Liars and Killers escrita por A Lovely Lonely Girl


Capítulo 40
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Quero agradecer de coração a todos que estão lendo a história e estou infinitamente feliz que estejam apreciando a leitura. Este capítulo foi uma mistura louca de emoções de minha parte e tinha que parar um pouco entre partes para me acalmar. Eu nunca chorei tanto escrevendo um capítulo quanto chorei escrevendo esse, mas me recuso a dar spoilers.
Listinha de agradecimentos:
Do Wattpad: @fknalaa @MarinaBotelho5 @JliaCorradeOliveira @Mori-chan_Senpai @GabrielaDaCostadeAra @Kaypossamai @Ste_Kura @letciaa2
Do Social Spirit: @Sakusasu4ever @Junkerflower @VRB @gabrielaschwartz @capnimato
Muito obrigada por lerem a história.



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{Katherine Adams Kohls}

            Abri meus olhos lentamente, me sentindo estranhamente segura. Eu estava abraçada a alguma coisa macia e quentinha, e sorri de leve, me aninhando ainda mais àquilo. Quando a leve embriaguez do sono se dissipou, tomei consciência de onde estava, com quem estava e da proximidade dos nossos corpos. O peito de Loki se movia de maneira calma e constante, o que significava que ele ainda estava dormindo. Senti minhas bochechas corarem, no que eu estava pensando? Loki e eu nem éramos tão próximos para nos permitirmos um comportamento como aquele. O que diriam de nós dois?

            O deus da mentira havia se movido durante o sono, uma mão com os dedos emaranhados no meu cabelo me puxando para seu peito enquanto a outra rodeava a minha cintura e me puxava contra ele, como se ele não quisesse me largar. Eu havia adormecido com a cabeça em seu peito, porém também havia me mexido enquanto dormia. Eu estava de bruços, meu peito colado ao dele, meu nariz quase na curva de seu pescoço. Meu braço direito abraçava seu tronco e minha perna direita se enrolara em sua perna esquerda, como se eu não quisesse sair daquela posição nem em um milhão de anos. O que diriam de nós dois?

            Ergui cuidadosamente a cabeça para não acordá-lo e o observei dormindo. Seu rosto estava sereno, os lábios entreabertos se curvavam em um minúsculo sorriso. Bastou aquela visão — de Loki completamente relaxado e vulnerável, com uma expressão de sutil alegria — para que eu mandasse o julgamento de todos os outros para Niflheim, onde seriam devorados pelo Nidhogg. Sua mão que segurava meus cabelos vacilou e caiu na cama, porém, Loki continuava adormecido. Franzi os lábios. Há quanto tempo ele não dormia tão despreocupadamente? Ele também tinha pesadelos terríveis, como os meus?

            Devagar, soltei seu outro braço de minha cintura e desenrolei minha perna da sua, ele murmurou algo em protesto enquanto ainda dormia. Eu deslizei por debaixo das cobertas até o lado esquerdo da cama, estava pronta para ir, quando senti seus dedos se fecharem ao redor do meu pulso esquerdo. Olhei por cima do ombro, seus olhos recém-abertos estavam um pouco arregalados.

            — Fique. — Sua voz era um murmúrio rouco que fez com que eu me arrepiasse. Tentei não corar perante sua expressão. Não havia malícia ali, aquilo não passava de um pedido inocente. Como se ele estivesse em paz, até o momento em que resolvi me afastar dele. — Por favor. — Acrescentou o deus, como se eu fosse repreendê-lo por me dar ordens. Hesitei por um momento, incerta do que fazer. Resolvi fazer o mesmo que havia feito com o Henry para acalmá-lo. Me sentei mais ereta na cama, com as costas apoiadas na cabeceira, e indiquei meu colo. Loki também hesitou, provavelmente se questionando o porquê de ele ter feito aquele pedido estúpido. Ele não podia se mostrar vulnerável. Nunca.

            — Tudo bem. — Eu disse, e seus olhos verdes se voltaram para mim. Sorri de leve para ele. — Esse segredo também está seguro comigo. — Ele me dirigiu o que eu podia jurar ser um sorriso tímido antes de deitar a cabeça sobre as minhas coxas. Agradeci aos deuses pela camisola chegar aos meus joelhos, caso contrário, definitivamente me sentiria desconfortável. Os olhos do deus se voltaram para mim, se demorando em meu rosto. Tentei não corar, e, ainda meio incerta do que fazer, passei a acariciar seu cabelo de leve. Loki fechou os olhos, descansando suas mãos tranquilamente sobre o próprio torso.

            — Seria de muita estranheza se conversássemos sobre o que aconteceu aqui? — Perguntou Loki, a voz se estabilizando, deixando a sonolência de lado. Respirei fundo.

            — Suponho que sim. — Ele abriu os olhos, esperando que eu me explicasse. — Eu não... Quero dizer...

            — Você não consegue deixar de lado a sensação de que o que fizemos foi errado? — Eu corei, mas assenti, ainda hesitante. Um sorriso convencido surgiu nos lábios do deus, que deu de ombros. — Eu causo esse efeito nas mulheres mesmo. — Revirei os olhos para ele. Meus dedos percorriam seu cabelo suavemente, enquanto um encarava o outro. Eu não conseguia decifrar o que estava implícito nos olhos de Loki. — Nunca mais teremos momentos como esses, não é? — Havia um leve tom de mágoa e aceitação em sua voz. Como se ele quisesse lutar, mas a batalha já estivesse perdida. Meus dedos pararam de acariciar seu cabelo. Engoli em seco, pensando no que dizer. Não queria magoá-lo, mas também não queria enganá-lo com promessas vazias que eu não sabia se seria capaz de cumprir. — Assim como nunca a beijarei novamente. — Continuou Loki, e cada palavra sua fazia com que meu coração se apertasse mais. — Nunca haverá outra guerra de travesseiros. Nunca a terei em meus braços em outra noite. E nunca mais acordarei ao seu lado, nem admirarei a beleza de vê-la tentar domar os próprios cabelos em frente à penteadeira. — Um sorriso triste adornava seus lábios. Eu não sabia explicar o que estava acontecendo comigo. Estava ficando mais difícil da respirar, sentia lágrimas se formando em meus olhos. Loki segurou minha mão, a puxou até seus lábios e beijou a minha palma carinhosamente. — Não chore, minha cara. Não sou merecedor de suas lágrimas.

