A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 15
A entrevista | A Seleção


Notas iniciais do capítulo

PASSAMOS DOS DUZENTOS COMENTARIOOOOOOOOOOOOOSSSS!!!! *Eu berrando animada, dando muitos pulos, quase chorando, rindo, com uma capa da mulher maravilha* OBRIGADA, MEUS CHUCHUSZINHOOOOOOOOOOOOOOSSSS EITA MAE! NOSSSA! OOOOOOOOOO! VALEU MESMO, QUINDINS!
Eu estou passando aqui super, super, super rápido, porque não sei se mais tarde vou poder postar, pois preciso comprar meu material, e minha irmã quer o notebook e o mac só pra ela, então, isso me impossibilitaria de postar o capítulo, já que pelo celular, não tem como colocar o gif e os links... Bem, acho que esse é o maior capítulo da fic! Mas acho. Eu queria postar de madrugada, mas como só estava com o celular, não deu, por isso, fiquei acrscentando mais coisas, corrigindo erros e respondendo comentários. Ainda não respondi todos, mas eu vou, em nome de Jesus, aproveitar essas férias para alguma coisa além de pesquisar mais cursos.
Muito obrigada mesmo pelos comentários, pelos favoritos, pelos acompanhamentos, e saibam que todos vocês são super bem-vindos, ok? Sério mesmo, vocês tem mudado meu humor durante o dia. Valeu mesmo pessoal, e eu dedico este capítulo a EverMellark! Nossa! Eu realmente não esperava já outra recomendação no 14* capítulo! Muito obrigada mesmo, eu amei, me emocionei, e este capítulo é para você!
Espero que gostem, mas com um desejo especial para a Helena Rodrigues, que me mandou uma MP um tempo atrás, com um pedido especial... não sei se ficou bom, tal parte, mas espero que gostem *sorriso torto* Biejoooossss!



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Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.

– Willian Shakeaspeare

– Boa noite, meus caros cidadãos de Panem! - Caesar colocou seu melhor e mais assustador sorriso, mas ainda sim, muito simpático - Bem-vindos a terceira oficial Seleção! - Houve uma salva de aplausos no estúdio, inclusive de todos os Selecionados, posicionados em cadeiras brancas, organizados em três fileiras, simbolizando as três fases dessa droga toda, e é óbvio que estou na última fileira, bem escondido atrás do Richard, um cara feio, medindo dois metros e alguma coisa bem mais alto que eu, mas pelo que sei baseados em boatos, que ele fala seis línguas fluentemente (uma delas o mandarim) e reza uma lenda que ele matou um cara que quis se casar com sua irmã três anos mais nova, com 17. Ele é um Dois, claro, e tem 20 anos.

– Tem alguma coisa no meu dente? - Brooks perguntou, mostrando-me as duas fileiras mais que perfeitas que são seus dentes, onde mais limpos, impossível

– Limpos como um diamante. - Ele sorriu e se virou, depois de me agradecer. Povo maluco.

– Nesta noite, minha amada Panem, conheceremos melhor todos os 25 Selecionados! - eu realmente me assusto com esse sorriso do Caesar, mas não é um sorriso falso, e sim simpático - Vamos começar com a nossa futura rainha, vossa alteza, princesa Katniss Everdeen! - Sorri sincero, assim como o pessoal, batendo palmas - Como vai, Princesa? Animada para o início oficial de A Seleção? - Caesar se sentou em uma cadeira giratória e moderna de frente/lado para Katniss, como um Talk Show, com o rei e a rainha em outro ponto estratégico do cenário dentro do próprio palácio. Prim não está presente, por motivo ainda desconhecido.

– Eu vou super bem, Caesar! - Katniss não parecia tão animada por ser filmada, porém seu sorriso era suave e gentil - Bem, ainda é extremamente assustador... - Endireitou a postura, suspirando assustada e feliz ao mesmo tempo - Mas é animador. Não gravei o nome de todos ainda, infelizmente, mas já temos apelidos e os reconheço de longe. Tipo... Gênio! - Ela apontou para o Blane, um cara maneiro e inteligente pra caramba, dizem por aí. Nunca falou comigo por causa do Cato.

– Olá, Dea della Saggezza - respondeu o moreno de olhos azuis como os meus, mas os meus olhos são mais lindos, sedutores, atraentes, brilhantes e azuis, é claro.

– Obrigada, Blane... - ela disse com um sorriso encantador nos lábios - Ele gosta de me chamar de deusa da sabedoria em italiano. - Eu infelizmente sabia que isso é verdade, pois é uma língua da qual minha mãe me obrigou a aprender quando tinha uns 10 para 11 anos. Não é porque uma parte do nosso país fala italiano, e sim porque ela acha agradável e plausível a seus ouvidos. Valeu, mamãe!

– Nossa... - Caesar disse sorrindo maliciosamente - Então, Blane, o que mais te chamou atenção na princesa? - o cara que estava justamente ao meu lado sorriu - Venha até aqui! - Nós aplaudimos, observando-o ir corando, mas sorrindo abertamente até uma cadeira ao lado de Katniss, e eles deram um abraço de amigo.

Pensei que só eu tivesse essa intimidade.

Bem... Nunca abracei ela. Não gostei. Dessa aproximação alheia.

Com esse pequeno gesto e demonstração de carinho e afeto, sentir minhas bochechas queimarem de raiva, ciúmes e vergonha, por nunca ter abraçado ela. Reconhecendo meu egocentrismo, abaixei a cabeça, olhando envergonhado para os dois lá na frente.

– Bem, a Princesa possui muitos pontos encantadores, e nenhum defeito. - disse embasbacado por ter sido o primeiro a ser chamado para estar ali.

– Ele se deu muito bem, não? - sussurrou Finnick, na fileira da frente para Gale, que assentiu - O que acha, Peeta? - Viraram-se para mim

– Eu vou querer saber mais sobre esse cara. - Meus colegas, mas opto por chamar de amigos, riram discretamente

– Alguém está com ciúmes, hein?! - Gale alfinetou - Mentira. É inveja. Todos nós.

– Definitivamente é inveja. - Eu não podia deixar claro que era ciúmes por Blane estar com tanta intimidade com ela, no sentido de ele também ser amigo dela!

Eles ficaram lá, rindo, conversando, e foram os Selecionados restantes, de acordo com seu número de Distrito, e é óbvio que fiquei para o final, com três minutos para falar, como todos.

Como estamos aqui a apenas duas semana, não há muito do que se falar uns dos outros e isso não é um reality show, bem, não na maior parte do tempo. Só um pouco. Fui no salão dos homens outro dia, para poder pegar um jogo, um jogo de damas, e fiquei ouvindo um monte de "clics" sobre mim. O que isso tem de interessante?!

Na semana passada, nós aparecemos, no entanto, apenas ficamos sentados, dando sorrisos quando a câmera se voltava para nós, ou seja, foi apenas para marcar presença.

– Algum apelido para ele? - Caesar perguntou divertido, quando me sentei ao lado de Katniss, um tanto receoso

– Esse é um amigo! - Katniss disse rindo - Sei muito bem o nome dele.

– Digamos que eu seja especial - Pisquei cúmplice para Caesar, que riu, como todos, mesmo que por parte dos Selecionados tenha sido forçado, por eles estarem morrendo de inveja. Parece que o jogo virou... E eu estou em grande vantagem.

Otários.

– Então, Peeta. Todos disseram o que a nossa querida princesa tem de melhor, mas e para você? O que ela tem de melhor? Quais são os pontos mais positivos na princesa? - Olhei para Katniss, que estava um pouco tímida, embora tenhamos saído duas vezes em uma semana, mas não pudemos noticiar nosso último passeio. Acho que ela sente vergonha de mim, de meu Distrito, e isso me tirou toda a coragem, e fez eu perder um pouco de vontade e ânimo, mas, como nunca pude expressar minhas opiniões nem dentro de casa, aqui não era lugar, obviamente, para isso, então, vesti minha capa de indiferença alegre, mas sem ser irônico. Isso é falta de educação.

– Ela não julga e muito menos separa os de Distritos inferiores, e esse é seu ponto mais positivo. - Sorri sem mostrar os dentes, nem parecendo falso, embora eu estivesse sendo friamente irônico - A humildade precede a honra, não é mesmo? - ele sorriu, assentindo, maravilhado com minha frase que foi a primeira coisa que passou por minha cabeça - Com isso, definitivamente sei que ela será uma excelente rainha. 90% dela é qualidade, e os outros 10%? Nada que não possa ser transformado em virtude para si. - As bochechas de Katniss ficaram em um tom vermelho escarlate, sabendo de minha ironia. Sinto-me melhor agora.

– Nossa, foram excelentes palavras, senhor Mellark. - Droga, dessa vez, quem corou fui eu, fazendo todos rirem da minha cara - Uma última pergunta... Posso fazê-la?

