmo, pra machucar, e não estou falando da minha mãe), ficou fazendo carinho no meu braço, protetoramente. Não tenho dúvidas que se o céu começasse a cair naquele momento, ele com certeza me protegeria, pela forma da qual está me abraçando. Isso é amizade?

 — Peeta... — Se afastou um pouco, me pondo de lado, apreensivo, com medo de que eu tente alguma coisa contra minha própria vida — Os conselheiros disseram que preciso dar mais romance a isso. Eu sou muito seca, de acordo com eles. 

 — Isso significa que você tem que... — Não completou, mas eu sabia que ele tinha capitado a mensagem, então, suspirei profundamente, infeliz.

 — Talvez, em algum ponto da Seleção, mas no momento, querem que eu dê mais abraços em determinados Selecionados, de escolha deles, e até os... — Corei, ficando semelhante a um pimentão vermelho. — Beije. — Fiz uma careta sincera, com ouro pavor do que me aguarda, e ele começou a rir, de seu jeito único, parecendo uma risada maquiavélica, o que eu acho sensacional, segurando com dificuldade o meu riso ao vê-lo rir! 

 — Qual o seu problema?! — perguntei, balançando-o

 — Nenhum, gata. — falou, pegando a sua mochila e buscando uma garrafa d'água, passando para mim, que aceitei. Mudou o assunto também, porque talvez tenha notado que eu sou altamente desconfortável com sua doença. Outrora conversaremos sobre isso, com certeza, e eu vou explicar as razões para isso ter acontecido, recebendo um olhar tranquilo dele, sem que nenhuma palavra tenha saído da minha boca. Sinto que Peeta me entende. — Beijar não é um sofrimento. 

 — Mas eu... Eu... — Cobri o rosto com as mãos, quase admitindo que eu nunca beijei ninguém na minha vida. — Não é fácil fazer isso! 

 — Ah, todo mundo pensa isso, mas depois que acontece, não pensa em mais nada. — Suspirou, ficando um pouco sério, pensativo.

 — Pensando na sua amada? — perguntei, olhando para ele, que mexia com os polegares e indicativos, em um movimento que me deixa confusa, pois não consigo entender como isso funciona, mas era uma forma de se desestressar por parte dele, eu acho. 

 — Ela não é mais a minha amada. — Garantiu. — Ela é só uma parte do meu passado. 

 — Mas se a gente não trancar em uma caixa e queimar, jogando no rio, ele sempre volta atrás da gente, exigindo fazer parte do nosso presente e futuro. — Prim violentada pelos Sulistas é grande prova, porque até hoje eu me culpo, e a olho com pena e remorso. Eu preciso me desapegar desse passado, e cuidar dela hoje. Mas não consigo.

 — É verdade, infelizmente. Estou precisando fazer isso, mas não sei como. Você sabe? — Lhe passei a garrafa com água, depois de beber um pouco, então bebeu também, vendo-me brincar com um galho, quebrando-o aos poucos. Para quem já dividiu um pirulito, a garrafa d'água não é nada demais, na verdade, para nós, nada mais é um absurdo ou nojento, pois estamos todos sujos com o sangue que saiu - e ainda está saindo, de forma lenta e dolorosa -, dos meus pulsos. Acho que nem se ele me ver nua vai ser tão chocante como o momento em que ele me viu tendo meu ataque bipolar.

 — Queria saber também... Vamos fazer uma aposta. — Olhei para ele — Quem descobrir como fazer isso com seu passado, ganha um beijo do outro. - Riu, divertido, assim como eu. Não se pode fazer isso com o passado, é tudo uma questão de adaptação, então não vai acontecer. A menos que ele descubra a resposta.

— Eu aceito. — Sorri, estendendo meu indicativo direito.

— Toca com o seu indicativo também. — Tocou, e veio um choque através desse toque simples, fazendo nós dois rirmos. — Eu preciso de bandagens para voltar para a água... 

O meu sangue escorria de forma desenfreada, sujando meu maiô, meu braço todo, pernas, e ardia a ponto de queimar. — Pega para mim por favor? 

— Claro. — Foi até Cookie, então, eu me deitei, com um braço cobrindo meus olhos, e outro repousado sobre minha barriga. — Está se sentindo melhor? — perguntou, apenas limpando com calma e cuidado os meus pulsos, que sangravam de forma que me assustava.

— Sim, acontece muitas vezes no mês. Mas não era para ter acontecido hoje. — falei baixo, suspirando infeliz. — Acontece duas vezes no mês, no máximo, e essa é a segunda. Já passei cinco anos sem nada, dos meus 11 aos 16, mas tá vindo tudo parcelado.

— Por que? — perguntou, dando um ponto simples no meu pulso, limpando o máximo que podia com algodão e pano da caixa de Primeiros Socorros. Ele estava preocupado.

— Porque eu tomei todos os remédios, para ter a certeza de que não aconteceria nada hoje, e eu fosse normal. Foi nessa que errei, porque não posso tomar tudo ao mesmo tempo.

— Pra que ser normal? Muitas pessoas são normais todos os dias, durante toda a vida. —Senti ele passar o esparadrapo. — Terminei. 

— Ser diferente é perigoso. — Conclui, olhando em seus olhos — Ser diferente é um perigo para o sistema. 

— Não acho que esse seja o seu caso. Você só precisa ter que acordar mais cedo, e não pensar em se estressar, pois pode se matar, fora isso, tipo, você é linda e tranquila. — Sorri, balançando a cabeça, olhando para o lado direito, vendo uma borboleta voar sobre nós com tranquilidade, mas essa era diferente. De um lado, preto com manchas vermelhas intensas, porém do outro, laranja claro com bolas azuis. Era especial, não uma aberração. — É você. — disse ele, quando a borboleta pousou em meu indicador. — É diferente, mas de forma positiva. — Me virei, olhando para ele, sentindo gratidão, carinho, vergonha, amizade, compaixão, paz, e... Um coração acelerado. Amor? Isso é possível? 

