A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 17
Mas quase nunca é o suficiente — parte 1 | A Seleção


Notas iniciais do capítulo

E o tão esperado capítulo... chegou. Hoje é um ótimo day para ser fã de Peetniss ♥



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Fique comigo

Me proteja, me abrace carinhosamente

Se deite ao meu lado

E me envolva em seus braços

 

E seu coração encostado em meu peito

Seus lábios pressionados ao meu pescoço

Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem

E com um pressentimento de que esquecerei, agora estou apaixonado

 

Me beije como se quisesse ser amada

Quisesse ser amada, quisesse ser amada

É como se eu estivesse me apaixonando

Me apaixonando, nós estamos nos apaixonando

 

Kiss me, Ed Sheeran

 

Caro Peeta, 

 

Estou mandando essa carta, porque você chegou no palácio antes de mim, deixando o Pirata no estábulo, e não me surpreendi por ter logo ido para seu quarto. Mil desculpas... Não era de minha intenção, que você sofresse. Mil desculpas... 

 

Espero que me desculpe, e que ainda esteja disposto a sair com Prim, eu não vou mais. Um guarda te levará até aonde ela está. 

 

Ainda sua amiga se você permitir,

Katniss Everdeen.

 

Uma das razões de eu odiar a educação dos meus pais, é que eles sempre me ensinaram uma frase, que nunca me esqueço, como tantas outras: "nunca faça alguém te rebaixar a ponto de sentir ódio, e se você for uma pessoa que não libera o perdão, considere-se o ser mais miserável do mundo". Eu sempre perdoo as pessoas, antes mesmo delas me pedirem perdão. 

Só que Katniss não fez nada de errado, nem para ser perdoada, nem para ser desculpada. Eu devo ser submisso a toda e qualquer coisa que ela desejar.

Me virei para o lado esquerdo da minha enorme cama, agradecendo que meus criados estão cuidando das minhas roupas, e abracei o travesseiro, sem derramar nenhuma lágrima, apenas pensando. Não há necessidade para chorar, e eu sou muito difícil para fazer isso. 

O que esse beijo significou para nós? O que esse beijo significou para mim

Fechei os olhos, sentindo meu corpo ficar febril por causa do banho gelado, na intenção de relaxar, e ter algo que me lembre de casa. Água quente era um luxo do qual não poderíamos bancar, por termos que pagar o carvão ou madeira. Raras exceções que me permitiam um banho morno, e uma dessas foi quando eu estava quase morrendo de frio depois de ter que limpar uma piscina no Dois, onde nevava, e a neve fazia minha pele queimar, não refrescava. 

Delly, seus beijos, suas mãos ágeis, mostrando que herdara o dom de seus pais para a Medicina, daria uma excelente cirurgiã, no entanto, ela quer ser professora. Todos os toques que ela me deu, se eu fechasse os olhos, poderia sentí-los, como brasas na carne viva, principalmente seus beijos, mas então eu pensava em Katniss e toda sua gentileza e suavidade. Não que Delly não fosse, mas era diferente. 

Abri os olhos, na expectativa que fosse tudo um sonho, e Amanda me acordasse aos tapas, me chamando de Pãozinho, então no meio do caminho, Stuart grita "Empadão! A mãe tá te chamando!", porque nossa mãe gosta de dizer que ele é adotado por não saber fazer nada dentro de casa, a não ser bagunçar. 

Nada adiantou.

Eu estou preso em um lugar que nunca senti vontade de estar, com pessoas que odeio, longe das que amo, e tudo é desconhecido para mim. 

Ouvi quatro batidas na porta, e suspirei, sentindo que nada me era desconhecido, e sim confuso. Eu não sei mais quem eu sou, preciso de um rosto conhecido para me dizer algo, como por exemplo, os meus criados, mas prefiro denomina-los como meus amigos. Katniss está enevoando todos os meus pensamentos de maneira assustadora, da qual não sei se é bom ou mau. 

— Sim? - perguntei, ao abrir a porta, e vi Katniss com um envelope nas mãos. - Pode entrar. - dei espaço para que entrasse, e assim ela o fez.

— Depois que a minha carta veio, eu obviamente me arrependi. Não posso e nem sei ficar de mal com ninguém. - virou-se para mim, mordendo lábio inferior - Me desculpa? A minha atitude foi precipitada, e eu não deveria ter te beijado porque você tem a sua amada ainda, e... - com meu polegar e indicador da mão direita, apertei suas bochechas, para ela calar a boca, já que dizia tudo muito depressa. 

— Fica quieta, cara. Meu Deus, você não fez nada de errado. - ela sorriu, com um biquinho por eu não ter largado seu rosto. - Gosto de você assim.

— Fachendo biquinhu? - se embolou na pronúncia porque eu apertei só mais um pouquinho, sem machucá-la, claro, porque suas bochechas eram cheias e macias, como as de uma criança, me fazendo sorrir torto.

— Não, eu gosto quando você não fala nada e me olha nos olhos. - ela corou, então eu sorri e sentei na beira da minha cama, observando ela mover seu corpo, com curvas generosas, coisa que notei ao vê-la sem todas essas roupas, apenas um maiô, mas totalmente proporcional a seu rosto e peso. - Eu já te desculpei. O que faz aqui? - Katniss estava com os cabelos presos em um coque alto, mas com uma mecha de cada lado do rosto, e exalava sabonete.

Assim como eu, havia acabado de sair do banho, mas diferente de mim – óbvio— já usava roupas mais sociais do que as minhas. Eu estava mais para um mendigo bem vestido. Meu cabelo estava uma bagunça, porque passo as mãos no cabelo todo o tempo, e porque o tecido da camisa é fino, e uma bermuda com apenas dois bolsos na cor bege. - Gosto de você com a saída de praia. Posso ver melhor o seu corpo e as suas curvas. Essas roupas aí te deixam muito séééria— Baguncei os cabelos nessa hora, na intenção de ser o oposto da última palavra dita, fazendo-a a rir. - E velha. 

— Sério? - Ficou de costas para mim, observando meu quarto. - Gosto tanto delas.

— Não disse que não gosto! - Levantei as mãos em rendição - Mas te deixam velha. 

— Avisarei para as meninas. - Olhou para mim por cima do ombro, voltando a olhar meu quarto, e quando viu o espelho, foi até lá, pegando uma foto da família. - Vim aqui para pedir para nos esquecermos do beijo, e de todo o passeio. - virou-se totalmente para mim, com a foto de todos da minha casa em mãos, e os olhos estavam cheios d'água - Tem vezes que... - suspirou - As coisas não são nítidas na minha cabeça. Eu vejo coisas das quais não deveria, confundo estações, pessoas, mas eu estava bem lúcida quando te beijei, só que nem pensei que ainda estava triste por ter tido o seu coração quebrado e la-la-la-la. Sei que é próximo ao Finnick e Gale, por isso, por favor, peço que não conte nada para eles, de nada, nada, nada, do que viu, ouviu e sentiu. E nem para nenhum outro Selecionado.

Ouvir isso dela, me fazia eu me sentir um estranho, deslocado é a palavra certa. O que o ciúmes não faz com a gente?

— Eu não vou contar para ninguém. - Garanti, levantando a mão esquerda, já que é a que eu mais escrevo, jurando - Sobre quando você teve a sua... - cocei a nuca, procurando a palavra correta. - Recaída, pode-se dizer assim, eu não pensei em mais nada além de te ajudar, e com uma mãe e pai doente em casa, essas coisas não são corretas de ficar se dizendo aos outros. Não sou bom com as palavras, mas também nunca te jogaria no fogo por isso, e se eu contasse para alguém sobre o beijo, as pessoas me encheriam de... - ela arqueou as duas sobrancelhas, mas eu fechei uma mão, e bati na palma da outra mão, seguidas vezes, para indicar que eu ia apanhar - Desculpa, não vou usar uma palavra feia. Mas deu para entender? - assentiu com um sorriso delicado.

— Eu sou muito grata pela sua compreensão. - voltou até meu espelho - Não sei se todos os Selecionados compreenderiam essa situação. 

— É... - senti o clima suavizar em 80% - Eu sou demais. - ela riu, assentindo.

— Sua irmã gêmea tem a mesma expressão dos seus olhos, e esse daqui é a sua cópia, mas de olhos castanhos. - ri, assentindo, indo para o seu lado - Esse é o... - fechou os olhos, estalando os dedos. - Caramba, esqueci. 

Em uma conversa com a mãe de Delly, antes de eu vir para A Seleção, lembro-me de ter falado sobre Bipolaridade, e as outras que acabam atraindo, mas não é em todo mundo. Depois de uma recaída violenta como a que ela teve, é normal que se esqueça de algumas coisas, confunda nomes, por causa do Déficit de Atenção, e imagina quantas coisas Katniss tem na cabeça? E é uma mulher. Elas tem a capacidade de falar sobre um milhão de coisas ao mesmo tempo e sabem de todas as coisas o tempo inteiro. É um verdadeiro milagre.

— Ben, o caçula. - eu disse sorrindo torto, e ela sorriu de volta. - Amélia, Stacy, Amanda, Stuart, Ben, meus pais. 

— Você tem uma família linda. - disse olhando para a foto, colocando-a no lugar, pegando outra, uma mais recente, que até mesmo Delly estava presente. - Mas... - franziu o cenho ao ver a loira, confusa, fazendo meu corpo se arrepiar. Era como se ela a conhecesse. - Essa foto é mais recente. 

— Muito obrigado. - falei sem graça, corando pra valer, e ela riu - Sim, essa é de um dia antes de eu vir pra cá.

— Qual o nome dos seus pais? - perguntou com calma

— Alicia e Samuel Mellark, mas pode chamá-los de Ali e Sam. - mais uma vez, ela sorriu, olhando para mim, caminhando até a cabeceira da minha cama, que tinha mais algumas fotos, só que individuais com os meus irmãos. - Dá pra parar de mexer nas minhas coisas, Princesa? - ela negou, fazendo uma cara de "você não me obriga a nada", brincando, pois sabia que eu não estava realmente incomodado por ela estar mexendo na coisa que eu mais prezo: as memórias. 

— Trouxe uma carta com mais pedidos de desculpas, mas não vou entregá-lo. - rasgou ao meio, depois ao meio de novo, e ao meio de novo, jogando os restos mortais na lixeira. - Vim dar uma olhada no seu quarto mesmo. Pensei que fosse diferente. - cruzei os braços, olhando-a divertido 

— Sério? Esse quarto é seu, querida. - falei com um falso deboche, arrancando dela uma risada sincera - Pinta-lo com preto e marrom, bem emo-gótico não o tornaria meu, e fora que posso ser eliminado a qualquer segundo, por ter demonstrado o contrário de prazer pela futura rainha de Panem, que me beijou, e não o contrário. - Gosto de fazer piada dos maus momentos, e ela também - Sério, o que faz aqui, Katniss? 

— Bem... - Colocou no lugar minha foto com Amanda e Stuart de me fazerem cócegas. - Com 20 Selecionados fortes lutando pelo trono e por mim, em duas semanas eu dispensei mais de 14, obviamente não posso eliminar mais nenhum pelas próximas duas semanas ou mais. - suspirou cansada - Eu quero descansar, acabar com isso tudo e... - Viu o piano no canto do quarto - Você toca? - perguntou. 

— Claro que não. Tá me achando com cara de músico?! - ela riu, assentindo - Gale quem toca. Nem sei qual o nome dessas folhas com esses símbolos. - Katniss riu mais

— Chamam-se partituras, Peeta. - disse serena - Gale toca sim. E muito bem. - ressaltou - O amigo dele, Finnick Odair, disse que ouvindo-o tocar Beethoven se emociona, pois é extremamente gentil e delicado, como se fosse uma extensão de seu corpo. Quero ouvi-lo tocar, então tirar conclusões, mas acredito no que dizem. - Achei por acaso a roupa de cama mais interessante do que ver o brilho nos olhos dela falando sobre meu amigo. - Finnick canta de forma melodiosa, que faz os pássaros ao redor pararem para ouvir. - Sentou-se na ponta da minha cama - Marvel só me faz rir, e é extremamente agradável no que diz, embora escape alguns palavrões. Cato é um lorde, quase - sorriu, com uma lembrança a respeito do loiro ignorante - Sabia que ele pratica arco e flecha? E é um hipista perfeito. Blane só fala comigo em italiano, me ajudando a praticar, e Logan é extremamente meigo, inteligente e bom com esportes agradáveis para meu pai.