            — Eu queria que as coisas fossem diferentes. — Confessei, me recostando na cabeceira da cama enquanto tentava controlar meu choro. Loki se sentou no colchão e acariciou levemente minha bochecha, o sorriso triste sempre em seus lábios.

            — Obrigado por esses momentos, Katherine. Sempre os guardarei na memória, tenha certeza disso. — Balancei a cabeça:

            — Por que tem que ser tudo tão fodido? Eu quero ajudar. Nós podíamos reverter a situação, eu podia...

            — Não. — Cortou ele, com um olhar sério. — Você ainda não está envolvida nisso, não a deixarei sob a mira de Odin ou dos Vingadores. — Loki colocou delicadamente uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Você tem que se afastar enquanto ainda há tempo. Você terá um bom futuro, Kate, tenho certeza. Não permitirei que desperdice sua vida...

            — Não me diga o que fazer. — O olhei com raiva e mágoa. — Sei que quer me proteger do que quer que seja, mas começo a pensar que talvez eu realmente possa ajudar, Loki. Talvez... Talvez eu consiga ser útil, no nível dos seres mágicos. Você viu o que aconteceu com Jörmungand, viu o que eu consegui fazer na fogueira. Além do mais, eu já estou envolvida nessa merda toda, a começar pela SHIELD.

            — Jörmungand foi só um golpe de sorte. Quanto à fogueira... Katherine, você não faz ideia de como os Deuses Antigos agem. Eles não são confiáveis, especialmente o Destino e a Magia. E se, mesmo assim, quiser continuar envolvida nesse tipo de coisa, o mínimo que vai precisar é de treinamento. Nós dois sabemos que seu papel de recruta na SHIELD será fundamental caso ainda queira se aventurar nesse tipo de jornada. — Me levantei da cama, sentindo o sangue ferver em minhas veias. Em parte, porque sabia que ele estava certo. Loki respirou fundo, correndo as mãos pelo cabelo. Abri o guarda-roupa do outro lado do quarto e passei a escolher entre os vestidos que estavam ali. — Não temos outra opção, Kate. O melhor para você será se afastar de mim. — Me virei para o deus da mentira:

            — Sempre há outra opção. — Sibilei. — Talvez seja uma que não pensamos ainda ou que não dependa só de nós para surgir, mas sempre há outra opção. E se não houver, é aí que aprendemos a fazer a nossa própria sorte, Loki. — Voltei minha atenção aos vestidos, todos eram distintos um do outro. O deus se teletransportou para o meu lado:

            — Eu sei disso, Katherine. Como você acha que consegui sobreviver por todos esses anos? Eu sempre tive que achar uma outra saída, outra solução quando me via encurralado. Você não faz a mínima ideia do quanto as coisas podem piorar se continuarem nesse ritmo. E não estou disposto a arriscar a vida de uma mortal que não sabe nem lutar, nem usar qualquer tipo de arma. Não pode depender apenas da boa vontade do Destino, Kate. — Trinquei os dentes, me controlando para não começar a gritar com ele.

Tirei um vestido de veludo verde musgo do guarda-roupa e bati a porta com força. Dei as costas para Loki e segui para o banheiro, tranquei a porta rapidamente. Olhei para o espelho, minha expressão era puramente raivosa. Sem pensar duas vezes, escovei os dentes, me despi e coloquei o vestido; o modelo era elegante e com certeza havia sido feito para aquelas fêmeas altas e esbeltas que eram bem mais bonitas, espertas e poderosas do que eu. Alguém que Loki considerasse digna de seu tempo. Era um modelo de manga comprida, cujo comprimento era de cinco centímetros abaixo da bunda, um enorme decote em V que chegava quase ao umbigo. Olhei para o espelho. Pelo menos não tinha ficado tão ridículo quanto eu esperava. Lavei e sequei o rosto para espantar aquelas lágrimas idiotas e voltei para o quarto.

Segui até o armário com sapatos, escolhi botas de couro com saltos grossos que chegavam até a metade das minhas coxas. Loki me observava em silêncio enquanto eu me sentei na cama e as vesti, ignorando completamente sua existência. Se ele pensava que eu não valia a pena, já que eu não era tão bem-treinada quanto ele, eu não desperdiçaria meu tempo rastejando por ele; não quando nós nem sequer nos conhecíamos direito. Loki havia cometido um erro ao me levar para aquele lugar, ao me permitir ver o outro lado de si mesmo que ele mantinha escondido de todos. Ele havia me apresentado uma possibilidade de ter a minha vida dos sonhos — quase completamente livre de preocupações, onde eu teria liberdade para fazer o que eu quisesse, quando quisesse; e me sentiria completa e plenamente feliz cercada por pessoas que gostavam de mim. Quando terminei de calçar as botas e me levantei, Loki se colocou à minha frente, seus olhos faiscavam tanto quanto os meus.