Eu tinha sido altamente treinada para não permitir que ninguém visse o que sentia, a menos que estivesse tendo um ataque bipolar. Eu não podia deixar que ele sentisse o que eu estava sentindo e pensando.

Inclinei-me, sorrindo, e eu sorri de volta, quando a borboleta voou para longe. 

Como o sol estava no topo, indicando o meio-dia, nós nos acomodamos debaixo da grande árvore, com lindíssimas flores violetas, e começamos a trocar ideias sobre o mundo, sobre os outros Selecionados, e eu o confidenciei que vou eliminar mais três. 

— Serão 18, certo? — Fez a conta por mim, assentindo — Graças a Deus o número está diminuindo! — riu, balançando a cabeça — É estressante sair com esse povo todo! Eu nem sei o que conversar com eles! 

— Mas sabe o que conversar comigoooo! — Jogou os braços para o alto, fazendo eu rir alto, me lançando em seu colo, entre suas pernas, de barriga para cima, assobiando.

— É normal? — perguntou baixo.

— O que? — Eu tirava as pétalas de uma rosa, enquanto ele fazia carinho nos meus cabelos, depois de trança-lo com cuidado.

— Nós termos esse nível de amizade. Nos conhecemos fazem 15 dias! — Sorri, olhando para ele, levantando-me, da cintura para cima, com uma mão no colo, e a outra do outro lado do seu corpo, de frente para ele.

— Eu te conheço fazem 18 dias, quando saí do estúdio, por exemplo, eu logo fui pegar as fichas. — Pisquei, cúmplice — Te conheço mais do que imagina. — Arqueou as sobrancelhas 

— É mesmo? — Assenti — Então me diga algo que apenas você saiba. — Cruzou os braços, com um sorriso torto, olhando-me de forma desafiadora. Sorri confiante!

— Seus olhos mudam de cor, como as janelas de uma Igreja antiga no passar do dia. São caleidoscópio. — Franziu o cenho, confuso. — É um aparelho óptico formado por um pequeno tubo de cartão ou de metal, com pequenos fragmentos de vidro colorido, que, através do reflexo da luz exterior em pequenos espelhos inclinados, apresentam, a cada movimento, combinações variadas e agradáveis de efeito visual. Entendeu? — Expliquei, então ele balançou a cabeça em concordância, e disse:

— Não. — Ri sinceramente, grata por sua sinceridade sempre. 

— Então, esquece. Apenas saiba que seus olhos mudam de cor, e são raros. Nesse momento, estão azuis-turqueza, por causa da água da cachoeira, somado a sombra da árvore. A cor normal e mais comum deles. Minha favorita. —  Arqueou as sobrancelhas, surpreso. Talvez alguém nunca tenha dito isso para ele.

— Sério? — Assenti com um sorriso sincero, sentindo minhas covinhas estranhas perto da boca terem destaque que formavam um parênteses. 

— Precisamos lavar o corpo... — falei, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha — Mil perdões.

— Está tudo bem. — Sorriu torto, sincero — Você está melhor?

— Com absoluta certeza. — Fiz contingência e ele riu sincero — Mas não vou entrar sozinha! — Ergui as mãos, rendida.

— Vou com você, sem problemas. — Fomos até a água, empurrando um ao outro de leve, segurando um sorriso, até que resolvi fazer uma gracinha, empurrando-o, mas foi mais esperto e rápido, me abraçando pela cintura, para cair junto comigo. Fomos cobertos pela água gelada, rindo, com os olhos abertos dentro da cachoeira. Tudo estava perfeito. 

Meus cabelos se soltaram debaixo d'água, como se flutuassem ao meu redor, e o cabelo dele ficou parecendo que era liso, cobrindo-lhe um pouco os olhos, porque eu caí por cima, então, passei as mãos por sua testa, tirando os fios de seu rosto, sorrindo torto, como ele. Era como se pudéssemos respirar como os peixes, mas não podíamos, voltando logo à tona, rindo ofegantes. Peeta saiu primeiro, me ajudando a sair da água, e abraçando pela cintura porque eu fiquei um pouco cambaleante pelo susto que levei quando caí na água.

— Eu queria poder congelar esse momento, e viver ele para sempre. — eu disse, admirando os olhos intensos que ele tinha, 100% azuis-turquesa, ressaltados por causa da cor da água que corria a nossa frente, enquanto sua cabeça estava sobre a minha e a minha sobre seu ombro. 

— Nós podemos fazer isso. — ele disse, me fazendo sorrir abertamente.

— Quando começa? — perguntei baixo 

— Desde o momento em que passou a ser algo bom para você e para mim, ou seja, desde que chegamos. — falou, olhando em meus olhos, sorrindo torto.

Ficamos nos encarando, e nem senti quando minha mão subiu para seu ombro, mas senti a ponta dos meus dedos pequenos toca-lo, seus dedos finos e delicados me tocavam com a ponta dos mesmos, com cuidado, como hoje mais cedo, acabamos nos aproximando. Eu podia sentir seu hálito de frutas com leite condensado pelo o que comemos no café da manhã, misturar-se ao meu, quando eu encostei meus lábios nos dele, finos, mas que me chamavam a atenção de maneira que não sei explicar. Não era sua voz suave, seu corpo magro, mas bonito, nem seu sorriso que me chamava a atenção, fazia boa parte, mas a principal, era pelo o que ele era e fazia comigo.

Ambos sabíamos que isso ia acontecer, mas ele não interveio. 

Minha boca estava quente, encostando na dele lentamente, que estava gelada, fazendo as coisas soarem ainda mais incríveis.

 Quando eu me levantei um pouco, suas mãos que estavam em suas costas para lhe dar suporte, e acariciavam minha pele que estava desnuda pelo maiô, mas imediatamente pararam o que faziam, porém, me oferecendo suporte.

