Moments escrita por Marih Yoshida


Capítulo 6
VI


Notas iniciais do capítulo

Hey hey loves!
MUITO OBRIGADA À LIEZEL PELA RECOMENDAÇÃO LINDA!
Capítulo dedicado a você, okay?
O cap está bem grandinho, mas eu gosto bastante dele. Obrigada à Lety pela ideia da festa, adiantou muita coisa!
Espero que gostem!



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Bianca acordou com aquela sensação de que algo não estava no lugar. Demorou um tempo até que ela percebesse que era ela. Estava no quarto de Nico, deve ter adormecido enquanto o ajudava com uma letra nova. Seu irmão dormia encostado na parede, com o notebook do lado. A mulher se surpreendeu por nenhum dos dois ter caído, considerando que ambos estavam na ponta da cama. Levantou-se, tendo que passar por cima de Nico sem se encostar nele, e silenciosamente andou até seu quarto. Percebeu que era cedo ainda, bem cedo, e que ela provavelmente não conseguiria dormir de novo.

Abriu a janela de seu quarto e viu que estava um dia muito bonito, o primeiro em semanas. Decidiu aproveitar para caminhar, considerando que não havia nada naquela casa que ela poderia fazer. Vestiu-se sem cerimônia e desceu as escadas, silenciosa. Aprendera a fugir de casa quando mais nova, junto de seu irmão, e sabia todas as tábuas soltas da escada de cor. Riu ao perceber isso.

Abriu a porta de casa e saiu, andando calmamente. Ficou feliz ao ver várias pessoas na rua, assim não se sentia tão estranha por ser uma pessoa que acordava cedo e não tinha nada para fazer. Pensou em passar no parque, mas sentiu fome. Lembrou-se, então, que não havia comido nada naquela manhã. Decidiu que iria passar no S&C, o lugar realmente a cativou, talvez pelo ar parisiense, ou porque fora onde tivera sua primeira memória boa junto ao irmão desde que chegara.

Sentou-se na mesma mesa que se sentou com Nico no dia anterior. Lembrou-se que dava para ver a rua de onde estava, e, como já havia feito o pedido, resolveu desenhar a paisagem. Era algo que a distraía, e naquele momento ela precisava disso.

Já estava na metade do desenho, havia tomado três xícaras de cappuccino e comido três croissants e o sol estava mais alto no céu. Não sabia dizer ao certo quanto tempo passara desde que começara, mas sabia que no mínimo uma hora.

– Oi. – Ela se assustou ao ouvir alguém pronunciar. Levantou os olhos e sorriu.

– Pretende me assustar toda vez que nos encontrarmos? – Perguntou divertida. Connor riu.

– Só se você fizer essa carinha bonitinha quando perceber que sou eu. – Respondeu, fazendo-a rir. – Posso me sentar?

– Claro. – Ela acenou para a cadeira que estava ao lado do homem. Ele se sentou e pediu um expresso.

– Então quer dizer que Bianca di Ângelo gosta de desenhar logo cedo? – Perguntou olhando para o desenho que a mulher fazia. Encantara-se com a suavidade dos traços feitos por aquela mão tão delicada. Bianca sorriu.

– Eu não costumo acordar tão cedo assim, mas sim, gosto de desenhar pela manhã. – Ela sorriu. – Na verdade, a qualquer momento. É relaxante.

– Então simplesmente acordou cedo, resolveu tomar café da manhã fora de casa e desenhar uma rua qualquer? – Perguntou. Bianca deu de ombros. Connor a olhou por alguns segundos, encantado com a beleza da mulher que estava a sua frente.

– E você, Connor? – Perguntou, tirando-o de seu leve transe. – O que o traz aqui tão cedo?

– Aquele ali cantando no palco é meu irmão, eu vim para dar apoio moral, ou coisa assim. – Connor sorriu. Bianca se surpreendeu por não ter percebido que havia uma banda tocando até aquele momento, e, quando se virou, ficou mais surpresa ainda ao ver que o vocalista era Luke Castellan.

– Você é irmão do Luke? – Ela perguntou, se virando.

– Meio irmão, na verdade. – Sorriu. – Você conhece Luke?