— Eu já entendi tudo, Loki. — Cruzei os braços, ciente de meu tom de voz glacial. — Não vou mais incomodá-lo com meus argumentos vagos, tenho certeza de que vai encontrar alguém mais digno de seu tempo do que eu. — O deus da mentira franziu as sobrancelhas, olhos faiscando, dentes trincados e punhos cerrados. Sim, eu sabia ser uma babaca quando queria. — Não manteremos esse tipo de contato nunca mais. Como quiser, alteza. — O sorriso dissimulado que lancei ao moreno fez com que seus olhos faiscassem ainda mais. Loki segurou meu queixo entre seu indicador e o polegar e aproximou o rosto do meu, seu perfume impregnou minhas narinas.

— Não quero seu sangue em minhas mãos, Katherine. Por que não consegue entender isso de uma vez? — Me desvencilhei de seu toque e o empurrei de leve para longe de mim.

— Eu compreendi perfeitamente. Não quero prejudicá-lo ou atrapalhá-lo. Não mais do que já o faço, pelo menos. — Loki respirou fundo, tentando controlar o próprio temperamento. Ergui as mãos. — Não insistirei mais nessa mesma discussão, principalmente porque sei que nunca irei convencê-lo a aceitar a minha ajuda. Então, se prefere agir como um covarde e me afastar ao invés de assumir o risco de tentar algo novo, vá em frente. Só esteja ciente de que não é do meu perfil deixar ninguém para trás; nem o príncipe famoso e bem-sucedido, nem o fugitivo com a cabeça à prêmio. — Segui até a penteadeira, escovei o cabelo e fiz um rabo de cavalo alto; para mim já era tão automático que mal observei o reflexo do espelho. Coloquei brincos de argola prateados e o colar dos Quatro Astros Protetores, em seguida passei um batom vermelho-sangue matte na boca, que não sairia nem por milagre. Eu era o retrato de uma foto Tumblr, mas não me importei nem um pouco. Estranhamente, eu parecia ainda mais ameaçadora com aquela roupa.

Quando me virei para ir em direção à porta do quarto, Loki se teletransportou, os olhos em chamas pareciam engolir cada detalhe do meu rosto e da roupa que eu escolhera. Ergui uma sobrancelha para ele, tentando mascarar o quanto aquele olhar de desejo me afetava. Eu havia empurrado a responsabilidade da escolha para ele, mas minhas intenções eram bem claras. Cabia a Loki decidir se ele me aceitaria no meio daquele furacão, mesmo com a minha inexperiência em combate, ou se ele me mandaria de volta para a SHIELD, para ser treinada pelo Capitão América.

Para o inferno com todos esses malditos riscos. — Murmurou Loki, com a voz rouca. O deus da mentira puxou a minha cintura devagar até colar meu corpo ao dele, segurou o rabo de cavalo e puxou levemente para baixo, o que me fez erguer o queixo. Seus olhos estavam em chamas, assim como os meus; eu prendi a respiração quando ele aproximou o rosto do meu, a intenção selvagem estampada em seu rosto.

Seus lábios tocaram os meus, um gemido baixo e rouco pareceu escapar do deus da mentira, como se ele estivesse quase perdendo o controle. Coloquei minha mão atrás de sua nuca e o puxei ainda mais para mim; o coração disparado, a respiração quase arfante e a adrenalina que sentia percorrendo minhas veias pelo meu prévio momento de raiva parecia deixar tudo mais intenso. Loki abriu a boca assim que o puxei para mim. Eu estava cega pela raiva e ele, pelo desejo, quando um beijo selvagem se seguiu. Sua mão esquerda segurava minha cintura com tanta firmeza que sabia que o vestido ficaria amarrotado, sua mão direita havia enrolado meu rabo de cavalo em seu pulso enquanto nossos lábios se encontravam com urgência, de novo e de novo. Tudo o que eu sentia era ele, seu cheiro maravilhoso, seu toque ardente, sua boca macia encontrando a minha. Eu nunca havia sentido nada como aquilo antes, a urgência, o desejo queimando por dentro como labaredas gigantes, a sede por mais e mais... Loki interrompeu o beijo de súbito e encostou a testa na minha, me segurando mais firmemente. O modo como ele arfava, como seus olhos me encaravam, as pupilas delatadas com determinação e desejo... Engoli em seco, tentando me acalmar.

— Loki... — Seus olhos pareciam se acender ainda mais. Loki puxou meu rabo de cavalo para cima novamente com mais firmeza, e senti um arrepio estranho em meu ventre. Perdi o ar por um segundo e pressionei minhas coxas juntas. Um sorriso perfeito e perverso surgiu em seus lábios. O deus da mentira inclinou minha cabeça para o lado e correu preguiçosamente seus lábios pelo meu pescoço, até o lóbulo da minha orelha. Sua outra mão desceu devagar até a minha lombar, quase alcançando a minha bunda. Cada gesto seu parecia friamente calculado, Loki parecia mais do que satisfeito em prolongar o que quer que fosse aquilo. Seus lábios se aproximaram de minha orelha.

O que você quer, Katherine? — A rouquidão em sua voz era de tirar o fôlego. Meus sentidos estavam todos embaralhados e não responderiam ao resto do mundo. Tudo o que eu sentia, tudo o que eu queria naquele momento, era o deus asgardiano libertino que estava sem camisa bem à minha frente. Minhas mãos se aventuraram em seus cabelos, e puxei sua cabeça para trás, o olhando nos olhos. A energia que nos cercava era inflamável e perigosa. Sem dizer uma palavra, o puxei novamente para mim, beijando-o até que ficassem sem ar; suas mãos provocativas eram arrebatadoras. Eu queria mais dele, mais, mais...

