Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 84
Crise 84 - O Peixe Dourado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! :)



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Crise 84 – O Peixe Dourado

Precisei ficar na escola até um pouco mais tarde para tirar algumas dúvidas no plantão da tarde e acabei voltando para casa sozinho. Bem, até aí não tem nada de novo, mas, enquanto caminhava tranquilamente de volta para meu doce lar, com as mãos nos bolsos e sonhando acordado com uma tarde tranquila assistindo alguma série, sou abordado por um homem magro, cabelo despenteado e com um olhar bastante perturbado.

—Ei, garoto! - disse ele.

Fiquei meio assustado e dei um passo para trás. Reparei que ele estava segurando um aquário esférico que devia ter uns 15 cm de diâmetro, com um peixinho dourado dentro.A água estava bem limpa e o peixe parecia bem bonito.

—Algum problema, senhor?

—Não quer um peixinho dourado? - disse ele.

—D-desculpe, já gastei toda a minha mesada. Estou sem um centavo.

—E quem falou em pagar? Estou dando ele de graça – falou o homem.

—De graça? Bem, nesse caso...

—Então você aceita?

—Espere, eu não disse isso, eu..

—Aceita, não é?

—Bom, nunca tive um peixinho antes e...

—Ótimo. Você aceita. Fique com ele. É seu.

O homem deixou o aquário nas minhas mãos na mesma hora.

—Espere, senhor, eu..

Mas era tarde. Ele saiu correndo e saltando batendo os tornozelos de felicidade. Ele parecia bem feliz, feliz demais.

—Estou livre! - gritava ele, gargalhando insanamente – Livre! Livre! Sou um homem livre!

Só pude concluir que se trava de um louco. Mas eu logo entenderia a razão da felicidade dele.

—Puxa – comentei comigo mesmo – E agora? O que eu faço com esse peixinho?

Mal terminando de falar isso, vejo o peixe subir para a superfície da água, colocar a cabeça para fora, fazer um tipo de reverência com a barbatana e....começar a cantar uma música mais ou menos assim:

 

Tenho um coração
Dividido entre a esperança e a razão
Tenho um coração
Bem melhor que não tivera

Esse coração
Não consegue se conter ao ouvir tua voz
Pobre coração
Sempre escravo da ternura

Quem dera ser um peixe
Para em teu límpido aquário mergulhar
Fazer borbulhas de amor pra te encantar
Passar a noite em claro
Dentro de tiii

 

—O quêêê?!! - era aquilo mesmo. O peixe acabou de cantar. Ele terminou o refrão e voltou para o aquário. Não podia acreditar naquilo. Um peixe cantor. Aquilo não podia ser normal, então...só podia ser algum alienígena.

—Ei, Vitor – era a voz conhecida da Mabi. Acompanhada de Eduardo (é claro).

—Olá – disse Eduardo – O que é isso? Um peixe?

—Que fofo – disse Mabi – Nunca tive um peixinho.

—Um homem estranho me deu ele – respondi – Mas não é um peixe normal, acho que é...um peixe alienígena.

—Alienígena? Por que você acha isso? - perguntou Eduardo.

—Ele canta! - falei.

—Canta? - estranhou Mabi.

—Sim. Ele acabou de cantar agora – falei – Aposto que daqui a pouco ele canta de novo.

Mas ficamos ali, uns cinco minutos, e nada do peixe cantar.

—Mas ele cantou – falei – Eu ouvi ele cantando agora pouco.

—Bem, nós acreditamos em você, Vitor – disse Mabi – Já vimos vários alienígenas por aí, né?

—Sim – concordou Eduardo – Mas se ele é mesmo um alienígena, talvez a Estrela consiga dizer o que é.

—É verdade. Por que não leva para ela dar uma olhada? - perguntou Mabi.

—É...Estrela não foi à aula hoje, disse que precisava fazer uns relatórios – expliquei – Mas o detector dela deve provar que ele é alienígena.

—Bem, Eduardo e eu precisamos comprar umas coisas para a minha mãe – disse Mabi – Boa sorte.

E os dois saíram de mãos dadas. Eu acenei me despedindo, mas assim que os dois viraram a esquina, o peixe voltou a colocar a cabeça para fora da água e voltou a cantar:

Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar,

Quero ver o seu corpo dançar sem parar,

Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar,

Quero ver o seu corpo dançar sem paraaar.

 

—De novo! - exclamei, enquanto o peixe ainda cantava Sidney Magal.

—Pessoal, pessoal, olhem! - falava, enquanto corria para alcançar o casal. Mas, assim que eles viraram, o peixe se calou de novo.

—Mas...ele tava cantando até agora.

—Olha, Vitor...é melhor mesmo você levá-lo para a Estrela ver – disse Mabi – Vai lá.

—Até mais – disse Eduardo.

—Mas...eu vi ele cantando.

Assim que eles deram as costas e saíram de vista, o peixe começou a cantar outra música.

Estoy aquí quierendote

ahogandome

entre fotos y cuandernos

entre cosas y recuerdos

eue no puedo comprender..

—Shakira? - exclamei – Não, eu preciso mostrar esse peixe para Estrela!

Fui correndo para perto de casa e bati na porta de Estrela, enquanto o peixe continuava a cantar outra canção.

Eu não sou cachorroooo nãããoooo

Para viver tão humilhadooo

Após algum tempo, Estrela abriu a porta (com seu figurino caseiro de...camiseta largada e chinelos havaianas de sempre) e o peixe se calou.

—O que houve, Vitor? Estou cheia de coisas para fazer – disse ela.

—Esse peixe! - falei – Um homem no caminho me deu ele e blá-blá-blá...não importa! Esse peixe é um alienígena.