 Não durou mais que cinco segundos o beijo, infelizmente, mas foram suficientes para eu perceber no quão estranhamente certo isso soa. Não durou cinco segundos, mas foi suficiente para todo meu corpo se arrepiar e gelar, de forma positiva, acelerando meu coração, gerando uma nova sensação, nunca sentida por mim antes. Eu nunca me senti assim, nunca.

— Ai meu Deus... — Eu disse, ficando de pé, cobrindo a boca com uma mão — Me desculpe, Peeta. Eu não deveria fazer isso! 

— Não, a culpa não foi sua. — Cobriu o rosto com as mãos, fechando os olhos, apoiando suas costas na árvore. 

— Me desculpa, sério, por favor. — pedi, sincera — Eu nunca fiz isso antes, e não sabia o que fazer, me desculpa. — Olhou para mim, me fazendo saber que minha atitude foi precipitada.

Começou a guardar as coisas em silêncio, eram poucas, e eu o ajudei, depois de me vestir com uma saída de praia, que pouco marcava meu corpo, em minha opinião. 

Observei ele vestir sua regata que estava na mochila, sem expressar nenhuma reação, mas eu expressei, mesmo que internamente. Peeta tem o corpo que eu admiro. Não tem esses gominhos, todo exibido, não é muito magro, ou acima do peso - não que isso fosse um problema quando se ama uma pessoa -, ele é normal. Ele é ele, simplesmente. 

Subi no cavalo, corada por completo, e discretamente vi ele subir em Pirata, logo dando partida, apressando o animal, que ficou sobre as patas, acelerando, e partiu na minha frente. Cookie sabia o caminho, tão bem quanto identificar uma macieira a um quilômetro, então, fiquei pensando no corpo de Peeta. 

Na foto da Seleção, seus cabelos eram loiros como o trigo, puros, bem cuidados, mas depois de passar pela Flávia, Vênia e Octavia, puxaram para algumas luzes mais escuras, e outras mais claras, deixando-o ainda mais parecido com o trigo, quando passa um vento, e eles se movem, mas nunca se curvam, como o joio faz. Seus olhos poupam detalhes. Uma verdadeira cachoeira, que jorra sempre coisas opostas ao esperado. Uma hora pode ser ironia, outrora amizade, outrora fragilidade, e tem vezes, como na noite em que nos conhecemos, essa cachoeira seca, e fica cinza, pelo reflexo das estrelas. De seus olhos também jorram preocupação e até mesmo algum tipo de amor, mas acho que está 99% para amor de irmão.

Suas mãos eram fortes para me segurar, mas eram proporcionais a sua altura média, mãos suaves que cuidam de flores, mãos ágeis que estancaram o sangue que saía dos meus pulsos, sem me machucar, com dedos pouco maiores do que os meus, finos por genética, que só me mostravam que ele é o oposto do que na maior parte do tempo demonstra para mim: suave como uma brisa, inofensivo como uma garoa.

Sorriso gentil, que não precisa manter no rosto, para torná-lo bonito, elegante de terno e regata. 

— Por favor, mais rápido, Cookie. — Pedi, em um sussurro para o cavalo, que parece ter me escutado.

Minhas lágrimas que caíam sem parar eram levadas para meus ouvidos por causa do vento forte causado pela velocidade, e enevoava minha visão, mas eu queria tanto o loiro que já tinha sumido do meu campo de visão, queria tanto perguntá-lo o que é isso, ter um coração acelerado, que o incômodo que virá em breve na minha audição tornou-se insignificante. 

A única coisa que me faz sentir um pouco melhor, era que eu pelo menos sabia que ele se importava comigo, e que o beijo não fora assim tão traumático para ele, pois senão, falaria de forma grosseira, talvez.

 Não importa. Algo mudou entre nós dois. E para sempre.

**

 — Eu beijei o Peeta. — falei para mim mesma, sozinha em meu grande banheiro, desperdiçando água, mas pouco me importando para a água que escorria por meu corpo, limpando todas as impurezas, mas não certas lembranças. - Eu beijei o Peeta! E na boca! - mais uma vez eu disse, querendo chorar e rir, e me jogar de um precipício por tanta emoção ou gritar, expulsar os outros 17 Selecionados, porém... 

 Uma lágrima escorreu dos meus olhos, uma lágrima pesada, que fez outras várias escorrerem juntas. 

 Peeta sabe quem sou. Ele sabe de um dos meus maiores problemas. Peeta sabe quem sou. Ele sabe da minha doença. Peeta é meu amigo. Ele não me julgou. Peeta me abraçou. Ele se mostrou confiável. 

 E eu ferrei com tudo isso quando o beijei. 

 Olhei para meus pulsos, com algumas marcas estranhas e irregulares, e cada linha, cada corte tinha uma razão, mas nenhum motivo pertinente para eu tê-los cortado. Por que o fiz? Porque eu não sou normal, e simplesmente não senti quando o fiz, foi indolor, só que ardem, principalmente os recentes, que Peeta cuidou com cuidado, como se eu fosse quebrar por ser de porcelana, e mesmo não tendo conhecimento sobre mim, sobre quem sou, as razões de Prim se ausentar e eu me matar a cada dia lentamente por me sentir culpada, ele não me julgou. Ele pegou os primeiros socorros, me abraçou, e mesmo assustado e com medo, se aproximou ao invés de se afastar. Não é a primeira vez que penso assim sobre o que aconteceu duas horas atrás.

 Comecei a chorar mais alto dentro do banheiro, desligando o chuveiro, e não conseguia conter as lágrimas por eu ter sido tão burra, tão estúpida. Por eu ter sido tão eu.