Loki nos teletransportou aos pés da cama, me abraçou e jogou as próprias costas sobre o colchão. Durante a queda, ele riu, enquanto eu soltei um gritinho de surpresa. Ele se deitou no colchão me soltando totalmente e eu me sentei rapidamente. O deus respirou fundo algumas vezes enquanto eu o encarava com mais raiva do que estava antes. E frustração. Meu ventre doía levemente, eu o fuzilava com o olhar como se ele fosse o culpado daquilo.

— Por que você parou? — Questionei, nem sequer tentando esconder meu tom de voz frustrado. Seus olhos percorreram meu rosto, se fixaram em minha boca por três segundos e depois seguiram mais para o sul, para o decote do vestido que não havia ficado tão ridículo no meu tipo de corpo.

— Faz ideia do perigo que está correndo perto de mim vestida desse jeito? — Franzi o cenho, não abandonando minha raiva completamente. Ele se apoiou em seus cotovelos de barriga para cima enquanto me olhava, flexionando um pouco o abdômen definido. Seu sorriso perverso estava de volta, seus olhos se fixaram nos meus, para que não restassem dúvidas. — Tem ideia do que quero fazer com você, Katherine? Do que já me imaginei fazendo com você? — Fiquei atônita por um momento, no momento seguinte, senti minhas bochechas esquentarem. Em um movimento rápido demais para um ser humano, Loki me deitou na cama e ficou sobre mim, segurando meus pulsos sobre minha cabeça. Meu coração martelava sem cessar dentro do peito quando o vi daquele jeito. Meus olhos percorreram o rosto do deus da mentira, seus olhos brilhavam com luxúria e se deleitavam com minha visão e seu sorriso lascivo inabalável me fez suspirar. Seus lábios se aproximaram dos meus mais uma vez, eu tinha plena certeza de que Loki conseguia enxergar minha alma através daquele olhar profundo. — Posso beijá-la mais uma vez?  — Ronronou o deus da mentira, com a voz rouca que me desarmava completamente. Pressionei um pouco mais minhas coxas juntas, um desconforto crescendo cada vez mais em meu ventre. Eu queria mais dele, muito mais. Assenti levemente e fechei os olhos, esperando.

Senti seus lábios macios em minha barriga dois segundos depois, o que me fez arquejar em surpresa. Loki começou a beijar desde o limite do decote até meu pescoço. Cada toque de seus lábios macios me fazia arder ainda mais, desejá-lo incondicionalmente e infinitamente. Imobilizada por suas mãos e hipnotizada pelo seu toque, eu tentava não gemer com toda aquela provocação. Depois de beijar meu pescoço até o ponto que me senti relaxando de uma maneira leve e desconhecida, Loki tomou meus lábios para si mais uma vez.

Eu estava de volta àquele quarto com as paredes repletas de pôsteres de jogadores de futebol e beisebol, com troféus nas estantes e revistas ridiculamente masculinas escapando por debaixo da cama. O cheiro havia se transformado, antes era o frescor amadeirado do perfume de Loki, depois, se tornou aquele cheiro enjoativo de maresia que eu odiava. Não eram os lábios macios de Loki que me tomavam para si e me veneravam, mas os de Tyler, o hálito de álcool era característico dele. Eu gritava em minha mente, pedindo para que ele parasse, mas ele não o faria. Eu era um nada, uma alma encarcerada em uma gaiola de vidro onde ninguém conseguia me ver ou me ouvir. Kitty estava no controle, ela faria o que quisesse com o meu corpo.

Um grito de terror irrompeu do fundo da minha garganta ao mesmo tempo em que explodi em lágrimas. O homem que estava sobre mim — Loki ou Tyler, àquela altura eu não conseguia discernir entre os dois — se assustou com minha reação e se afastou de imediato, levantando-se da cama. Não consegui me controlar, tudo mudava aos meus olhos, presente e passado se confundiam em minha mente. Abracei meus joelhos e fechei os olhos com força, chorando compulsivamente. Meu corpo parecia se lembrar do meu trauma, como se todos os lugares que Tyler havia tocado estivessem com marcas permanentes.

— Eu não quero, Tyler! Eu não quero! Pare, eu imploro! Eu não quero, Tyler! — Eu via tudo. Seus dedos vacilantes pela embriaguez me despindo, seus lábios desajeitados querendo cada centímetro de minha pele exposta. Eu gritava exatamente as mesmas coisas que havia gritado em minha mente, enquanto não podia fazer nada, apenas assistir enquanto Kitty continuava exercendo o controle sobre meu corpo. — Não escute a Kitty, ela quer me machucar! Ela quer me machucar!

Eu apertava ainda mais meu abraço, tentando ao máximo afastar aquelas malditas memórias da cabeça. Mas tudo o que eu via eram os olhos castanhos sedentos pelo meu corpo, com aquela expressão que assombrava meus piores pesadelos. Não conseguia controlar o choque, nem as lágrimas. Senti braços finos abraçarem minhas costas, mãos pequenas e delicadas acariciavam meu cabelo.

Venha para o presente, Katherine. — Murmurou uma voz doce feminina. Abracei a elfa da luz assim que escutei sua voz, os sons guturais que saíam de minha boca se assemelhavam a uma presa morrendo lentamente implorando por misericórdia. Hunne Veliran me abraçava apertado, tentando me acalmar ao máximo. — Você está segura, Kate. Eu estou aqui agora. Eu lhe prometo, enquanto estiver em minha companhia, estará segura.

Ela me machucou, Hunne. — Eu soluçava, ainda chorando. — E-Ela me fez... Me fez fazer coisas que eu não queria. — Hunne me apertou contra si, como se quisesse me passar uma força invisível. Loki estava atônito na outra extremidade do quarto, pálido com os olhos arregalados.