– Absolutamente. - ele sorriu

– Pelo fato de ser um Sete, o Distrito mais inferior na competição, onde a maioria é entre Dois ou Quatro, acha que possui menos chances que os outros? - isso fez meu sangue ferver, de forma extremamente negativa, e fiquei feliz por não estar segurando na mão de Katniss

– De forma alguma! - Caesar me olhou engraçado, não esperando a velocidade de minhas palavras, e vi o rei e a rainha se acomodarem melhor em suas cadeiras especiais.

– Então se sente superior a eles? - Os selecionados riram, com exceção de Gale e Finnick, que balançaram a cabeça em negativa, sabendo que isso era mais que uma competição para a mão da princesa, e sim um jogo para apaziguar as manifestações e diminuir de vez por todas os Distritos inferiores, como se nunca pudesse participar de algo como este. Irritado, embora já soubesse que seria assim, não pude deixar de ficar magoado com isso tudo. A rainha também riu, disfarçadamente, enquanto o rei a lançou um olhar de reprovação, fazendo-a adquirir uma expressão neutra. Mas eu sabia que ela se jogava no chão de rir dentro de si por pelo menos passar em minha cabeça que eu seja melhor que algum dos outros.

– Não. A questão, Caesar, e toda Panem, que o fato de você ser um Distrito inferior, não significa que tenha menos autoridade, educação, moral ou dignidade. - meu tom de voz foi bem sério, porém calmo. Não sou o tipo de pessoa que eleva a voz. - Eu não me sinto e não sou inferior a nenhum dos que estão aqui presentes, mas também não sou superior. Quem vê o número do Distrito, ou o valor de dinheiro que ela tem na conta, não consegue ver o que a outra pessoa tem no coração, o que ela pode te oferecer emocionalmente ou psicologicamente. Só se pode enxergar bem com o coração, porque o essencial... é invisível aos olhos. - todos me aplaudiram. Uns felizes pela minha resposta, e Gale assobiou, assim como Finnick e os de Distritos inferiores, mas outros me olharam como se eu fosse uma ameaça e precisasse ser eliminado. Talvez eu deva, mas enquanto estiver, defenderei minha antiga posição social. "Ninguém te humilha sem seu consentimento", minha mãe sempre disse, e é nisso que acredito.

– Perfeita resposta... - Caesar me olhou curioso, como se eu fosse uma nova descoberta, que devesse ser estudada para saber se faria mal ou bem para a sociedade - E esse foi Peeta Mellark, Distrito Sete! - E fui aplaudido, recebendo um aperto de mão firme do apresentador, e um abraço de Katniss, que sussurrou muito rápido "vou no seu quarto hoje", e sorriu forçado, assim como eu.

Voltei para meu lugar, depois que vi uma foto minha, tirada essa semana no telão e nem prestei mais atenção no programa, apenas me liguei que tinha terminado ao ver a bandeira de Panem no telão e que eu deveria voltar para meu quarto.

Voltei sem muitas empolgações, com minhas mãos no bolso, prevendo que meus criados, mas os chamo de amigos, vão estar me esperando com roupas leves, com coisa para tirar a bendita base que passaram em meu rosto pra tirar a espinha que nasceu junto a inexplicáveis outras nas minhas bochechas. Odeio a adolescência e seus hormônios desnecessários.

– Nossa, humildade precede a honra. - Julia disse anotando em um papel quando entrei

– Não! Não! Acho que a parte mais sinistra da entrevista, foi quando nosso futuro Rei de Panem disse! O fato de você ser um Distrito inferior, não significa que tenha menos autoridade, educação, moral ou dignidade. - Layla expressou-se

Quem vê o número do Distrito, ou o valor de dinheiro que ela tem na conta, não consegue ver o que a outra pessoa tem no coração, o que ela pode te oferecer emocionalmente ou psicologicamente. Só se pode enxergar bem com o coração, porque o essencial... é invisível aos olhos. - Stefan disse sorrindo - Acho que vou falar isso para Rue, que só quer saber dos guardas do palácio, o tal de Cambridge. - revirou os olhos, indignado

– Eles estão namorando, Stefan. Aceite. Eles realmente se gostam, e ouvi ela falando em... Casamento. - Layla contou, colocando uma mão no ombro do irmão, que a olhou chocado, e isso porque gosta de Rue, do tipo, acha ela interessante. Se ele estivesse apaixonado, provavelmente começaria a ficar em desespero, e se jogaria no chão.

– Mentira... - ele ficou tão "animado", que eu fiquei ainda mais "animado" do que ele, mais do que já estou depois da entrevista.

– Oooooooooo! - Julia disse batendo palmas - Animação! Peeta já dispara no gosto do pessoal do castelo! - revirei os olhos

– Eu não estou nada bem para com o povo - sentei na ponta da cama - Sai, daí, Stefan. - ele riu, se levantando, mas sentou perto de mim, assim como Layla, e Júlia na minha frente

– Isso não significa nada. - disse Júlia - O que importa é o que a Princesa Katniss sabe ao seu respeito, e o que sente.

– Ela não sente nada - arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços, fazendo pouco caso - Eu não quero mais ficar aqui.

– Mas... - Stefan tirou uma carta do bolso da frente - A princesa quer que conheça a irmã dela em... - olhou para Layla, que sorriu e continuou

– Um lugar especial para ela no castelo.

– A sala de música. Ou pintura. - Júlia disse - Elas fogem pra lá.

– Uhum - afirmou Stefan, com aquele sorrisinho, como se soubesse tudo o que eu não sei - Mas antes, quer ir pessoalmente com você em um lugar ainda mais especial.

Puxei a carta de sua mão, cínico, e os três riram da minha cara. Os ignorei e comecei a ler com atenção.

Meu melhor amigo,

Não vou escrever com mui formalidade, pois sei que não gosta disso, então, por essa mesma razão que comecei já com "meu melhor amigo", achou agradável? Se não acho, vou continuar chamando você assim, porque eu sou a futura rainha de Panem — sorriso convencido — e você um pacato selecionado que vai ficar bastante tempo ainda na Seleção.

Indo direto ao assunto, gostaria de convidá-lo para ir a um lugar especial fora do palácio comigo, se você quiser, mas se não quiser vai da mesma forma. Não vou contar aonde é, apenas que precisa estar pronto às seis e meia da manhã, para chegarmos lá às oito. Almoçaremos e tomaremos café por lá mesmo.

Depois desse lugar, voltamos para o palácio, tudo em sigilo, é claro, e então, olha que coisa maravilhosa, você vai ser o primeiro a conhecer a minha irmã Prim. Ela descobriu que tem irmãos mais novos... Não se preocupe com sua conduta, ou roupas, ela é super daora — Annie usa muito essa expressão para Prim. Está correto? — e gosta do meu que você em entretenimento. Não vou pedir para não me decepcionar, porque com certeza não vou.

Essa carta chega durante a entrevista, e não sei se poderemos conversar, mas eu vou aí meia hora depois que acabar.

Arrume-se, e prepare uma roupa de banho para amanhã.

Com carinho de sua única, nova e melhor amiga,

Katniss Evangeline Everdeen Snow, princesa de Panem.

— Esse é o nome todo dela? - perguntei rindo, sem me incomodar nem um pouco com o encontro

– Sim, Katniss Evangeline Everdeen Snow. E o da princesa Prim, Primrose Katherine Everdeen Snow. - respondeu Júlia

– O seu é Peeta Ryan Mellark, certo? - perguntou Layla e eu assenti - Vocês amam um nome composto, hein?

– É... Meu pai queria Ryan, mas minha mãe Peeta, e como ela estava grávida de gêmeos, pensou que fossem dois meninos, mas nasceu eu e Amélia, aí minha mãe fez aquele drama, que aguentou nove meses eu e a minha irmã na barriga, e perdeu a cintura, e ganhou peso, e precisou ficar de resguardo, o Peeta ficou na frente do Ryan. - eles riram

– E o nome da sua irmã gêmea? - Stefan perguntou, abrindo um pacote de biscoito de chocolate, dividindo com a gente

– Eu sou alérgico a isso, vou precisar de um Loratadina. Mas eu amo chocolate, então, me dá três - ele assentindo, e Layla foi logo pedir pelo telefone - Amélia Lawrence Mellark. Lawrence é o sobrenome da minha mãe. Ela quis tirar do meu, porque falou que ficaria melhor, mas... Não sei. - dei uma mordida sem educação, e continuei falando, vendo que eles comiam tranquilamente, sem se preocupar em pegar um guardanapo, e isso me deixou feliz - Stacy Lawrence Mellark, Amanda Sofia Mellark, Stuart Oliver Mellark, e finalmente, Benjamin Lawrence Mellark.

– Pensei que fosse Ben, apenas. - Layla disse sorrindo

– É como o chamamos, ele mesmo se chama de Ben, mas é Benjamin. Eu quem escolhi. - sorri orgulhoso - Odeio meu nome. - coloquei um biscoito inteiro na boca só de raiva, e eles riram, se divertindo com minhas reações - Meus pais não tem tanta criatividade, sabem? Mas então, qual o de vocês? - esfreguei os olhos, sentindo minha pele começar a coçar por causa da alergia, só que continuei comendo.