— Veio pra cá para dizer tudo o que eu não sei e jogar na minha cara? - perguntei, com o coração batendo forte no peito, com um sentimento inexplicável tomando conta de mim. Mentira. Eu já conhecia isso, pois já estive nessa situação antes: ciúmes.

— Eu estou com febre, seria grato se você pudesse voltar para os seus encontros e vida com muitas emoções. - Katniss pareceu constrangida, o que me fez dar para trás em minhas palavras. - Perdão. - Pedi, suspirando, depois de fechar os olhos e os abrir com calma - É que é estranho vê-la falar de outros caras na minha frente. 

— Talvez da mesma forma se me contasse sobre as meninas com quem sai se estivesse em minha situação. - colocou as mãos no colo, de forma nobre, me deixando envergonhado, e eu senti minhas bochechas queimarem intensamente. - Se eu o deixei incomodado, significa que pode estar despertando algo por mim. Meu pai diz que apenas quem ama sente ciúmes. - meu pai diz a mesma coisa.

— Eu gosto de você como minha amiga, Princesa. - Quis logo tirar essa palavra do meu vocabulário. Eu não gosto dela por isso! Porque ela é agradável, gentil, e não me julga. Pessoas assim criam raízes em mim, das quais não são fáceis de tirar de meu coração. Na verdade, são impossíveis. É como tentar arrancar uma árvore do lugar. Pode queimá-la, cortá-la, mas sempre restará algo. Sempre haverá a raiz.

— Mas sabe se os seus sentimentos estão mudando? - Sorri para ela, sincero.

— Estou ficando melhor do coração. - Seu sorriso foi tão radiante quanto o sol. - Mas isso não significa nada. - Ela na mesma hora ficou séria - Desculpe.

— Ok... - suspirou profundamente - Então, já que é meu amigo... - passou uma mão na outra rapidamente, como para se aquecer - Não é seguro ou agradável que dependemos de bilhetes ou olhares. É suspeito.

— É sexy. - falei, dando de ombros, fazendo-a rir - Tipo, meus olhos são lindos! - apontei para meu rosto, e ela riu mais - Mas concordo com isso. Vão pensar que você me agarra depois do toque de recolher. - olhou-me maliciosa - Você pensa em me agarrar depois do toque de recolher, Katniss? - arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços e relaxando na cama temporariamente minha

— A mente de uma garota é um abismo, e seu coração, um mar de segredos. - disse, piscando para dar um ar de esperta.

Ela se levantou, e foi até a mesinha para quatro pessoas na varanda, então, a segui. - A vista é estranha! - disse torcendo o nariz, ao ficar com os braços relaxados sobre o parapeito. Eu poderia ver uma parte do jardim, a parte do labirinto e o grande muro com altas proteções para a família real. 

Ela, em um pulo, se sentou sobre o mármore do parapeito, dobrando uma perna, isentando o pé, que balançava calmamente, assim como sua outra perna, e o sol, mesmo forte às 16h, não queimava. Fiz o mesmo que ela, sem me arrepender, pois era muito boa a sensação de ver tudo pequeno daqui. Sentia-me grande, com os problemas tão insignificantes quanto um grão de arroz, pois era a impressão do tamanho das flores.

— Eu poderia tocar no queixo, caso queira falar com você. - sugeriu, que assim como eu, olhava nossas mãos deslizarem uma na outra, brincando de algo que ainda não sabemos. Era divertido fazer isso.

— Mas se tiver no almoço e sujar o mesmo, eu vou ficar igual um trouxa te esperando. - ela sorriu, colocando a mão sobre a minha, fazendo um arrepio assustador percorrer a minha espinha, mas não comentei nada sobre isso. - Pode ser mexer no cabelo. - baguncei meu cabelo, e ela colocou uma mecha atrás da orelha - Não, porque podemos simplesmente estar nervosos ou impacientes com algo, então não vale. - assentiu, dando mais uma olhada em meu quarto, ainda sentada no parapeito 

— Como era o seu quarto antes de vir pra cá? Esse é o menor de todos os Selecionados, e do tamanho da sala de espera da enfermaria.

— Esse é o menor? - assentiu, e eu fiquei impressionado - Aqui cabe minha casa, e se eu incluir a varanda e banheiro, uma parte da rua. Meu quarto antigo, era um forno ou um freezer. Depende da época do ano. Eu dividia com todos meus irmãos. 

— Mas aonde você dormia? - minhas bochechas queimaram de vergonha, porque o que eu passava era miséria, muitas vezes. - Peeta?

— Por que você quer saber? - olhei em seus olhos - Eu dormia no chão para meus irmãos ficarem nas camas. Eu ficava no chão com Amélia, para os outros não ficarem doentes. - ela pareceu arrependida quando as palavras saíram de minha boca 

— Eu sinto muito... - falou. - Desculpa. Só queria saber como era a sua vida e entender vo... 

— Eu e a minha forma de agir muitas vezes indiferente? - Olhei na direção das flores, não querendo que ela visse as lágrimas surgindo nos meus olhos, mas nenhuma caiu. Consegui ser forte. - É, eu sinto muito por saber que isso tudo acaba um dia. 

— Eu já lhe disse que não vou te eliminar tão cedo, Peeta. - disse com um rosto sereno.

— Mas um dia vai. - ficamos em silêncio, apenas ouvindo os pássaros cantando, quando ela puxou ar, e bateu palmas, me dando um susto.

— Já sei! - olhei para ela. - Eu não vou te eliminar, e o manterei na Elite, onde precisarei levar apenas três rapazes, e até que esse dia chegue... - puxou seu cordão, deixando o Tordo a vista, quase me cegando por ter pego reflexo do sol - Sei que ama sua família, e que sente muita falta deles, e a coisa que mais valoriza depois das fotos, é o seu broche, certo? - assenti, não entendendo aonde ela queria chegar - Bem, sua função como meu amigo, é me ouvir, e aconselhar. Poderíamos tocar a ponta da orelha, quando precisamos conversar com o outro, e se estivermos disponíveis... digo, se um quiser falar com o outro… - ela mexeu discretamente no colar. - Basta tocar no Tordo. Se a gente não quiser, age de forma indiferente. 

— Pode ser... - suspirei - Quando precisa ir? 

— Não sei, até me chamarem. - disse calma, parecendo extremamente cansada. - Não deixei Prim vir agora porque sei que precisa de um tempo. - assenti - Mas ela ainda quer te conhecer.

— E eu conhecer ela. Você foi infeliz nessa decisão. - sorriu

— Não está pirando? Ela é a minha irmã! Pode ser sua cunhada. - disse, divertida, arqueando uma sobrancelha, com um sorriso no canto do rosto, fazendo eu rir.  

— Mas antes disso ela é uma criança muito divertida de 12 anos. Eu realmente sinto vontade de conhecer ela, ao contrário do que eu pensava sobre você. - revirou os olhos, mas divertida - Por que ela aparece só às vezes? Seus pais parecem até mesmo ficarem mais à vontade, assim como você, na presença dela.  

— Um dia, meu amigo, eu te conto. - garantiu - E quando acontecer, vai entender todas as partes para completar o que acha ao meu respeito. - disse olhando dentro dos meus olhos, e um vento passou por nós, e por alguma razão, levei uma mão ao seu rosto, e ela fechou os olhos, inclinando a cabeça para onde minha minha mão estava, me fazendo sorrir de leve. 

Observando-a, com toda essa serenidade, com toda essa calma, é quase um crime que seja presa a remédios e sessões para ter autocontrole. Katniss não me merece, porque não sei lidar com isso. Eu só a coloco em más situações, enquanto fico estudando a história do país com outros Selecionados, tentando aprender coisas das quais não entram na minha cabeça, por eu estar pensando em como minha família está nesse momento, qual o estágio da minha mãe, e em carreiras que posso seguir depois que for eliminado. Gale, Cato, Finnick, Justin, Marvel, não tem outras paixões no passado, ou parentes doentes para se preocupar, não que eu saiba. Eles são bem mais aptos para o cargo de Rei e marido de Katniss do que eu, em grande disparada.  

— Senhor? - ela abriu os olhos, e suspirou, assim como eu, que estava gostando daquele momento calmo, longe de câmeras ou roteiros. Só estávamos sendo nós mesmos.

— Um minuto, Júlia! - pedi 

— Nós trouxemos o seu café, não demo... - ela apareceu na varanda, e levou as mãos a boca - Perdão! Perdão! Não vi nada! - rapidamente voltou para o quarto, depois de fechar a porta da varanda que deixei aberta.  

Olhei para Katniss, que tinha a cabeça baixa, assim como eu, e sabia que estava corada, assim como eu. - Tem vezes, que eu queria ser uma criada do que princesa. - disse suspirando, segurando as lágrimas - É mais tranquilo. Não menosprezando o trabalho deles, é claro. Sei o quanto sofrem, no entanto, é menos pressão, no final das contas. Talvez. 

— Bem, é porque talvez não esteja achando a forma certa de descontar toda essa responsabilidade. - falávamos baixo, olhando um no olho do outro. - Não vou ser rei, etc, no entanto, sei que jogar as coisas, quebra-las, alivia o stress. - ela riu, pelo meu tom cúmplice, indicando nós dois, fazendo-a balançar a cabeça, e notei seus cabelos soltos. - Fica melhor com eles assim. - sorriu, enquanto eu colocava uma mecha atrás de sua orelha para ela. 

— Obrigada. - disse, colocando as mãos no colo, arrumando a postura - Também gosto dele solto. 

— Você foi esperta. - Ficamos em silêncio, olhando para os pássaros, para as árvores, para tudo, menos para o outro. 

— Estou pensando no beijo. - admitiu, soltando o ar que prendia - Peeta, eu não consigo esquecer. - ia começar a chorar, e talvez eu também, porque tenho essa coisa de sofrer quando os outros sofrem. O que ela disse é verdade. Eu também não consigo esquecer. E não sei se quero. 

— Talvez devesse beijar outro alguém para isso. Para esquecer.  

— Isso não funciona. - respondeu imediatamente  

— Como sabe? - perguntei confuso 

— Porque se funcionasse, você teria esquecido dos beijos de sua amada. - ela foi tão rápida e sincera, que depois de uns dois segundos que levei o golpe de suas palavras, e fingi que colocaram uma espada na minha barriga, então a puxei devagar, contorcendo o rosto e ela gargalhou - Parece que só fez se lembrar mais dela. 

— Meu Deus, você sambou na minha cara. - sorriu, mas triste  

— Ainda está certo de que não pode nutrir algum sentimento por mim? - perguntou, se aproximando. Não me afastei, muito pelo contrário. Até aprovei sua inclinação, olhando dentro de seus olhos.  

— Eu já não tenho certeza de mais nada, honestamente. - falei, com raiva por não ter mais controle do que sinto. - Eu preciso ir comer alguma coisa. 

— Ok. Não vou insistir, mas... - olhou para os lados - Deixa, eu falo depois, porém, quero comer com você e seus criados.

— Amigos. - corrigi, com um sorriso - Eles são bem mais que isso, sinceramente. 

Ela sorriu calma. - Eu estava esperando dizer isso. 

...

Empadão!

 

Oi! Olá! Como vai? É, precisei penar aqui para te mandar uma carta. Ninguém queria me deixar escrever! Mas, aqui estou eu, escrevendo pela Amanda ou Amélia, ou papai. Sei que gostou disso... Eu sou maravilhoso. 

 

Bem, caro Empadão, colocando o narcisismo de lado, embora altamente merecido, gostaria de falar sobre algo sério, pois nem foi porque eu pedi, me joguei no chão e chorei para escrever para você, e sim porque a mãe piorou. Estou escrevendo essa carta escondido, pois não poderia te contar isso, mas é preciso. Você ficaria chateado conosco, e com certeza está nesse momento, mas é que não queríamos te preocupar. 

 

Estágio dois, avançando a cada dia. Ela não sabe o endereço, chama Ben de nomes nada haver com, se esquece de quem sou, ou me chama de Peeta, perguntando onde estão meus olhos azuis. Eu riria, faria piada com ela, para anima-la, sabe? Se não visse que é a alzaimer esteja realmente correndo e tirando a identidade dela, mas acredite: a mãe de Delly contou que ela já estaria de cama, vegetando, se não fosse por você. 

