Nico cantava uma música para a irmã, que o acompanhava vez ou outra. Embora sua voz não fosse tão perfeita quanto à do irmão, ela era muito bonita também. Ele ia à frente, dançando um pouco, enquanto Bianca o acompanhava. Aquilo os lembrava de quando eram pequenos e ela sempre o seguia, para onde quer que fosse.

Bianca tropeçou e empurrou sem querer o irmão, fazendo com que os dois caíssem. Olharam um para o outro, antes de começarem a rir.

A verdade era que a infância de ambos fora muito conturbada, sempre com problemas que nem mesmo adultos deveriam passar. Então, quando enfim se viram livres desses problemas, eles aprenderam a não se importar se estavam sendo infantis demais para sua idade. Foram adolescentes, adultos e crianças ao mesmo tempo e ainda eram.

Só pararam de rir quando ouviram uma voz preocupada:

– Vocês estão bem? – Perguntou. Bianca fora a primeira a levantar os olhos, e ficara surpresa, não com a pessoa que lhe estendia a mão, mas sim com a que estava ao seu lado. Percebeu que seu irmão não sairia do choque tão cedo, então sorriu.

– Sim, estamos! – Ela aceitou a mão para se levantar. – Muito obrigada.

Nico se levantou sozinho, e encarava a mulher de cabelos negros que devolvia o olhar. O outro homem observava a cena, confuso, enquanto Bianca procurava desesperadamente uma maneira para fazê-los sair daquela situação. Olhou para o homem, que a olhava também procurando respostas. Conseguindo um pouco de coragem, puxou o ar para falar algo, mas fora interrompida por um toque suave de celular. Suspirando aliviada, esperou que o homem atendesse-o, sua cabeça girando, pensando em algo para falar. Nico desviou os olhos de Thalia e agora olhava para a irmã, procurando ajuda. O homem desligou e os quatro olhavam um para o outro, esperando que alguém se pronunciasse.

– Luke, estes são Nico e Bianca di Ângelo. – Thalia deu um passo para frente, apresentando-os. – Éramos amigos antes de eles se mudarem para Londres.

– Prazer. – Luke sorriu e estendeu a mão para Bianca, que a apertou sem hesitar e sorriu simpática. Logo depois, passou para Nico, que apenas lhe lançou um aceno de cabeça. – Luke Castellan, namorado de Thalia.

Nico sorriu. Ele examinava bem o homem, tinha a impressão de já tê-lo visto novamente, mas não se lembrava onde. Thalia sorriu para Bianca, ainda não havia visto ela depois de tudo, e a invejava um pouco. Bianca sempre fora muito bonita, assim como seu irmão, e agora era uma mulher extraordinária. Thalia quase encolhera sua barriga diante da magreza de Bianca, não algo exagerado, mas que combinado com a cintura fina ficara incrível. A mulher sorriu de volta.

– Nós precisamos ir. – Bianca pronunciou. – Só os encontramos sem tempo, não?

– Sim, realmente. – Thalia sorriu, estava feliz por Nico ter comentado o encontro com a irmã, quer dizer que não fora extremamente irrelevante. – Espero que nos encontremos com tempo.

– Sim, eu também. – A outra mulher sorriu. – Foi um prazer conhece-lo, Luke.

O homem sorriu para ela e o casal deu espaço para que os irmãos pudessem continuar seu caminho. Andaram por um tempo em silêncio, com passos apressados para mantes as aparências, mas logo diminuíram o ritmo. Nico olhava pelo canto de olho para a irmã, admirando a forma com que ela representara os dois no acontecimento anterior. Só nesse momento que percebera o quanto ela mudara desde a última conversa dela com Thalia. Se cinco anos antes aquilo houvesse acontecido, a garota ficaria quieta, e deixaria que a situação constrangedora continuasse até que alguém cedesse, exatamente o que ele acabara de fazer. Sentia-se envergonhado por isso.

– Por que está me olhando? – Ela perguntou sem rodeios. Nico deu de ombros.

– Apenas pensando no quanto minha irmãzinha cresceu. – Ele sorriu. – Você conduziu muito bem a situação agora.

– É, e você não ajudou em nada. – Ela reclamou. – A propósito, somos gêmeos, e tenho certeza que não sou a mais nova.

Nico riu e deu uma leve cotovelada na irmã, provocando-a. Bianca riu pelo nariz e devolveu. Logo, o acontecimento anterior fora esquecido por ambos, e voltaram com as infantilidades.

~^~

Luke e Thalia continuaram o passeio em silêncio. Ao contrário das outras vezes, a pessoa que estava incomodada com ele era Thalia, não Luke. O homem pensava sobre o que acabara de acontecer, sobre o olhar que a namorada direcionou a Nico.

Seria aquele homem então o grande amor de Thalia? Aquele que a fez sentir-se tão mal?

Luke achou que ficaria com raiva quando o encontrasse, pelo quanto ele fez Thalia sofrer e porque provavelmente ele a tiraria de si, mas se surpreendeu ao perceber que se sentiu feliz por finalmente conhece-lo. Talvez porque todo esse tempo ele estivera muito curioso, ou talvez ele já estivesse preparado para o encontro todo esse tempo. O fato é que Luke estava mais leve por tê-lo conhecido, e até mesmo achou a irmã dele incrivelmente simpática.

– Luke? – Thalia o chamou quando já estavam na frente do S&C. Luke colocou seus pensamentos de lado e sorriu para a garota. Os dois entraram e sentaram-se no primeiro andar mesmo. – Eu acho que você já sabe que Nico não era só um amigo, certo?

– Sim, eu já suspeitava disso. – Luke passou a mão pelo cabelo. Poderia estar até preparado para o encontro com Nico di Ângelo, mas nunca estaria para a conversa que o seguiria.

– Eu não vou mentir para você, eu o amei. – Thalia sorriu. – Eu o amei muito, Luke. Mas faz muito tempo, Luke. Ficou no passado. Está esse clima estranho, mas é porque muita coisa entre nós dois não foi falada antes de ele se mudar. Não sentimos mais o que sentíamos antes. E, exatamente porque eu não conversei o suficiente com ele, que eu quero conversar com você. Me diga o que está pensando, Luke.

Luke olhou para a namorada. Ela estava sentada na sua frente e colocara sua mão em cima da dele. Ele respirou fundo e começou a falar:

– Eu estou surpreso, Thalia. – Ele segurou a mão dela e acariciou-a. – Por todo esse tempo, eu pensei que iria odiá-lo por tudo o que ele fez com você, que eu não sei o que é, mas que tenho certeza não ser nada simples. E não precisa me dizer se não quiser, na realidade, eu nem sei se quero saber. Mas, ao invés de ter raiva dele, eu me senti feliz, porque finalmente sei que tipo de homem já te fez apaixonar-se, porque ele realmente não parece uma má pessoa.

Thalia sorriu para ele. Luke era a pessoa mais bondosa que ela conhecia, para aceitar tão bem uma situação daquelas. Nem se sentiu surpresa por ele já saber que ela sofreu tanto por amor, ela nunca fizera tanta questão de esconder isso mesmo.

– Eu só quero que me prometa uma coisa, Thalia. – Luke voltou a falar. Thalia olhou para ele. – Eu tenho certeza que você ainda o ama, não sou cego. E, se ele der algum sinal que te ama, se ele quiser voltar para você, não me faça de idiota. Se não me amar mais do que o ama, deixe-me.

Thalia molhou os lábios e sorriu para Luke, apertando mais a mão dele.

– Eu prometo Luke. – Respondeu.