 — Katniss? — Johanna perguntou, dando dois toques na porta do banheiro, sem me importar em me ver nua — O que houve, Furacão? — ela quem me deu esse apelido por causa da cor do meus olhos, muito tempo atrás, enquanto o de Prim é Tsunami, também pela tonalidade dos nossos olhos. 

— Eu fiz uma idiotice muito grande, Johanna. — falei soluçando, balançando a cabeça em negativa, olhando para ela.

— Shhh... — ela veio até mim, com uma toalha, e me cobriu com o pano, logo me abraçando apertado, como se fosse minha mãe — Quer contar o que fez? — neguei, pois não conseguiria dizer em voz alta, com tanta vergonha de Peeta e de mim mesma — Está com novas marcas... — comentou preocupada, depois de me sentar na cama, limpando meus pulsos com a leveza de uma pluma, já que eu os molhei com água.

Deixei que ela cuidasse de mim, tratasse dos meus machucados nos pulsos, penteasse meus cabelos, deixando-os soltos para dar um ar mais livre em mim, e me vestiu com uma calça vermelha e blusa social bege, pois eu deveria ter outros encontros pela noite, mas também não poderia excluir mais nenhum pelas próximas duas semanas.

— Eu beijei o Peeta. — confessei, enquanto ela calçava em mim suas sapatilhas favoritas, e minhas também. Na mesma hora ela ergueu os olhos, e me olhou com expectativa. — Mas ele se esquivou por causa da menina que namorava. 

— Ele veio para cá comprometido? —  ficou assustada. — Isso é crime! 

— Shhh... — eu disse, olhando para minhas mãos — Ele não veio namorando ela, claro. Sabe que seria traição, mas namoraram durante três anos, e ela terminou por causa da Seleção e eles se gostavam mesmo, bem, pelo menos ele gostava muito dela, só que a garota começou a ficar logo com um de Distrito mais alto. E crime é o que meus pais fizeram, tirando esses Selecionados de casa.

— Ahh... — disse, suspirando — É uma situação complicada, só que na verdade, não foi por pensar nela que ele te "deu um gelo" — indicou com os dedos — Vocês parecem se gostar de verdade, mas com a amizade aí. — Olhou para mim, dentro dos meus olhos — Ele na verdade acha que você vai machuca-lo da forma que essa outra menina machucou ele. Esse rapaz é uma pessoa excelente. Você sabe. 

— Sim, eu sei. — suspirei — Ao começar pela sinceridade dele, e o amor a família. 

— Se quer selecionar bem os Selecionados, comece pela forma da qual tratam a família. — Aconselhou-me — Tenho amizade com a Júlia, criada dele, e ela disse que Peeta ama tanto a família, a ponto de poder morrer por eles. Acontece que ele sabe que você não é a outra garota, mas é que na situação que envolve tudo, ele acha se abrir-se com você, vai ser eliminado, tem medo de se quebrar novamente, e desde modo, te quebrar. 

— Eu não sou como ela. — falei, suspirando, e Johanna sorriu carinhosamente 

— Eu sei, você é única, ele sabe, e não quer diversão, quer algo sério, só que temos mais quantos? 15? 17 garotos disputando além dele por seu coração e ou coroa? É difícil, Katniss. Seja mais calma. E você tem o coração mais inclinado para outros Selecionados.

— Gale, Cato, Logan, Albert, Drake, Finnick, Cole, etc. — assentiu — Só que algo no Peeta... — suspirei, sentindo as lágrimas alcançarem meus olhos, e escorrerem sem a minha permissão por minha bochecha. — Algo familiar, algo que me prende. 

— Talvez sejam aqueles olhos enigmáticos. — brincou, passando a mão suavemente pelo meu antebraço, para me acalmar, e eu ri, assentindo 

— Talvez. Mas acho que o que mais me atrai é a sua sinceridade. Algo incomum aqui no palácio, entende? — assentiu, suspirando. — E quando a gente se beijou, eu sei que ele sentiu algo por mim também.

— Katniss, você não pode seguir seu coração. — disse olhando em meus olhos — Você tem que seguir a razão. 

— Não é isso o que os outros me dizem... — falei, bufando, me levantando e sentando-me em minha cama.

— Os outros estão errados. Se ama pela razão, e não pelo coração. O coração é perverso, enganoso. Para ser uma boa rainha, você não pode ser sentimental, e muito menos uma esposa dessa forma. 

— Explique melhor, Johanna. — Eu queria ouvi-la, até porque além de ter encontrado o amor de sua vida, era um pouco mais velha que eu, e sempre que eu seguia seus conselhos, eu me dava bem.

— Aquele que tiver o domínio integral dos seus pensamentos, com coisas boas, ele é digno disso aqui. — Pegou minha mão e colocou sobre o meu peito, mais precisamente meu coração — E o Peeta tem ocupado em tempo integral os seus pensamentos? O coração olha apenas a beleza externa, os sorrisos, enquanto a razão olha diretamente para as intenções. Sou casada há um ano e dois meses, e posso te garantir que Troy não parecia ser a pessoa mais certa para mim, no entanto, de todos os que queriam estar no lugar dele hoje, eu não fui pelo o que me davam, não pela forma da qual sorriam ou falavam, e sim pela qual me tratavam. Como ele te trata? 

— Com muita sinceridade. — Às vezes, sinceridade demais, mas não me importo. — Da forma da qual sinto merecer ser tratada.

— Com respeito e cuidado? — Lembrei-me de como me tratou no primeiro dia, que, mesmo chorando e me dando foras, não levantou a voz, nem ameaçou me agredir. Ele simplesmente estava triste. E sorriu para mim no final, aquele sorriso que faz o dia valer a pena.

— Sim, Johanna. — Minha voz saiu baixa, mas ela sabia a resposta com exatidão. Segurou minhas mãos, e olhou dentro dos meus olhos.

— Então, é a pessoa certa. Mas precisa ter certeza. Não vá cometer uma loucura! 