 

A gente ajuda muito a mãe, fica contando as coisas para ela, que muitas vezes se diverte, e tem vezes que brincamos tanto, que ela até vai para a cozinha fazer algo para nós. Simples, claro, porém, excelente como ela. Há vezes que ela se tranca no quarto, e fica chorando, e outras que ela quer bater na gente, por muita raiva, muita mesmo, mas nunca bate, o que deixa o pai arrasado. Mas por que estou te contando isso? 

 

Porque você é meu irmão mais velho, e deve saber o que está acontecendo. As cartas sempre são breves porque ela não pode mais sair de casa, pois fica com medo das outras pessoas, aí precisamos ficar ao lado dela, assistindo tv, vendo as mesmas fotos todos os dias, para ajudar a não deixa-la de cama. 

 

Mas não são apenas más notícias. Amélia trabalha onde a mãe trabalha, e recebe muito bem por isso, comprando para nós chocolate! Sim! Chocolate! E o pai abandonou três empregos, só está em um agora. Não é maravilhoso? Tá, você não pode comer chocolate — otáriooo — mas é um delícia.

 

Stacy ainda é chamada de Sauro, Ben soluça de tanto chorar com saudades suas, Amanda é uma verdadeira filósofa na tristeza, mas fala mais que um papagaio por animação quando você aparece na TV e diz que você está totalmente apaixonado pela princesa, mesmo que não percebamos isso. Papai e mamãe dizem que te ama, mesmo com tantos problemas, e eu também, assim como todos os nossos irmãos. 

 

Não se esqueça de me apresentar para a princesa Prim. Ela é muito legal. 

 

Do cara mais lindo do mundo, 

Stuart Mellark.

 Eu não sabia se deveria rir ou chorar, depois que Stefan veio me entregar a carta que tinha acabado de chegar. Coloquei a carta na gaveta, na primeira, e fechei, como se tudo não passasse de uma brincadeira ou uma coisa que não era endereçada a mim. 

— Está tudo bem? - Gale perguntou, abrindo sem permissão a porta do meu quarto.

— Ele tá pálido, seu idiota. Claro que não está bem! - Finnick disse, cumprimentando Stefan e Layla, pois Júlia foi buscar outras roupas, já que ao que parece, vou ficar mais uma semana no palácio. Mas eu não quero. 

Gale cumprimentou meus amigos de forma simpática, e se sentou no sofá, enquanto Finnick se jogou ao meu lado na cama, depois de deixar claro que gosta de mulheres e não de mim. 

— É, cara. Diga-nos os seus problemas. - Finn disse, suspirando com um sorriso 

— Não quero falar, não agora, sobre meus problemas. - respondi, acenando com um sorriso triste para Stefan e Layla que se retiravam, quando fecharam a porta, Gale foi para a minha cama também, assobiando

— Então nos conte sobre a princesa. - o moreno sugeriu - Mas a gente tá aqui, sabe, mesmo que saibamos menos sobre o que são problemas comparado a você.  

— Só quero dormir. - me joguei para trás, deitando-me de barriga pra cima mesmo e fechei os olhos - Vocês são os que ela mais fala, depois Cato, Marvel e Logan. 

— Será que somos nós que iremos para A Elite? - Finnick perguntou, ficando apoiado pelos cotovelos, já que já estava de bruços  

— Eu não sei se vou... - Gale disse, preocupado - Peeta está garantido nos três finalistas.  

— Com certeza. - respondeu Finn - Ela é uma ótima amiga.  

— É sim - eu disse, fechando os olhos, com sono 

— Cansado, Peeta? - Gale perguntou divertido - Vimos a princesa sair do seu quarto.... - contou maliciosamente 

— Eu estou muito cansado, porque nós sa... - então me dei conta que ela não contou a ninguém sobre o passeio, apenas para pessoas que ela sabia que não contariam para seus pais - Caminhamos, digo, e muito, trocamos ideias, etc. - falei, dando de ombros, tentando não demonstrar o quão corado eu tinha ficado por ainda sentir a boca da Katniss sobre a minha, e todo o arrepio voltou a meu corpo, assim como aquele beijo. Talvez pudéssemos tentar ignorar, mas é impossível. Eu não quero esquecer.  

— Senhor Hawthorne? - Layla chamou, delicadamente, entrando no quarto, mas mesmo que o meu sobrenome seja Mellark, e o de Finnick Odair, nós três olhamos, e ela riu divertida - Senhor Gale Hawthorne, sua presença é solicitada na Sala de Música pela Princesa Katniss, ela disse que será breve. - vi o moreno estremecer, e pelos meus olhos e de Finnick passaram preocupação. Será rápido? Na Sala de Música?  

— Ok, é agora? - assentiu - Só vou no meu quarto trocar de roupa e... 

— Não precisa, ela pediu para ir a vontade. - ela interrompeu com calma, coisa que ela é 

— Tudo bem. - se levantou, batendo na minha mão e de Finnick, um toque nosso, e saiu, quase chorando, e a gente começou a rir assim que ele saiu com a Layla  

— Duvido que ele seja eliminado, ela é bem mais íntima dele do que de mim. - Olhei para o outro loiro, e franzi o cenho  

— Como assim? 

— Eles sempre saem, pra todo lugar, assim como ela faz com Cato, Marvel, Logan, Blane, George... - suspirou - Peeta, o que você acha que chamaria a atenção dela? Agimos mais como duas pessoas legais, conhecidas, que realmente se divertem juntas, mas só isso.  

Parei para pensar. Finnick é mais próximo a mim do que Gale, e Katniss demonstra claro interesse pelos dois, porém... Agora estou confuso. 

— Seja você mesmo, Finn. Só isso. - suspirou 

— Eu sou, e ela se diverte, conta algumas coisas para mim, coisas sobre os outros, e até sobre você... Só que algo parece impedir que a gente desenvolva mais alguma coisa, entende? - respondeu - Estou mesmo querendo conversar com ela, tipo, sobre como se fôssemos um quase casal, essa é a intenção, mas parece que não é o que ela quer, então, acabamos construindo uma parede invisível de indiferença entre nós. Ela não fala sobre isso, e nem eu.  

— Eu vou conversar com ela, está bem? - suspirou, dando de ombros - Mas saiba que ela gosta muito mesmo de você.  

Mas isso não foi suficiente, pois ela suspirou mais uma vez, soltando ar pela boca, se esticando na minha cama, afundando o rosto na mesma e grunhindo, me fazendo rir. - Mulheres são incompreensíveis. 

— É... - concordei, me esticando também, mas de barriga para cima - Elas são sim. - e nós dois acabamos dormindo, sendo acordados apenas no dia seguinte, onde eu estava todo a vontade na cama, enquanto Finnick estava de boca aberta no tapete, mas mesmo assim atraente, de acordo com Júlia e Layla, e de fato estava. Que droga, eu acordo todo amassado. 

**

O relógio marcava duas da tarde, e eu esperava com minha bermuda cinza e uma camisa polo azul, sem mais nada, calçando chinelos, porque a princesa Prim disse que eu precisaria estar bem a vontade.  

Enquanto eu mexia nas mãos, esperando ela chegar com os guardas a escoltando, levei um susto, quase caindo do banco que tinha do lado de fora do quarto, no corredor, porque uma bola de pêlos comprida pulou no meu colo, e até Cato, que tinha acabado de sair do seu quarto levou um susto junto comigo. 

— Que isso, gente? - perguntou, sobressaltado, e eu quase caindo do banco lá

Três latidos saíram da coisa que pulou em cima de mim, uma bola de pêlos branca com uma única mecha amarela no meio do corpo.  

— Desde quando se tem um cachorrinho no palácio? - perguntei de volta, olhando para ele, que estava tão confuso quanto eu, aproximando-se do animal de estimação, que lambia, ou melhor, tentava, meu rosto, com um claro sorriso, mostrando seus dentes limpos e bem protegidos de tártaro.  

— E eu sei lá! - ergueu um pouco as mãos em rendição, então se afastou. Usava roupas frescas também.  

— Senhor Cato, sua presença é requerida na sala de pintura. - disse Denner, o mordomo de Katniss, de acordo com os meus criados  

— Claro. - o Cato apenas acenou com a cabeça, com uma mão no bolso, e seguiu o mordomo. Até que agiu de forma decente e educada desta vez.

— E aí, cara! - eu disse para o cachorro, fazendo carinho em sua barriga, mostrando-se uma menininha - Uma garotinha! - ri, beijando seu rosto, e ela parecia ter gostado de mim, latindo animada, como se pedisse para que eu a colocasse em meu colo, e foi o que fiz. Infelizmente, como nem tínhamos comida para nós, quem dirá para um animalzinho de estimação.  

— Você achou a Buttercup! - ouvi uma voz infantil, um pouco adulta, nessa transição, me fazendo erguer os olhos, vendo Prim correr na minha direção, batendo palmas e extremamente animada - Ai meu santo chocolatinhooooo! - disse, apertando as próprias bochechas, quando se sentou ao meu lado - Fazem três meses que não a vejo! Como achou ela, menino?! - ri, entregando-a sua cachorrinha, que a lambeu todinha 

— Acho que ela quem me encontrou, alteza. - Sorriu, quase emocionada em encontrar o bichinho de estimação - Sua irmã não contou que tinham um.

— É porque a Katmiss não gosta da minha botão-de-ouro - (é a tradução de Buttercup) - Mas eu amo, amo, amo! - apertou-a nos braços - Vamos! Vamos! - Nem deu tempo de fazer uma reverência, pois ela puxou a minha mão, e com a outra, segurava a Buttercup, puxando-me apressadamente para fora do palácio, me contando diversas coisas sobre Katniss.  

— Ela gosta de comer pasta de avelã. Você gosta? - perguntou, fazendo um gesto suave para um guarda, que veio com um sorriso torto. Troy. - Valeu, baby. - ele riu, depois de fazer uma reverência brincalhona, assim como ela 

— Vou chamar Rue e Glimmer, está bem? - Prim sorriu graciosamente, assentindo - Já estou indo! - e saiu, depois de me cumprimentar cordialmente.

— Skate? - ela sorriu abertamente, quando indicou para eu a seguir pelo parque que também tinha no Palácio, com partes asfaltadas, um balanço para duas pessoas, e uma amarelinha, assim como um pequeno campo de futebol e basquete, para no máximo quatro pessoas de cada lado 

— Infelizmente, não vêm sido usados há muitos anos. Meus pais e Katniss estão muito ocupados. - disse, um pouco melancólica, e entendi que sentia o peso que essa guerra no próprio país trazia para si: a ausência de sua família.  

— Nada pior do que não brincar um pouco com a família, não é verdade? - falei baixo, olhando para ela, que suspirou audivelmente, baixando a cabeça  

— Com absoluta certeza. Sabe como é horrível isso? - olhou para mim, indignada - Eu estou no meu melhor momento da vida! - Colocou uma mão no peito, chocada, fazendo eu rir de sua expressão  

— Está certíssima, Alteza. - Fui sincero. É mesmo o melhor momento da vida, mas eu não pude aproveitá-lo. Bom, é um alívio saber que Ben e Stuart terão o que eu não tive.  

— Para com isso agora! - ordenou, balançando a cabeça - Eu só tenho 12 anos! Jesus, Ele é digno disso, eu não! Nem sei qual é o significado de "Kick-Ass"! - ri mais, balançando a cabeça em negativa

 — Eu tenho 18, e também não sei, Princesa. - sorriu, voltando a caminhar - Eu nunca andei em cima de um desses.  

— Acha que eu sim?! - riu de si mesma, colocando o objeto no chão, e colocou um pé sobre o mesmo, com outro no chão - Cecilia me ensinou nas palavras. Basta pegar impulso e pronto. - A Princesa Prim fez o que disse, e no segundo seguinte, deslizava pelo parquinho, fazendo curvas, com os braços erguidos e os cabelos balançando ao vento.  

Imite o que ela fez, puxando ar com força pela boca, mas sorri no segundo seguinte, pegando um pouco mais de impulso, pondo meu outro pé sobre o skate. Até que não é difícil. 

— Você conseguiu! Conseguiu! — Bateu palmas animada, deslizando pelo pátio como eu, balançando um pouco, mas se saindo muito bem.