 

{...}

Franzi o cenho para os meus dedos quando identifiquei anéis em formatos de bichinhos fofos e coloridos neles. Olhei para os meus pés, e havia pantufas também fofas no formato de dragões azuis neles. Eu usava um pijama quente, confortável e fofinho e estava enrolada em uma coberta felpuda com estampa de flores coloridas. Tirei o que quer que estivesse em minha cabeça, e me deparei com uma touca amarela com orelhinhas de gato. Observei meus arredores, e percebi que estava em um quarto enorme feminino, a maioria das coisas eram em tons pastéis calmantes. Pela decoração, eu poderia jurar que se tratava de uma adolescente viciada em coisas kawaii. Tudo ali gritava “fofura e conforto”. Eu estava deitada em uma cama grande e macia, com a criaturinha que Hunne acariciara na feira aos meus pés. O bichinho peludo não estava mais sujo, pelo contrário, cheirava a flores e estava com dois lacinhos cor de rosa tirando o pelo comprido dos olhos.

A criatura fez um barulho alto quando percebeu meu olhar curioso e se jogou no meu colo, balançando o pequeno rabinho de peixe. Ergui minha mão e aproximei cautelosamente da criatura, que se esfregou nela assim como os gatos faziam. Era dócil, então. A acariciei por algum tempo, sentindo meu coração se aquecer um pouco. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Houve uma suave batida na porta e o bichinho se aninhou em mim, lambendo a minha mão com a língua bifurcada amarela. Senti meu corpo ficar tenso. O que eles diriam de mim? Quem estava atrás da porta? Eles haviam descoberto um dos meus segredos?

Kate? — A voz feminina estava abafada pela porta. Meu coração pareceu se apertar, ao mesmo tempo em que me senti aliviada. — Está acordada? É a Sigyn... A Sage. Posso entrar? — Abracei a criaturinha alienígena, sem me importar se cresceriam nadadeiras ou chifres ou qualquer outra coisa em mim se fizesse aquilo. Era um bichinho peludo e fofo, exatamente o tipo de coisa que eu precisava abraçar naquele momento.

— Pode entrar. — Meu coração se aqueceu quando vi a familiar cascata de cabelos ruivos de Sigyn entrando pela porta. Ela usava uma calça jeans azul com botas de salto roxas e uma camisa verde-água que destacava seus olhos claros. Ela se aproximou da cama e se sentou ao meu lado, segurando meu rosto em suas mãos. Seus olhos esquadrinhavam meu rosto meticulosamente, seu jeito protetor de sempre me fez sentir um pouco melhor. Sigyn se inclinou para frente e beijou a minha testa, suspirando de alívio. Deixei o bichinho de lado. A ruiva sorriu para ele:

— Bom trabalho, Damien. Agora eu assumo daqui okay? — A criaturinha soltou um som parecido com um latido e saiu correndo pela porta, o que me fez sorrir de leve. A deusa da fidelidade olhou nos meus olhos, sem dizer nada. Eu estava preparada para mais um de seu sermões, com ela me questionando sobre onde eu estava com a cabeça por ter ido para um lugar desconhecido e se eu havia enlouquecido de vez. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. — Estou feliz que esteja segura, Kate. — Aquilo foi tão fodidamente inesperado que a encarei em silêncio, sem a mínima ideia do que responder. — Estou feliz que tenha feito uma nova amiga. E estou feliz que tenha se aventurado em um lugar tão maravilhoso como esse. Mas, acima de tudo, estou feliz que você tenha coragem de aproveitar a vida, sem nunca deixar que aqueles que querem te machucar saiam vitoriosos.

Eu sentia mais lágrimas caindo dos meus olhos, mas não eram de dor ou de medo. Eram de alívio por ouvir aquelas palavras de alguém tão importante para mim quanto Sigyn. A ruiva me abraçou, depositando beijos em minha cabeça e acariciando minhas costas.

— Eu sinto muito...

— Não precisa se desculpar por nada, entendeu? — Ela se afastou um pouco para me olhar nos olhos. Limpei minhas lágrimas nas mangas compridas do pijama fofo. — Eu sempre soube que você seria uma grande aventureira, sabia? Só não te contei porque não queria que isso te deixasse ansiosa demais. —  Sorri de lado para a deusa, que continuou. — É sério. Estou muito orgulhosa por saber que sua primeira grande aventura foi bem-sucedida. Você até que leva jeito para a coisa. — Ela me lançou uma piscadinha e os cantos da minha boca se curvaram para cima.

Eu já estou indo, Damien! Deixe-as conversar primeiro! Damien!

Ouvi um rosnado baixo vindo pela porta, ergui as sobrancelhas com a visão. Damien estava praticamente arrastando Hunne enquanto rosnava, mordendo a barra da calça da elfa da luz e a puxando para o quarto. Quando ela atravessou a porta, Damien entrou correndo e pulou para o meu colo mais uma vez, olhando de mim para Hunne, como se ele a tivesse trazido de presente para mim. Acariciei atrás de suas orelhas com um pequeno sorriso. As orelhas pontudas de Veliran estavam vermelhas.

— Me desculpem, me desculpem! Eu já ia sair daqui... — Sigyn abriu um sorriso gentil:

— Fique, Lady Veliran. Afinal, a senhorita ajudou a minha melhor amiga. Sou muito grata por isso. — Veliran balançou a cabeça:

— Pode me chamar de Hunne, Lady Sigyn. Meu título ficou para trás assim que deixei meu Reino.