— Não tenho certeza. Outros Selecionados ocupam minha mente. Alguns, até mais que Peeta. — Surpreendeu-se. — Sério.

— Mas ele quem você beijou primeiro, certo? — assenti — É... — Suspirou — Melhor falar disso com Madge! — e saiu, me deixando rindo pelo tom de "ah, desisto".

Me deitei em minha cama, virada para o lado direito, e fechei os olhos, depois de me cobrir com o edredom, mesmo sem sono. Eu não quero ser perturbada. 

Logo veio a imagem de Peeta, rindo, como uma orquestra perfeita em minha cabeça, e em como suas mãos me acalmavam gentilmente, fazendo-me ter certeza de que aquele era o verdadeiro Peeta, que não me abandonou quando teve medo de mim, muito pelo contrário, ele cuidou de mim, com calma, e nem sequer tocou no assunto, depois disso. Eu quem contei para ele, pois sei de sua curiosidade. Todos tem acerca de minha doença, afinal, eu deveria ser intocável. Mas sou humana.

Seus lábios estavam gelados, assim como seu corpo, diferente de mim, que estava quente, por causa da febre que tomou meu corpo quando pensei no beijo. Sua boca na minha foi como a sensação mais maravilhosa que eu poderia ter sentido, porém, durou pouco tempo. Muito pouco tempo... Mas suficiente para me fazer querer mais, me fazer querer colocar as mãos ao redor de seu pescoço e as pernas em volta de sua cintura, beijar ele até eu não conseguir mais.

As lágrimas voltam para meus olhos, e os ultrapassam pesadas, uma atrás da outra, e não demora muito para eu estar em meus soluços, cobrindo minha boca com minha mão, para não incomodar ninguém, porém é quase impossível. Eu tenho sempre a opção de estragar tudo. E sempre o faço. 

Mas no momento em que o beijei, eu não pensei em nada. Apenas que eu queria aquilo. E ele também, pois não se esquivou.

— Katniss! — Prim e Madge entraram no meu quarto, correndo — O que aconteceu? Johanna só pediu para nós virmos até aqui. 

— Eu fiz uma besteira muito grande. — falei, cobrindo o rosto, para não me verem chorar, então me virei para o outro lado, me cobrindo totalmente.

— O que você fez dessa vez, Katmiss? — Prim perguntou baixo, enquanto Madge puxava com cuidado meu edredom. 

— Eu... eu... — E chorei mais, mais alto, querendo entrar em um guarda-roupa e simplesmente me esquecer do que havia acontecido, assim como Peeta, que nunca mais vai querer se esquecer de mim. 

De repente, me sentei na cama, chutando o edredom, assustando as duas, e disse:

— Papel e caneta, agora, por favor. — Passei as mãos nos olhos, com força, para não me verem chorar mais, e imediatamente me fora dado o que foi pedido. 

Não foi muito difícil escrever a carta, com palavras sinceras, e logo pedi para que um guarda levasse até  o quarto de Peeta. 

— Katniss? — Prim chamou, confusa — Li a carta. O que houve?

— Tem como não sair com ele hoje, apenas amanhã? É que eu fiz uma besteira, e estou com muita vergonha. - perguntei, calma, escondendo o que realmente queria fazer, que era gritar com ela, expulsando-a 

— Você o beijou! — Madge acusou, imediatamente — Só pode ter sido isso!

— Não quero conversar sobre, muito menos com vocês. É algo entre eu e ele, não convém a ninguém. — falei, bem séria. 

— Ok... — Prim ergueu as mãos — Ele te magoou? 

— Foi o contrário. Eu quem fiz besteira. Dá pra sair do meu quarto, por favor? — ela se entristeceu, ficando com os olhos cheios d'água — Você ainda pode sair com ele.

— Você o beijou, Katniss? — Madge perguntou, suspirando 

— Sim, eu o beijei. Ele não se esquivou, nem nada, mas não durou mais que cinco segundos, só que nós dois... — Queria sorrir com a lembrança, mas não queria dar falsas esperanças para elas, então, peguei meu headphone, junto com meu aparelho que reproduz música. 

— Eu vou embora... — Prim avisou, triste, com seu olhar carregado de lágrimas 

— Tchau. — respondi, escolhendo uma música aleatória, que era totalmente o que eu sentia sobre Peeta, mas não passei, eu a ouvi. 

— Tchau mesmo! — Cruzou os braços e saiu batendo os pés e a porta, fazendo eu me estremecer, sentindo mais lágrimas à caminho.

— Eu estrago tudo! Tudo, Madge! — Olhei para minha amiga, chorando, cansada — Mais que droga! Que saco! — Apenas me abraçou, bem forte.

— Shhhh... — disse baixo — Acalme-se. Acalme-se. — E eu consegui ficar mais calma mesmo. 

— O que eu faço agora? — Funguei, passando o peito da minha mão sobre meus olhos, sentindo a pouca maquiagem deixar de existir. Madge suspirou, tirando algo do bolso da calça jeans que usava, e me entregou. 

— Chocolate ao leite com amendoim. — Então, pegou sua bolsa no canto do meu quarto, tirando de lá um pote e colher — É pasta de avelã. Pronto. Tem seus doces favoritos, fones de ouvido e... — Com dois deslizar de dedos, diminuiu a temperatura do quarto. — 12º. Bem... Coma isso, pense em coisas tristes e viva. 

Meus lábios tremeram, meus olhos piscaram, então comecei a chorar desesperadamente.

ISSO TUDO É TÃÃÃÃÃOOOOO TRISTE! — gritei com um fôlego só, me jogando para o lado direito, derrubada por mim mesma. — SAI, MADGE! SAAAAIIIIIIII! — Sério, me deu uma vontade desesperadora de chorar e sofrer, enquanto ela ria da minha cara.