— Sim! Uou! Que shoooow! — ri de mim mesmo, pegando mais impulso, me achando um máximo, fazendo uma curva boa, até que... Caí no arbusto.

Nossa, mas eu cai muito, muito, muito feio. 

O que aconteceu foi muito rápido. Eu vi outra curva, e quando me virei, virei demais, me achando o rei do skate e da cocada preta, botando muito peso de um lado, perdendo o skate de meus pés, e logo fui arremessado pela gravidade para a esquerda, o lado em que pus mais peso, tropecei em mim mesmo, dando umas quatro roladas, batendo a cabeça em uma pedra, tendo a situação agravada por um quebra-mola, depois, cai dentro de um arbusto cheio de espinhos pequenos, ouvindo a gargalhada de Prim e suas criadas, enquanto eu mordia meu lábio inferior com muita força para não explodir em lágrimas.

 — Aaaaaiiii... — Gemi, com a voz fina, igual uma criança, ao ver meu braço todo ralado e sangrento, com algumas pedrinhas nele. — Maaanhêêê! — Chamei, choroso, sem conseguir conter algumas lágrimas de caírem por meu rosto, ainda mais ao tocar na minha cabeça, e sentir algo quente com aroma enferrujado: sangue.

 Eu quero a minha mãe! 

— Você tá bem?! — Layla perguntou, indo até lá me ajudar, e quando me viu, todo ferrado, começou a rir. — Você não está bem.

— É mesmo?! — perguntei irônico, tentando me sentar, o que consegui, mas gemendo sem abrir a boca. 

— Oi! Você foi arremessado, hein?! — disse Prim, risonha — Bem que Katmiss me disse que você era engraçado... — e riu mais do meu estado decadente, quase.  

— Acho que vamos ter que levar você para a enfermaria. — Layla aconselhou, tentando conter a risada, e só de raiva, me levantei sozinho! 

— Uuuuiii! — Prim disse, mordendo o lábio inferior, ao lado de Layla — Você está arrebentado. Como se sente?  

— Meio tonto. — Admiti, esfregando o outro lado da minha cabeça, o lado que não tinha um corte — Ir na enfermaria é bom, sabe? — Elas riram, caminhando ao meu lado.  

— Me desculpe, eu sei que queria andar por ali e... — comecei a me desculpar com a princesinha, que riu, balançando a cabeça. 

— Está tudo bem! Deu para me divertir, e eu ando de bicicleta duas vezes na semana, então está tuuudo bem. — Garantiu, erguendo as mãos — E você é inexperiente no skate. Eu não deveria tê-lo deixado andar sem capacete. Eu quem peço desculpas!  

— Você e Katniss tem essa mania esquisita de sempre se desculparem e agradecerem. Não precisa se desculpar por nada, Princesa. Sério. Eu é quem não sou bom com nada mesmo. — Ela riu, majestosamente, jogando a cabeça para trás, delicada como um prímula, flor que lhe deu nome. É uma das minhas favoritas de plantar, e as favoritas nos grandes Distritos. 

— É que você, Peeta, não age como os outros. Bem, você e Finnick. Mas é que você sabe mais do que é ter algumas sérias responsabilidades, e apenas a sua presença alivia a minha irmã. — Sorriu para mim, torto, e eu pude ver uma sinceridade, algo que aquecia o meu coração, como fazem meus irmãos, mesmo que os olhos dela fossem cristalinos como os de sua mãe. — Você entende, e não fala nada. — Layla entrou na frente, então, antes que eu pudesse entrar, ela segurou meu pulso, e sussurrou  

— E a propósito, eu sei do beijo. — Piscou para mim — E independente do que tenha acontecido, ela está mais feliz. Eu sou grata a você com a minha vida por isso. Obrigada por ser quem você é. — E entrou ao meu lado na sala da enfermeira, que puxou ar, um pouco impressionada com meu estado. 

— Rapaz, o que fizeram com você?! — Maggs, me lembro dela, imediatamente me guiou para um quarto todo limpo, com poucos equipamentos, pois meu caso não era tão grave assim, é claro, mas pediu ajuda de outra enfermeira, uma moça de média estatura, de pele parda, com traços gentis. 

 

A morena com rosto gentil abriu minha camisa, rapidamente, e chamou a senhora, que se assustou, porque tinha alguns vergões pequenos em mim, mas não doíam, apenas quando Maggs apertou, fazendo eu gemer de dor, tremendo por alguns instantes. Acho que o meu caso era um pouco mais estranho que eu imaginava. 

— Pela vermelidão, ele deve ser alérgico a alguma dessas medicações, Maggs. — eu confiava na senhora e nessa moça, mas quase dei um pulo e uma voadora nas duas quando me apareceram com uma agulha ENORME de grande, com um conteúdo amarelado dentro. Suspirei tenso quando a moça morena colocou sobre a bandeja com esparadrapos e bandagens. 

 

— Sim, sim, pegue o aparelho para fazermos um teste e descobrirmos ao que ele é alérgico mesmo. — A senhora olhou em meus olhos, segurando minhas mãos, com muito carinho — Você está bem? Eu sei, eu sei, você caiu muito feio em um arbusto com espinhos, está todo ralado, mas tem alguma coisa te incomodando. O que é?  

— Eu só estou pensando na minha família, senhora. — Não era tão verdade assim, porque eu estava pensando em Katniss. Tudo tem acontecido tão depressa, que eu nem sei como reagir a minha mãe se esquecendo de tudo, Katniss, o beijo, Prim e seu claro apoio para que eu e sua irmã fiquemos juntos, talvez se esquecendo que a coroa que está na cabeça de seu pai está no meio do meu relacionamento com a futura rainha de Panem. 

— Katniss me contou o que sua mãe tem. — disse, serena — Eu não contarei para ninguém. Juro. E saiba que eu entendo o que está passando. Meu marido tem Alzheimer.

— E ele está melhor? — Sorriu, triste, descendo os olhos para meus ferimentos medianos, passando álcool, gerando uma reação em mim, que foi de puxar o braço, mas ela o segurou firme. 

— Estágio Quatro. Não sabe quem eu sou, ou quem ele é. Não faz nada além de ficar monitorado 24h pelos aparelhos que o mantém vivo. Pode parecer que não ajuda, mas saiba que ele corresponde quando eu pego na mão dele. Há laços que nenhuma doença pode quebrar, e eu sei que ama a sua mãe. Não se preocupe... — Tirou toda a minha camisa, colocando-a na cadeira perto. — Existem laços que não podem ser quebrados. Não se preocupe, essas situações servem para moldar nosso caráter, só tome cuidado para não deixar que isso — Tocou onde está meu coração — Se esfrie.  

Sorri, mesmo com toda essa situação, e sorri sincero. Um sorriso torto, mas o que ela me disse significou muito.  

— Muito obrigado, Maggs. — Apenas sorriu de volta,  fazendo curativos em mim, quando comecei a sentir algo estranho, dentro da minha garganta, e não conseguia respirar.  

— O que foi? — perguntou, preocupada 

— N-na-não consigo re-re-re-respirar. — eu disse, fechando meus olhos com força, depois de me sentar, com uma mão na garganta, sentindo-me sufocado. 

— Lauren! Lauren! — Chamou, alto, e a outra enfermeira entrou no quarto. — Pega AGORA epinefrina! AGORA! VOA! Rápido, rápido! — eu não conseguia ver mais nada, porque já tinha começado a chorar, sentindo a parte de dentro da minha garganta inchar, e eu não conseguir respirar, sentindo minha pele queimar, mas não mais que os meus pulmões.  

Comecei a tossir, mas nada adiantava, só aumentava o meu pânico, então, algo furou o meu braço esquerdo, um beliscão, causando uma reação quase imediata em mim, me deixando acelerado, podendo ouvir a voz preocupada de Layla e Prim, que queriam entrar, só que Maggs entrou imediatamente no meu campo de visão e disse, segurando meu rosto com as duas mãos.

— Você tem Urticária, e a sua garganta inchou, então te demos adrenalina. Você vai ficar bem. Você vai ficar bem. — Então, tudo ficou escuro. 

** 

— Não, eu nunca tive isso, e só descobri o nome agora. — respondi, cansado, assim que acordei depois de ter meio que o sono induzido por elas, que acabaram de me dizer que não era para eu ter dormido, mas sou alérgico a medicações também. Desde quando? Eu não faço ideia. - Não fico doente. Só fiquei uma vez, com catapora.

— Ok, seu exame vai sair amanhã, então vamos descobrir a que mais é alérgico. Vai poder voltar para seu quarto, mas sob observação. — Assenti, então ela colocou uma luva limpa, e caminhou até o meu lado, com uma tesoura, novas gases e esparadrapo, para por na minha cabeça novamente.

— Você é um pobre exigente, viu? — Finnick disse, dando uma lida no meu diagnóstico, como se entendesse alguma coisa. — Intolerância a chocolate e epinefrina... Que bizarro. — Gale riu, batendo palmas. 

— Você caiu em um arbusto depois de rolar como uma bola de futebol, a sua criada me contou. Meu Deus... — Tentou ficar sério, mas caiu na gargalhada novamente. — Imagina a sua cara na hora que caiu!  

— Gale! — Finnick o repreendeu, mas segurava a risada também. 

Até Maggs riu discretamente, enquanto trocava a faixa na minha cabeça.

— Até a senhora?! — perguntei, fingindo estar bravo. 

— Seus amigos só são verdadeiros! — Então todos rimos, mas Gale e Finnick foram expulsos pela tia Effie, que tinha em mãos uma caixa de bombom e um livro fino. 

— Oh, Peeta! — disse, com sua voz preocupada, quase chorosa, vindo me abraçar. 

— Oi, tia. — eu disse, sorrindo tímido, não imaginando que ela fosse vir até aqui me ver dadas circunstâncias. — Acho que hoje eu vou precisar faltar a sua aula sobre relações internacionais que Panem tem com a Alemanha, Inglaterra e Itália... 

Ela riu, me dando a caixa com bombons. 

— Você sabe a matéria, eu tenho acesso as suas pesquisas, como de todos os Selecionados, e não me surpreendi, honestamente. Só não se esqueça que a Alemanha e Inglaterra...

— Estão esperando conhecer o futuro rei de Panem e saber suas propostas para ver se é inteligente formar alianças. — dissemos juntos, fazendo-a dar um sorriso enorme, batendo palmas animada.

Excelso! — Fiz uma careta confusa, gerando um sorriso dela — Significa algo sublime, maravilhoso, esplêndido. — Sorri, entendendo agora. 

— Muito obrigada por vir me ver, mas não posso aceitar os bombons. — Fiquei triste, porque eu amo bombons, mas não posso comê-los. Minha intolerância à chocolate começou aos 16 anos.

— Oras! Mas por quê? — perguntou curiosa.

— Ele é alérgico, e parece que tem também uma leve intolerância a medicação contra a alergia agora. — Maggs explicou, calma. — Terminei o seu curativo novo, e vai durar mais. Às vezes eu me esqueço que sou médica também, outrora, de que sou enfermeira! — ri, balançando a cabeça como se dissesse que está tudo bem.

— Quando ele voltará para as aulas, Maggie? — tia Effie perguntou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, olhando para a senhora, que dava mais uma olhada no meu laudo médico. 

— Depois que sair o exame, ou seja, depois do almoço. A manhã ele deve passar no quarto, repousando. Só pegue leve, e avise ao Haymitch que Peeta não está apto para nenhuma atividade física até o final de semana. 

Meu eu interior deu um grito animado, e fez stripper sozinho no meu coração, colocando um bambolê na cintura e rebolando sem parar, gargalhando de alegria por não precisar fazer diversos polichinelos enquanto preciso responder perguntas sobre história e geografia. 

— Claro, vai ser bom para ele, mas olha, aproveita esse tempo para descansar. Esqueci de brigar com você! Não é adequado que faça a função de um Sete agora! — Cruzou os braços, depois de se sentar de frente para mim na cama, quando Maggs saiu do quarto.

— Me desculpa, é que eu gosto das flores e é a única coisa que eu posso ter da minha antiga vida. Eu me lembro dos meus irmãos. — falei, corado por estar envergonhado por levar uma bronca assim. 