– Ah, o conheci ontem, ele é namorado de uma antiga amiga minha. – Bianca devolveu o sorriso. – Na época que eu morava aqui, meu irmão e Thalia eram muito amigos, eu acabei sendo um brinde.

E que brinde, Connor pensou, mas achou que seria ousado demais falar. Ele achava Bianca muito bonita, a mulher mais bonita que já vira na vida, para ser mais preciso. Naquele dia, no parque, ela estava tão adorável desenhando que Connor ignorou sua timidez dizendo que ele seria um idiota se fosse falar com ela e o fez. Acabou percebendo que ela era muito mais bonita depois que falava.

Continuaram conversando. Bianca mais desenhando do que conversando, e Connor mais a observando do que falando, mas conversavam. Em certo momento, a banda deu uma pausa para almoçar e Luke foi falar com eles. No início, estava um pouco sem graça, pensando na noite anterior, mas logo percebeu que Bianca era uma pessoa tão simpática quanto parecia ser.

Assim que Luke voltou ao palco, a mulher recebeu uma mensagem em seu celular. Aproveitou que Connor pedia o almoço para os dois e leu-a, abrindo um grande sorriso a seguir.

Bibi, finalmente conseguimos férias. Eu e Rey trocamos as passagens que havíamos comprado para a viagem que tínhamos combinado para Toscana – não iria ter a mesma graça sem você – por passagens para Nova Iorque. Vamos chegar aproximadamente sete da noite, e é bom você estar lá nos esperando, se não eu pego o primeiro voo para a Itália e ainda fico te mandando foto dos vinhedos. Até.”

Rindo de sua amiga, Bianca respondeu a mensagem e depositou o celular na mesa. Deparou-se com Connor encarando-a. Ele tinha um sorriso terno no rosto e Bianca percebeu que nunca havia realmente olhado para ele como olhara agora. Percebeu o quão ele parecia novo, se não soubesse sua idade, diria que ele tinha no máximo dezoito anos, mesmo que ele já estivesse com vinte, e também, como seus olhos pareciam sorrir junto com sua boca. De todas as pessoas que ela já observara daquela maneira – como se estivesse pronta para pegar um papel e desenhá-lo ali mesmo –, Connor parecia a mais bonita. Sem perceber, Bianca devolveu o sorriso.

O momento foi cortado pela chegada da garçonete com a comida. Os dois olharam para a mulher e agradeceram.

– Seu namorado? – Connor perguntou quanto a mulher se retirou. Bianca o olhou confusa. – Você sorriu para o celular, era seu namorado?

– Não, mesmo porque eu não tenho um namorado. – Ela sorriu. – Uma amiga de Londres avisando que está vindo para cá junto com outra amiga.

Connor sorriu e logo eles mudaram de assunto. O homem lhe contou que tinha outro irmão, Travis, dois anos mais velho, que seu pai não era casado e que Luke morava com a mãe. E, apesar de todos acharem que uma casa com quatro homens seria uma bagunça, ela era bem arrumada, considerando que todos eles só iam para casa para dormir. Seu pai, Hermes, era dono da maior companhia aérea dos Estados Unidos e Travis trabalhava com ele, Luke trabalhava na floricultura de sua mãe e não se dava bem com o pai, mas era muito ligado aos dois irmãos. E contou também que estava no segundo ano da faculdade de jornalismo e colecionava trabalhos de meio período – ele já havia trabalhado em quase todas as lojas do centro comercial mais próximo.

Bianca também contou um pouco sobre ela. Falou sobre Nico, sobre seu trabalho em Londres, sobre seus pais. Quando finalmente terminou seu desenho, o céu já estava escurecendo. Bianca olhou as horas no celular e se surpreendeu, faltava apenas meia hora para Phoebe e Reyna chegarem.

– Eu preciso ir. – Disse, se levantando. – Minhas amigas chegam daqui a pouco, eu preciso chegar ao aeroporto a tempo.

– Se quiser eu te levo. – Connor se levantou também. – Estou de moto, podemos chegar mais rápido lá.