— Estamos na mesma situação, então. Pode me chamar de Sigyn, Hunne. — Ambas assentiram em consentimento enquanto eu olhava de uma para outra.

— Só eu que não tenho um título aqui? Vou ter que conquistar o meu próprio? — Ergui uma sobrancelha de brincadeira, os olhos de Hunne brilharam e Sigyn sorriu com alívio quando percebeu que eu estava me recuperando. Hunne seguiu para o outro lado da cama e se deitou ao meu lado. Pegou a touca amarela com orelhas de gato e colocou na própria cabeça. Seu cabelo rosa combinava perfeitamente com a touca.

— Eu estava pensando em um título de guerreira para você, mas “Katherine, Intérprete de Jörmungand” me pareceu meio tosco. — Eu ri de leve, ainda acariciando Damien. Ouvi passos apressados vindo pelo corredor, Loki se aproximava cada vez mais do quarto com uma expressão de preocupação, estava pronto para começar a questionar... Quando a porta se fechou na cara dele. E a chave virou, trancando-o para fora. Sigyn estava com a mão levantada, a aura azul de sua magia delatava que ela quem trancou o deus para fora do quarto. Eu sabia, do fundo do coração, que Loki ficaria fora do quarto. Fui mais para o centro da cama, a ruiva se deitou do meu outro lado. Um pacote do mesmo doce que eu havia comprado na feira surgiu nas mãos de Sigyn e ela o estendeu para mim. Aceitei um punhado e os coloquei na boca, Hunne fez o mesmo que eu.

— “Katherine, A Tagarela”? — Sugeriu Sage, e mostrei a língua para ela.

— Que tal “Katherine, A Ofidioglota”? — Perguntei, e Veliran franziu o cenho:

— O que é um ofidioglota?

— É de uma saga de livros midgardianos. — Explicou Sigyn. — Acredite ou não, eles falam bastante em magia. Tem até filmes e...

— Um ofidioglota é alguém que sabe falar a língua das cobras. — Sorri, colocando mais um pouco de doce na boca.

— É ISSO! — Berrou Sigyn. Hunne e eu pulamos de susto, Damien soltou um gritinho. Sigyn começou a fazer gestos rápidos com suas mãos, os olhos concentrados azuis intensos pela aura de sua magia. Em menos de cinco minutos, tinha uma televisão instalada na frente da cama. Ela abriu um grande sorriso. — Vamos maratonar Harry Potter! — Hunne franziu o cenho de novo.

— Vamos assistir a todos os filmes da franquia. — Expliquei. A elfa da luz deu de ombros assentindo.

— Tudo bem, sem problemas. Eu assisto filmes o tempo todo. Aposto que vou gostar de assistir. Além do mais, vai ser bom ir para Midgard já sabendo alguma coisa.

— Loki e Kalandur podem entrar? — Perguntei à Sigyn. A asgardiana e a elfa se entreolharam, me avaliando discretamente. Acariciei a barriga de Damien. — Eles podem ficar deitados aos pés da cama, sabe. Não quero excluí-los de uma sessão cinema. — O olhar de Sage se tornou gentil. A ruiva pegou seu celular e passou a digitar furiosamente. Em cerca de dez minutos, uma batida leve se seguiu na porta. Hunne pulou da cama e a destrancou, abriu um sorriso quando viu quem estava ali fora. Loki e Lonyr entraram, o elfo da luz ainda parecia confuso por sua presença ter sido requisitada. Duas poltronas reclináveis surgiram, uma de cada lado da cama. Lonyr abriu um armário e passou a distribuir cobertas enquanto Loki fechava as cortinas para deixar o quarto mais escuro. Uma bola de pelos preta pulou em cima da cama e miou, os enormes olhos verdes fixos em mim.

— Tomei a liberdade de trazê-lo comigo. — Disse Sigyn, chamando o gato Loki para mais perto. Ele e Damien se encararam um pouco, mas, curiosamente, passaram a ronronar um para o outro. Lonyr se sentou perto de Hunne, murmurando algo sobre ter que adiar seus planos de reler os votos da nova Sacerdotisa da Lua Cinza. Loki se manteve em pé, me observando por um momento. Eu sorri levemente para ele. — Sente logo, eu quero começar o filme! — O deus da mentira fez uma careta para Sigyn, mas se sentou na poltrona que estava ao lado dela. Todos se cobriram. O gato Loki correu para o colo do deus da mentira. Uma nuvem suave branca surgiu na frente de cada um de nós, logo, uma espécie de bolinho assado coberto de açúcar surgiu.

— Cortesia da minha padaria favorita. — Informou Lonyr, ainda meio desconfortável. Sage iniciou o primeiro filme, Harry Potter e a Pedra Filosofal. Foi um dos melhores dias que eu passei ao lado de todos eles.

{Loki, God of Mischief}

Por exatos quatro segundos, eu consegui ler a mente de Katherine. Por exatos quatro segundos, eu compreendi o quanto ela estava quebrada. A lembrança era tão vívida quanto o presente, o rosto jovem do adolescente que a molestara havia surgido em sua mente. Por exatos quatro segundos, ouvi seus gritos mentais, enquanto outra pessoa exercia o controle sobre o corpo dela, deixando que o abuso ocorresse. O fato de que eu havia conseguido ler a mente dela, mesmo que por tão pouco tempo, e vira aquilo, fora tão chocante que me afastei dela, sem saber o que fazer enquanto ela chorava e gritava agarrando-se ao seu corpo, como se quisesse ter certeza de que sua própria mente que o controlava.