– O meu, é o mais lindo. Meu nome é Júlia. Júlia Miller Lewis. - jogou os cabelos - Apenas isso.

– Stefan Thomas Lewis e Layla Miller Lewis. Nossa mãe quis fazer uma homenagem a nossa avó na mais nova e mais velha. - explicou Stefan com um sorriso

– É, vocês têm nomes muito bonitos mesmo. - e ficamos conversando, vulgo fofocando, sobre os outros Selecionados nas entrevistas, e com certeza mais quatro deles seriam eliminados. Não sei por qual razão, mas me deixou extremamente animado. Não gosto da Katniss muito próxima aos outros Selecionados, a menos que sejam os meus amigos, porém, há um limite de aproximação também. Por que estou pensando dessa forma?

Conversa vai, conversa vem, e no instante seguinte, Katniss bate na porta do quarto, sendo atendida por Layla - Alteza... - todos fizeram a reverência, e ela apenas sorriu gentilmente, então ficou olhando pra minha cara.

– Já estávamos de saída - Stefan disse, pegando a bandeja com os biscoitos, e eu quase chorei por não querer que ele fizesse isso. Eu sou muito sentimental... Tenho que parar com isso.

– Tenham uma boa noite, pessoal. - Katniss desejou, e os três sorriram, desejando o mesmo, depois de mais uma reverência, se retiram, nos deixando a sós.

Me joguei para trás, depois de tomar o remédio para alergia - Por que está vermelho? Eu te deixo... Constrangido? - perguntou de forma engraçada, acho que estava tentando ser sensual, mas claramente não deu muito certo, porque eu desatei a rir da cara dela.

– Meu Deus do Céu, não tente ser sexy! - me sentei no meio da cama, com as pernas cruzadas, e pude vê-la se sentar na poltrona perto da cama, nos deixando frente a frente - Então?

– Então...?

– Então.

– Então?

– É, Katniss. - levantei as sobrancelhas e falei com um sorriso torto - Então... o que te traz aqui? - nos encaramos, então começamos a rir

– Ok, me desculpa, é que não capitei a mensagem oculta por trás do "então" - indicou com os dedos finos - Vou eliminar mais alguns Selecionados. - Quatro deles - Quatro deles.

– YEAH! - dei um pulo na cama, ainda sentado, fazendo-a me olhar confusa, mas com um sorriso.

– Oh... - corei - É que esse foi o meu palpite. Rick, Enzo, Carlos e Teddy? - assentiu, suspirando, tirando algumas de suas pulseiras, colocando-as sobre a mesinha ao lado da cama - Eles foram péssimos na entrevista.

– Não apenas isso. Teddy pediu para sair antes da entrevista, porque está com muita saudade de casa, e eu o dispensei antes disso, mas deveria ser depois. Já está arrumando suas coisas. Enzo não sabe falar com clareza, gagueja demais, Rick acha que é sedutor mexendo no cabelo a cada cinco segundos... - eu ri, pois também reparei isso nele - Carlos puxa muito meu saco.

"A princesa é perfeita, como se fosse de porcelana, sem defeitos aparentes, com certeza" - dissemos juntos, forçando a voz, porque ele tinha uma voz grossa - "Eu acho que ela é a mulher mais linda do mundo, mais do que a rainha, e seus olhos são como um furacão, mas eu não sinto medo de ser sugado pelo mesmo". - essas foram as falas dele, que repetiu em seus três minutos de entrevista. Nos entreolhamos e começamos a rir novamente.

– Que louco... - eu disse balançando a cabeça e tirando a gravata - Para onde vai me levar amanhã? Digo, de manhã? Antes de conhecer sua irmã que pensa no meu irmão mais novo? - ela sorriu, se sentando ao meu lado na cama, por seu vestido não ser pomposo, o que eu achei bem agradável.

– É um lugar que não se tem mais, senão aqui e em alguns poucos lugares na América do Sul. - disse - É provavelmente a coisa mais linda, ou melhor, lugar, que já viu na sua vida.

– Hm... Gostei. Gosto de lugares especiais. Se eu gostar...

– Levo um por um lá, também. - assenti, olhando para ela ainda, mas a mesma olhava para as mãos, como se tivesse vergonha disso - O que acha do Gale? E do seu amigo praiano, o Finnick? - ahhh, eu já sabia o que ela tinha: um coração flechado. Que droga. Ela estava se apaixonando.

Mas peraí.

Por. Que. Eu. Estou. Com. Ciúmes?

Por que eu não me sinto bem à respeito disso? Por que eu estou me perguntando isso? Por que eu continuo me perguntando?

– Ah, são os melhores da Seleção. Eles falam comigo, e não tem vergonha de mim por eu ser um Sete. - cruzei os braços, sério, e ela olhou para mim - Lembrei que deveria estar com raiva de você.

– Peeta... Me desculpa. Eu não sabia o que poderia dizer, você é o Distrito mais baixo que temos aqui, o que é altamente reprovado pelos Conselheiros. - disse suspirando, olhando para mim, e eu fiz o mesmo, me sentindo incomodado com sua presença no quarto dela, mas que temporariamente é meu. Nunca soube lidar com ciúmes de meus irmãos, e muito menos de Delly, só que quando se trata de minha amizade com Katniss, é definitivamente ainda mais intenso, pois há diversos outros caras querendo o que eu tenho: a companhia dela. - Você foi muito mais além que qualquer um pensou que iria. - completou.

– Estou aqui a duas semanas! Quanto preconceito! - levantei minhas duas mãos, um pouco assustado com quanto minha presença é incômoda.

– É... - fechou os olhos, suspirando - Eu fiquei sem jeito.

– Todo mundo percebeu. - Olhei para minhas mãos, assim como ela, sem saber o que dizer.

Ficamos em silêncio, não como um cara quase da nobreza, e futura rainha de um dos maiores países do que restou no mundo, e sim entre dois adolescentes que não sabem o que fazer e nem dizer. Somos dois jovens inexperientes, seja na amizade ou amor. Não é disso que passamos. Acontece que somos etiquetados desde o momento em que descobrem que nossas mães esperam um bebê.

– Eu te vejo amanhã? - quebrei o silêncio, sabendo que ela com certeza está muito mais cansada do que eu - Com certeza você vai estar horrível de biquíni. - ela riu, então pude notar que chorava - Katniss?

Ela passou as mãos nos olhos rapidamente, sentiu que eu tinha notado que chorava - Eu duvido que seja bonito sem camisa. - não sorri, por ter ficado de joelhos, tirando as lágrimas que ainda escorriam sem controle por seu rosto - Me desculpa, Peeta... - E começou a chorar pra valer, soluçar, se jogando nos meus braços, escondendo o rosto no meu pescoço - Eu preciso sair daqui, só por umas horas, e quero que seja com você, sozinha eu não posso, e nem sei se consigo. - Ela soluçava, e precisa apenas de colo, de uma pessoa que a entendia, mesmo que de forma um pouco diferente, e de palavras que tudo vai ficar bem. - Preciso de um amigo. Um amigo de verdade.

A coloquei em meu colo, como faria com Amélia, ou qualquer um dos meus irmãos, com exceção de Ben, que coloco ao redor da minha cintura, e me deito, pelo seu tamanho extremamente inferior ao meu.

Apoiei minhas costas na cabeceira da cama, e a trouxe para mais perto, fazendo carinho em seus cabelos presos em uma trança, até ela se acalmar, mas até que ela estivesse mais calma, senti meu coração bater mais rápido, e a respiração complicada, pois algo remexia dentro de mim, nos meus mais fundos sentimentos, e era horrível vê-la chorar e eu tão pouco conseguir fazer.

– Como aguenta a pressão de ter que cuidar de casa? - perguntou baixo, uns cinco minutos depois, com os olhos fechados, ressonando baixo, com os braços juntos, rente a barriga, para se acomodar melhor em meu abraço - Você tem mais cinco irmãos e pais com problemas sérios de saúde.

– Eu não sei. Pensar no melhor para minha família me faz ir em frente, sabe? - assentiu - Você não pode colocar toda a culpa em seus ombros. Se tiver que me eliminar, Katniss, assim o faça. Não precisa ficar se expondo para me poupar, sério. Eu vou para o D3, e arrumo um bom emprego para ajudar minha mãe. Você me faz eu me sentir extremamente mal. - ela era digna de 40% da minha sinceridade, por enquanto, e apenas 20% de confiança, mas quando disse que fico me sentindo mal, é verdade. Muita verdade. Eu sou o tipo de pessoa que quer fazer o possível para as pessoas ficarem bem e se sentirem confortáveis.

– E se for você o cara que eu deva me casar? - Eu não consegui responder essa pergunta, me calei, porque é muito surreal. Eu como rei? Impossível!

– Eu não vou ser. Talvez Gale, sei que as pessoas os idolatram, Finnick nem se fala. Eles são cultos, mesmo que não estejam no mesmo nível cultura que Cato, eles são inteligentes, simpáticos, e sabem o lado certo que deve começar a comer. Marvel tem suas palavras feias, mas sempre faz a gente rir. - Ela riu gostosamente, me fazendo rir junto - O que foi?