— É... — Fingiu que limpou as mãos — Está tuuudo bem! — Sorriu abertamente, pondo as mãos na cintura, mas quando se aproximou de mim, ficou séria, com o cenho franzido, um pouco preocupada. 

— Não tem segredo para o seu coração parar de doer. — Fez um suave carinho na minha testa, descendo para minha bochecha — E nem para fazer a mente parar de pensar. Infelizmente não. Você tem que se deixar sentir algumas coisas, entende? Para tomar mais cuidado da próxima vez que for agir, querida. — Assenti, abrindo o chocolate depois que me encolhi debaixo dos cobertores. 

— Obrigada. — Ela sorriu.

— De boas. Já aconteceu isso comigo várias vezes! Mas eu nunca beijei ninguém. — Olhou-me divertida — A senhorita já, não é mesmo? — Sorri tímida, fazendo-a rir — Você é tão pura! Mas me diga como foi! Foi gosmento, seco ou... 

— Para! — Comecei a rir, cobrindo minha boca com uma mão, por estar com comida na boca — Não foi assim não! Foi só um encostar mesmo. 

— De língua? — perguntou em um sussurro alto, me fazendo rir mais, negando imediatamente 

Nãããoooo! — Cobri o meu rosto com as mãos, ainda rindo — Foi só um encostar de lábios mesmo. Foi diferente. Me arrisco a dizer que a melhor experiência que eu já tive na vida. 

— Hmmmm... O boy unção tá ungido mesmo, viu?! Te deixou como? Com vontade mais? — Ajoelhou-se na minha cama, batendo palmas e me olhando com um sorriso enorme, fazendo-me gargalhar. 

— Sim, ele me deixou com vontades... — Corei, mas disse, em aspas. — "Estranhas". — respondi, fazendo-a vibrar

— Katniss Evangeline Snow Everdeen-Mellark! — disse, saltitante — Mas vamos tirar o Snow porque é horrível. É o nome do seu pai! Ok, ok! Katniss Evangeline Everdeen-Mellark! — Fingiu estar colocando uma placa enorme com meu nome — Esplêndido! Esplêndido!

— Tá, tá, não enche... — falei, sorrindo em agradecimento — Tchau, Madge. 

Ela me abraçou apertado, me fazendo corresponder, abraçando-a de volta, fechando meus olhos, pois um abraço é tudo o que me falta, eu acho. Um abraço vindo de um amigo é como um abraço de mãe ou pai.

— Até logo, qualquer coisa, vou estar com Annie e Johanna costurando algumas coisas para você e preparando para a chegada na semana que vem da Delly. — Assenti — Ela parece ser bem animada! — Caminhou até a porta, e quando abriu para sair, se virou com um sorriso. — Ela tem algum conhecimento com Peeta, sabia? Eles são da mesma província, acredita?! — Ri, colocando uma colher cheia de pasta de avelã na boca — Que mundo pequeno... — Então saiu, me deixando afogada em um milhão de incertezas. 

Coloquei o pote na cabeceira, assim como a colher e o pacotinho vazio de chocolate, pondo novamente meus headphones, colocando uma música triste aleatória. 

Uma inflexão diferente quando você diz meu nome
Me beije, mas seu beijo não tem o mesmo gosto
Isso é real ou eu estou indo para fora da minha mente?
Curiosa sobre a companhia que você tinha
Porque eu te ouvi falando dela nos seus sonhos
E agora você me pegou falando sobre ela nos meus

Parei, me deitando novamente, fechando meus olhos, e era como se a cantora soubesse exatamente qual era a música que refletia o meu momento.

Ooh, e eu aposto que ela tem de tudo
Aposto que ela é bonita como você, como você
E eu aposto que ela tem aquele toque
Que faz você se apaixonar, como você, como você

Eu posso provar seu batom e vê-la deitando no seu peito
Eu posso sentir a distância toda vez que você se lembra das pontas dos dedos
Talvez eu devesse ser mais como ela
Talvez eu devesse ser mais como ela
Eu posso provar seu batom, é como se eu estivesse beijando ela, também
E ela é perfeita
E ela é perfeita

A garota que Peeta namorava... Com certeza ela é perfeita, totalmente sã, que não o assustava, bonita, inteligente, sem precisar ficar desde os 13 anos estudando para governar o país. Se eu olhar bem nos olhos dele, talvez eu a enxergue, em seus pensamentos. Com certeza ela é melhor do que eu. 

Como ela te toca? Posso tentar, também?
Eu sei que você está confuso, mas meu bem, eu estou confusa, também
Eu quero saber como ela pode fazer um homem perder a cabeça

Talvez, se eu pedisse, poderia ser como ela, caso ele me conte sobre a garota, talvez eu poderia ser muito melhor do que ela! Mas o talvez é a palavra mais incerta do mundo. 

Com o cheiro de seu perfume
Eu poderia amá-la, também, como você, como você
E eu quase posso ouvi-la rir
Curvando as costas dela para você, para você

Eu posso ver o corpo dela deslizando em você
Pressionando sua pele
Ardendo, queimando tão fundo, fundo
Em sua pele, a pele do meu lado
Ela está pressionando sua pele
Se acomodando, queimando tão fundo, fundo
Em sua pele, pele, enquanto você dorme, uh

Quando fecho meus olhos, e penso em Peeta, escuto imediatamente sua risada em meus ouvidos, mas quando penso que ele não quer estar aqui por mim, quase posso ouvir ela, a amada verdadeira dele, rir, quase posso vê-la beija-lo, dizer que o ama. Quase posso ver o provável futuro caso ele saia da Seleção, ela voltando para ele, casando-se, então, explorando um ao outro, quem sabe. Quase posso enxergar a felicidade dele ao lado dela. Quase. Mas eu posso senti-la nele, no olhar distante, às vezes, e na forma que não me deixa chamá-lo de "meu bem", ou "querido", pois talvez seja a forma da qual ela e a família dele o chama. Ele ainda sente falta dela, e pensa neles dois no silêncio da noite, com certeza. Eu também pensaria.