– Não vai te atrapalhar? – Perguntou, abrindo a bolsa e pegando dinheiro. Precisava, pelo menos, pagar o que consumiram.

– Nem um pouco. – Sorriu e, antes que Bianca percebesse, ele deu o dinheiro para a garçonete. Bianca tentou protestar, mas Connor apenas riu. – Me espere aqui, já volto.

Ele andou até o palco e trocou algumas palavras com Luke, depois sumiu na multidão e Bianca só o viu de novo alguns minutos depois, com dois capacetes na mão.

– Eu acabei de tirar a carona de Luke? – Ela perguntou. Connor deu de ombros.

– Tenho certeza que é mais agradável ter você me abraçando do que ele. – Respondeu, fazendo Bianca rir.

~^~

Nico olhou para o teto de seu quarto, suspirando. Havia muita coisa naquele lugar que ele já não suportava mais. A fase rebelde já passara, mas seu quarto ainda estava igual para lembra-lo de seu passado. As mesmas paredes pretas, que agora o faziam sentir-se preso, os mesmos pôsteres de bandas que ele não ouvia há muito.

Estava deitado em sua cama, em sua antiga cama que era um pouco pequena para seu atual corpo, obrigando-o a deixar sempre suas pernas um pouco dobradas, ou os pés para fora. Observou um pouco o lugar. Na escrivaninha que antes estavam papéis não importantes, agora havia as músicas para o musical e o livro que estava lendo. O chão que antes era totalmente coberto por roupas, agora estava perfeitamente limpo. Olhou para seu guarda-roupa. Algumas roupas antigas permaneciam nele, aquelas que não foram para a Inglaterra junto com o pequeno Nico. Suas atuais roupas ainda estavam nas malas, não queria instalar-se ali mais do que já havia feito; pretendia voltar assim que seu pai se distraísse com algo na empresa.

Ficar naquela cidade, naquela casa e encontrar as pessoas que antes o alegravam fazia Nico voltar a um passado que ele não queria. O encontro na noite anterior com Thalia fora perturbante. Em todos esses anos repetira a si mesmo que nunca mais a veria, e talvez isso o ajudou a crescer. No entanto, perceber que mentira para si por tanto tempo doía. Tudo aquilo por que lutara enquanto esteve na Inglaterra, sua nova vida, seria soterrado pelo passado perturbador? Ele sentira sim falta de Thalia e de seus amigos, muita. Se pegou várias vezes pensando no quanto ela gostaria de tal coisa, ou como seria bom tê-la por perto em alguns momentos. Até quis ligar para ela de vez em quando, apenas para ouvir sua voz.

E agora ele a tinha por perto e não queria isso. Ouvir sua voz tão mudada o causava arrepios. Passou tanto tempo concentrado em crescer que não percebeu que o tempo passava para as pessoas à sua volta também, e tudo caiu sobre ele na noite anterior, quando ouviu da boca daquele homem que era namorado de Thalia. Ora, ela tinha uma vida também, e crescera muito, não apenas fisicamente. Assim como sua Bianca. Nico ficara pasmo ao ver o quão bem sua irmã lidou com a situação. Enquanto ele percebera que todo esse tempo se prendera a um passado que já não existia mais.

Se levantou, andando até o guarda roupa e abrindo-o, pegando uma caixa que estava junto com seus antigos sapatos. Colocara a caixa ali pouco antes de viajar, para poder se lembrar do passado sempre que quisesse. Sentou-se no chão e abriu-a, tirando de lá uma carta que escrevera para si mesmo anos antes.

“Nico, eu sei que você acha que escrever uma carta para si mesmo é piegas, eu também acho, mas preciso manter essa memória viva. Acontece que há uma garota, ela é muito especial para mim, mas creio que não posso tê-la. Seu nome é Thalia Grace. Por favor, não se esqueça dela. Vai doer Nico, eu tenho certeza disso, e você vai querer voltar atrás, mas siga o plano. Deixe-a ser feliz com outra pessoa, deixe-a esquecê-lo. Será o melhor para os dois.”