– Você é um bom amigo. - fungou, se afastando e limpando os olhos - Desculpa, molhei sua camisa.

– Ah, está tudo bem. Nada que um vento contínuo não resolva. - Ela sorriu, sem parecer se importar com os olhos inchados ou o nariz terrivelmente vermelho - Acho melhor ir, falta pouco para às nove da noite. Não sei se convém você sair do meu quarto a essa hora. - assentiu, se levantando da cama, aparentando mais calma, depois de fazer piada do meu vocabulário culto, e que estou no bom caminho.

– Não vai me levar até a porta? - perguntou colocando seus saltos, e eu neguei, com um sorriso

– Claro que não. Não tenho educação, e nem boa vontade de me levantar dessa cama maravilhosa, macia, e cheirosa. - ela gargalhou, provavelmente de eu ter pulado sentado, batendo ao meu lado - Sua gargalhada é ridícula. - Sorri, cruzando meus braços, e colocando uma canela sobre a outra, observando-a mexer no relógio que havia na cabeceira da cama

– Eu vou fazer você rir muito, então vamos ver quem tem a risada mais ridícula. - piscou, mandando beijo, e gente, ela não sabe ser sexy. Isso me fez rir alto, na verdade, eu só rio alto, de forma quase maquiavélica, e ela riu junto - Você vai acordar às cinco e vinte, arrumar uma roupa de banho, e pedir para seus criados buscarem sua comida favorita, e a partir dai, minha total responsabilidade.

Ahhh... - choraminguei - Me deixa acordar mais tarde.

– Não. - Se aproximou da cama, e arrumou meu cabelo, mas eu não fiz nada, só fiquei chateado por ter que voltar a acordar cedo, fazendo ela rir - Você vai amar o lugar que vou te levar. Olhou para o relógio, e sorriu, suspirando feliz. Ela estava chorando a menos de dois minutos. Soluçando, na verdade. - Bem, boa noite, Senhor Mellark. - arqueou uma sobrancelha, esperando o que eu ia dizer.

– Ah. Boa noite, vossa alteza real. - falei com um sorriso torto e ela sorriu de volta - Vou estar provavelmente dormindo quando você estiver penteando seu cabelo. - Ela os jogou para atrás dos ombros, mesmo que estivessem em uma trança embutida.

– Eu posso fazer um penteado legal e super elaborado, você não. - Pegou suas pulseiras - Agora eu preciso ir mesmo... - revirei os olhos, saindo da cama para acompanhá-la até a porta - Obrigada, Selecionado. - de deboche, peguei sua mão, e beijei a mesma, curvando meu um pouco

– Tudo por você, Princesa. - Ela corou, abaixando a cabeça - Ah, o que eu fiz de errado?!

– Nada, justamente isso. - Deu um passo à frente, e levantou as mãos, como se fosse me abraçar, mas deu um passo de volta - Dama Effie vêm te ensinando bastante, não?

– Quando não estou dormindo, aprendo algumas coisas, sabe? - assentiu sorrindo - Eu a chamo de Tia Effie. Vai lá, senão vai ficar mal para você. - Abri a porta, olhando para os dois lados.

– Vá dormir, e não se sinta mal pela grosseria das pessoas. - Tocou meu braço, e saiu - Esteja arrumado com decência! - sussurrou alto

– Vou tentar! - sussurrei de volta, fazendo-a sorrir, balançando a cabeça enquanto subia as escadas.

...

– Acorda! Acorda! - Uma voz dizia - Acorda, Peeta! São seis da manhã!

Virei para o outro lado, cobrindo a cabeça com um travesseiro, quase chorando - PEETA! - Júlia gritou, e alguém puxou meu edredom

– Que sacooooo! Inferno! - eu disse me sentando, batendo com força o travesseiro no meu colo - Droga! Acordei! - os três estavam de pé, olhando pra minha cara, então começaram a gargalhar. - O que foi?

– Seu rosto está todo vermelho, a bochecha marcada pelo cabelo, e o cabelo parecendo um ninho. - Layla disse, cobrindo a boca com as mãos - Desculpa, mas você acorda todo zoado. Bonito, atraente, mas muito zoado.

– Hahaha! - eu disse, sabendo que era verdade - Todo mundo fala isso. Sem contar minha voz ridiculamente rouca. - assentiram, rindo mais, precisando se sentar. - Ai que droga, maldição, dia do cão, inferno, maldito seja quem inventou o relógio com despertador.... - murmurei, falando essas coisa feias a caminho do banheiro, batendo o pé com ódio. Se existe uma coisa destrói com meu dia, é acordar muito cedo. Eu acordava às quatro da manhã nas segundas, quartas e sextas-feiras, pois trabalhava no D2, e é uma verdadeira jornada até lá, mesmo com ônibus. Nada, absolutamente nada, com exceção de Ben, me deixava com menos raiva nesses dias.

Tomei um banho com raiva ainda, e por isso mesmo demorei mais que o necessário, sem me importar com a água do mundo. A roupa já estava lá, e me vesti, mesmo que ainda estivesse com raiva. Pouca, mas raiva. Uma grande chateação e pouco ódio, é como eu defino precisar acorda a esta hora.

– Eu vou ter que usar isso por cima? - perguntei colocando apenas a cabeça e uma jaqueta pro lado de fora do banheiro, vendo que eles conversavam animadamente, enquanto arrumavam a cama, me deixando culpado. Como sou inútil.

– Sim, porque a princesa não quer que ninguém saiba. - assenti, fechando a porta novamente, e até que eu estava legal.

Com muito sono, mas bem legal.

Penteei meu cabelo de qualquer jeito, pois sei que a Katniss gosta das coisas certinhas, exclusivamente o cabelo, e como eu gosto de deixar ela irritada...

– Eu não vou levar nada, porque a gente vai voltar logo. - avisei vendo que tinha uma mochila com um edredom embaixo, e lanterna pendurada na lateral

Shiu! - Layla disse, fechando o zíper - Nós sabemos para onde irão, e vai precisar disso. Você não é fresco para comer, então tem um pouco de tudo.

– Tem pudim? - perguntei desconfiado, e ela sorriu

– Claro que sim. Para dois. - assenti, querendo ver o que mais tinha. Se tem pudim, acho que vou comer aqui mesmo...

– Não! É para vocês dois! Nada disso! - Layla interveio, me jogando a mochila, e quando ia falar mais alguma coisa, ouvimos duas batidas na porta, e só poderia ser Katniss.

– Atende lá! - sussurraram alto, me despachando com um sinal de pressa com as mãos.

– Olha quem resolveu aparecer! - Katniss disse sorrindo, descendo seus óculos escuros - Bem na hora, Selecionado. Seis e meia da manhã! - Olhei para o relógio na parede do lado se fora, e realmente, seis e meia. Mas... Mas...

Me virei para ver a hora no relógio do quarto, onde marcava sete e meia. Me acordaram mais cedo, eles me enganaram! Porém, não fiquei chateado, e sim feliz por saber que eles são pessoas que querem meu bem. Gale disse que seus criados o atrasam, e Finnick contou que os dele não se importam com nada.

– Ok, peraí, só preciso fazer uma coisa. - entrei novamente no quarto, vendo que eles sairiam logo que eu saísse, e falei, depois de abraça-los de forma coletiva e sincera - Muito obrigado, gente. - sorri e fechei a porta, estendendo meu braço para Katniss. - Para onde vai me levar, Princesa?

– Vamos em meus cavalos, Selecionado. Mas temos que ir por fora, pois se pegarmos o caminho mais curto, vão descobrir que saímos. - assenti, então fomos correndo para o estábulo, literalmente correndo, para não sermos notados, tirando risadas de quem nos via.

– SENTI SUA FALTA! - falei alto, passando as mãos no pêlo do Pirata, que reagiu com um pulo para trás, me fazendo sorrir - É bom que tenha sentido minha falta, porque eu senti muito a sua. - Dei-lhe uma maça verde, que descobri com os guardas aqui debaixo, serem suas favoritas. - Não, essa é minha. - Peguei uma outra para mim, e ele queria morder ela também - Nada disso, seu invejoso.

Katniss riu, mas não olhei em sua direção - Como aprendeu a andar à cavalo? Seu Distrito não era o Quatro. - Sorri

– Mas eu trabalhava limpando as piscinas nesse Distrito. De tanto olhar - Me virei para ela - A gente acaba aprendendo alguma coisa. Anteontem foi a primeira vez que montei em um para passear mesmo, antes fora apenas para guiá-los até os estábulos.

– Levei uns seis anos para aprender a montar em um. - Ri - E sete para andar sobre um. Vamos? Cookie e Pirata estão preparados desde às quatro da matina. - Assenti, achando cedo demais para eles, mas abri a portinhola, assim como ela - Apenas me siga, ok? - Concordei, sorrindo bobo para o cavalo, que queria a minha maçã - Dá pra ele logo, seu burro!