— Eu sinto muito, Peeta, mas agora você é um Três, que pode ser um Dois, caso vá para A Elite, então, um Um, caso a princesa lhe escolha. Não é mais um Sete, deixe essa tarefa para o George. — Abaixei a cabeça, um pouco aborrecido. Eu gosto de ficar na estufa. 

— Tá. — respondi, cruzando os braços.

— Peeta. — Effie me olhou, com os olhos marejados — Apenas... Mantenha a descrição, está bem? — pediu, olhando em meus olhos.

— Eu vou poder plantar alguns girassóis ainda? — Sorriu, passando com cuidado os dedos em baixo dos olhos para tirar as lágrimas. 

— Desde que você me dê um buquê com elas, junto com algumas tulipas. Tulipas Darwin. 

— Vai colocar na sala ou no quarto? — perguntei, sorrindo torto, por ser um assunto que eu conhecia bem. 

— Na sala. Sinto que preciso de algo natural. — Arrumou meu cabelo, com seus dedos esguios, incomodada com meu cabelo caindo nos meus olhos — Vou pedir para Flávia dar mais um corte no seu cabelo. Urgentemente! — Balançou a cabeça em reprovação, me fazendo rir, jogando a cabeça para trás. Eu já tinha ouvido essa frase, mas com um "Amélia" no lugar de "Flávia". Minha mãe sempre teve esse problema com meu cabelo. 

— Parece a minha mãe falando! — eu disse, balançando o cabelo, para desfazer o que ela ajeitou, fazendo-a me olhar fingindo raiva, pondo as mãos na cintura.

— Bem, sou a pessoa depois de seus criados que mais passa tempo com você. Por isso que não me incomodo se me disser que pareço sua mãe falando ou me chame de tia, mesmo que minha obrigação seja te ensinar e prepara-lo para tornar-se rei. É o mais difícil de se lidar, mas... — Suspirou, com um sorriso — É o mais agradecido depois que aprende. — Abriu a caixa de bombons, e me deu três. — Shhhh, não são de chocolate, mas eu sei que se ela ver, vai pirar totalmente. Esconde, ok? — Assenti, colocando debaixo do meu travesseiro, depois de abrir rapidamente um, dando a embalagem vazia para ela, e a mesma abriu um para si, colocando na boca. 

Peeta? — Ouvi uma voz fina, elegante, que me lembrava Katniss.

— Prim! — Effie disse, sorrindo, chamando-a para dentro, e Layla entrou logo em seguida, com Stefan e Júlia. — Já estou de saída. — Cumprimentou meu amigos com um sorriso torto, então abraçou a loira, que sorriu e a abraçou de volta. Effie se virou, na porta, e me deu uma piscada cúmplice, de mãe mesmo, fazendo com que eu sorrisse, abaixando um pouco a cabeça, demonstrando que eu aprovava a piscada, e que a entendia, então, saiu do quarto. 

— Nem deu tempo de contar para a Katniss! — Prim disse, vindo para perto — E já pediram para eu me arrumar para minha aula de música! — ela queria chorar. — Espero que fique bem logo. — Então, surpreendeu-me com um abraço. 

Fiquei sem reação por um segundo, então, passei um braço por sua cintura de criança ainda, correspondendo ao seu gesto, mesmo que eu estivesse desajeitado e surpreendido por sua nobre atitude. 

— Obrigado. — Sorriu, carinhosa.

— Que isso! Não é nada demais! Mas, se você for realmente grato ao meu sincero desejo de melhoras... — Colocou as duas mãos no peito, frisando que era um desejo do coração. — Você vai passear comigo! Nada de skate, pois ficou bem claro que você não é nada bom nisso... — Ri, assim como ela e os outros. — Quem sabe Boliche?

— Parece-me seguro. — Riu novamente, assentindo.

— Tchauzinho, gente, vocês são muito legais. — disse, correndo até a porta. — Beijos, e espero vê-los em breve! — Mandou beijinhos e saiu, deixando-me com meus amigos, que se sentaram na cama, e ficaram conversando comigo, sobre como eu não poderia nem pronunciar a palavra "chocolate", pois foi com ela que pode ter começado a aparecer os leves vergões no meu abdômen, e durante os dez minutos que falaram, me fizeram rir diversas vezes, pelas alfinetadas que um dava no outro sem sentir. 

— Ah, e a dona Maggs disse que caso você precisava falar alguma coisa, não vai mais, pois quer que se esforce o mínimo possível na entrevista de amanhã. Pediu para comer apenas sopa de ervilha e purê de batata com carne moída. É bom que goste, pois a sopa será sua janta e o purê com carne, seu almoço, com cereais para sobremesa. Hoje é... Domingo. Essa "dieta" até a  sexta-feira. — Acrescentou Layla, com um sorriso — O pessoal gosta mesmo de você, hein? — Corei.

— Olha, ele está todo vermelinho! — Júlia disse, colocando as mãos finas nas bochechas. — Que coisa mais fofa!

Aaaahhh! — gemi em frustração, colocando um travesseiro no meu rosto, sentindo o mesmo se esquentar com a febre que eu estava começando a ter. 

— Aceite: você é muito branco. — Stefan disse, e me dei por derrotado. — E as duas princesas gostam de você. 

— Elas gostam de mim em quesito companhia. — falei, tirando o travesseiro do rosto. 

— Hm... — Stefan disse, malicioso — Sei.

— Quê que vocês estão fazendo aqui ainda? Sai! Sai! — Eles riram, sentindo eu chutá-los de leve, balançando-os.

— Nós vamos. — Layla disse, piscando, então, saiu do quarto junto com os irmãos. 

Antes de fechar a porta, a mais nova voltou, e me deu abraço rápido, beijando minha bochecha, como uma verdadeira irmã, me fazendo sorrir torto, feliz, lembrando-me de Amanda, pela cor dos cabelos, como se chocolate tivesse caído sobre eles.

— Vê se não faz nada que piore a sua saúde. Parece que é de cristal! Até logo. — e foi-se correndo, me deixando rindo, divertido. 

* Cinco dias depois *

— Talvez você deva usar a gravata vermelha. — Júlia disse, faltando vinte minutos para o Jornal Oficial. — Ou a preta?

— Pelo amor amado! — Stefan exclamou, entrando no quarto. — DESISTE DE COLOCAR UMA GRAVATA! QUE FOGO, JÚLIA! — Puxou com raiva as gravatas das mãos da irmã, que arfou, batendo um pé com muita força no chão. 

— Idiota! Idiota! — ela disse, quase urrando de raiva dele, enquanto eu olhava meu reflexo no espelho com um sorriso discreto, para não começar a rir.  — Cala a boca! 

— Tá com raivinha só porque eu disse a verdade! — respondeu o mais moreno. 

— Gente.. Eu posso ir sem gravata. — Stefan apontou para mim como quem diz "viu?! Eu te disse!" 

— Mas todos estarão engravatados! — Júlia disse, exasperada.  

— Ótimo, aí ele chama mais atenção por estar sem! — Layla disse, aparecendo do nada — Ou coloca a branca. Essa blusa azul escura está perfeita. Realça seus olhos, Peeta. — Sorri, abaixando um pouco a cabeça em positivo. — Acontece que! Estamos atrasados. Vem, vem, vem! — A caçula pegou na minha mão e me arrastou para fora do quarto, onde Stefan e Júlia voltavam a discutir sobre a gravata. 

— Eles são doidos! Piradinhos! — disse, caminhando de braços cruzados ao meu lado — Brigam por tuuudo! É tão cansativo tê-los morando no mesmo lugar!  

— Vocês moram aqui no palácio? — assentiu, suspirando — Onde? Claro, se não te incomodar e... — ela riu, negando.

— Não precisa ser tão tímido. Pode perguntar tudo no Palácio, dependendo apenas para quem pergunta. — assenti. — Nós moramos nos andar Block. É um nível abaixo do estacionamento. Acima do de festas para nós, os empregados. São bem melhores que as feitas no Grande Salão! — Sorri. — Tem uma festa lá a cada dois meses. 

— Eu adoraria ir a uma festa. Gosto de festas. — ela sorriu, animada.  

— Teve uma semana retrasada. – disse calma. — O rei e a princesa Katniss permitiram que fizéssemos as comidas para essa festa com o que há na cozinha. É incrível. As pessoas não têm a preocupação com as vestes ou como se portam. Eu não gosto de dançar, mas é um verdadeiro orgulho e prazer ouvir Stefan tocar Saxofone. Ele sempre toca. Júlia prefere dormir, e eu fico comendo as coisas que a tia Sue faz. Precisa ir em uma dessas festas. Vou te avisar quando tiver a próxima. — Sorri, assentindo. 

— Boa sorte! — Desejou-me, quando eu entrei no cenário bonito de se ver, e apenas dei um aceno para ela, com um sorriso sincero. Eu era cercado por boas pessoas, e sou grato a Deus por isso. 

As cadeiras foram organizadas de formas diferentes, agora eram quatro fileiras com quatro cadeiras, mas as duas de cima tinha uma cadeira extra em cada. Meu nome estava na terceira fileira, no segundo lugar. Ao meu lado, Oliver, no primeiro banco a minha esquerda, e Steve ao lado esquerdo. Finnick ocupava  o primeiro lugar da primeira fileira, ao lado de Cato, depois Logan e Brian. Gale estava atrás de Finnick, na segunda fileira, e ao seu lado, Blane.  

Por que foi organizado dessa forma? Olhei confuso para quem passava, então, Gale se virou e me respondeu.

 — É pela escolha do povo, entende? Acho que querem se sentir mais parte da coisa toda. — Concordei, pegando a verdade naquilo, mas eu sabia mais. Estava acontecendo isso para que a escolha seja logo feita, mas ao mesmo tempo, vejam que eles quem vão escolher no final, com quem Katniss deva se casar. Que coisa horrorosa. As pessoas não sabem mais pelo o que lutam. 

O rei, a rainha e Prim chegaram com tranquilidade, e estranhei a ausência de Katniss, pois ela sempre aparece com eles, mas então ela chegou, trazendo consigo toda sua áurea, coberta por uma saia pregada rosa bebê que ia até seus joelhos, sapatilhas brancas e uma camisa polo branca, com seu colar de Tordo, apenas, com seus fios contidos em um coque elaborado, e uma tiara prateada com detalhes de flores douradas estavam em sua cabeça. É meio difícil não pensar em como seria se eu estivesse em um relacionamento sério com ela e... 

Opa!  

Queria poder mexer no cabelo, mas os mesmos estavam com gel, segurando-os em um topete que não era como um personagem de desenho animado, um tal de Johnny Bravo, e sim dava uma voltinha, com um fio no meu rosto, sem atrapalhar minha visão. Eu devo conservar o que Júlia fez com todo o carinho do mundo. 

Coba entrou e acendeu-se uma luz vermelha no canto, indicando que estávamos no ar. Caesar apresenta entrevistas, mas estava presente no estúdio, esbanjando simpatia. 

O rei falou sobre a situação em alguns lugares de guerra, e que a Guarda Real está vencendo, depois a rainha falou sobre novas coisas para as mulheres e crianças, a construção de algumas escolas. Também foi dito por Coba, o jornalista oficial, algumas informações sobre alguns casos pelo País, e parabenizou o Distrito 3 pelas notas altas na escola, pois os destacou, e foi a melhor nota do ano, totalizando tudo, a média foi 9,7. Houve uma chuva de aplausos, e quem era do Três se orgulhou um pouco. Eu vi a expressão que Blane fez ao ouvir o nome de seu Distrito de origem.  

Então, outra chuva de aplausos pela troca de apresentador pelo Mestre de Cerimônias, como é em todas as entrevistas.

 — Boa noite a todos! Tenho um anúncio muito importante hoje. Estamos na 3ª semana, e metade dos 36 Selecionados já foram para casa. Restam 18 inteligentes rapazes para a princesa Katniss. — Caesar começou, e por sua expressão, lá vinha algo talvez comprometedor. — Semana que vem, haja o que houver, a maior parte desse programa já será dedicado à esses incríveis jovens, que estarão completando um mês no palácio.

 Minha garganta ficou seca, e sem perceber, eu estava balançando levemente a perna, batendo o pé direito no chão inúmeras vezes, em silêncio, como forma de aplacar o nervosismo. Caramba, ele disponibilizaria mais tempo para falarmos?! Oh, droga. Não era um problema responder perguntas. O problema é que quando se trata de mim, algo dá errado! Não quero fazer papel de idiota em rede nacional.