Sim, ele seguiu esse plano perfeitamente. Thalia o esquecera e agora estava com outra pessoa, parecia muito feliz. Doeu, muito. E, surpreendente para Nico, ainda doía. Doía saber que ela realmente o esqueceu e que estava com alguém, que aquela garota que antes o amava incondicionalmente era agora uma mulher que amava outro. Era irônico que tudo o que mais queria realizou-se e, no entanto, ainda estava triste.

A seguir, havia uma pilha de fotografias, a maior parte de Thalia quando eles eram menores. Com um sorriso, olhou uma por uma, sem pressa, lembrando-se dos momentos vividos. Eram tão bons, e tantos. Havia uma nostalgia gostosa daquela parte de sua infância, de ser apenas um adolescente rebelde.

Passou ali a tarde inteira, revivendo lembranças esquecidas ou jogadas de lado. Acabou por adormecer ali, no chão do quarto, rodeado de coisas que ele fizera questão de afastar durante todos esses anos.

~^~

– Será que o voo delas já chegou? – Bianca perguntou assim que desceram da moto. Connor sorriu.

– Podemos descobrir. – Ele a pegou pela mão e a puxou até uma pequena porta onde havia escritos avisando que a entrada era apenas para pessoas autorizadas. No entanto, Connor ignorou-os e abriu a porta. Dentro da sala tinham computadores e várias pessoas monitorando os voos que entravam e saiam do aeroporto. Nenhum deles pareceu incomodado com a presença do homem, ou a de Bianca. Ele andou até um homem que olhava um pouquinho em cada computador. – Hey, Trav.

– Olá Connor. – O outro sorriu. Era incrível a semelhança entre os dois, apesar de o mais novo ser também mais baixo. E Bianca nunca adivinharia que eles eram irmãos de Luke.

– Essa é Bianca, uma amiga. – Connor apresentou. – Preciso de um pequeno favor seu. Algum voo da Inglaterra chegou há alguns minutos?

Travis levantou o tablete que tinha nas mãos e passou os olhos rapidamente.

– Não, mas tem um chegando. – Sorriu.

– Obrigado, Trav. – Connor puxou Bianca para fora mais uma vez. Os dois andaram até alguns bancos. – Ele geralmente é mais legal, mas é que fica bem sério quando está trabalhando.

– Eu entendo. – Sorriu. – Nico fica insuportável quando está tentando se concentrar e não consegue. Esses dias ele quebrou a minha caneca preferida porque não conseguia pensar em nada.

Continuaram conversando, reclamando de seus irmãos, porém destacando os pontos bons. Quando a chegada do voo foi anunciada, andaram até um lugar onde ficassem visíveis. Phoebe foi a primeira a encontra-los e chegar até onde estavam, correndo e dando um grande abraço em Bianca como se não a visse há anos, já Reyna foi mais contida. Ambas cumprimentaram Connor e Phoebe até mesmo cochichou no ouvido da amiga que ele não era de se jogar fora.

Despediram-se do homem, que resolveu voltar para buscar seu irmão que ficara no café, e pegaram um táxi. Por sorte, o hotel das duas mulheres ficava perto da casa dos pais de Bianca, o que queria dizer que ficariam próximas.

A morena chegou em casa e estranhou tudo estar quieto. Descobriu que seu pai estava trabalhando ainda e sua mãe fora na casa de uma amiga. Subiu as escadas, esperando encontrar seu irmão trabalhando, mas a cena que encontrou a surpreendeu. Nico dormia tranquilamente deitado no chão, com fotografias ao seu redor. Abaixou-se, para pegar a mais próxima, e sorriu ao se ver junto ao irmão e Thalia. Ela deveria imaginar que ele não conseguiria se esconder do passado por muito mais tempo considerando o lugar que estavam e as pessoas que encontraram. Juntou todas as fotos e as colocou dentro da caixa novamente, sabia o quanto o irmão gostava de organização, então, com certa dificuldade, o colocou na cama. Contaria as novidades no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Bem, o que acharam?
Muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior. E, pelo jeito, vocês gostaram desse Luke, hum? Eu disse ahsuahsuahs.
Comentem falando o que acharam. Mais uma vez obrigada à Liezel, quem quiser seguir o exemplo dela eu amarei para sempre