Ela é perfeita. Com certeza, ela é perfeita. Mas sou eu quem estou tendo a chance de ser diferente dela, e não traí-lo com outro de um Distrito maior. Eu não sou ela, e nem preciso ser.

Eu sou, quando estou com ele, apenas eu, Katniss Everdeen, uma garota de 18 anos, que quer um amigo, mas também um futuro marido, onde apenas Deus, em primeiro lugar, pode me ajudar a achar isso, então, Peeta. Preciso mostrá-lo apenas que sou diferente, que eu não sou como o resto, e nunca vou ser, porque sou única. Sou apenas uma garota que não sabe muito sobre as coisas.

Levantei-me da cama, fungando, procurando minhas sapatilhas confortáveis, indo para a penteadeira, passando um pouco de maquiagem para esconder as minhas olheiras e vestígio das lágrimas em meu rosto.

É, Peeta, eu vou te pedir desculpas, e fazer você ver que eu não quero magoar você, e sim apenas dar um tempo em seu coração, pois eu não sou como o resto.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Foi o melhor que eu consegui fazer, e me desculpem qualquer coisa, acho que peguei demais nas descrições, e dei uma sacudida legal, tirei bons textos, mas ainda ficou com mais de 10 mil palavras.
Sany, Tributo com Jujuba e Lê, MEUS PARABEEEEEENS! *vários confetes* Eu não consegui publicar no dia 16 para a Sany e a Thayná, por isso estou desejando hoje, mas meninas, saibam que é sincero o meu desejo de felicidades, E, hoje é aniversário da Beta! *chuva de aplausos novamente*.
Aos spoilers, com extra para as aniversariantes!
"Ela, em um pulo, se sentou sobre o mármore do parapeito, dobrando uma perna, isentando o pé, que balançava calmamente, assim como sua outra perna, e o sol, mesmo forte às 16h, não queimava nada. Fiz o mesmo que ela, sem me arrepender, pois era muito boa a sensação de ver tudo pequeno daqui. Sentia-me grande, com os problemas tão insignificantes quanto um grão de arroz, pois era a impressão do tamanho das flores.

— Eu poderia tocar no queixo, caso queira falar com você. - sugeriu, que assim como eu, olhava nossas mãos deslizarem uma na outra, brincando de algo que ainda não sabemos.

— Mas se tiver no almoço e sujar o mesmo, eu vou ficar igual um trouxa te esperando. - ela sorriu, colocando a mão sobre a minha, fazendo um arrepio assustador percorrer a minha espinha, mas não comentei nada sobre isso. - Pode ser mexer no cabelo. - baguncei meu cabelo, e ela colocou uma mecha atrás da orelha - Não, porque podemos simplesmente estar nervosos ou impacientes com algo, então não vale. - assentiu, dando mais uma olhada em meu quarto, ainda sentada no parapeito."
"- Já sei! - olhei para ela - Eu não vou te eliminar, e o manterei na Elite, e até que esse dia chegue... - puxou seu cordão, deixando o Tordo a vista, quase me cegando por ter pego reflexo do sol - Sei que ama sua família, e que sente muita falta deles, e a coisa que mais valoriza depois das fotos, é o seu broche, certo? - assenti, não entendendo aonde ela queria chegar - Bem, sua função como meu amigo, é me ouvir, e aconselhar. Poderíamos tocar a ponta da orelha, quando precisamos conversar com o outro, e se estivermos disponíveis... - ela mexeu discretamente no colar - Basta tocar no Tordo. Se a gente não quiser ou não puder, age de forma indiferente.

— Pode ser... - suspirei - Quando precisa ir?

— Não sei, até me chamarem. - disse calma, parecendo extremamente cansada - Não deixei Prim vir agora porque sei que precisa de um tempo. - assenti - Mas ela ainda quer te conhecer.

— E eu conhecer ela. Você foi infeliz nessa decisão. - sorriu

— Não está pirando? Ela é a princesa!

— Mas antes disso ela é uma criança muito divertida de 12 anos. Eu realmente sinto vontade de conhecer ela, ao contrário do que eu pensava sobre você. - revirou os olhos, mas divertida - Por que ela aparece só às vezes? Seus pais parecem até mesmo ficarem mais à vontade, assim como você, na presença dela.

— Um dia, meu amigo, eu te conto. - garantiu - E quando acontecer, vai entender todas as partes para completar o que acha ao meu respeito. - disse olhando dentro dos meus olhos, e um vento passou por nós, e por alguma razão, levei uma mão ao seu rosto, e ela fechou os olhos, inclinando a cabeça para onde minha minha mão estava, me fazendo sorrir de leve.

Observando-a, com toda essa serenidade, com toda essa calma, é quase um crime que seja presa a remédios e sessões para ter autocontrole. Katniss não me merece, porque não sei lidar com isso. Eu só a coloco em más situações, enquanto fico estudando a história do país com outros Selecionados, tentando aprender coisas das quais não entram na minha cabeça, por eu estar pensando em como minha família está nesse momento, qual o estágio da minha mãe, e em carreiras que posso seguir depois que for eliminado. Gale, Cato, Finnick, Justin, Marvel, não tem outras paixões no passado, ou parentes doentes para se preocupar, não que eu saiba. Eles são bem mais aptos para o cargo de Rei e marido de Katniss do que eu, em grande disparada."
"— Você conseguiu! Conseguiu! — Bateu palmas animada, deslizando pelo pátio como eu, balançando um pouco, mas se saindo muito bem.

— Sim! Uou! Que shoooow! — ri de mim mesmo, pegando mais impulso, me achando um máximo, fazendo uma curva boa, até que... Caí no arbusto.

Nossa, mas eu cai muito, muito, muito feio.