Quando percebi o que acontecera, o que ela havia visto, pensei em todas as pessoas que poderiam me ajudar. Por um golpe de sorte do Destino, Kalandur e Veliran haviam chegado à mansão. A elfa da luz entrou como um raio no quarto quando ouviu os gritos de Katherine. Hunne se encarregou de Katherine, a acalmou e a convenceu a ir para a casa dela. Kate, depois de se acalmar, se lançou em um estado de torpor horrível, como se estivesse no piloto automático. Até mesmo o brilho de seu olhar havia se apagado. Quando me certifiquei que Katherine estaria segura, busquei Sigyn e expliquei a ela tudo que ocorrera no dia anterior; a deusa leu minha mente e descobriu o que havia acontecido no quarto.

Sigyn surgira como uma luz no meio de uma escuridão infinita, ela e Hunne Veliran conseguiram trazer Katherine de volta. Kalandur e eu firmamos uma espécie de trégua silenciosa em consideração à amizade que estava sendo formada entre Lady Veliran e Katherine. Por mais de dez horas, todos apreciamos a história do menino bruxo que havia ido para uma escola incrível de magia. Por mais de dez horas, a paz plena reinou no recinto, além de respeito mútuo enquanto compartilhávamos comida e nos entretínhamos com a história fantástica e com os animais de estimação, Damien e Loki. Terminamos o dia adormecidos nos mesmos lugares, sem sequer trocarmos de roupa.

Acordei com Damien lambendo minha mão que havia caído da poltrona e saltei da cadeira pelo susto. Olhei para os lados, encontrando apenas Kalandur babando e roncando na própria poltrona com uma garrafa de vinho vazia no colo. A cama estava vazia e arrumada. Me levantei e segui até o banheiro. Lavei a baba da criatura anfíbia das mãos e tomei a liberdade de tomar um banho e me arrumar, sem precisar de nada além do chuveiro da casa de Hunne. Uma das inúmeras vantagens de se aprender a esconder objetos com magia. Saí do banheiro, sentindo um cheiro maravilhoso de omelete e panquecas vindo da cozinha. Me aproximei, registrando todos os detalhes do lugar.

As paredes eram de um amarelo suave, havia uma lareira de tijolos lilás de um lado do espaço que facilmente comportaria um enorme caldeirão debaixo dela. O balcão era de quartzo rosa, os utensílios eram verde menta. O fogão, forno e todos os aparelhos domésticos e eletrodomésticos eram azuis pastel. Parecia uma casa de bonecas. Pinturas simples da vista de Alfheim estavam dispostas na lareira. Sigyn estava com outra roupa, um vestido vermelho de botões com botas de cano longo sem salto. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto. Sentei-me na pequena mesa que havia ali.

— Ela foi estuprada. — Comecei; olhando para o nada. Eu ainda não conseguia acreditar. Sentia a aura esverdeada correndo por minhas veias, implorando que eu vingasse o que acontecera com Katherine. Sigyn respirou fundo e olhou pela janela. Os gritos e risos de Hunne e Katherine eram audíveis da cozinha. A asgardiana tirou uma panqueca e colocou no enorme prato em formato de flor, em seguida, verificou a omelete com outra colher.

— Eu não sabia. — Seu tom de voz era sério. — Ela nunca havia me contado. — Sigyn suspirou. — Fez bem em me mostrar, Loki. Assim como fez o certo me trazendo para cá. Com um trauma como esse... — A ruiva balançou levemente a cabeça. — Ela não confiaria em nenhum homem que tentasse confortá-la.

— Quem é esse Tyler? — Minha voz denunciava minhas intenções homicidas. Ela tirou a omelete e a colocou em outro prato. Em um segundo, a mesa já estava posta, com tudo o que a deusa da fidelidade havia preparado.

— O ex-namorado dela. Que não fazia ideia do que acontecia, pelo que consegui entender. Para ele, ela consentiu o ato.

Ele não me interessa. Ela estava sofrendo. Ela sentia como se adagas em chamas estivessem sendo colocadas dentro de seu corpo. — Trinquei os dentes. — Ele merece morrer dessa mesma maneira. Devo me certificar pessoalmente disso. — Sigyn se aproximou de mim e segurou minha mão direita.

— Obrigada por proporcionar tantos momentos de alegria para ela. Se eu estivesse aqui... Acho que eu a teria restringido muito. Ela provavelmente não teria feito amizade com Hunne. Depois do que vi em sua mente, Loki... Tudo o que vi sobre Katherine... Só posso agradecê-lo por não ser inconsequente quando se trata dela. — Ela acariciou meu rosto de leve. — Você sabe tanto quanto eu que ela tem um bom futuro pela frente. Tudo o que eu sempre fiz por ela... Foi para que ela tivesse forças para agarrar esse futuro e não desistir. — Segurei sua mão entre as minhas.

— Está fazendo um bom trabalho, Sigyn. Porém, sinceramente... Com toda aquela determinação e teimosia, duvido muito que será difícil para Katherine agarrar o futuro e não desistir. — Sorrimos um para o outro. Os passos trôpegos de Lonyr entrando pela cozinha fez com que Sigyn se afastasse, analisando o estado do Sacerdote do Sol Dourado.

Cacete... Sonhei que tinha uma aranha gigante querendo me jantar. E a desgraçada era imune à magia. — Ele jogou a garrafa de vinho vazia na lata de lixo e bocejou, coçando a própria barriga enquanto se espreguiçava.

— Bom dia, Sacerdote Kalandur. — Cumprimentou Sigyn, com um de seus sorrisos deslumbrantes que fariam pelo menos duas dúzias de homens caírem aos seus pés. Revirei os olhos quando vi as orelhas do elfo ficarem vermelhas.

