— Eu sinto muito por isso. Artie é um bom garoto, mas é muito travesso. Às vezes é difícil controlá-lo. – Desculpou-se Claire. – Prometo que deixarei seu celular novo em folha.

    – Por favor, não se incomode. – Respondeu Clara. – Foi apenas um susto, está tudo bem agora. Ele é seu filho? – Perguntou ela em seguida.

    Claire estremeceu ao ouvir a palavra “filho”, mas rapidamente respondeu:

    – Bom, sim. Na verdade, considero todos aqui como meus filhos, mas Artie foi o primeiro que acolhi, então ele já é praticamente meu filho.

    – Isso é incrível! Quer dizer, você acolher todas essas crianças, este lugar… Construiu tudo isso sozinha?

    – Na verdade meu irmão Spencer que fez a maior parte. – Respondeu ela.     – Mas o que aconteceu para que tivessem que se esconder aqui? – Perguntou Clara.

    – Isso é uma longa história. – Respondeu Claire. – Tivemos alguns problemas na superfície e as galerias foram nossa única opção. Mas e enquanto ao Doutor? Quer dizer, como foi que vocês pararam por aqui? 

    – Na verdade o Doutor acabou errando o trajeto e viemos parar aqui. – Respondeu Clara. 

    – Então estão aqui por engano? Quer dizer que o Doutor não esperava mesmo me ver?

    – Me desculpe. 

    – Não, tudo bem. Eu já imaginava isso ao ver o espanto dele em me ver. – Disse ela desgostosa. – Mas eu pensei que… Depois de todos esses anos…

    – Como foi que se conheceram? – Perguntou Clara.

    – É uma história um tanto estranha. – Disse Claire soltando uma risada fraca.

    – Bom, a minha também é bem estranha. – Disse Clara rindo.

    As duas riram juntas por alguns segundos, até que Claire disse:

    – Eu fazia parte de uma resistência contra os Daleks. Já ouviu falar deles?

    – Infelizmente sim.

    – Hum. Então, meu pai era líder da resistência, mas ele não quis que eu lutasse mais e me mandou pra quinhentos anos no passado. Foi lá que encontrei o Doutor, quer dizer, ele caiu do céu bem na minha frente pra ser mais exata. Mas… Ele está tão diferente. – Indagou ela. – Nem parece a mesma pessoa.

    – Como ele era quando o conheceu? Fisicamente falando?

    – Fazem trinta anos, mas me lembro como se fosse ontem. – Disse a mulher. – Era alto, os cabelos eram castanhos e espetados, os olhos bem grandes e era bem magricela também. 

    – Acho que sei de quem está falando. – Disse Clara. – Bom, não sei como te explicar isso, mas… Quando o Doutor… Bem, quando o Doutor se fere gravemente, ele… Bom, ele não morre. Ao invés disso, ele se regenera. – Tentou explicar ela.

    Claire olhou sem entender, do jeito que Clara esperava.

    – Eu não sei se entendi. – Disse ela.

    – É complicado. Quer dizer, é como a espécie dele funciona, eu acho. – Respondeu a moça. – Resumidamente falando, ele muda de corpo quando está para morrer. O Doutor que você conheceu tinha um outro corpo, por isso o Doutor que está aqui agora parece tão diferente. 

    – Quer dizer que… O Doutor que eu conheci está… Morto?

    – Não exatamente, pois ainda é a mesma pessoa. Ele se lembra de tudo o que aconteceu com vocês dois, pois vivenciou tudo isso, só que com outro corpo, entende?

    – Bem que eu imaginava que algo ruim devia ter acontecido. – Disse Claire um tanto desapontada. – Da última vez em que nos vimos. Ele parecia… Parecia cansado. Não conseguimos nos falar, mas eu sentia que algo estava acontecendo, só não sabia o que era.

    Nisso, lágrimas começaram a brotar dos olhos de Claire. Ela sentia muita falta do Doutor e uma parte dela ainda esperava revê-lo algum dia, mesmo depois de tanto tempo. 

    Mas parecia que isso não aconteceria. O Doutor que ela conhecera não existia mais.

    – Ei, não fique assim. – Consolou Clara. – Eu também levei um tempo para entender. Ele não tinha essa… Forma, quando o conheci. – Disse ela. – Mas ele me ajudou a entender que ainda era ele apesar de tudo. 

    – Mas eu não entendo. – Disse Claire tentando conter os soluços. – O que foi que houve? Por que ele mudou de forma? 

    – O Doutor vive correndo riscos. – Respondeu Clara. – Às vezes ele não consegue escapar e… Acontece. Não sei o que houve com o Doutor que conheceu, mas acredite, ele ainda está aqui. São embalagens diferentes, mas o mesmo software, como ele costuma dizer.

    Claire enxugou as lágrimas com as costas da mão. Ainda não havia compreendido totalmente o que acontecera com o Doutor, mas se animou ao pensar que pelo menos ele continuava a existir de certa forma.

    – Me desculpe por isso. – Disse ela. – Eu deveria estar feliz por ele estar de volta, mesmo que acidentalmente. – Acrescentou rindo.

    – Talvez não tenha sido tão acidental assim. 

    – O que quer dizer?

    – Bom, a TARDIS meio que sabe para onde o Doutor precisa ir, então ela o leva até lá, mesmo quando ele não quer. Talvez a TARDIS acreditasse que ele seria útil por aqui.

    Claire engoliu em seco. Ela sabia muito bem onde Clara queria chegar. Parece que seria impossível evitar que eles soubessem da verdade, por mais que ela evitasse tocar no assunto.

    – Você é boa nisso. – Foi o que ela conseguiu dizer.

    Clara apenas sorriu, satisfeita com o rumo que a conversa poderia tomar.

    – Então, por que acha que a TARDIS nos trouxe até aqui?

    – Acho que o Doutor ficará bastante decepcionado comigo. – Disse Claire desapontada consigo mesma.

    – Então acho melhor começar, pois estou bastante curioso no momento. – Interrompeu o Doutor para o espanto das duas.