– Que droga! - Fingi raiva, e ela sorriu - Toma, Pirata. Porque você é um cara legal, mas eu só vou dar para o Cookie quando chegarmos seja lá aonde.

– Espero que me acompanhe desta vez - Em um pulo ela já estava montada no cavalo, me fazendo ficar olhando para ela igual um idiota, por não ter precisar usar uma sela, como as ricas do Quatro.

– Eu quem digo isso para você. - Pisquei, sorrindo debochado, fazendo-a dar a língua - Desde quando temos tanta intimidade? Para você ficar fazendo isso? - ela riu, depois que subi no cavalo, e começamos a cavalgar devagar, passando pela lateral do castelo, para nenhum outro Selecionado nos ver.

– Não sei, apenas me sinto à vontade com você. E você comigo. - Sorri, e ela sorriu de volta - Agora, vamos apertar o passo. - disse vinte minutos depois que estávamos longe do palácio, e assim o fiz, deixando-a na frente.

##

– OOOOOOOOOO! - Ela disse pulando de cima do Cookie, quando vimos algo incomum, pelo menos diante meus olhos.

– O que é aquilo? É água?! - perguntei sobressaltado, boquiaberto, saindo de cima do Pirata, que foi para o lado do outro cavalo, indo comer as maçãs na macieira que tinha ali perto, ao nosso lado.

– Sim! Água doce! - Katniss foi correndo, se livrando dos sapatos, depois soltou os cabelos, jogando o chapéu na grama, e tirou a camisa, pulando no rio, que tinha uma grande quantidade de água caindo de cima. Era de longe a coisa mais linda e perfeita que eu havia visto - É uma cachoeira! - Aproximei-me devagar, extremamente admirado com tudo isso, sem perceber que Katniss estava com apenas duas peças de roupa cobrindo seu corpo.

– Lá em casa mal tem água dessalinizada, quem dirá água doce. - falei rindo, cobrindo a boca com as mãos - Isso é tão lindo!

– Eu sei! - Saiu da água, vindo para meu lado - Sinistro, não?

– Absolutamente. - Eu não sabia o que dizer - Isso salvaria inúmeras vidas, sabia? O problema da geração são doenças nos rins, pedras, e a má alimentação.

– Sim... - suspirou triste - Eu falei com meu pai a respeito, mas nós não podemos fazer nada. Temos apenas essa cachoeira, e por isso vou abri-la apenas na Elite, quando somente três de vocês ficarem. É arriscado trazer todos aqui.

– Claro... Mas a água que bebemos e usamos no palácio...

– É dessalinizada, não usamos essa, porque não é justo que apenas nós tenhamos, não acha? - Desviei meus olhos da cachoeira, olhando para ela, e em seus olhos cinzas, refletiam a água cristalina que saía de um lugar desconhecido por mim. Os olhos cinzas dela estavam tão azuis quanto os meus, cheios de esperança e pureza - Quem sabe um dia? A água é um bem inesgotável, mas a doce é rara agora. Estava pensando em meu escritório outro dia, que poderíamos cavar uns vinte metros, bem raso, onde mais chove, criando, quem sabe, novos lagos, artificiais. Só para serem usados nos hospitais, então, se desse certo, aumentaríamos o tamanho.

– É uma ideia maravilhosa. - ela sorriu, e notei que seu sorriso era tão puro e sincero como o de Ben.

– Sim! Agora, vamos! Vamos! Tire isso e vem, tem um monte de coisa gostosa para comermos e eu tenho que te contar uma coisa importante. - E saiu correndo para buscar a sua cesta e minha mochila, enquanto eu discretamente observava sua cintura nada mais nem nada menos. Ela tem um belo corpo, e...

Verdade, preciso tirar minhas sandálias.

As tirei, e corri para ficar ao seu lado, fazendo ela sorrir, me abraçando, enquanto andávamos abraçados pela beirada da cachoeira, observando a água cair com perfeição e harmonia. Tudo que o homem faz, querendo destruir a natureza e reverte para bens próprios, é sinônimo de desgraça, mas o que ele reconhece e não altera, e sinônimo de perfeição, como essa cachoeira.

##

– Eu acabei de comer, não vou nisso. - disse me olhando preocupada, quando amarrei uma corda com força em uma árvore enorme ao lado da cachoeira, para a gente se pendurar e cair na água

– É seguro, sua maluca - falei rindo - Vamos! - negou, pegando mais um pedaço de empadão, que me fazia lembrar de Stuart e meu apelido estranho que ele me deu.

Uma dor no peito me fez parar de sorrir por um instante, por me lembrar deles, e que não os vejo fazem duas semanas e um dia.

– AAAAAAAAAAA! - levantou as mãos em rendição, colocando algumas comida na cesta, onde estava nosso almoço - Que seja! - E me empurrou, segurando na corda com força, depois de dar três passos para trás - AAAAAAAAAAAAAAA! - gritou quando a empurrei, para não parar no último segundo - PEETAAAAAA! - e caiu na água, se levantando ofegante, mas com um sorriso no rosto - AGORA VOCÊ VEM!

– MAS É CLARO, PRINCESA! - Sua risada fez eco, então, com um sorriso, dei alguns passos para trás, para pegar impulso, e deixei a corda me levar, então a larguei, e caí.

A água só poderia estar enfeitiçada, pois agiu de forma instantânea, indo mais fundo do que os cremes da Capital, separando tudo de certo e errado dentro de mim, me lembrando de quem sou e quem não posso ser.

Abri os olhos embaixo d'água, vendo peixes pequenos, que não assustavam nem um pouco e algumas plantas marinhas tão lindas como o sol, tão delicadas como a garoa, e tão vibrantes como um grito de alegria.

– Peeta! - Katniss me chamou, então tive que colocar a cabeça para fora d'água, encontrando-a sorrindo - Não é maravilhoso?

– A vista debaixo é mais bonita, mas... É perfeito isso aqui. - sorrir era automático. Olhei para a grande árvore ao lado, com uma corda amarrada, a grama viva, verde como um louva-a-deus, por estar perto o verão, enquanto na região onde eu morava, inverno.

Katniss estava me olhando ofegante, assim como eu, e seus olhos estavam nos meus olhos, mas desceram para minha boca. - Por que está me olhando assim? - perguntou baixo, e quase não podia ouvi-la por causa do barulho da água, mas como olhava também para sua boca, podia sentir o que ela dizia.

– Porque você me olhou assim primeiro. - Levantei os olhos, e ela me olhou com seus olhos cinzas puros, como uma nuvem, mas não me davam medo. Eu gosto de dias nublados.

A menos de um palmo de distância, onde se eu me inclinasse só um pouco poderia beija-la e vice-versa, e meu corpo nunca foi tão leve. Não podia tocar no chão plenamente, mas nunca estive tão inexplicavelmente certo do que estou fazendo, onde e com quem estou.

– Oh... - disse, olhando em meus olhos, mordendo os lábios. Seus olhos eram originalmente grandes, e nunca havia reparado nisso. - Sabia que a gente pode beber direto da fonte? Sabe nadar? Eu sei! - Percebi, obviamente, sua mudança de comportamento, e aprovei internamente isso. Ela está tão beijável...

– Como aprendeu a nadar se não tem piscina no palácio? - Sorriu, nadando devagar até um braço de distância de onde caia a água.

Fui aos impulsos mesmo, mas sem deixar ela saber que não sei nadar, pois nunca entrei em uma piscina, apenas as limpava, mas nem assim eu entrei em uma. Apenas com uma rede especial para apanhar as folhas e mosquitos habituais. Isso é tão relaxante... Posso entender a razão de Finnick odiar ficar dentro de um escritório.

Mergulhei, botando impulso para baixo, e abri os olhos, sorrindo. O mundo é muito bonito daqui. Peguei um peixe nas mãos para mostrar para ela, um muito bonito, acho que um peixe-palhaço, então, vim à tona rapidamente, em silêncio, observando-a atravessar por debaixo da fonte, parando em baixo de uma grande rocha dentro d'água, com espaço de sobra para a gente sair um pouco, mas as margens, protegidos naturalmente, sem precisar de árvores.

Ela estava tão encantada quanto eu.

– Aí, olha só o que eu achei! - falei mergulhando logo atrás dela, que não me escutou por causa do som da cachoeira - Katniss! - Ela foi logo subindo um pouco as rochas, sentando-se perto à beira, e com um sorriso, feliz por sua presença, realmente, levei comigo o peixe, mas ela ainda não tinha visto.

– Entre na água! - pedi, depois que o peixinho escorregou das minhas mãos, mas consegui pegar outro - Entre na água, agora! -Sinalizei a água, fazendo ela rir alto. Sai da cachoeira, me sentando ao lado dela.

– O que foi? - perguntou sorrindo, ofegante, jogando os cabelos para o lado esquerdo, me mostrando seu ombro desnudo pardo. Ela não pode fazer isso. E eu? Como fico?