 — Antes de fazermos novas perguntas para os Selecionados, vamos falar com a garota do momento! Como Vossa Alteza está esta noite, princesa Katniss? — perguntou Caesar, cruzando o belo e grande palco.

 Katniss foi pega de surpresa, pela sua expressão um pouco assustada, pois não tinha microfone ou folhas com discurso prontos para ela usar no momento. Imediatamente antes de o microfone de Caesar ser entregado para ela, nossos olhares se cruzaram, então eu dei uma piscada para ela, com um sorriso torto, e esse pequeno gesto a fez suspirar tranquila, e abrir um enorme sorriso. 

 — Muito bem, Caesar, muito obrigada. 

 — Tem gostado da companhia até agora? — perguntou, divertido, e ela riu.

 — Absolutamente! — respondeu, com um sorriso sincero. — É um prazer conhecer esses rapazes. 

 — São todos calmos e gentis como aparentam? — Caesar quis saber, curioso. Dei uma risada baixa, imaginando a resposta de Katniss. "Bem, mais ou menos", provavelmente seria o que ela diria.

Hmmm... — Katniss desviou seus olhos grandes e cinzas de Caesar, parando em mim, encarando-me como "eu vou te dedurar", com um sorrisinho de irmão que vai ferrar o outro. Sei disso porque eu e Stuart vivíamos avacalhando um ao outro em casa. — Quase.

— Quase?! — Caesar ficou estupefato, surpreso com a resposta. Sabe de nada, Inocente...

— Algum está sendo desobediente? — Todos nós rimos, e eu me inclui também, sendo sincero. Nossa, cara, como Katniss é traidora! E ri mais.

— O que esses rapazes fizeram que não foi gentil? — Ele estava divertido, e o ambiente descontraído, bem mais leve do que nas outras semanas.

— Bem, deixe-me contar. 

Ela cruzou as pernas, como uma lady, e colocou os cotovelos sobre os joelhos, sem aquela postura ereta e politicamente correta, e estava claramente mais confortável sentada dessa forma. Nunca a tinha visto tão relaxada, curtindo com a minha cara, totalmente. Gostei desse seu lado, e vou pedir com certeza para que o mostre mais vezes. 

— Um deles teve coragem de falar muito sério comigo, de forma quase agressiva, no nosso primeiro encontro. Levei uma bela bronca. Mas foi engraçado, pois ele estava chorando, e seus olhos estavam claramente o oposto de raiva. — Ao invés de gelar, apenas sorri, mas muito discreto, porque isso causou um murmurinho entre Prim e seus pais, que pareciam surpresos, ouvindo isso pela primeira vez. 

Os garotos trocaram olhares confusos e curiosos ao mesmo tempo. Gale se virou novamente para mim, dizendo:

— Não me lembro de alguém ter levantado a voz para ela no Grande Salão. Você viu? Estávamos na mesma mesa, não era? — Katniss devia ter esquecido que nosso primeiro encontro era um segredo.

— Acho que é de mim que ela tá falando. Cheguei a dizer umas coisas bem sérias para ela. — Não desviei meus olhos de Katniss, mesmo que eu estivesse falando com Gale, que arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Uma bronca? — Caesar estava confuso. — Por quê? 

— Saudades de casa, e foi por isso que eu o perdoei, é claro. 

Katniss estava solta e tranquila, deixando claro que realmente não foi nada demais, mesmo que um dos Selecionados tenha agido de forma ignorante com ela. Conversava com Caesar como se somente os dois estivessem no estúdio. Necessito dizer mais tarde que ela estava ótima.

— Então, ele ainda está conosco ou cometeu outro deslize? — O cara com o cabelo azul olhou para nós todos, com um sorriso divertido, querendo saber quem era, depois se voltou para a princesa. 

— Ah, ele está sim. — ela afirmou, sem tirar os olhos de Caesar, mas eu vi que olhou para mim, e não durou mais que um milésimo, porém, fez com que eu levasse um choque por dentro de tão elétrico que seus olhos estavam. — E planejo mantê-lo aqui por um bom tempo.

**

— Se tiver algum problema, eu toco a campainha. Juro. — Avisei, tranquilizando meus amigos, depois que Júlia estranhou a temperatura do meu corpo, e logo Stefan pegou um termômetro. 40º de febre. — E eu tomei aquele xarope amargo! Sempre faz efeito!

Eu estou me sentindo dentro de um forno de 1000º, mas preciso dizer que estou bem porque me preocupo com eles. 

— Mas Peeta! — Layla disse, cruzando os braços. — Você está quase incendiando esse quarto de tanta febre! 

— Mas vocês precisam descansaaaarrrr! — Os empurrei de leve para a porta, então Stefan começou a rir, se virando para mim. 

— Já sei! Hoje é sexta-feira, e às sextas-feiras a Princesa vem aqui ver você, e está com medo que aconteça o que aconteceu da última vez com Júlia! — Minhas bochechas ficaram ainda mais quentes, se é que é possível, e imediatamente eu parei de caminhar, ouvindo a risada das meninas. 

— Oh! Tudo se encaixa! — Júlia disse, batendo as mãos nas bochechas. — Vamos, vamos, ele tem que acertar qual o dia de casamento com a princesa! Eu quero ser madrinha, ou pelo menos lembrada nos agradecimentos, viu? — Piscou-me com um olhar esperto, enquanto Layla só ria da situação toda, e eu ficava ainda mais envergonhado. Saíram do quarto, e eu fechei a porta, fechando os olhos, apoiando minhas costas na mesma.

Não estou me sentindo bem, porque comi biscoito de chocolate, de pura malcriação com Júlia, que mandou eu não comer por causa de minha imunidade baixa.

Eu deveria tê-la escutado. 

Fui para a minha cama, já com roupa de dormir, pois duvido muito que Katniss vá aparecer hoje. Quando a entrevista terminou, logo estava aos risos com Clapton. Eu vi.

Fechei os olhos, puxando a cordinha do meu abajur, e as luzes do quarto se apagaram por completo, levando menos de um minuto para que eu fosse tomado pela inconsciência, mesmo que meu corpo estivesse em uma temperatura alta.

**

Vozes. Muitas vozes. Passos acelerados. Meu rosto quente, assim como meu travesseiro, e todo meu corpo. A febre não havia passado. 

— PEETA! PEETA! — Stefan e Júlia gritava, então, acordei sobressaltado, logo me sentando na cama, esfregando os olhos. Eles estavam desesperados, e Layla inconsciente nos braços do irmão. 

— Anda, levante-se e vai! O palácio está sendo atacado, anda, vai! Levanta! — Stefan disse, me apressando, e o sono havia sumido. Imediatamente sai da cama, vendo que no relógio marcava 03:57 da madrugada. Podia ouvir com facilidade, mesmo que estivesse longe, as bombas e tiros, muitos, muitos, muitos deles. 

— O que? Pra onde a gente vai?! — Calcei meus chinelos, quase caindo, seguindo-os em passos apressados pelos corredores a fora. Júlia estava com um short curto e uma camiseta antiga, Layla com uma bermuda de pano e casaco, enquanto Stefan, com uma calça de moletom e camisa preta, como a calça. Todos tivemos nosso sono interrompido. 

— Para onde você vai. — Stefan me corrigiu, e nós três corríamos pelos corredores, que estavam sem guardas. Talvez para protegerem do lado de fora agora.

Ele estava na frente da irmã, entrando por cantos que eu não conseguia saber como foi memorizado, mesmo que o palácio alternasse conforme explorava-o. 

— Aqui. — O moreno puxou um vaso de flores azuis com brancas, que tinha uma aparência bonita, mas incomum. Um corredor foi revelado, depois de uma parte da parede ter afundado, então depois ela deslizou para a esquerda. — Rápido! Rápido! — Estava apreensivo, assim como Júlia, e um guarda surgiu no corredor, com uma arma enorme.

— Oh, é um Selecionado. Ande, entre logo, garoto! — Blanket estava escrito em seu broche de identificação, e parecia ser uns cinco anos mais velho que eu.

— Mas e vocês? — perguntei, virando-me para meus amigos.

— Nós vamos atrás de algum esconderijo disponível. Esse é o Abrigo Real. É o seu lugar certo. — Júlia disse. — Agora vai. Não se preocupe com a gente.

— Não! Vocês tem que entrar comigo! — Os puxei para dentro, e Layla já estava começando a se mexer, indicando que estava dopada, e eu podia ver o quanto Stefan não estava mais aguentando carregar ela no colo, mesmo que fosse pequena e magra, e o cansaço em seu rosto era muito claro.

Júlia estava com o nariz vermelho, tanto pelas lágrimas que queriam começar a escorrer pelos olhos como pelo sono. 

— Eles não podem entrar com o senhor, por favor. Ordens da Princesa e seu pai. — falou, suspirando.

— Ou eles entram comigo, ou eu fico aqui fora com eles. — Meu tom de voz era baixo, a prova de quão estressado eu estava. — Acho que a princesa não se agradaria se faltasse um Selecionado. — Dei um passo para trás, cruzando meus braços. — Não vou entrar sem eles três.

— O que você está fazendo é burrice. Nós vamos procurar um abrigo, senhor. — Stefan disse, acomodando Layla melhor em seus braços. — Não é como o do rei, mas é seguro.

— Eu não vou ir sem vocês! — Exclamei — Que droga! Vocês não podem ficar mais tempo procurando abrigo! — E as luzes acabaram. Alguém murmurou um palavrão com P, e logo lanternas foram acessas, e uma leve agitação no corredor.

Blanket! — Uma voz disse, e o dono era um ruivo baixo, mas a arma que tinha em mãos apavorava qualquer um. — Deixa eles entrarem! O pior que pode acontecer é a primeira elimina-lo, e esse é o Mellark! 

— Mas e a ordem! — Não estava sendo nada legal ouvir falarem sobre mim assim.

— QUE SE F A ORDEM, MEU AMOR! QUE SE F! — ele gritou, irônico, xingando, e me puxou, assim como Júlia, indicando com a cabeça para Stefan. — Entrem, é muito perigoso aí fora agora. — Nos soltou, para segurar melhor a lanterna, guiando-nos por um caminho estreito, sem portas, nem luz, já que tinha acabado, mas voltou assim que pensei que tinha acabado.

— Aconselho que não falem nada. — disse ele, aproximando-se de uma porta imensa, muito, muito, muito grossa mesmo, com mais sete guardas bem armados na porta. 

— Isso pode? — Um perguntou, franzindo o cenho, olhando na minha direção e dos meus criados.

— Se pode ou não, eu assumo toda a responsabilidade por não querer tê-los deixado pra trás. — respondi, sério, e bem decidido. 

— Boa sorte, senhor. — Desejou-me, como se eu estivesse indo para um abate. Talvez eu esteja, mas não é coerente que eu deixe para trás as pessoas mais próximas a mim para trás. 

Outro guarda. Meu Deus, são quantos desses aqui, hein?! Abriu outra porta, de madeira, que por si só nos protegeria, revelando então o abrigo, enorme, muito maior do que o meu quarto, mas precisei contar minha admiração pela mente de quem havia construído aquilo, pois os rostos aliviados de Effie, Haymitch e Finnick, tinham tomado por pura surpresa.

— O que vocês estão fazendo aqui?! — Effie ralhou, aproximando-se de meus amigos, passando direto por mim. — Não sabem que não é permitido que criados entrem? — Todos olhavam para nós cinco, embora não escutassem a briga que estava começando a se instalar. — Odeio fazer isso, mas peço para que sa...

— Eles não vão sair. Se os obrigarem a fazer isso, eu saio. — Não podia deixar que Layla passasse pelo corredor de volta, e revivesse os momentos ruins que viveu por causa da soberba de seus reis. Não podia deixar que Stefan e Júlia se arriscassem, protegendo a caçula. Onde está o senso humano nessa coisa toda?

Effie me olhou de forma tão grossa e negativa, que juro que me arrepiei totalmente, mas agi como se não tivesse acontecido. Mantive meus olhos dentro dos olhos azuis escuros dela, que era mais destacados sem um monte de maquiagem e extravagâncias.