— B-Bom dia, Lady Sigyn. — Peguei uma fatia de pão recém-assado e passei um pouco de manteiga em cima enquanto Lonyr se sentava ao meu lado, os olhos esquadrinhando a elegância e formosura de Sigyn.

— Não caia nessa. — O alertei. — É uma armadilha. — A ruiva revirou os olhos e se inclinou para fora da porta, para o enorme quintal em que Hunne e Katherine se divertiam gastando energia.

Chamando a Cacique Suprema e a Ofidioglota! Hora do café da manhã. — A ruiva se sentou de frente para mim e para Lonyr. As duas jovens entraram como dois furacões, alegremente brandindo espadas de madeira e lutando entre si. Ambas cobertas em suor, com enormes sorrisos de satisfação. Katherine se sentou na ponta ao lado de Lonyr e Hunne se sentou na ponta ao meu lado. Kate sorriu para Lonyr.

— Bom dia, orelhudo. — Um minúsculo sorriso de vingança surgiu nos lábios de Lonyr:

— Bom dia, Dobby. — Sigyn e Hunne começaram a rir enquanto a morena empurrou de leve o elfo, que ria também.

— Idiota. — Ele deu de ombros:

— Uma coisa desajeitada e mirradinha dessas com esses olhões verdes... É o Dobby. — Kate finalmente cedeu e se juntou a eles, rindo de leve. Senti um sorriso se formar em meu rosto ao observá-la, aliviado por ela estar se recuperando. Seus olhos se fixaram nos meus e seu sorriso sumiu. Me perguntei por um instante se ela ainda me via com as feições de seu molestador. Kate sorriu para mim mais uma vez, seus olhos brilharam:

— Bom dia, Homem-Muralha. — Retribuí seu sorriso:

— Bom dia, pequena guerreira.

{...}

Damien pareceu gostar do apartamento enquanto farejava e fazia barulhos empolgados. Lonyr já havia providenciado para que tudo ficasse em seus devidos lugares, um quarto pertenceria a ele, outro à Hunne e o terceiro quarto seria um escritório. Eles seriam os novos vizinhos do apartamento dos Singer, já que Katherine não voltaria ao apartamento de Sigyn em consideração à mãe de Luke, Sarah. Sigyn havia providenciado celulares para os dois elfos e explicado o quão crucial era que eles mantivessem os aparelhos por perto o tempo todo.

— Você poderia ter se exposto aos asgardianos por nossa causa. — Disse Kalandur, enquanto eu o ajudava a deixar o apartamento o mais midgardiano possível.

— Não se preocupe com isso. Está tudo sob controle por enquanto. — Olhei em meu próprio aparelho, Katherine havia feito um grupo com nós cinco e estava enviando selfies dela e Hunne indo até a cafeteria da esquina. Meus lábios se curvaram para cima. Digitei “Sejam discretas e não se metam em encrenca”, em seguida bloqueei a tela. — Providenciarei seus documentos e um histórico confiável amanhã, então ajam discretamente até lá. — O elfo da luz assentiu:

— Obrigado, Loki. — Respirei fundo, sopesando a responsabilidade que eu havia concordado em assumir. Era desafiador, na verdade, já que minha natureza sempre foi fugir e deixar que os outros cuidassem das próprias merdas. Eu fazia o que queria, e só o que me favorecia, mesmo que prejudicasse outros. Desde que fiquei restrito à amizade de Sigyn, sem ter a quem recorrer, não teria escolha a não ser cooperar. Tanto meu celular quanto o de Lonyr vibravam sem parar. Ambos suspiramos, nos questionando se aquela amizade entre as duas garotas havia sido uma boa ideia. — Gostaria de um copo de hidromel?

— Por favor. — Aceitei, tão exasperado quanto o elfo da luz estava. Damien passou a fazer barulhos para porta da sala. Fiz com que as aparências se tornassem comuns para humanos, Damien se tornou um lulu-da-Pomerânia caramelo e Lonyr ficou com as orelhas arredondadas de humano. Eu olhei pelo olho-mágico e foi preciso muito de meu treinamento em magia para não partir a porta ao meio. O maldito verme Vingador estava à porta do apartamento dos Singer, conversando com Lucas. Eu quebraria as malditas pernas de atleta dele em pedacinhos. Se ele se aproximasse de Katherine novamente, se ousasse tocá-la...

E, como se o próprio demônio houvesse chamado seu nome, Katherine e Hunne saíram do elevador seguindo para o apartamento. Ela parou em frente ao Vingador, um sorriso enorme no rosto enquanto apresentava a elfa da luz disfarçada de humana para Lucas e Pietro.


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Notas finais do capítulo

Acho meio desnecessário apontar que estou surtando com a ideia de um squad desses cinco, não? AAAAAAAAAA kkkkkkkkkkk
Gente, eu sei que aqui não teve nada muito “agregativo” para a fic, mas achei um capítulo importante de se escrever. Antes que vocês achem que vou sempre rotular a Katherine como vítima para o resto da vida: NÃO. E me recuso a fazer isso. Principalmente porque sei que, por mais que coisas fodidamente ruins aconteçam a nós, mulheres, essas coisas não definem quem nós somos de verdade. Somos bem mais fortes do que acreditamos ser.
O motivo de eu acreditar que esse capítulo foi importante: mesmo com as sequelas de seu abuso sendo mostradas aqui, também mostro que há pessoas que genuinamente se importam com a Katherine, que a apoiaram de verdade. E pode parecer uma ideia idiota de minha parte, mas é na normalidade das coisas que nos fazem felizes que encontramos motivação para seguirmos em frente. Nem que seja em uma sessão cinema cercada de animais de estimação peludos comendo toneladas de doces para conseguir esquecer de um dia ruim.



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