Suspirei devagar, sem ela notar, pois admirava a água em silêncio, quando tive controle da situação, a cutuquei com o cotovelo - Olha isso. - Ela ria de algo que vira, e quando olhou para o peixe, ainda sorria, mas quando ele se mexeu, porque sentia falta de ar, seu sorriso sumiu, e suas pupilas dilataram, como se ela tivesse entrado em um lugar totalmente escuro. - Você está bem? - perguntei preocupado, colocando o peixe na água, que nadou como se tivesse passado mil anos sem respirar.

Suas bochechas começaram a ficar estranhamente vermelhas, assim como a ponta de seu nariz e orelhas, e ela fechou as mãos com força, assim como os olhos, e arranhou lentamente os pulsos na rocha, movendo os lábios, talvez formando palavras, mas eu não compreendo nenhuma delas.

– Katniss! - Fiquei preocupado imediatamente, mais preocupado, na verdade, e segurei suas mãos, abrindo-as, encontrando suas palmas brancas pela força.

– Não me toca! Não me toca! - Ela me empurrou com uma força tão grande, e me deu um susto, que eu caí sentado, por estar de joelhos. Mas o que está acontecendo aqui?

– Eu não fiz nada de errado! - Ergui as mãos - Não dessa vez!

– EU NÃO QUERO QUE VOCÊ ME TOQUE E NEM SE DIRIJA A MIM! - Sua voz foi tão forte, ela foi tão corajosa, tão intensa, que não me atrevi a dizer nada, apenas corei — e intensamente —, sem entender o que aconteceu, infelizmente. É alguma brincadeira? Tem uma câmera escondida aqui?

Ela se levantou, com ódio inexplicável, e saiu da caverna, me deixando sem quaisquer reação.

"Quando uma mulher disser para você não ir atrás dela, ou não a tocá-la, é para ir nela, e abraça-la, pois mesmo que não tenha feito nenhuma besteira, mulheres tem este direito. Entregue tudo o que tem, e se lembre que é o culpado!" Lembro da minha mãe gritar com o meu pai isso, e depois jogar as panelas na cara dele, pois ela mandou ele ir sem esperar e ela, e ele obedeceu, por estar com raiva também, e quando ela chegou, vendo-o colocar Ben para dormir, nunca vi ela tão vermelha de ódio, e nunca a vi gritar tanto, e meu pai ficar com cara de paisagem.

Voltei para a água imediatamente, atravessando com certa dificuldade por debaixo da cachoeira, e fui o mais rápido possível até a margem onde poderia subir e falar com Katniss.

Ela estava debaixo da árvore, sentada, abraçada as pernas, com uma faca nas mãos, passando por seus pulsos, parecendo inconsciente de suas atitudes, mas chorava, balbuciando coisas estranhas. Coisa com coisa.

– O QUE QUE ISSO?! - gritei sobressaltado, quase escorregando. - Katniss! Meu Deus! JESUS CRISTO! - Tirei a faca de suas mãos, notando o quão roxos e sujos de sangue estavam seus pulsos, deixando sua boca pálida. - VOCÊ TÁ MALUCA? PIROU NA BATATINHA?! - Joguei a faca para longe, sacudindo-a, e quase bati em seu rosto para trazê-la de volta a realidade, mas nem em tais ocasiões eu teria coragem.

– Me ajuda... Me ajuda... - Sua voz saiu sofrida, e soluçava, olhando para mim com dor, mordendo seu lábio inferior - Não estou aguentando.

– O que? Como?! Meu Deus do Céu! - Cobri minha boca com uma mão - Vem, eu vou te levar para o palácio de volta, e...

– NÃO! NÃO! - Sua mudança rápida de humor me assustou, e logo depois que berrou, melhor dizendo, começou a chorar sofrida. Eu nunca havia visto isso na minha vida. - AAAAAAAAAAAAAAA! - Ela berrou, fazendo doer meus ouvidos - ME SOLTA! ME SOLTA! - A abracei. Eu não sabia o que poderia fazer, mas sempre que eu sou abraçado, fico mais calmo, assim como meus irmãos e minha mãe. Meu pai e Amélia ficam mais calmos comendo.

– O que você está fazendo? - perguntou soluçando, com a respiração se normalizando, com sua cabeça repousando em meu peito. - Eu não sou normal.

– Ótimo saber. - falei ofegante - Quem é normal hoje em dia, não é verdade?

– Muito diferente do normal. Eu sou uma princesa. - Suas mãos pequenas estavam no rosto, sujando-o com o sangue de seus pulsos, que haviam escorrido, e meu tórax também estava sujo, muito sujo. Mas eu não me importo.

– Isso não é nada normal mesmo, mas é ainda mais anormal eu estar ao seu lado agora, Princesa.

Ficamos em silêncio, e ela tremia muito em meus braços, balbuciando coisa com coisa, e parava de chorar, mas de repente voltava a chorar com tudo, gritando em plenos pulmões, porém, não a soltei. Algo me dizia para segura-la e não soltar. Não soltei. Abracei-a ainda mais forte.

– Eu sou doente... Peeta... - disse soluçando, me socando, se debatendo com força, a ponto de me machucar - ME LARGA! ME LARGA! - Eu nunca tinha ficado tão assustado na minha vida, com ela ali, em meus braços - PEETA! AAAAAAAAAAA! - Ainda bem que consegui colocá-la de pé, e eu era cinco centímetros dignamente mais alto do que ela, impedindo que pisasse nos meus pés, e por ser magra, eu facilmente a segurava. - Eu... Eu... - E começou a soluçar, me abraçando. - Eu não gosto de você, porque está me vendo aqui agora. Prim. Onde está Prim. - Olhei completamente confuso para ela - Onde está a Prim, Peeta?

– O que?

– Eu estou me sentindo mal, preciso ver a Prim, ela não está bem. Eu preciso vê-la! Eu preciso, inferno! - Se debateu com força, então a abracei com mais força, apoiando meu queixo sobre sua cabeça, ouvindo-a chorar e balbuciar coisas confusas, muito confusas. Eu nunca tinha visto alguém assim em toda minha vida. - Você tem que me deixar ir. Eu não mereço seu tempo. - Quando disse isso, puxava os cabelos, e ao mesmo tempo tampava os ouvidos com as mãos, como se não suportasse os sons ao seu redor. Seu rosto estava em meu peito, como se fosse o único lugar seguro.

– E daí? - Não aguentei ficar encarando ela, pois seus olhos eram muito fundos, muito profundos e ao mesmo tempo sensíveis, grandes, como os de um bebê, só que atormentados. - Todos são dignos de tempo. Ainda mais o meu. Eu quem não sou digno de seu tempo.

– Eu sofro de bipolaridade desde os sete anos. - disse chorando em meu ombro, depois que eu me sentei e a trouxe junto. Ela se encolheu em meus braços, chorando alto, - E minha mãe disse que ninguém poderia um dia me respeitar dessa forma.

– O amor de verdade... - Tirei um pouco de fios de cabelo de seu rosto - Pode não concordar, mas ele respeita, suporta. Tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo mesmo, e a bipolaridade não é nada demais. Isso está na Bíblia, e eu acredito no que está escrito lá. Sei que você também.

Ela chorou ainda mais, chegando a me machucar de tanto me apertar.

– Há muitas rebeliões no Distrito 8... - disse baixo, depois de se acalmar - Mas perderam a força com a Seleção, mas já voltaram a ganhar força novamente, e pessoas do palácio infiltradas, porém não tão para saber a razão desses ataques, nos informou que tudo tem estado muito parado. Se não houver um casamento real em três meses, vão começar a matar. Já estão matando alguns mendigos e prostitutas, depois, moradores do Oito, então, quem estiver nas ruas depois das nove, e enfim, família dos Selecionados. - Minha família. Com certeza começarão por minha família.

– E o que pretende fazer? - perguntei, e embora estivesse extremamente preocupado com eles, o estado psicológico dela estava me assustando. Ela mudou drasticamente o assunto, e mesmo que eu não soubesse o que fazer, dar uma de egocêntrico realmente não era o ideal a se fazer. Eu faço isso muitas vezes ao dia, agora é hora de eu ser quem eu realmente sou: paciente e irmão. Não sirvo para outra coisa a não ser isso.

– Peeta... - Me afastei, sentando ao seu lado, olhando apreensivo para ela, com medo de que volte a se atacar - Os conselheiros disseram que preciso dar mais romance a isso. Eu sou muito seca, de acordo com eles.

– Isso significa que você tem que... - Não consegui completar, mas ela pegou o que eu quis insinuar, suspirando, infeliz.

– Talvez, em algum ponto da Seleção, mas no momento, querem que eu dê mais abraços em determinados Selecionados, de escolha deles, e até os... - Corou - Beije. - A cara que ela fez foi de tão grande nervoso e pânico, que não aguentei, caindo na risada, mesmo com a coisa toda - Qual o seu problema?!