— Arranje um lugar para se deitar. Agora. — Semicerrou os olhos, 100% desafiadora. — E vocês. — Deixou a voz em um tom normal, onde todos poderiam ouví-la. — Sirvam a família Real e os Selecionados. — Os três assentiram, abaixando a cabeça levemente, acatando as ordens. Não. Não está certo.

— Eu os ordeno que sirvam apenas a família Real. Os outros Selecionados, todos eles, podem se levantar e pegar por si sós o que quiserem já que deixaram seus criados para trás. — Aquilo saiu de mim de forma tão natural e séria, que ninguém ousava se mexer. 

Troquei um olhar com Effie, que estava furiosa por eu tê-la desacatado. Eu fui contra uma ordem dela. E não me sinto culpado. Seja a mudança que quer ser no mundo, Haymitch disse na aula passada, sobre algumas pessoas que marcaram a época. Bem, eu estou tentando ser o que quero ver: não aceitar se eu não concordo.

Finalmente fui para um lugar no canto, sem conversar com nenhum outro Selecionado, nem mesmo Finnick, pelos meus cálculos, faltava um de nós. Gale apareceu três minutos, e sua cara era um meio termo entre sono e susto, sem mais ninguém atrás dele, então ouvimos um barulho de algo grande se trancando. 

Logan estava um pouco elétrico, tamborilando os dedos no chão, quase sem conseguir piscar os olhos. Claustrofobia. Cato já dormia, sentado e abraçado a si mesmo, com a cabeça apoiada na parede. Finnick estava abraçado a um ursinho azul, com orelhas roxas, e dormia serenamente, com Gale ao seu lado. Suspirei profundamente, tentando dormir, e entender porque o rei, a rainha e Prim estavam dentro de um quarto privado, tentando compreender a razão de Layla estar lá a mais de vinte minutos. Estou aqui há quarenta minutos, sem ouvir nada, além das respirações baixas das outras pessoas na sala, enquanto Katniss conversava  com todos. Menos comigo. Nem me olhava.

Eu tinha duas certezas. A primeira era que eu sentia meu rosto arder, e meus olhos lacrimejarem para não arderem, de tanta febre, e meu corpo estava sentado por eu estar sentado em um cobertor, abraçado ao mesmo, e se não fosse isso, eu provavelmente já estaria deitado no chão. Mas nunca parei por causa de uma febre, e não vai ser agora que eu vou me entregar para isso. Não estou em minha casa, eu estou em uma encruzilhada, com todos com armas apontados em minha direção. E preciso me encontrar, antes que me perca. Estar aqui é estar enrolado em uma cobra, onde qualquer movimento ela vai te sufocar, e eu já estou no meu limite.

A segunda certeza era de que eu sairia da Seleção. Katniss iria me mandar para casa, definitivamente, mas eu vou muito feliz, por pelo menos usar minha voz para alguma coisa útil, que foi para evitar mais algum trauma para os irmãos que são meus "criados". Eu não os tenho dessa forma, tenho-os como amigos, e mesmo que não fossem. Não há diferença para um rei e seus empregados além da carreira que prestam. Todos nós devemos proteger uns aos outros.

— Um passeio no Jardim por seus pensamentos. — Eu estava quase dormindo no canto, longe de todos, por ninguém parecia interessado em me ter por perto. E eu não estava interessado em estar perto deles que são preocupados com o Distrito.

— Você vai me mandar ir embora quando? — Não abri os olhos, pois sabia que era Katniss, me olhando com seus olhos cinzas enormes e brilhantes.

— Você quer ir embora? — Abri os olhos, olhando para ela, que se sentou ao meu lado.

— Você quer me mandar embora? Porque eu estou muito feliz com todas essas coisas que o dinheiro me oferece. — Ela riu, fechando os olhos. — Demorou para vir até aqui.

Olhou-me curiosa. Sério, os olhos dela, as orbes, eram incrivelmente redondinhas, e pareciam maiores.

— Eu precisei ir na minha mãe e no pai para avisar o que tinha acontecido, que você havia trago três pessoas a mais. — Definitivamente, é hoje que eu vou sair. — Eles aprovaram sua atitude, mas em parte. — Suspirou. — Peeta, acontece que certos atos de bravura são confundidos por atos de rebelião. — Franzi o cenho, como "masoque?". Não faz sentido.

— Não foi um ato de bravura, Katniss. Nem de rebelião. Foi um ato humanitário. Você não sabe o que aconteceu a eles — Indiquei meus criados com um balanço na direção deles, que estavam na outra ponta, a que era a onde estava um armário com mantimentos suficientes para meses e meses ali dentro, desde comida a armas de alto porte.

— Peeta… — Suspirou — Você tem uma personalidade muito insistente. — Ri, cínico, balançando a cabeça em negativa.

— Que bela forma de dizer que eu não posso mais fazer parte da Seleção porque sou "ousado". —Ela segurou meu braço, forçando-me olhar para ela.

— Eu faria o que você fez. Eu admiro você e sua coragem. Eu quero você aqui, na Seleção, pelo máximo tempo possível. Mas precisa entender que nem tudo é como você acha que deve ser. Há regras que não podem ser quebradas ou desfeitas, senão vira bagunça. As pessoas se esquecem de serem gratas. — Fiquei em silêncio, pensativo, sem esboçar nenhuma reação.

— E o que sugere que eu faça? — perguntei, baixo, sem nenhuma vontade de debater. Eu estava tão inconformado, com tanta raiva, mas a febre tirava meu poder de lutar e discutir. — Eu não vou deixar eles para trás.

— Sei que não vai, em nenhuma hipótese. — Colocou a cabeça em meu ombro, visto que todos os Selecionados dormiam, ou estavam quase, o que eram apenas dois. — Mas precisa pensar que toda a atitude certa que toma, pode causar consequências negativas. Tome cuidado.

O silêncio se instalou entre nós, até que Júlia veio até mim, trazendo dois comprimidos e um copo com água, fazendo Katniss levantar o rosto um pouco, ao ver na mão da minha amiga um termômetro também.

— Por que ele vai tomar isso? — A morena ao meu lado perguntou, quando Júlia se ajoelhou, me entregando o termômetro, que coloquei na boca, jogando a cabeça pra trás.

— Quando saímos do quarto hoje de noite, para irmos dormir, ele estava com 39 de febre, Alteza. — Uma coisa que descobri, era que os criados que não fossem da família Real, não poderiam olha-lhos nos olhos sem permissão. Ninguém podia.

— Oh… — disse a princesa, surpresa. Ela estava aqui, do meu lado, e não sentiu minha temperatura alta. — Mas não lhes foi dada uma regra que não poderiam sair do quarto se o Selecionado não estivesse passando bem? — As bochechas de Júlia queimaram.

— Sim, Alteza.

— Eu os liberei. — falei, suspirando, tirando o termômetro que tinha apitado, dando minha temperatura com precisão. — Porque estava esperando que a senhorita fosse no meu quarto como o combinado. — Olhei para Katniss, que agora estava envergonhada.

Parece que o jogo virou, não é mesmo?

— A febre não quer abaixar. Irá ver a senhora Maggs quando sairmos daqui sem falta. — disse Júlia, em um tom baixo, por causa dos outros que dormiam. Estendeu-me os comprimidos, que tomei, querendo chorar por odiar ser dependente de alguém para essas coisas e por odiar remédios, mas tomei sem reclamar.

— Obrigado. — agradeci, sincero, e ela se limitou a apenas um aceno com a cabeça, pedindo licença, voltando para onde estava com seus irmãos.

— O que está sentindo agora? — Katniss perguntou, segurando minha mão, e eu olhei em seus olhos. Ela estava preocupada, como todos que são próximos a mim são para comigo e minha saúde. Eu gosto quando ela me olha assim, porque me sinto seguro com ela.

— Eu estou bem. — Era mentira, mas se havia uma coisa que eu odiava, era preocupar as pessoas ao meu redor. — Sério, eu estou me sentindo ótimo.

— Dessa vez, só vou fingir que acredito, porque não tem uma coisa que eu possa fazer para fazer sua febre diminuir, e eu quero muito o seu bem. — Tirou carinhosamente alguns fios que insistiam em cair em meus olhos, confirmando totalmente minha visita ao Salão dos Homens no Sábado e consertar logo isso.

— Obrigado. E me desculpa. — falei, realmente sincero. — Sei que te causei problemas, mas essa não é minha intenção. Juro. Eu só fiz o que era certo. — Balançou a cabeça tranquila, em negativa.

— Está tudo bem. Você ganha pontos infinitos comigo quando faz isso. — Acomodou-se melhor ao meu lado, e eu a ofereci metade do meu cobertor, fazendo-a sorrir. Era um bom lugar para ficarmos, pois os outros não viam muito bem onde estávamos, e dava exatamente para eu e ela sentados, abraçados a nós mesmos, com pouco espaço, suficiente para nos mexermos e nos ajeitarmos. — Esperou mesmo que eu fosse hoje no seu quarto? — Assenti. — Mas eu não tenho nada de especial para te contar.

— Nem eu, mas só para ver você mesmo. — As palavras escorregaram de forma totalmente sincera por meus lábios, e eu me surpreendi com elas. Sim, eu realmente queria apenas vê-la.

Senti que ela ficou extremamente feliz, como se ganhasse na loteria e pudesse mudar para um Distrito melhor.

— Não se empolgue, meu bem. Amigos gostam de ver uns aos outros. — Senti o seu sorriso morrer, e isso me fez segurar uma risada.

— Você está muito chateado comigo porque estou cheia de compromissos na semana, não está? Não era minha intenção deixar a nossa amizade de lado, Peeta. — Estava com um tom de voz realmente culpado, e eu não queria que ela sentisse isso.

— Não estou chateado por isso. Nada, verdade, por nada além de não entender porque não podemos trazer os criados para o Abrigo Real. Eu só estava me explicando, e acho que você deva ir descansar com seus pais. Dá pra ver o seu cansaço, e eu não sou o mais importante. Aproveito quando tiver na semana que vem, caso encontre tempo. - falei, querendo deixa-la tranquila quanto a nossa amizade.

— Se incomodaria se eu ficasse ao seu lado por mais pelo menos quinze minutos? Papai está com a mãe ajudando Prim a dormir, e Layla está ajudando-os. Eu não gosto de fazer parte desses momentos. Ah, e depois, ele vai me fazer concluir alguns gráficos dos orçamentos que eu não completei.Odeio economia. — Ri, divertido. — O que é engraçado? — perguntou, sorrindo para mim.

— Você e seu ódio a números.O que há de errado nos números, gráficos e reuniões escondidas de momentos família.

— Ah! — Escondeu o rosto com as mãos. — Eles só andam em círculos! Minha mãe consegue acalmar os Conselheiros, mas é difícil organizar os comitês. Eles são uns idiotas, eu acho, e pretendo mudar tudo isso em meu mandato. Meu pai sempre fica no pé dos investidores para mais dinheiro na educação, assim como a minha mãe. Ela diz que quanto mais dinheiro para a educação, menos dinheiro a ser investido em penitenciárias, e eu concordo com ela pelo menos nisso. Mas meu pai nunca é forte o bastante na hora de pressionar a retirem um pouco da verba de outras áreas que podem viver com muitas facilidade sem boa parte desse dinheiro. Eu fico furiosa! Como não estou no comando ainda, minha opinião é desprezada com uma facilidade tão grande quanto a areia da praia, embora sempre me escutem. Sou sempre posta para segundo lugar.

Ela deitou sua cabeça em meu ombro novamente, e por debaixo do cobertor onde nossas mãos estavam, entrelacei a minha com a dela, unindo nossos braços. Ela me parecia cansada.

O mundo dela era melhor visto por mim agora, como se o sol começasse a aparecer, e os vidros da casa fossem voltando ao normal. Como poderiam desprezar a opinião da futura soberana?

— Sinto muito, de verdade, mas pense pelo lado positivo: terá mais experiência, e não cometerá erros como ele, e já começará a mudar a partir daí.

— Bem, é isso o que me estimula a continuar em frente. — respondeu, suspirando profundamente, fechando os olhos.

— Sua mãe está no caminho certo, e você também, mas a educação não vai resolver todos os nossos problemas.

Ficou confusa, mas curiosa.

— Como assim? — perguntou.