—Impossível – disse ela – Se fosse, meu Portal Gun já teria acionado.

—Não acionou?

—Por que você diz que ele é um alienígena? - perguntou ela.

—Por que ele canta! - falei – Vai, peixinho..canta...canta para ela.

—Peixes não cantam, Vitor. Eles não tem corda vocal para isso – explicou Estrela – Achei que até mesmo a biologia da Terra já soubesse disso.

—Por isso estou dizendo que esse peixe é um alien! - falei.

—Vitor...- Estrela fechou os olhos e massageou a testa – Estou atolada de trabalho, por favor, só me deixa sossegada por hoje, pode ser.

—M-M-Mas...

E ela apenas fechou a porta. Não era possível. O Portal Gun não detectou nada. Nada. Aquilo não era mesmo um peixe alienígena. Será que eu estava ficando louco? Mas assim que Estrela voltou para dentro de casa, o peixinho recomeçou sua cantoria.

Cheia de maniiiaass,

Toda dengooosa

Menina bonitaaaa

Sabe que é gostoosaa

—Não é possível! - gritei.

Voltei para casa e coloquei o aquário na mesinha da sala.

—Eu devo estar mesmo ouvindo coisas – falei, enquanto o peixe dançava e continuava a cantar seu repertório.

Te dei o sol

Te dei o mar

Pra ganhar teu coração

Você é raio de saudade

Meteoro da paixão

—Fala sério – comentei para mim mesmo. Nisso, minha irmã entrou na sala.

—V-Vitória? Você ouviu alguma coisa? - perguntei.

—Ouvir? Ouvir o quê? - ela perguntou.

—Tipo...uma música...

—O rádio tá ligado? - ela perguntou.

—Não

—A televisão tá ligada? - ela tornou a perguntar.

—N-Não.

—Você tava cantando?

—Também não.

—Então de onde sairia uma música, retardado? Tá na hora do meu programa preferido, se não vai assistir comigo, então cai fora – disse minha irmãzinha, mal humorada como sempre.

—Se importa de eu levar o peixinho?

—Um peixe? - estranhou ela – Você não podia ter arranjado um animal de estimação mais útil? Nossa casa precisava de um cão de guarda, isso sim!

Bem, pelo menos minha irmã não descobriu nada muito comprometedor. Assim que cheguei no meu quarto, o peixe voltou a soltar a voz.

Des-pa-ci-to

Quiero respirar tu cuello despacito

Deja que te diga cosas al oido

Para que te acuerdes si no estás comigo

—Ah, não! Agora foi longe demais! - exclamei. Saquei meu celular para gravar um vídeo dele cantando, mas assim que ele percebeu que eu estava filmando, parou de cantar. Quando coloquei o celular um pouco mais para baixo, ele ameaçou soltar a voz. Voltei a filmar e ele se calou. Não era possível. Será que eu nunca iria pegá-lo no flagra? Foi aí que tive uma ideia.

—Olha...vou desligar meu celular, tá? Não vou mais filmar. Pode cantar sossegado – falei, fingindo que guardava meu aparelho, mas, na verdade, mantive a câmera ligada perto da cintura, de um jeito que dava para ouvi-lo cantar e parece que funcionou. Ele voltou a cantar

Hello my baby, hello my honey,

Hello my ragtime gal

Send me a kiss by wire, baby my heart's fire

If you refuse me, honey you loose me, then you'll be left alone

Oh, baby, telephone and tell me I'm your own!

—Peguei! Peguei você, seu safado! - exclamei – Agora tenho uma prova!

Peguei o aquário e voltei correndo para a casa de Estrela e apertei a campainha várias vezes.

—Vitor! Você de novo? - exclamou ela – Já não falei que quero ficar em paz?

—Olha esse vídeo! Olha isso! - disse, mostrando o vídeo do peixe cantando. Agora era uma prova.

—Não pode ser – disse ela, olhando para o vídeo e olhando para o peixe – Será que...tá, entra.

Entrei (e dessa vez estava tão decidido que até consegui escapar de ser derrubado pela Plum). Estrela acessou seu computador, fez umas buscas e achou algo.

—Aqui. Esse peixe é uma espécie rara de um planeta bem distante. Ele possui genética quântica seletiva.

—O quê?

—De alguma maneira, o organismo dele sabe quando está sendo observado. Ele pode manipular o próprio DNA para ser um peixe comum para certos observadores, mas pode ser uma espécie de alta inteligência quanto é percebido por outros observadores. Por isso que meu Portal Gun não conseguiu detectá-lo.

—Então foi isso? Ele conseguia disfarçar o próprio material genético? Que safado!

—Bem, vou levá-lo para seu planeta de origem e jogá-lo em seu habitat natural – disse Estrela – Deve ter vindo parar aqui com os buracos de minhoca, alguém o achou e pensou ser um peixe de aquário comum. É, acontece.

—O-obrigado – abracei Estrela, feliz da vida.

—Se eu me livrar dele, você me deixa terminar meu trabalho em paz?

—Claro! Já estou saindo! Viva, viva! Estou livre! Estou livre! - saí, pulando e batendo meus tornozelos.

Estrela olhou para Plum.

—Acho que...precisamos estudar mais o Vitor – disse ela, em tom sério.

E assim terminou a saga do peixinho dourado.

 

 

Livre!


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi uma homenagem ao episódio "One Froggy Evening" dos Looney Tunes, aquele do sapo que só cantava quando o homem estava sozinho (aliás, a última música do peixe é justamente a letra da primeira música que o sapo canta no episódio). Faz tempo que tive essa ideia, finalmente consegui colocá-la na história. Espero que tenham gostado.

No próximo capítulo começamos um novo arco. Até lá! :)