– Nenhum, gata. - falei, pegando a minha mochila e buscando uma garrafa d'água, passando para ela, que aceitou. Mudei o assunto também, porque ela parecia altamente desconfortável com sua doença, que embora não seja comum, não foi uma escolha dela. Outrora conversaremos sobre isso, com certeza, e ela me explicará as razões para isso ter acontecido, mas eu a esperarei. Se fosse o contrário, eu odiaria que me interrogassem sobre o assunto. - Beijar não é um sofrimento.

– Mas eu... Eu... - Cobriu o rosto com as mãos - Não é fácil fazer isso!

– Ah, todo mundo pensa isso, mas depois que acontece, não pensa em mais nada. - Suspirei, ficando mais sério, por me lembrar de Delly e seus beijos, do quanto ela fazia o momento parecer eterno.

– Pensando na sua amada? - perguntou olhando para mim, e nem notei que estava mexendo com meus polegares e indicativos, em um movimento que deixa muitos nervoso, mas me ajuda a aliviar o estresse.

– Ela não é mais a minha amada. - Sem sentir, tinha feito algumas paredes caírem ao redor do meu coração, e dessa forma ela entrou, revirando tudo dentro de mim. - Ela é só uma parte do meu passado.

– Mas se a gente não trancar em uma caixa e queimar, jogando no rio, ele sempre volta atrás da gente, exigindo fazer parte do nosso presente e futuro. - Me virei devagar para ela, tentando saber quando e onde ela poderia ter vivido tal emoção, porém isso não importava. Ela estava certa.

– É verdade, infelizmente. Estou precisando fazer isso, mas não sei como. Você sabe? - Katniss me passou a garrafa com água, depois de beber um pouco, então eu bebi também, vendo-a brincar com um galho, quebrando-o aos poucos. Não sinto nojo nem raiva dela, mesmo que eu esteja sujo de sangue agora, nos braços e barriga. Quem se importa? Já até dividi um pirulito com ela!

– Queria saber também... Vamos fazer uma aposta. - Olhou para mim - Quem descobrir como fazer isso com seu passado, ganha um beijo do outro. - Ri, me divertindo com tal proposta. Não se pode fazer isso com o passado, é tudo uma questão de adaptação, então não vai acontecer. A menos que ela descubra a resposta.

– Eu aceito. - Sorriu, estendendo o indicativo.

– Toca com o seu indicativo também. - Toquei, e veio um choque através desse toque simples, fazendo nós dois rirmos - Eu preciso de bandagens para voltar para a água... - O seu sangue escorria até os braços, deixando uma cena de terror assustadora. - Pega para mim por favor?

– Claro. - Fui até Cookie, que dormia, e logo tirei uma maleta pequena de primeiros socorros, voltando correndo até ela, que estava deitada, com um braço cobrindo-lhe os olhos, e o outro repousado sobre sua barriga lisa, coberta por um maiô com uma rosa vermelha linda e aberta. - Está se sentindo melhor? - perguntei sem olhar para seu rosto, apenas limpando com calma e cuidado os seus pulsos, que sangravam pulsantes. Ver sangue me deixava nervoso, assustado, e era Stuart quem lidava melhor junto de Stacy em tais situações, enquanto eu e Amanda íamos andar pelo Distrito, de mãos dadas a Amélia, procurando um lugar para ficarmos passando o tempo mas sem gastar um centavo, porque não tínhamos nada no bolso. Sangue, pessoas doentes, mortes, definitivamente não é com um de nós três.

Mas sendo o primogênito depois de Amélia, já precisei resolver cada caso, dar cada ponto em meus irmãos sem anestesia, que fazia o caso de Katniss ser mediano para mim, mas coloco como o mais desafiador por sua forma psicológica de agir.

– Sim, acontece muitas vezes no mês. Mas não era para ter acontecido hoje. - disse baixo, suspirando

– Por que? - perguntei curioso, e ao mesmo tempo, preocupado ao extremo com seus pulsos. Estou dando meu melhor para estancar o sangue pelo menos até o palácio.

– Porque eu tomei todos os remédios, para ter a certeza de que não aconteceria nada hoje, e eu fosse normal. Foi nessa que errei, porque não posso tomar tudo ao mesmo tempo.

– Pra que ser normal? Muitas pessoas são normais todos os dias, durante toda a vida. - Coloquei o esparadrapo - Terminei.

– Ser diferente é perigoso. - Concluiu, olhando em meus olhos - Ser diferente é um perigo para o sistema.

– Não acho que esse seja o seu caso. Você só precisa ter que acordar mais cedo, e não pensar em se estressar, pois pode se matar, fora isso, tipo, você é linda e tranquila. - Ela sorriu, balançando a cabeça, olhando para o lado direito, vendo uma borboleta voar sobre nós com tranquilidade, mas essa era diferente. De um lado, preto com manchas vermelhas intensas, porém do outro, laranja claro com bolas azuis. Era especial, não uma aberração. - É você. - Eu disse, quando a borboleta pousou em seu indicador - É diferente, mas de forma positiva. - Katniss se virou, olhando para mim, e eu a odiei imensamente naquele momento por eu não saber o que se passava em sua cabeça. Ela tinha sido altamente treinada para não permitir que eu visse o que sentia, a menos que estivesse tendo seu ataque bipolar.

Ela se inclinou, sorrindo, e eu sorri de volta, quando a borboleta voou para longe.

Como o sol estava no topo, indicando o meio-dia, nós nos acomodamos debaixo da grande árvore, com lindíssimas flores violetas, e começamos a trocar ideias sobre o mundo, sobre os outros Selecionados, e ela me confidenciou que vai eliminar mais três.

– Serão 18, certo? - Fiz a conta, assentindo - Graças a Deus o número está diminuindo! - ri, balançando a cabeça - É estressante sair com esse povo todo! Eu nem sei o que conversar com eles!

– Mas sabe o que conversar comigoooo! - eu joguei os braços para cima, com um enorme sorriso, me colocando em 1º, 2º e 3º lugar em todos os requisitos, e se tiver o 4º, estou nele também, fazendo-a rir, jogando-se em meu colo, de barriga para cima

– É normal? - perguntei baixo, com o cenho franzido, confuso

– O que? - Ela tirava as pétalas de uma rosa, enquanto eu fazia carinho nos seus cabelos, me arriscando a trança-los, da forma que Amélia me ensinou a fazer no cabelo dela e da Amanda, que tem um cabelo até metade das costas, que não são muito fáceis de desembaraçar, muito menos manter o tempo todo solto porque é perigoso em nosso Distrito. Eu estava me saindo muito bem com Katniss e seus cabelos.

– Nós termos esse nível de amizade. Nos conhecemos fazem 15 dias! - Sorriu, olhando para mim, levantando-se, da cintura para cima, com uma mão no colo, e a outra do outro lado do meu corpo, de frente para mim.

– Eu te conheço fazem 18 dias, quando saí do estúdio, por exemplo, eu logo fui pegar as fichas. - Piscou para mim - Te conheço mais do que imagina. - Arqueei as sobrancelhas

– É mesmo? - Assentiu - Então me diga algo que apenas você saiba. - Cruzei os braços, com um sorriso torto, olhando-a de forma desafiadora. Sorriu confiante, fazendo seus olhos brilharem.

– Seus olhos mudam de cor, como as janelas de uma Igreja antiga no passar do dia. São caleidoscópio. - Franzi o cenho, sem saber o que é um caleidoscópio. - É um aparelho óptico formado por um pequeno tubo de cartão ou de metal, com pequenos fragmentos de vidro colorido, que, através do reflexo da luz exterior em pequenos espelhos inclinados, apresentam, a cada movimento, combinações variadas e agradáveis de efeito visual. Entendeu? - Balancei a cabeça em concordância, e disse:

– Não. - Ela riu

– Então, esquece. Apenas saiba que seus olhos mudam de cor, e são raros. Nesse momento, estão azuis-turqueza, por causa da água da cachoeira, somado a sombra da árvore. A cor normal e mais comum deles. Minha favorita. - Arqueei as sobrancelhas, realmente surpreso. Delly nunca disse algo assim para mim. Pensar nela, ainda dói, arde, com um gelo na barriga, mas Katniss sempre me faz esquecer-me dela, embora tenha vezes que eu as compare em minha mente, na forma de agir, tão opostas.

Os olhos do meu pai são idênticos aos meus, na tonalidade, mas nunca parei para pensar que pudessem mudar de cor, como os dele. Quando ele fica triste, seus olhos pegam uma tonalidade tão funda e azul, que me assustam. Quando está feliz, um azul cristalino esverdeado, e quando está em um lugar com luz ambiente, azul-turquesa, as cores de natureza, porém, se bater uma luz extra, o menor reflexo que seja, ficam cinzas, dependendo do ponto que observava seus olhos.

– Sério? - Assentiu com um sorriso sincero, sem mostrar seus dentes, dando um destaque para suas covinhas estranhas perto da boca, que formavam um parênteses.

– Precisamos lavar o corpo... - disse, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha - Mil perdões.

– Está tudo bem. - Sorri torto, sincero - Você está melhor?

– Com absoluta certeza. - Fez contingência e eu ri sincero - Mas não vou entrar sozinha.