O que aconteceu foi muito rápido. Eu vi outra curva, e quando me virei, virei demais, me achando o rei do skate e da cocada preta, botando muito peso de um lado, perdendo o skate de meus pés, e logo fui arremessado pela gravidade para a esquerda, o lado em que pus mais peso, tropecei em mim mesmo, dando umas quatro roladas, batendo a cabeça em uma pedra, tendo a situação agravada por um quebra-mola, depois, cai dentro de um arbusto cheio de espinhos pequenos, ouvindo a gargalhada de Prim e suas criadas, enquanto eu mordia meu lábio inferior com muita força para não explodir em lágrimas.

— Aaaaaiiii... — Gemi, com a voz fininha, ao ver meu braço todo ralado e sangrento, com algumas pedrinhas nele — Maaanhêêê! — Chamei, choroso, sem conseguir conter algumas lágrimas de caírem por meu rosto, ainda mais ao tocar na minha cabeça, e sentir algo quente com aroma enferrujado: sangue.

Eu quero a minha mãe!

— Você tá bem?! — Layla perguntou, indo até lá me ajudar, e quando me viu, ferrado, começou a rir — Você não está bem.

— É mesmo?! — perguntei irônico, tentando me sentar, o que consegui, mas gemendo sem abrir a boca.

— Oi! Você foi arremessado, hein?! — disse Prim, risonha — Bem que Katmiss me disse que você era engraçado... — e riu mais do meu estado decadente, quase.

— Acho que vamos ter que levar você para a enfermaria. — Layla aconselhou, tentando conter a risada, e só de raiva, me levantei sozinho!

— Uuuuiii! — Prim disse, mordendo o lábio inferior, ao lado de Layla — Você está arrebentado. Como se sente?

— Meio tonto. — Admiti, esfregando o outro lado da minha cabeça, o lado que não tinha um corte — Ir na enfermaria é bom, sabe? — Elas riram, caminhando ao meu lado."
"— Não, eu nunca tive isso, e só descobri o nome agora. — respondi, cansado, assim que acordei depois de ter meio que o sono induzido por elas, que acabaram de me dizer que não era para eu ter dormido, mas sou alérgico a medicações também.

— Ok, seu exame vai sair amanhã, então vamos descobrir a que mais é alérgico. Vai poder voltar para seu quarto, mas sob observação. — Assenti, então ela colocou uma luva limpa, e caminhou até o meu lado, com uma tesoura, novas gases e esparadrapo, para por na minha cabeça novamente.

— Você é um pobre exigente, viu? — Finnick disse, dando uma lida no meu diagnóstico, como se entendesse alguma coisa. — Alergia a chocolate, epinefrina e inseticidas... Que bizarro. — Gale riu, batendo palmas.

— Você caiu em um arbusto depois de rolar como uma bola de futebol, a sua criada me contou. Meu Deus... — Tentou ficar sério, mas caiu na gargalhada novamente — Imagina a sua cara na hora que caiu!

— Gale! — Finnick o repreendeu, mas segurava a risada também.

Até Maggs riu discretamente, enquanto trocava a faixa na minha cabeça.

— Até a senhora?! — perguntei, fingindo estar bravo.

— Seus amigos só são verdadeiros! — Então todos rimos, mas Gale e Finnick foram expulsos pela tia Effie, que tinha em mãos uma caixa de bombom e um livro fino.

— Oh, Peeta! — disse, com sua voz preocupada, quase chorosa, vindo me abraçar."
"— Parece a minha mãe falando! — eu disse, balançando o cabelo, para desfazer o que ela ajeitou, fazendo-a me olhar fingindo raiva, pondo as mãos na cintura.

— Bem, sou a pessoa depois de seus criados que mais passa tempo com você. Por isso que não me incomodo se me disser que pareço sua mãe falando ou me chame de tia, mesmo que minha obrigação seja te ensinar e prepara-lo para tornar-se rei. É o mais difícil de se lidar, mas... — Suspirou, com um sorriso — É o mais agradecido depois que aprende. — Abriu a caixa de bombons, e me deu três. — Shhhh, não são de chocolate, mas eu sei que se ela ver, vai pirar totalmente. Esconde, ok? — Assenti, colocando debaixo do meu travesseiro, depois de abrir rapidamente um, dando a embalagem vazia para ela, e a mesma abriu um para si, colocando na boca."
Agora, depois de ficar mais de uma hora editando esse capítulo, vou lá na cozinha comer um pouco de nutella e evitar pensar para eu não ficar triste, digo, mais triste. sério, gente, eu estou estranhamente triste. Acho que foi porque eu descobri que só tenho mais nove dias de férias, eu volto dia 02/02, e vocês? Mas eu comprei a minha mochila de Jogos Vorazes, o caderno que tem o Peeta e outro que tem o tordo, então eu quero logo estudar, mas ao mesmo tempo não, scrr, scrr, eu não estou mais me entendendo. Talvez seja porque eu vou entrar em um curso de espanhol, e as aulas começam agora no dia 04 e eu simplesmente ODEIO espanhol, chicos. No me gusta ni un poco.
Na verdade, eu sinto que estou precisando mesmo é escrever um poema e ir dormir porque vou assistir Joy amanhã com a família!
Muito obrigada por tudo, pessoal, por comentarem, acompanharem, favoritarem, e prometo voltar até o dia 01/02, com um capítulo com uma surpresa que eu tenho quase certeza de que vão gostar, E, é claro, o capítulo do beijo (e que beijo...)... Gente, já está tudo certo, já sei as falas, já sei o cenário, as roupas... *suspiro apaixonado* A coisa vai ser bem boa, mas um capítulo um tanto triste no meio, pois eke vai contar a realidade no Distrito, como a Meri contou pro Maxon sobre a fome no Cinco. Ah, e vamos ter ataques também... *jogando no ar*
Por hoje é só.



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