— Se formos comparar a educação que você tem, para a de Cato, Marvel, Trevolt, Blaine, é uma coisa semelhante, embora obviamente você tenha estudado muito mais, sobre muitas outras coisas mais, mas eles não ficam perdidos nas aulas da tia Effie, e respondem tudo o que Haymitch pergunta com muita facilidade. A do Três, Quatro, Cinco, é um pouco inferior, mas dá para se localizarem depois de algumas explicações a mais, agora a do Seis, Sete, é uma tragédia. Não entendi nada até o terceiro dia de aula. Bons profissionais na educação fariam uma diferença gigantesca. E sobre os Oito? Nem tem casas decentes no Sete, lá muito menos. Se tivessem um pouco mais de investimento, faria toda a diferença, e eles ficariam motivados. — Eu não sabia se ela acreditava em necessariamente tudo o que eu dizia, mas sabia que compreendia porque era inteligente.

— Além disso, você já sentiu fome, Katniss? Não antes de comer, mas assim, digo, fome mesmo. Se aqui não tivesse nenhuma  comida, nada para que pudesse vender, nada para seus pais, e você pudesse pegar um pouco de gente que nunca nem sabe o que você estivesse passando, você o faria? Digo, se sua família não tivesse absolutamente nada, nada, nada, e sua família contasse com você? Qual seu limite para alguém que ama? — Ficou pensativa. Brigamos, tecnicamente, minutos atrás sobre os criados, e podia ver em seus olhos que não queria uma discussão mais séria.

— Peeta, eu entendo, mas… roubar é…

— Fecha os olhos. — Olhou-me um tanto aborrecida. — Por favor.

Ela os fechou, então esperei ela ficar com traços mais leves e calmos.

— Em algum lugar desse palácio, está o seu filho com o seu futuro marido. — Ela sorriu, e se, querer, como reflexo, apertou a minha mão, fazendo-a olhar para mim, pedindo desculpas.

— Olhos fechados! — Riu, voltando a posição inicial, fechando os olhos. — Esse filho depende de você. Seu marido está na rua, mas não poderá trazer nada, pois está endividado, e precisa trabalhar de graça para que não mate você e o filho de vocês. Ele precisa que o ame, pois a Seleção nunca existiu. Como se você caísse de paraquedas no meio de Panem, e esbarrasse nele, em um dia qualquer, e simplesmente fosse ele, o amor de sua vida. — Um sorriso surgiu em seu rosto. — Ele quer que você cuide dele, mas não se importa muito com isso. Vocês agora tem um filho. E se chegasse o dia em que você está sozinha em casa a mais de uma semana, esperando ele voltar do Recrutamente, mas nunca mais vai voltar, pois morreu, despreparado, e não tivesse nada, nada, nada em casa, seu filho estivesse soluçando de sono e fome, mas não consegue dormir, assim como você por causa da fome, e o barulho do estômago nem permitisse que você piscasse, e…

— Para! — Abriu os olhos, cheios de lágrimas. — Isso é o que acontece? — Assenti, infeliz. Era a realidade.

— Perdão. — pedi, vendo ela começar a chorar silenciosamente, e eu vi o incômodo em seus olhos. Era um assunto delicado, mas não imaginei que fosse deixa-la desse estado.

— Conte a verdade. Toda a verdade. — Ordenou. Secou as lágrimas com as mãos, e os traços de seu rosto eram bem decididos.

— Meu irmão quando mais novo foi açoitado em praça pública porque roubou uma maça. — falei, querendo me esquecer daquele dia, mas seus gemidos de dor que ouvi distantes, voltando para casa, eram altos demais para poder ignorar. — Sabe, a gente faz coisas que nunca imaginamos que poderíamos um dia fazer quando estamos desesperados.

— Ele tinha quantos anos? — O pavor em seus olhos era claro, com lágrimas pesando para cair.

— Nove. Foi quando eu resolvi abandonar a escola para poder trabalhar e evitar que isso voltasse a acontecer novamente. — Não consegui olhar em seus olhos, pois abaixei a cabeça e abracei minhas pernas, como se assim eu esquecesse o que aconteceu.

— Então, já sentiu esse tipo de fome também? — Eu não queria responder. Mas não tinha nada mais a fazer com o meu passado. Assenti.

— Eu já cansei de contar quantas vezes deixei de comer para que eles comessem. Eu e Amélia sempre fomos os que mais sofremos, no geral, para que até os nossos pais comessem. — O rosto dela ficou pálido como papel, e algumas lágrimas escorreram por seus olhos.

— Eu sinto muito. — falou, depois que ficamos um tempo em silêncio, presos em nós mesmos.

— Está tudo bem, Katniss. Sério. Agora está tudo bem. — Olhei para ela, segurando em seu ombro. — Eles estão sabendo administrar i dinheiro, e mesmo que eu saia hoje, nunca mais vai se repetir. — Não pareceu acreditar em minhas palavras. Estava assustada.

— Vejo você quando sairmos daqui. — E se levantou, indo quase correndo para onde seus pais estavam.

Um breve POV Katniss

—  Peeta, vamos? - A criada de Peeta perguntou, com uma lanterna em mãos, para o caso de acontecer algo, podermos diferenciar uns aos outros. 

— Sim, eu já vou, podem ir na frente. - assentiu, assim como o rapaz alto e bonito, que tinha nos braços sua irmã, Layla, eu acho, e ela dormia serenamente no colo dele. Eles foram, conversando, enquanto Peeta se encostou ao meu lado, na parede, com uma mão no bolso, enquanto outra segurava uma lanterna, assim como eu. 

— Por que ficou? - perguntei, confusa. Eu ainda estava pensativa sobre o que ele me contou ontem de madrugada, sobre a fome, e eu nunca tinha ouvido alguém de fora me dizer essas coisas. Todos aqui sabem que o Estado de Panem não é perfeito, mas também, não fazia ideia de que era tão falho. Não sei o que poderia fazer se fosse ele. Tenho 90% de certeza que eu o mataria por tudo o que seus pais haviam permitido que eu sofresse, mas não. Optou ser meu amigo. E bem sincero, eu podia enxergar em seus olhos, fazendo com que eu me emocionasse ainda mais, e abraçasse meu pai em meio aos soluços. Não foi a hora certa de contar, porém, na segunda-feira vou providenciar que nada mais disso possa acontecer novamente. Por Peeta. Pela família dele. E de todos que sofreram e sofrem sem meu consentimento.

— Porque eu queria fazer isso. - E beijou a minha bochecha, bem devagar, retirou os lábios, agora quentes pela febre que estava começando a ter, diferente de mim, que senti meu corpo esfriar, pois todo meu calor fora para minhas bochechas, fazendo ele sorrir. - Boa noite, Katniss. 

— Não! Espere! - Segurei na sua mão, talvez rápido e forte demais, mas deixamos de nos importar se às vezes parecíamos indiferentes ou interessados demais. E o abracei, sendo correspondida quase que imediatamente, sentindo seus braços ao redor da minha cintura, cercando-me apertado, me fazendo sentir uma segurança maior do que meu próprio pai me faz sentir. Me assustei por tamanha segurança, mas logo aconcheguei minha cabeça em seu peito, suspirando, fechando os meus olhos e sorrindo torto. 

Meus braços subiram por suas costas, e minhas mãos ficaram em seus ombros, para não haver nada entre nós dois. 

— Katniss? - Ouvi a voz da minha mãe, então imediatamente ele me soltou, assim como eu o soltei 

— Majestade. - Peeta fez uma reverência, ficando com as bochechas naturalmente rosadas, totalmente vermelhas.

— Senhor Peeta. - respondeu, sorrindo gentilmente. 

O QUE?

Minha mãe não sorri gentilmente! Ainda mais depois de doze horas no abrigo!

— Mãe, já estávamos de saída. - falei, dando um passo para a esquerda, mantendo uma distância de Peeta, para que ele não falasse nada na presença dela, e não venha passar por constrangimentos. 

— Não, está tudo bem... Aconteceu alguma coisa? Está corado, mas parece um pouco fraco... - disse ela - Vi que os criados te deram algumas medicações enquanto ficamos no esconderijo. - Eu não havia reparado nisso. 

— É que e-e-eu tive uma reação alérgica mais cedo, e o clima de Angeles é bem diferente do de White nessa época do ano... - explicou-se, segurando a borda da blusa do pijama, e eu sabia que ele estava envergonhado por ter sido pego no flagra comigo daquela forma. Foi nosso primeiro abraço. O primeiro mesmo. 

— É alérgico a mudanças climáticas? - assentiu - E a mais o que? 

— Mudanças bruscas no clima e chocolate, majestade. - disse, abaixando a cabeça, então fui para o lado da minha mãe. 

— Chocolate?! - Era nova para mim, e uma verdadeira novidade, porém a surpresa saiu dos lábios de minha mãe

— Sim, senhora. - ela sorriu, me empurrando discretamente, para o lado dele.

— Eu gostaria que fosse em meu escritório amanhã, depois da sua sessão com a dama Effie, está bem? - Peeta concordou, também, se negasse, poderia voltar para seu Distrito, ou para o Oito, já que se trata da Rainha. 

— Seria uma honra, Majestade. - Clara sorriu novamente, encantada com a educação dele, talvez. 

— Digo o mesmo, Senhor... Qual seu sobrenome? Decorei o de todos, menos o seu... - Vi que ele corou ainda mais, e eu o acompanhei, envergonhada. Era uma clara sessão de desfeita da parte dela, uma humilhação coberta com clara de ovo.

— Mellark, Majestade. - respondeu baixo, mas olhava nos olhos dela, me impressionando com isso. Notei que ele sempre olha nos olhos, nunca desvia o olhar. É admirável. 

— Boa noite, senhor Mellark. Foi muito bem hoje, mas espero que um ataque desse não o tenha assustado.

— Não senhora. - Peeta foi rápido na resposta, ainda olhando ela nos olhos, mesmo que com a cabeça um pouco baixa, e fosse uns três dedos mais baixo que ela. - Não me assusto facilmente. 

— Bom saber... - Ela o olhou da cabeça aos pés, e disse - Estarei o aguardando em meu escritório. Não tomarei muito do seu tempo. 

— Vossa majestade nunca toma meu tempo. - ela sorriu agradecida, com sincera gratidão e gentileza pelas palavras dele. 

Minha mãe se virou, e caminhou com dois guardas a seu redor, de volta para seu quarto. Quando pensei em ter tempo para falar novamente com Peeta, meu pai apareceu, com uma Prim sonolenta, pernas ao redor da cintura dele e os braços ao redor de seu pescoço. 

— Boa noite, Baby, e boa noite pra você também, Peeta! - disse sorrindo - Mas... - O sorriso no rosto do meu pai sumiu - Mesmo que eu não esteja olhando com meus olhos... - semicerrou os olhos - Estou de olho em vocês e no que fazem. - Sorriu de novo - Tchau. 

Eu e Peeta rimos quando ele se afastou.

— Seu pai nem parece que é rei. Ele é muito legal... - Olhou-me maliciosamente, cruzando os braços, e fechando um pouco os olhos - Baby.

— Oh, não! - ri, cobrindo o rosto - Isso passou despercebido por mim! 

Baby, baby, baby, ooooohhh! — cantarolou, puxando minhas mãos, nos sacudindo de um lado para o outro, fazendo nós dois sorrirmos - Passou bem apercebido por mim, Katniss. Vou te chamar assim eternamente.

— Não ouse, Meu Bem! 

— Parei. - Ergueu as mãos em rendição, me fazendo sorrir - Preciso ir.

— Tchau... - Acenei, e ele acenou de volta, se virando para ir de encontro com os seus criados e finalmente dormir, mesmo que seja 07 da manhã. 

Fiquei mexendo nas mãos, olhando para minhas unhas, na espera de Johanna, Madge e Annie, quando ouvi os passos leves de Peeta voltarem. 

— O que... - ele se aproximou com um sorriso, e se aproximou bastante. Pensei que fosse me beijar, pois nossas bocas estavam bem próximas, então ele se afastou 

— Eu tinha me esquecido da lanterna, perdão. - Eu ri, envergonhada, assentindo.

— Claro, a lanterna. - ele riu, me dando um beijo rápido na bochecha, para depois ir correndo para seu quarto, e quando as meninas chegaram, fui para o meu também, com o riso nos lábios, embora meus pensamentos de novas mudanças estavam a todo vapor. Há muitos males que vem para o nosso bem, com certeza.

Fim do POV Katniss

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam dessa primeira parte?



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