– Vou com você, sem problemas. - Fomos até a água, empurrando um ao outro de leve, segurando um sorriso, até que ela me empurrou, mas fui mais esperto, e a abracei pela cintura, para cair junto comigo. Fomos cobertos pela água gelada, rindo, com os olhos abertos dentro da cachoeira. Tudo estava perfeito.

– Eu queria poder congelar esse momento, e viver ele para sempre. - ela disse, com os olhos intensos, talvez por causa da cor da água que corria a nossa frente, enquanto minha cabeça estava sobre a dela e a dela sobre meu ombro.

– Nós podemos fazer isso. - eu disse, vendo-a sorrir abertamente.

– Quando começa? - perguntou baixo

– Desde o momento em que passou a ser algo bom para você e para mim, ou seja, desde que chegamos. - falei, olhando em seus olhos, sorrindo torto.

Ficamos nos encarando, quando senti sua mão direita no meu ombro, seus dedos finos e delicados me tocavam com a ponta dos mesmos, com cuidado, e com isso, acabamos nos aproximando, como hoje mais cedo. Eu podia sentir seu hálito de morango com leite condensado pelo o que comemos no café da manhã, misturar-se ao meu, quando ela encostou seus lábios avermelhados e bem desenhados desde quando nasceu, nos meus. Eu sabia que isso ia acontecer, mas não intervim.

Sua boca quente encostou na minha, que estava gelada pelo medo ainda recente, correndo em minhas veias por causa dela.

Quando se levantou um pouco, minhas mãos estavam em suas costas para lhe dar suporte, e acariciavam sua pele que estava desnuda pelo maiô, mas imediatamente pararam o que faziam, como se congelassem.

Não durou mais que cinco segundos, mas foi suficiente para todos os últimos três anos anos e meus beijos com Delly virem me infortunar, como na noite em que cheguei, mas tudo isso em um milésimo, porque os outros segundos foram apenas para pensar em Katniss e no quão estranhamente certo isso soa. Não durou cinco segundos, mas foi suficiente para todo meu corpo se arrepiar e gelar, de forma positiva, acelerando meu coração, gerando uma nova sensação, nunca sentida por mim antes.

– Ai meu Deus... - Ela disse, ficando de pé, cobrindo a boca com uma mão - Me desculpe, Peeta. Eu não deveria fazer isso!

– Não, a culpa não foi sua. - cobri o rosto com minhas mãos, fechando os olhos, apoiando minhas costas na árvore. Ao menos eu fui sincero.

– Me desculpa, sério, por favor. - pediu - Eu nunca fiz isso antes, e não sabia o que fazer, me desculpa. - olhei para ela, que tinha uma mão na cintura, um pouco curvada, e a outra mão lhe cobria a boca.

Comecei a guardar as coisas em silêncio, eram poucas, e ela me ajudou, depois de se vestir com uma saída de praia com buracos que davam visão de seu maiô, chamando atenção para suas curvas, mas desviei o olhar. Vesti a regata que estava na mochila, sem expressar nenhuma reação. Observei ela subir no cavalo, corada por completo, e droga, eu comecei a reparar em seu corpo. Segui desde seu rosto fino, lembrando o de sua mãe, mas os olhos calorosos como os de seu pai e os cachos nas pontas, totalmente naturais, talvez de seus avós. Desci para os seios do tamanho certo, cintura não muito fina, era elegante, e um quadril largo, mas não muito, o suficiente para muitos garotos a quererem em suas camas (foi o que ouvi, não sou baixo a esse ponto), e sempre a aviso quem são eles, para ela logo eliminar os que faltam respeito para com ela.

Mas não era isso que fazia eu me sentir estranho, confuso, e com vontade de correr dela, era o seu caráter, pois ela é totalmente diferente do que eu poderia imaginar.

Apressei Pirata, que ficou sobre as pernas (me recuso a chamar de patas, porque ele é mais humano que muita gente), então acelerou, me fazendo sorrir, indo na frente dela. Não que eu a queira abandonar, ainda mais porque descobri algo que justifica o fato de seus olhos serem tão nublados como um olho de um furacão. Eu quero abraça-la. Eu quero...eu quero... Beijá-la? Eu quero cuidar dela? Sim, eu quero. Mas não. Eu quero e só posso ser amigo dela. Não sou adequado, minha família precisa de mim e Delly com seu novo namorado me machucam.

Delly terminou com você, e arrumou outro de Distrito maior ao seu, pensei, mas não fora suficiente. Eu ainda gosto da loira de olhos castanhos claros. Sinto falta dos beijos dela, e de suas mãos passeando com diversas intenções por meu corpo. Sinto falta de fugir de casa na madrugada, indo para a casa dela.

Lágrimas me vieram aos olhos, porque sou homem, e não deveria ser tão sentimental, mas acontece que homens também choram quando estão confusos ou preocupados. Somos todos feitos dos mesmos sentimentos, mas nós sabemos lidar melhor com eles do que as mulheres. Algumas vezes.

Olhei rapidamente para trás, vendo ela cavalgar com apenas uma mão, apressando o cavalo, que se divertia, mas não havia nenhum sorriso em seu rosto, nem no meu.

Não significava que não tínhamos gostado. Significava que não estávamos prontos para isso, e que a amizade é, sempre foi, e sempre será, a única opção para nós dois. Sabemos que sou a pior escolha para o trono e o coração dela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... foi um dos meus capítulos favoritos. Mas cabe a vocês decidirem. Muito obrigada por tudo, pessoal, eu os amo. Amo mesmo, por tudo!
Os Spoilllleeerrrrssss!
No próximo, na verdade, é bônus, mas, vou dar logo o do capítulo 12, narrado pelo Peeta, porque bônus é surpresa!
Música: KISS ME, ED sheeran *sorriso malicioso*
"- Sim? - perguntei, ao abrir a porta, e vi Katniss com um envelope nas mãos. - Pode entrar. - dei espaço para que entrasse, e assim ela o fez.

— Depois que a minha carta veio, eu obviamente me arrependi. Não posso e nem sei ficar de mal com ninguém. - virou-se para mim, mordendo lábio inferior - Me desculpa? A minha atitude foi precipitada, e eu não deveria ter te beijado porque você tem a sua amada ainda, e... - com meu polegar e indicador da mão direita, apertei suas bochechas ( http://cdn.atl.clicrbs.com.br/wp-content/uploads/sites/29/2015/09/949201645a552ed6021b078550e79365.gif ), para ela calar a boca, já que dizia tudo muito depressa.

— Fica quieta, cara. Meu Deus, você não fez nada de errado. - ela sorriu, com um biquinho por eu não ter largado seu rosto. - Gosto de você assim.

— Fachendo biquinhu? - se embolou na pronúncia porque eu apertei só mais um pouquinho, sem machucá-la, claro, porque suas bochechas eram cheias e macias, como as de uma criança, me fazendo sorrir torto.

— Não, eu gosto quando você não fala nada e me olha nos olhos. - ela corou, então eu sorri e sentei na beira da minha cama, observando ela mover seu corpo, com curvas generosas, coisa que notei ao vê-la sem todas essas roupas, apenas um maiô, mas totalmente proporcional a seu rosto e peso. - Eu já te desculpei. O que faz aqui? - Katniss estava com os cabelos presos em um coque alto, mas com uma mecha de cada lado do rosto, e exalava sabonete. Assim como eu, havia acabado de sair do banho, mas diferente de mim – óbvio – já usava roupas mais sociais do que as minhas. Eu estava mais para um mendigo bem vestido. Meu cabelo estava uma bagunça, porque passo as mãos no cabelo todo o tempo, e porque o tecido da camisa é fino, e uma bermuda com apenas dois bolsos na cor bege. - Gosto de você com a saída de praia. Posso ver melhor o seu corpo e as suas curvas. Essas roupas aí te deixam muito séééria - baguncei os cabelos nessa hora, na intenção de ser o oposto da última palavra dita, fazendo-a a rir - E velha."

AVISO: NO PROXIMO TEM BEIJO, NO PROXIMO NARRADO PELO PEETA! E vai ser bem quente *sorriso esperto* Mas nada do que esperam, eu acho, e vai ser um capítulo um pouco político, com Prim, e muita eu não sei ainda. Espero que gostem, e que essa primeira semana de 2016 tenha tido alguma emoção, porque pra mim só começa agora, já que vou ter que falar em uma festa de 15 anos da minha amiga (a mãe dela disse que sou boa com palavras... nossa! eu fiquei tao feliz! mas é claro que vou aproveitar pra levantar algumas coisas que vão comprometer a aniversariante) E eu vou ter que dançar BANG, daAnitta! *chorando* Bem, preciso ir, minha mae quase descobriu do site, e que eu escrevo, entao, beijos, e não escondam nada de seus pais! Ainda mais o que vocês mais sentem que sabem fazer de forma decente (no meu caso, escrever)
Tentarei voltar o mais rápido possível, mas não sei se consigo na semana que vem. Vou tentar, proemto, e muito obrigada mesmo! Amo vocês! :))



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